terça-feira, 22 de outubro de 2013

Exaltação da economia informal

Leio que Adolfo Mesquita Nunes, actual secretário de Estado do Turismo e suposto adepto de tendências liberais, tenciona "encontrar o melhor quadro legislativo para potenciar uma fiscalização mais eficaz [do "alojamento paralelo"] e que o regime seja suficientemente atractivo para que traga a economia informal para a economia formal".

Há décadas que vimos ouvindo este discurso que se destina a sancionar a contínua rapacidade fiscal do estado para mitigar o buraco previamente aberto pelo incessante aumento da despesa pública que, por regra, e maquiavelicamente, é desligado no tempo do efectivo aumento de impostos necessário ao seu financiamento. Pretendendo ser possível dar algo a alguém sem, em simultâneo, ter que o retirar a outro alguém, o recurso à "indolor" contracção de empréstimos é o percurso habitual (e o único que restava depois de termos aderido ao euro até que o crédito secou). Geralmente acompanhado pelo críptico chavão do "alargamento da base tributária", invocam-se ainda razões de "equidade" pois que, supostamente, "se todos pagassem o que deviam pagar, os que já pagam os impostos devidos pagariam menos". Tremenda falácia, esta, em que muitos continuam a cair já que de quanto mais impostos o estado se apossar, mais aumentará a despesa pública.

Ocorre-me uma passagem, lapidar, de uma entrevista que Orlando Vitorino, um injustamente esquecido filósofo português, deu ao Comércio do Porto, em Maio de 1985:
"Quanto à «economia paralela», começo por lhe observar que é, essa, uma designação eufemística. A sua designação correcta é a de «economia clandestina». Quer dizer: uma economia cuja actividade se exerce à margem das leis estabelecidas, o que é condenável. Mas se observarmos que essas leis são contrárias aos justos direitos dos homens, como o direito de cada um ser dono do que é seu, trabalhar no que entender, produzir o que quiser, vender e comprar por livre contrato, não ver extorquidos pelos impostos os seus salários e os seus lucros, então a economia clandestina nada tem de condenável, é um factor de prosperidade que está compensando os Portugueses dos erros da política económica do Estado, uma luta pela liberdade contra a servidão que conta já com um milhão de combatentes. A isto nos trouxe o socialismo: os Portugueses têm no Estado o seu primeiro inimigo!"

2 comentários:

LV disse...

Eduardo,
Congratulo-o pela citação e pelo comentário que precede as palavras de Orlando Vitorino.
O secretário de estado que nomeou é de um partido socialista, não é? (sem ironia!) Então, só pode ser definido como liberal erradamente.
Ainda que estas pessoas façam um percurso anterior que pode evidenciar uma nova perspectiva acerca dos problemas do país, logo a sua acção política se demonstra infectada da podridão de que parecia querer demarcar-se. Levaram vidas clandestinas, diria OVitorino.
Isso nas hostes dos democratas-cristãos é regra, não excepção. Socialistas, portanto.
Saudações,
LV

Eduardo Freitas disse...

Caro Luís Vilela,

Como habitualmente, palavras sábias, as suas, que me levam a retribuir a congratulação.

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Saudações