Ron Paul emitiu mais uma notável declaração agora relativamente ao que está em causa no pedido de autorização que Obama vai endereçar ao Congresso a propósito do anunciado ataque com mísseis à Síria. Pela sua importância, achei relevante traduzir o texto, o que faço mais abaixo. Antes dele, porém, uma chamada de atenção para um notabilíssimo livro da autoria de Cullen Murphy, com uma estrutura narrativa invulgar (talvez até única), cujo título, "Are We Rome?: The Fall of an Empire and the Fate of America", é em boa medida glosado no texto de Ron Paul.
O presidente Obama anunciou neste fim-de-semana que ele decidiu usar a força militar contra a Síria e que solicitaria autorização do Congresso quando este voltar a reunir após a pausa de Agosto. Cada membro tem a obrigação de votar contra esta utilização irresponsável e imoral da força militar dos EUA. Mas mesmo que cada um dos representantes e senadores venha a votar a favor de uma outra guerra, isso não melhorará essa terrível ideia pelo simples facto de se verificar uma espécie de aceno de cumprimento da Constituição. De resto, o presidente deixou claro que a autorização do Congresso é supérflua, ao afirmar, falsamente, que ele tem a autoridade para agir sozinho, com ou sem o Congresso. Que o Congresso se permita a si próprio ser tratado como uma montra de decorações pelo presidente imperial é algo de simplesmente espantoso.
O presidente afirmou no Sábado que o suposto ataque químico na Síria, a 21 de Agosto, significou "um grave perigo para a nossa segurança nacional". Discordo da ideia de que cada conflito, cada ditador e cada revolta, em qualquer parte do mundo, seja de alguma forma crítica para a nossa segurança nacional. Esse é o raciocínio de um império, não de uma república. É o tipo de pensamento que este presidente partilha com o seu antecessor e que está a conduzir-nos à falência e à destruição das nossas liberdades na nossa própria terra.
De acordo com recentes notícias da comunicação social, os militares não têm dinheiro suficiente para atacar a Síria pelo que haveria que ir ao Congresso para obter uma autorização de despesa suplementar para levar a cabo os ataques. Parece que o nosso império está no fim das suas possibilidades financeiras. Os ataques limitados que o presidente defendeu para atacar a Síria custariam aos EUA algo na casa das centenas de milhões de dólares. O chefe do estado-maior conjunto das forças armadas, General Martin Dempsey, escreveu ao Congresso no mês passado a dizer que só o treino dos rebeldes sírios e dos mísseis em número "limitado" e dos ataques aéreos significariam uma verba na "ordem dos milhares de milhões" de dólares. Devemos compreender com clareza o que uma outra guerra irá significar para a economia dos EUA, para não mencionar os efeitos dos custos desconhecidos adicionais, tais como um aumento brusco nos custos dos combustíveis em resposta ao disparo dos preços do petróleo.
Concordo que qualquer ataque químico, principalmente um que mate civis, é algo de horrível e horrendo. Todas as mortes decorrentes da guerra e da violência são terríveis e devem ser condenadas. Mas por que razão algumas centenas de mortos por agentes químicos são piores ou mais merecedoras de bombas norte-americanas do que os 100 mil que já morreram no conflito? Por que razão essas centenas de pessoas, alegadamente mortas por Assad, pesam mais que os cerca de mil cristãos na Síria que foram mortos por aliados dos Estados Unidos, do outro lado do conflito? Por que razão é pior ser-se morto por gás venenoso do que ter a sua cabeça decapitada pelos islamistas radicais aliados dos norte-americanos, como aconteceu a um certo número de bispos e padres cristãos na Síria?
Por falar nisso, por que razão algumas centenas de civis mortos na Síria através de uma arma química são piores que os 2000 a 3000 que foram mortos pelos ataques aéreos de Obama utilizando drones no Paquistão? Será que realmente faz diferença se um civil é morto por gás venenoso, por drones ou por uma faca sem serrilha?
Em "The Sociology of Imperialism", Joseph Schumpeter escreveu a propósito do intervencionismo suicida do Império Romano:
"Não havia canto algum do mundo conhecido, onde um interesse não estava alegadamente em perigo ou sob ataque real. Se os interesses não eram romanos, eram dos aliados de Roma; e se Roma não tivesse aliados, então estes teriam que ser inventados. Quando era absolutamente impossível inventar um interesse era então a honra nacional que tinha sido insultada."Infelizmente, isto parece ser um resumo do discurso de Obama no fim-de-semana passado. Estamos a caminhar rapidamente para o mesmo colapso do Império Romano, se continuarmos no caminho de guerra do presidente. O que nós desesperadamente precisamos é de uma esmagadora rejeição do Congresso da autorização de guerra que o presidente pretende. Mas mesmo que venha a ocorrer um voto favorável, tal não poderá mudar o fato de que esta é uma política imoral e auto-destrutiva.
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