António Mexia, referindo-se às PPP: "Parece-me óbvio que se exagerou nas estradas", uma de entre as "muitas coisas que não devíamos ter querido".
Sim, há muitas coisas que não "devíamos ter querido" (embora a mim, e suponho que à generalidade dos portugueses, nunca ninguém nos tenha pedido uma opinião1). Uma delas foi - e continua a ser - a subsidiação maciça às novas renováveis (através das tarifas feed-in), de longe as grandes responsáveis, directa ou indirectamente, pelo défice tarifário e, dentro destas, os eco-crucifixos (na expressão feliz de James Delingpole para designar as torres eólicas) espalhados pelo país fora que produzem energia eléctrica não quando ela é necessária mas, naturalmente, apenas quando há vento (dominantemente à noite, de madrugada, quando a procura é muito baixa). Desta "coisa", Mexia não fala mas também não será de admirar...
E o governo - o actual - também não sai nada bem na figura. Ao mesmo tempo que faz um discurso carregado de retórica anti-rentista ao dirigir-se às empresas produtoras de electricidade, afirma "proteger" os consumidores diferindo no tempo os inevitáveis aumentos na electricidade que são consequência da política energética seguida anteriormente, ou seja, da promoção das "energias verdes". Jorge Vasconcelos, antigo presidente da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), que se demitiu precisamente pelo facto de o governo de Sócrates se ter recusado a retirar as consequências da sua própria política energética (ou seja, em aumentar os preços da electricidade), calcula em 110 milhões de euros o montante de juros a pagar em 2013 pela manutenção e agravamento do défice tarifário.
___________________E o governo - o actual - também não sai nada bem na figura. Ao mesmo tempo que faz um discurso carregado de retórica anti-rentista ao dirigir-se às empresas produtoras de electricidade, afirma "proteger" os consumidores diferindo no tempo os inevitáveis aumentos na electricidade que são consequência da política energética seguida anteriormente, ou seja, da promoção das "energias verdes". Jorge Vasconcelos, antigo presidente da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), que se demitiu precisamente pelo facto de o governo de Sócrates se ter recusado a retirar as consequências da sua própria política energética (ou seja, em aumentar os preços da electricidade), calcula em 110 milhões de euros o montante de juros a pagar em 2013 pela manutenção e agravamento do défice tarifário.
1 E mesmo que nos tivessem explicitamente perguntado - e não "empacotado" em programas de governo que prometiam aumentar os "empregos verdes" (esquecendo-se de dizer que à custa dos empregos de outras colorações) - não creio que alguma vez nos tivéssemos deparado perante a pergunta adequada: "está disposto a ver aumentar o preço da electricidade de X% para contribuirmos (em 0,000Z%) para "salvar" o planeta dos efeitos do aumento de concentração de CO2 (vulgo "aquecimento global") na atmosfera terrestre?"
5 comentários:
Eduardo C.
Não seria mais simples a gente perguntar-se por que temos que pagar, a privados e ao governo chinês, as tais eólicas e outras coisas estrambólicas e não e apenas a eletricidade?
Isto só tem um nome: chulice e pornográfica!
Caro Miguel Loureiro,
Contam-se por muitos poucos os que - ainda hoje - ousam dizer quais foram as consequências da política energética seguida nos últimos 15 anos. O país tem assistido a uma coligação de interesses no sentido de iludir as causas das "rendas excessivas" do sector eléctrico.
Uns porque acham, beatificamente, que até somos um “caso de sucesso” porque estamos a contribuir para salvar o planeta, "descarbonizando-o"; outros, porque pensam que o governo deve promover a substituição de importações pelos recursos internos "obviamente grátis" (o vento, o sol, a água, etc.) independentemente do custo envolvido; quase todos porque continua a ser politicamente correcto gastar dinheiro em iniciativas "verdes", especialmente se ganhando "algum" no assunto. É chique. Talvez como em nenhum outro tema com expressão económica se terá visto tamanho "centrão" em Portugal. Podre de chique, diria Eça de Queiroz.
Admito que seja simples, caro Miguel Loureiro. Mas quase ninguém o entende. Ainda hoje.
A minha simpatia pelo governo chinês não é das melhores, como imaginará. Mas não foram os chineses que plantaram os eco-crucifixos pelo país fora. Para os consumidores portugueses não é relevante saber a quem pagam, o que é relevante é saber quanto pagam - hoje e no futuro. Por outro lado, tenha em atenção a nossa desesperada situação de escassez de capital, situação que se irá agravar devido à mui especial “equidade” reclamada pelo palácio Ratton.
Caro Eduardo C.
A minha perplexidade é a aceitação generalizada e imposta de contribuirmos para os eco-crucifixos, que pertencem a uma empresa privada e agora ao governo chinês. Que teoria económica justifica isto!
Ainda me lembro do esquecido e excomungado ultra-liberal, Pedro Arroja, que justificando a privatização de tudo, água dos rios e mares e até do ar, nunca lhe passou pela cabeça que tais "negócios" fossem de borla, muito menos que fossem os cidadãos anónimos a pagarem para as Sociedades Anónimas...
Que o "verde" é o negócio do século, já o sei há muito e que mais não é do que encomendas para a indústria metalomecânica e para os empresários das mesmas, que acabam por poluir mais no fabrico dos aparelhos...
Caro Miguel Loureiro,
Em primeiro lugar, folgo em saber que não se deixa enganar pela densa cortina de fumo "verde" que continua pairar por aí.
Quanto à presença de capital estatal chinês na EDP (como na REN), creio que ela se explica não pela adopção de uma qualquer teoria económica defendida por uma Escola em particular, mas sim pelo facto de a China, que tem uma taxa de poupança altíssima pelos padrões actuais, dispor de capital em abundância. Ora, sucede que se há recurso que Portugal carece, de forma desesperada, é exactamente esse. Tão cedo não sairemos do buraco em que estamos sem que consigamos atrair investimento estrangeiro em grandes quantidade. Só assim será possível reactivar o investimento e aumentar a produtividade e, em consequência, os salários. Medina Carreira anda há pelo menos 10 anos a falar disto apelando ao estudo dos factores de atractividade do capital estrangeiro.
E não são só os chineses. Veja-se o que já há muito sucede, por exemplo, com os angolanos (com o regime, entenda-se).
O que vale é que, pelo caminho que as coisas estão a tomar, o défice tarifário será mais uma dívida que vai sofrer um haircut.
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