É para mim um mistério como Belmiro Azevedo e agora Paulo Azevedo mantêm o jornal Público em funcionamento apesar de o mesmo nunca ter deixado de constituir uma teimosia editorial perante os desastrosos resultados financeiros. Para mais, o jornal não tem parado de acentuar o seu pendor bloquista na redacção (fortemente presente desde o seu início) e, depois da saída de José Manuel Fernandes, também na direcção. Mas, enfim, o dinheiro não é meu.
Há umas semanas, foi anunciada uma iniciativa, denominada Publico Mais que pretende "potenciar o jornalismo de investigação" que assenta "na criação de um fundo monetário apoiado por grandes empresas para o investimento em grandes reportagens". "EDP, Galp, Mota-Engil, REN, Santander e Vodafone são as empresas mecenas do projecto, cada qual contribuindo com 25 mil euros por ano num total de dois anos que durará o projecto". Na notícia que venho citando refere-se ainda que "[o] primeiro trabalho do Público Mais será uma série de reportagens a propósito dos 50 anos do fim do Estado Português da Índia, e começa a ser publicado a partir de 25 de Junho".
Tendo lido, com diferentes graus de desconforto este primeiro exercício de "jornalismo de investigação a propósito dos 50 anos do fim do Estado da Índia", devo confessar que hoje me saltou a tampa quando leio o título que Francisca Gorjão Henriques escolheu para encimar uma entrevista com o escritor indiano Amitav Ghosh que, trabalhando nos Estados Unidos, pretende um dia regressar ao seu país tendo para o efeito comprado uma propriedade em Goa, cidade onde decorreu a entrevista, num hotel de cinco estrelas.
Citando Ghosh, o título é: "A liberalização [da Economia indiana] criou uma espécie de infantilização dos indianos". Estas palavras de Ghosh surjem na resposta à seguinte pergunta :"As relações com o Paquistão são ainda uma preocupação para a maioria dos indianos?", ao que Ghosh responde:
Não fosse José António Cerejo e alguns cronistas...
Tendo lido, com diferentes graus de desconforto este primeiro exercício de "jornalismo de investigação a propósito dos 50 anos do fim do Estado da Índia", devo confessar que hoje me saltou a tampa quando leio o título que Francisca Gorjão Henriques escolheu para encimar uma entrevista com o escritor indiano Amitav Ghosh que, trabalhando nos Estados Unidos, pretende um dia regressar ao seu país tendo para o efeito comprado uma propriedade em Goa, cidade onde decorreu a entrevista, num hotel de cinco estrelas.
Citando Ghosh, o título é: "A liberalização [da Economia indiana] criou uma espécie de infantilização dos indianos". Estas palavras de Ghosh surjem na resposta à seguinte pergunta :"As relações com o Paquistão são ainda uma preocupação para a maioria dos indianos?", ao que Ghosh responde:
"Não, acho que não. Também porque a direcção que os media tomaram na Índia é muito estranha. A liberalização dos media foi muito orientada para o lucro, por isso centram-se muito em certas áreas da cultura popular: filmes e críquete. Muito frequentemente, em dias de acontecimentos políticos muito importantes, vemos que as histórias nos jornais são sobre estrelas de Bollywood e de críquete. A liberalização criou uma espécie de infantilização dos indianos. Também é fadiga. estamos sempre a ver notícias tão más que as pessoas estão simplesmente exaustas e preferem ser entretidas".Nem neste nem nos artigos precedentes há alguma referência àquela que foi, incontestavelmente, a mola real do crescimento económico da Índia nos últimos 20 anos que marcou a ruptura com décadas de planeamento central e da corrupção generalizada na atribuição de licenças e licencinhas por cerca de 80 agências governamentais distintas antes que qualquer negócio privado se pudesse iniciar. Este sistema de protecção do Estado ("regulação") dos muito poderosos e de fecho ao comércio internacional) inspirada no funcionamento da economia soviética, em prejuízo de toda a população indiana, ficou conhecido como a Licença Raj. Em nenhum momento é dado aos leitores do Público este facto não se explicando assim como, com o seu fim, a economia indiana começou a crescer a taxas anuais de crescimento de 8% a 10% e a libertar dezenas de milhões de pessoas da pobreza extrema ao mesmo tempo que se criava uma classe média não dependente do Estado pela primeira vez desde o fim do colonialismo. Assim anda o "jornalismo de investigação".
Não fosse José António Cerejo e alguns cronistas...
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