segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A grande mentira está a caminho do fim

Fátima Bonifácio, no Público de hoje, assina "Tempos difíceis" (link não disponível), um lúcido artigo de que recomendo.a leitura integral. Dele escolhi os seguintes trechos:
Por toda a parte, tanto nos Estados Unidos como na Europa, o crescimento económico tem sido, nos últimos dez ou doze anos, de uma deprimente mediocridade. Não chega, nem de perto nem de longe, para gerar recursos que bastem para o Estado proporcionar a toda a gente rendimento mínimo, habitação social, equipamentos gimnodesportivos, auto-estradas gratuitas, hospitais fantásticos com radiografias a menos de um euro, escolas grátis para toda a gente, cidades ditas verdes ou a caminho de o serem, e por aí fora. Há precisamente 76 anos, quando os franceses invadiram as praias com o comovente júbilo de gozar férias pagas pela primeira vez na história da Humanidade, ninguém ousava sonhar a extensão dos serviços sociais que umas décadas depois, a partir dos anos sessenta, o Estado haveria de prestar.
(...)
Mas isso foi no tempo das vacas gordas (...)

A pior de todas [as mentiras] é a que propala que com receitas milagrosas, que ninguém conhece, podemos voltar ao status quo ante. Não podemos. A Europa não pode. Os EUA não podem. Demasiadas coisas mudaram no mundo para que não compreendamos que o antigo modo de vida se tornou insustentável, da mesma forma que os ludistas, no princípio do séc. XIX, em Inglaterra, desistiram de destruir máquinas que substituíram a mão-de-obra humana.
Mas o que Fátima Bonifácio não diz (não quer dizer?) é que o Estado social só foi possível com a riqueza gerada pelo desenvolvimento do capitalismo. Não foi o Estado social que "proporcionou" o que quer que seja a ninguém. Quem o fez - o único que o fez - foi o capitalismo. O que o Estado social fez foi tirar (crescentemente) a uns (cada vez em menor número) para dar (crescentemente) a outros (cada vez mais numerosos), gastando para si próprio uma fatia cada vez maior. O resultado, por cá, é este (no Correio da Manhã de hoje):


Nos Estados Unidos, por exemplo, são já 46 milhões as pessoas (mais 15 milhões que em 2008) que dependem das senhas de alimentação. E dos contribuintes, já só 51% pagam imposto (federal) sobre o rendimento. O fim da grande mentira aproxima-se a passos largos.

4 comentários:

Freire de Andrade disse...

Que não voltaremos ao status quo ante é coisa que só poucos se têm atrevido a afirmar, mas todos os sinais apontam para isso. Muitos continuam a acreditar na ilusão de que sairemos desta crise como temos saído de todas as outras, incluindo a de 1929. A este propósito escrevi há dias no meu blog "Será que os anjos têm sexo?" sobre o artigo de José Manuel Fernandes "Não se iludam: vamos ficar cada vez mais pobres" no Blasfémias:
«José Manuel Fernandes escreveu em 2009: "Não se iludam: vamos ficar cada vez mais pobres." E agora lembrou esta frase e mostrou que está ainda mais certa. No filme da BBC sobre os últimos dias do Lehman Brothers, o então Secretário de Estado do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, diz: "É o fim do Ocidente!" (cito de memória). Não somos só nós, portugueses, que vamos inevitavelmente ficar mais pobres, são todos os europeus e, voltando a Paulson, os ocidentais. A presente crise pode não ser a última a levar-nos para um empobrecimento em termos absolutos e relativos, mas é um passo importante neste processo. E infelizmente creio que Portugal pode ser um dos países mais atingidos, dados a nossa dimensão, o nosso atraso tecnológico e a nossa baixa natalidade e consequente envelhecimento. O empobrecimento pode levar décadas, mas, a menos que ocorram circunstâncias inesperadas, é inevitável. Tudo o que podemos e devemos fazer é tentar retardar e aliviar as consequências deste processo, em nome das futuras gerações. Também eu preferia nunca ter escrito este texto ou, tendo-o escrito, ter errado completamente na previsão.»

Lura do Grilo disse...

Vão continuar até tudo bater no fundo. Dizem as autarquias que não podem cortar aqui e ali ... podem. Só não podem quando não houver literalmente alguma coisa para cortar. E quanto mais tarde se cortar mais terá que se cortar.

Habituem-se ... é só fazer as contas!

Filipe Silva disse...

A questão hoje é que nunca se passou por uma crise como esta, nem existiu uma similar, a de 1929 ainda existia o padrão ouro, hoje vivemos num sistema fiat puro.
E a escola económica dominante não compreende como de facto uma economia opera, julga que a impressão monetária vai resolver o problema, como diz o Krugman o estímulo não foi suficientemente grande, sinceramente penso o Keynes deve dar voltas no túmulo.

Em relação a Portugal, empobrecimento isso não vai ocorrer, não vamos perder riqueza que nunca tivemos, vamos é ter de nos habituar a viver com o que produzimos, algo que já soubemos viver mas que o crédito nos fez esquecer.

O problema da piramide vai se resolver, as pessoas assumem que as pessoas vão viver muitos anos, sinceramente penso que não vai ser o caso, se o país estoirar como penso que vai ocorrer, irá existir bastantes mortes por parte da população mais idosa, já se começa a falar abertamente do racionamento, é o que tem os sistemas socialistas.

Não digo isto como algo positivo, mas uma constatação de um facto, grande parte do tratamento médico foi realizado há custa da divida.
Como penso que no futuro as gerações serão mais baixas que as actuais, porque penso que nos próximos tempos a comida não será tão abundante como foi até hoje.

O que me leva a pensar assim?
A divida pública e privada, esta perfaz 369% do PIB, impagável.

Apesar de achar péssimo, estou convencido que iremos sair do Euro, sou contra e acho que deviamos fazer tudo para nos mantermos mas não temos povo nem politicos para tal.

A capacidade de consumo vai ser diminuida de forma espectacular.

Estou a ler o livro de Mises the theory of money and credit, fantástico, hoje fico a pensar como é possível ter tirado uma licenciatura em economia de 4anos, e ter falado 10minutos sobre um autor que podemos até apelidar do maior economista do século XX.

É uma pena não se ensinar a escola austríaca em Portugal

Eduardo Freitas disse...

Caro Filipe Silva,

Hoje (ontem) Gary North conclui o seu artigo "Dancing on the Grave of Keynesianism" com uma nota de optimismo (a prazo):

I offer this optimistic assessment: the bad guys are going to lose. Their statist policies will bring destruction that they will not be able to explain away. Their plea will be rejected. "Give us more time. We just need a little more time. We can fix this if you let us get deeper into your wallets."

In the very long run, the good guys are going to win, but in the interim, there is going to be a lot of competition to see which group gets to dance on the grave of the Keynesian system.

Get out your dancing shoes. Keep them polished. Our day is coming.


Sim, o keynesianismo tem de ser derrotado e ele próprio tem de entrar em default de uma tal forma arrasadora que seja "despejado" da universidade. Por essa via, desaparecerá da vida política. Enquanto tal não acontecer, os cursos de Economia do mainstream continuarão a ignorar a Escola Austríaca.