quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Revisitando os "bonecos" de Medina Carreira

ou, como sinteticamente Ramiro Marques escrevia há umas semanas atrás, «[o]u damos cabo do estado social ou ele dá cabo de nós». Foram estes os reflexos que me ocorreram após a leitura do texto de George Bragues, "Portugal’s Plight - The Role of Social Democracy", artigo integrante do mais recente número da revista The Independent Review.

Com efeitoé inevitável recordar a (infelizmente falhada) evangelização de Henrique Medina Carreira sublinhando que os nossos problemas actuais não são exclusivamente decorrentes da nossa adesão ao euro e consequente perda do instrumento de política monetária. O gráfico seguinte, representativo da evolução da taxa de crescimento do PIB nos últimos 100 anos (média móvel de 10 anos) é indicador seguro disso mesmo a partir de 1974/1975:


À parte os keynesianos, será impossível não encontrar uma correlação (inversa) entre esta evolução do crescimento económico e o peso das despesas do Estado no PIB onde, em 35 anos, passámos de 20%   para 50 % do PIB (a França precisou de 77 anos para idêntica evolução).


Este facto conjugado e agravado pelos sucessivos (37) défices do orçamento do Estado após 1973, vindos de um período de excedentes orçamentais (apesar das três frentes de guerra em simultâneo),


de que resultou uma dívida pública acumulada que, em percentagem do PIB, já ultrapassou os níveis da bancarrota de 1892:


Para que possamos voltar a crescer, é necessário que se possa reiniciar um processo de acumulação de capital que, por sua vez, depende da inversão da desastrosa tendência da taxa de poupança


o que impõe - é absolutamente vital - que consigamos sair de um ciclo de défices públicos para um de fortes superavits. A poupança privada, também por essa via, retomará (já está a suceder) patamares superiores.

Leitura complementar: Nenhuma economia consegue financiar o Estado Social.
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Nota: os dois últimos gráficos são retirados do blogue Desmitos; os anteriores, do ensaio referido no texto.

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