Christopher Booker tem sido uma presença regular neste blogue praticamente desde o seu início. Jornalista da velha escola tem dedicado a sua vida ao fact-checking, coisa que em Portugal duvido que alguma vez tenha existido e que, pelo menos pelo mundo ocidental, está em vias de extinção nos MSM (Mainstream media). Sozinho, ou em parelha com Richard North, dedicou todo o seu esforço ao exame minucioso dos sucessivos pânicos (amplificados pelos media e assim compelindo os políticos a "fazer alguma coisa") de que o "aquecimento global" constitui, certamente, o zénite da irracionalidade ruinosa. Muita atenção dedicou também à génese da União Europeia e ao modo como ela se desenvolveu, estudando aturadamente o seu "método" e, desse modo, antevendo sem dificuldade o evoluir do monstro globalista de Bruxelas.
A crónica que se segue, publicada no sábado passado na coluna que mantém no Telegraph, é de um brilhantismo difícil de igualar, constituindo prova adicional que os governantes britânicos, Labour ou Tory, ainda que vocalmente em fricção com os "colleagues" da "Europa", se têm limitado a isso mesmo: a uma modulação mais ou menos estridente no tempo para ocupar as manchetes. Entretanto, o declínio ocidental, e em particular o europeu, prossegue, aparentemente irreversível. (A tradução do texto é minha, bem como os realces introduzidos.)
Enquanto a neve do mais frio mês de Março desde 1963 continua a cair, ficámos a saber que temos armazenado gás para nos manter aquecidos apenas para 48 horas, e que o primeiro responsável pela nossa segunda maior companhia de electricidade, a SSE, alertou para o facto de que a nossa capacidade geradora [de produção fiável de electricidade] ter caído para níveis tão baixos que podemos esperar, a qualquer momento, cortes no fornecimento de energia eléctrica ["apagões"]. A tempestade perfeita parece pairar sobre nós.
Imagem retirada daqui
A grotesca gestão da política energética da Grã-Bretanha pelos políticos de todos os partidos, de perseguir as suas quimeras infantis do CO2 induzido pelo aquecimento global e das ventoinhas eólicas, tem vindo a constituir, provavelmente, o maior acto de irresponsabilidade política da nossa história.
Três novos eventos da semana passada trouxeram-nos de novo a bolha louca do faz-de-conta em que estas pessoas vivem. Sob a Directiva da União Europeia das Grandes Instalações de Combustão [link], perdemos mais duas grandes centrais electroprodutoras alimentadas a carvão, a Didcot A e a Cockenzie, capazes de contribuir com nada menos que um décimo das nossas necessidades médias de energia eléctrica. Vimos atribuída a uma empresa estatal francesa, a EDF, autorização para despender uma verba planeada de 14 mil milhões de libras na construção de dois novos reactores nucleares em Somerset, mas em que a empresa diz que a sua conclusão só ocorrerá num horizonte temporal de 10 anos, se lhe for garantido um subsídio que irá duplicar o preço de sua electricidade. Em seguida, escondidos em letras pequenas no Orçamento, surgiram novos números para o imposto em rápida escalada que o Governo irá apresentar na próxima semana que recairá sobre cada tonelada de CO2 emitido pelas centrais alimentadas a combustíveis fósseis, que em breve acrescentarão milhares de milhões de libras às nossas contas de energia eléctrica todos os anos.
Dentro de sete anos, este novo imposto subirá para 30 libras (35 euros) por tonelada, e até 2030 para 70 libras por tonelada, o que tornará economicamente inviável gerar mais electricidade a partir de centrais a carvão ou a gás as quais, na semana passada, estavam ainda a fornecer dois terços da nossa electricidade. Junte-se tudo isso e divisamos, mais cruamente que nunca, o jogo que o Governo está a jogar. O Governo sabe que nenhuma empresa iria construir parques eólicos a menos que fossem concedidos subsídios que, na realidade, praticamente dobram ou triplicam o preço da sua electricidade. O Governo só irá conseguir energia nuclear (cujas centrais não emitem CO2) caso prometa um subsídio igual. E agora é a Coligação que também está obcecada em eliminar o recurso às nossas muito mais baratas e fiáveis centrais a carvão e a gás, através da imposição de um imposto sobre o carbono que não só irá eventualmente dobrar o custo da energia eléctrica por elas produzida, mas também fazer com que lhes seja impossível sobreviver. Tão insane é esta política de "dobrar o custo a 360 graus" ["double-up all round"] que está a fazer com que até mesmo a maior e mais eficiente central eléctrica no país, a Drax, capaz de fornecer sete por cento de toda a energia que usamos, esteja a substituir a queima de carvão pela de aparas de madeira, importadas dos EUA via Atlântico, a uma distância de 4800 km. E como é que o Governo forçou a Drax a fazer isto? Dando-lhe um subsídio às aparas de madeira que duplica o custo da sua electricidade, enquanto impõe um imposto cada vez mais proibitivo sobre o carvão.
Isso é tudo tão louco visto de tantas perspectivas que mal se sabe por onde começar, excepto para salientar que, mesmo que os nossos governantes de alguma forma conseguissem subsidiar as empresas para que estas despendessem 100 mil milhões de libras em todos os parques eólicos com que sonham, eles ainda continuariam a precisar de suficientes novas centrais alimentadas a gás para proporcionar o necessário backup sempre que o vento não estiver soprando, no exacto momento em que o imposto sobre o carbono em breve as tornará economicamente inviáveis para que alguém as venha a construir.
Portanto estamos condenados a ver as luzes da Grã-Bretanha a apagarem-se, e tudo porque as lunáticas cabeças responsáveis pela nossa política energética ainda acreditam que têm que fazer alguma coisa para salvar o planeta daquele aquecimento global induzido pelo CO2 que, neste fim-de-semana, vem cobrindo boa parte do país com uma camada de neve de cerca de 30 cm de espessura . Enquanto isso, os indianos estão planeando a construção de 455 novas centrais alimentadas a carvão que irão libertar mais CO2 para a atmosfera do planeta em cada semana do que a Grã-Bretanha emite num ano.
Obrigado, David Cameron, líder do "governo mais verde de sempre". Obrigado, Ed Miliband, pai da Lei das Alterações Climáticas, a nota de suicídio mais cara da história. Entre vós, parecem determinados a desligar as luzes, trancar a porta e jogar a chave fora. Devemos-lhes mais do que conseguimos dizer.
3 comentários:
O eureferendum devia ser leitura regular (para não dizer obrigatória, passe-se a violação do NAP) de qualquer amante da liberdade que acha que dos lados de Inglaterra ainda advém alguma coisa de "liberal" e "eurocepticismo".
Curioso também o que o Richard North vai dizendo do Nigel Farage.
Adiante, o último parágrafo diz tudo.
Abebe Selassie mostrou-se desapontado porque o preço da eelctricidade em Portugal não baixa. É uma pena que ninguém lhe explique a razão porque isso não acontece e a inevitabilidade de que o preço suba nos próximos anos. O modelo das fontes renováveis é a coisa mais bizarra do nosso tempo, um suicídio económico quase inexplicável. Como é que os países o patrocinam é algo que me custa muito a entender.
Sobre o "aquecimento global" parece que a coisa não está muito dentro das previsões dos sábios e o pessoal pelo menos no Norte da Europa não há meio de sentir o calor da Primavera, assim há um movimento que se preocupa com essa questão, Africa for Norway, uma engraçada paródia que a médio / longo prazo talvez deixe de ser paródia, nunca se sabe.
http://www.africafornorway.no/
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