sábado, 4 de fevereiro de 2012

Uma renovável e feroz protecção dos detentores de rendas económicas

Nicolau Santos, assina hoje no Expresso, um artigo cujo conteúdo - uma contestação ao Manifesto por uma Nova Política Energética em Portugal - III - é particularmente vergonhoso (o que não é nada de novo como tenho assinalado por aqui, aqui ou aqui). Intitulado "Uma energia feroz e nuclear contra as eólicas" (link não disponível) é essencialmente uma defesa da política socratina de promoção das novas renováveis a qualquer custo e independentemente dos efeitos a jusante (do preço da energia para as empresas e para a (falta de) competitividade das nossas exportações e da sobrecarga que faz impender sobre a generalidade das famílias). Como "escudo" argumentativo lá vem a inevitável e liminar recusa (sequer da discussão) da energia nuclear, ao detectar o "gato de fora com o rabo escondido" (sic) nas pessoas de Monteiro de Barros, Sampaio Nunes e Mira Amaral e o facto de as renováveis serem um recurso "endógeno" (não tem que ser "importado").

Para além da pobreza do argumento da "endogenia", em tudo convergente e sobreponível com o usado por Salazar na tristemente célebre "campanha do trigo" (como anteriormente na Lei dos Cereais, de Elvino de Brito, de 1899), Nicolau Santos ficou particularmente perturbado pelo facto de no texto do manifesto se "estranhar que Portugal seja na Europa um campeão das novas renováveis". Espuma, então, perguntando sucessivamente: "Porquê? É proibido? É impossível? [Não lhe ocorre que sendo o investimento nas novas renováveis exclusiva função do nível das tarifas garantidas (feed-in), só economias ricas a poderiam suportar (e ultimamente já nem nessas...)]. E continua: "Esta frase é a prova que "as renováveis são o ódio de estimação dos subscritores e o alvo que querem abater para o substituir pela energia nuclear"(!). Ou Nicolau Santos não leu o Manifesto, o que não me parece de todo de excluir, ou a cegueira ideológica impede-o de perceber o que lá está escrito.

Não sou, a priori, um defensor da energia nuclear - não sei o suficiente para, por mim próprio, concluir pela sua defesa sem quaisquer dúvidas - mas serei certamente um defensor do seu estudo, exactamente o que o Manifesto propõe. Não obstante, e ao contrário de outros, acho até que o que sucedeu em Fukushima foi como que a emissão de um certificado da segurança intrínseca que mesmo uma central nuclear de geração já antiga, afinal proporcionou, nas terríveis condições cumulativas de um sismo de grande intensidade e subsequente tsunami gigante a que foi sujeita.

Leitura complementar: 100 Tories revolt over wind farms.

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