ou, de um modo mais combativo, como ideias feitas são, frequentemente, ideias parvas, em particular quanto se referem ao pretenso "esgotamento" de recursos naturais. Vem isto a propósito deste artigo (via Carpe Diem) onde se volta a evocar o princípio segundo o qual "Peak oil is peak idiocy", desta vez com a forte e continuada inversão da tendência decrescente de extracção de petróleo na província de Alberta no Canadá.
Mas, porque a evidência empírica tanta vez nos engana (as denominadas não-evidências) vale a pena explicitar uma vez mais o raciocínio económico daquele princípio. Explorando os links acima, fui dar com este post ("Peak idiocy"), de Mike Munger (aka Mungowitz), que o explica de forma cristalina (realces meus):
«Of all the idiotic things that people believe, the whole "peak oil" thing has to be right up there. It is literally impossible for us to run out of oil. We have never run out of anything, and we never will.
If we did start to use up the oil we have...(though, counting shale oil, we still haven't used even 10% of the total KNOWN reserves on earth, and there are lots of places we haven't looked)...but suppose we were on our way to using it up. Three things would happen.
1. Prices would rise, causing people to cut back on use. More fuel effcient cars, better insulation on houses, etc. Quantity demanded goes down.
2. Prices would rise, causing people to look for more. And they would find more oil, and more ways to get at it. Quantity supplied goes up.
3. Prices of oil would rise, making the search for substitutes more profitable. At that point (though not now!) alternative fuels and energy sources would be economical, and would not require gubmint subsidies, because they would pay for themselves. The supply curve for substitutes shifts downward and to the right.
This is econ 101. Even Paul ("I sold my soul to become a wanker") Krugman would credit this scenario.»
3 comentários:
A noção de peak oil é o ponto de produção máxima de um recurso (neste caso, o petróleo). Essa noção não é condição necessária para assumir o esgotar do recurso. Apenas refere que existe um momento na exploração de um recurso a partir do qual a sua produção diminui. Isto é inevitável para os recursos finitos (i.e., todos). É esperado que, a partir de um determinado momento, ele seja substituído por um ou mais recursos economicamente competitivos. Não percebo a ligação que o texto faz entre o peak oil e a ideia de um recurso literalmente desaparecer (interpretando "run out of" dessa pior maneira possível). Possivelmente é apenas um argumento espantalho.
Que essa substituição de recursos ocorra e resolva o problema em questão revela duas asserções optimistas: (i) que a economia se aguenta sem fortes quedas até esse momento e (ii) que não existe um crescimento exponencial da procura desse tipo de produto.
O ponto (i) não é um dado adquirido. Pode ser que o recurso (ou recursos) substitutos não tenham um rendimento similar ao recurso anterior. No caso da energia isso pode ser medido pelos EROI. Pode acontecer que o rendimento do recurso anterior não possa ser simplesmente conseguido. Podemos, aliás está a acontecer hoje em dia, aumentar a percentagem do bolo energético para produzir mais energia, mas isso também tem limites (muito antes dos 100%). Claro que há avanços de tecnologia que aumentam o desempenho mas confiar demasiado na tecnologia pode fazer-nos cair facilmente em wishful thinking e na ficção científica. Em última análise estamos limitados pelos limites da física e pelos recursos futuramente viáveis do planeta Terra.
Sobre o ponto (ii): um crescimento exponencial não é sustentável num sistema finito (e estou a incluir a energia solar que nos chega). Por exemplo, mesmo que só tenhamos usado 10% do petróleo economicamente utilizável, o crescimento exponencial garante que os restantes 90% sejam consumidos mais ou menos rapidamente (depende da taxa de crescimento, claro). A partir de um determinado nível de consumo é irrelevante quanto petróleo vamos realisticamente encontrar. O mesmo se pode dizer de qualquer recurso.
Cumprimentos,
Caro João Neto,
Obrigado pelo seu circunstanciado comentário mas que, a meu ver, não infirma a argumentação apresentada post. Noutra ocasião, fiz eco de um artigo de George Reisman que alude à "infinitude do finito". E ele, Reisman, ficou-se pelo planeta Terra...
Cumprimentos.
Caro Eduardo,
Fui ver o excerto que cita. Segundo o autor temos recursos para 10 mil milhões de anos. Não lhe parece um pouco estranho? Vejamos o que acontece às 25 milhas cúbicas com uma taxa de crescimento dos recursos de 1% ao ano. Ao fim de 1000 anos teremos um consumo de 524 mil milhas cúbicas. Ao fim de 2500 anos o consumo vai em 1.5 x 10^12 milhas cúbicas. Se assumirmos este volume com densidade 1, isso corresponderia a 6 x 10^21 Kg, aproximadamente 0.1% da massa total da Terra (por ano!). Se esperarmos 5000 anos o Universo conhecido não chegaria para saciar o nosso consumo. O meu computador não tem memória para representar o número correspondente ao ano 100.000...
Existe sempre uma asserção neste tipo de afirmações que não é destacada mas que faz toda a diferença: "ao ritmo de consumo actual". Quando se diz que os USA têm carvão para 500 anos, é verdade mas apenas "ao ritmo de consumo actual". Se o consumo de carvão crescer 3% ao ano, ao fim de 25 anos, os 500 anos de reservas tornam-se menos de 250. E encontrar, nesses 25 anos, novas reservas que chutem as reservas para outros 500 anos estas terão de ter mais do dobro do tamanho das reservas correntes, desde que se mantenha, na altura, "o ritmo de consumo actual". E assim, sucessivamente.
A minha opinião é que a maior parte destes textos são cegos a este raciocínio por questões ideológicas mas enfim, a minha opinião, aqui entre nós, não conta para grande coisa... O real problema é que as soluções visadas pela nossa sociedade são baseadas no crescimento (e crescimentos de 1% e 2% são considerados como anémicos). Este tipo de estratégia económica não é simplesmente sustentável.
Bem, desculpe esta muralha de texto que isto hoje deu-me para escrever,
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