Esta notícia - França quer intervir na Síria mas só se for acompanhada - é reveladora do estado do estado francês e, em particular, do seu actual presidente. Manietado pelo secular intervencionismo, os dirigentes do estado francês buscam desesperadamente oportunidades de se colocar em bicos de pés para recordar que a França não desapareceu e que continua a perseguir a sua grandeur. (Escrevi umas linhas sobre isto aqui, há um par de meses, a propósito de declínio económico do país afogado num estatismo crescente.)
Entretanto, mão amiga fez-me chegar à mão a crónica de Vasco Pulido Valente (VPV) no Público, intitulada "O ridículo mata", publicada no passado dia 24 de Agosto que, já exangue após meros 15 meses de mandato com níveis de impopularidade recorde, não encontra melhor antídoto para lidar com a gravíssima crise económica interna que intentar mais uma aventura numa ex-colónia (no caso chamaram-lhe "mandato", mas como VPV assinala, era um mero eufemismo). Transcrevo-o agora (à falta de um digitalizador) pela sua oportunidade. Uma chapelada de cartola!
Entretanto, mão amiga fez-me chegar à mão a crónica de Vasco Pulido Valente (VPV) no Público, intitulada "O ridículo mata", publicada no passado dia 24 de Agosto que, já exangue após meros 15 meses de mandato com níveis de impopularidade recorde, não encontra melhor antídoto para lidar com a gravíssima crise económica interna que intentar mais uma aventura numa ex-colónia (no caso chamaram-lhe "mandato", mas como VPV assinala, era um mero eufemismo). Transcrevo-o agora (à falta de um digitalizador) pela sua oportunidade. Uma chapelada de cartola!
«Disse ontem [Sexta-feira, 24 de Agosto] que o Ocidente se tinha mostrado cauteloso e, até certo ponto, desinteressado da guerra civil na Síria. Não me lembrei da França, que se julga desde o princípio do século XIX a entidade redentora da humanidade. Não só, segundo a ortodoxia, ensinou a liberdade aos povos, como a grande revolução de 1789-1794 (que, por acaso suprimiu qualquer vestígio de liberdade), mas serviu de modelo a Lenine e aos bolcheviques no glorioso golpe de Estado de 1917. Esta fé continua a ser essencial à cultura política do Estado e da "inteligência". Infelizmente, depois de 1815 e da derrota definitiva de Napoleão, a França nunca foi mais do que uma potência de terceira ordem; e desde o fim da II Grande Guerra perdeu mesmo a "supremacia" cultural, que sempre lhe dava algum consolo e importância.
Hoje quase desapareceu. Apesar de uma literatura incomparável, pouca gente lê a sua língua. Pátria da "haute" e da "baixa" cuisine, é agora, a seguir à América, a maior consumidora per capita da fast food do McDonalds. E o resto nem merece discussão. O que aparentemente deixa a França sem meios para afirmar a sua "grandeza". Neste compreensível desespero, o socialista François Hollande, a quem falta a pose e a oratória do general de Gaulle (e também o talento político), resolveu ressuscitar o velho belicismo do país: uma escolha tradicional, mas sem dúvida um pouco estranha, porque a França não ganha uma guerra de 1918 para cá. De qualquer maneira, o terrível Hollande, no meio de uma economia em estagnação, já se meteu na insurreição contra Kadhafi e nos conflitos do Mali. Com certeza que lhe soube bem esta espécie de "glória".
E a Síria não lhe podia ficar indiferente. Primeiro, porque foi um mandato francês (de facto, uma colónia com outro nome). Segundo, porque as barbaridades de Assad manifestamente chamavam "a grande redentora da humanidade". Enquanto as verdadeiras potências (a América, a Rússia, a China e a Inglaterra) tentavam não se imiscuir numa guerra que não compreendiam e que envolve uma apreciável parte do Médio Oriente muçulmano (o Irão, o Iraque, o Qatar e a Arábia Saudita) - Hollande proclamou o dever de punir Assad e o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, pregava na televisão a necessidade de usar a "força". Como os franceses dizem, o ridículo mata.»
1 comentário:
sem duvida o ridiculo feito presidente.uma amostra do que nos pode acontecer se o pantano não se agitar por cá.
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