terça-feira, 23 de outubro de 2012

A paz é o bilhete para a vitória

Patrick J. Buchanan, na sua coluna habitual na The American Conservative: Peace Is the Ticket to Victory. A tradução é da minha responsabilidade. Ver-se-á, dentro em pouco (quando acabar o debate que agora decorre), se Buchanan tinha razão.
Normalmente, não sempre, o partido da paz ganha.

O atear do fogo a Atlanta e a Marcha para o Mar do general Sherman asseguraram a Abraham Lincoln a reeleição em 1864. William McKinley, com o seu triunfo sobre a Espanha e a determinação em pacificar e manter as Filipinas, facilmente afastou William Jennings Bryan [da corrida presidencial] em 1900.

No entanto, Woodrow Wilson ganhou em 1916 com o slogan: "Ele manteve-nos fora da guerra!" E Dwight Eisenhower conquistou uma vitória esmagadora com a sua declaração sobre o impasse da guerra de Harry Truman: "Irei à Coreia." Richard Nixon prometeu em 1968 que "a nova liderança porá fim à guerra e ganhará a paz". O vice-presidente Hubert Humphrey, com dois dígitos de desvantagem nas sondagens, em 1 de Outubro, prometeu suspender o bombardeamento do Vietname do Norte. Ele uniu o seu partido e diminuiu a diferença para menos de um ponto no dia da eleição.

George McGovern concorreu como o candidato anti-guerra em 1972. Em Novembro, porém, quase todas as tropas americanas no Vietname tinham regressado a casa, e no final de Outubro Henry Kissinger tinha anunciado: "A paz está próxima." Nixon tinha expropriado a questão da paz. Resultado: 49 estados.

Hoje, após as mais longas guerras da nossa história no Afeganistão e no Iraque, os americanos estão fartos dos 6.500 mortos e dos 40.000 feridos, fartos dos 2 milhões de milhões de dólares do custo da guerra e desiludidos com os resultados que uma década de sacrifícios produziu em Bagdad e em Cabul.

Consciente deste cansaço de guerra, especialmente entre as mulheres, o presidente Obama e o vice-presidente Biden parecem dispostos a comparecer perante a nação no dia da eleição como o único partido da paz. Este facto ressalta de uma leitura atenta da transcrição do debate por parte de Biden.



Perdido no seu riso maníaco e zombeteiro e nas rudes interrupções com que enfrentava os argumentos de Paul Ryan estava um tema recorrente: o presidente Obama pôs fim à guerra no Iraque e está a preparar a saída da guerra no Afeganistão, mas Ryan e Romney parecem estar à procura de novas intervenções militares na Síria e no Irão.

Considerem-se apenas alguns comentários de Biden retirados da transcrição da sua metade desse debate de 90 minutos.

"A última coisa que precisamos agora é outra guerra."

"Vai (Ryan) ... avançar para a guerra?"

"Nós não vamos deixá-los (aos iranianos) adquirir uma arma nuclear, ponto, a menos que ele (Ryan) esteja falando em caminhar para a guerra."

"A guerra deve ser sempre o último e absoluto recurso".

"Ele (Ryan) votou pagar duas guerras com um cartão de crédito."

"Estamos nesta guerra (Afeganistão) há mais de uma década. ... Iremos sair em 2014, ponto."

Acerca da intervenção na Síria, Biden disse: "A última coisa que a América precisa é entrar em outra guerra terrestre no Médio Oriente, exigindo dezenas de milhares se não mesmo mais de cem mil militares norte-americanos."

Esta batida, sugerindo que Romney e Ryan estão ansiosos para entrar na guerra na Síria ou numa nova guerra com o Irão, foi deliberada.

As palavras de Biden reflectem quase seguramente o que os grupos focais democratas, especialistas em sondagens, analistas políticos e peritos estão a aconselhar o partido a dizer e a fazer: jogar o cartão da paz na Segunda à noite em Boca Raton, na Flórida, e etiquetar Romney-Ryan com um bilhete do partido da guerra.

As acusações que Romney provavelmente ouvirá do presidente e as perguntas que deverá enfrentar por parte do moderador, empurrando-o na direcção do belicismo, não são assim tão difíceis de discernir.

"Governador, o presidente Obama afirmou que ao Irão não será permitido obter uma arma nuclear. O senhor tem dito que o Irão não será autorizado a deter uma "capacidade em armas nucleares." Qual é a diferença? Não tem já o Irão a capacidade de produzir uma arma nuclear? O que você vai fazer sobre isso?"

"Governador, Paul Ryan disse no seu debate que o Irão está correndo em direcção a uma arma nuclear." Mas 16 agências de informações dos EUA disseram em 2007, e reafirmaram em 2011, que o Irão não tem um programa de armas nucleares. Qual é a sua prova de que o Irão está "correndo em direcção a uma arma nuclear? '"

"Governador, o senhor tem dito da América e de Israel, "O mundo nunca deve ver a luz do dia entre os nossos dois países. "Isso significa que se Israel atacar o Irão, o senhor levar-nos-á para a guerra ao lado de Israel?"

"Governador, no VMI [link] você disse, "Na Síria, irei trabalhar... para identificar e organizar os membros da oposição que partilham os nossos valores e assegurar que obtenham as armas de que precisam para derrotar os tanques, os helicópteros e os aviões de combate de Assad. "Daria mísseis terra-ar aos rebeldes sírios?"

"Governador, o Japão e a China estão à beira do conflito armado relativamente às ilhas Senkaku. Se a guerra eclodir, estamos obrigados pela nossa aliança com o Japão a ir em sua defesa? "

O perigo para os republicanos em Boca Raton é que as manchetes do dia seguinte [hoje, dia 23 de Outubro] tenham Romney, consciente ou inadvertidamente, a estabelecer um marco para uma nova guerra.

"A paz através da força", o slogan de Eisenhower-Reagan, é o slogan do Partido Republicano que ainda ressoa nos eleitores americanos.

Mesmo em 1940, FDR, embora conspirando pela guerra, candidatou-se como um candidato da paz: "Eu já disse isto antes, mas vou dizer de novo e de novo e de novo: Os vossos filhos não irão ser enviados para nenhumas guerras estrangeiras."

Esperemos que o governador Romney vá dizer algo parecido, e que esteja a falar a sério.

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