O livro que se mantém na vitrina, "The Tragedy of the Euro", de Philipp Bagus, contém uma resenha histórica da evolução do projecto de integração europeia desde os tempos da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço - CECA (criada em 1951 pelo Tratado de Paris) passando pelo EURATOM e pela Comunidade Económica Europeia (criadas pelo Tratado de Roma em 1957) passando pela Comunidade Europeia até à actual União Europeia. O autor defende a tese de que desde o início se têm defrontado duas perspectivas distintas para o processo de integração europeia. Uma, de pendor mais liberal, apostando na preservação de uma Europa de nações e das suas diferenças, cujos protagonistas principais têm sido a Alemanha, a Holanda e a Grã-Bretanha; a outra, especialmente acarinhada pelos partidos socialistas, nomeadamente o Francês e os dos países mediterrânicos, que tem promovido uma visão voluntarista de engenharia social europeia que, entre outras características, persegue o combate ao poderio económico e, portanto, político, da Alemanha tendencialmente imperial (para quem continua a manter uma leitura ortodoxa das origens das duas Grandes Guerras).
Perante a crise do euro que vimos assistindo estas duas correntes políticas têm, naturalmente, defendido posições distintas. Os que querem "domar" a Alemanha e reforçar o projecto político europeu (leia-se, colocar a Alemanha a subsidiar os países atavicamente mal-comportados) avançam, por exemplo, com a proposta de lançamento de dívida pública europeia (eurobonds) e com a fuga para a frente que representaria a transferência para Bruxelas dos instrumentos de política orçamental, ou seja, para a criação decidida de uma Europa federal. Por seu lado, os defensores da perspectiva liberal não querem ouvir falar nisto sequer continuando a defender um projecto de integração mas no respeito da diversidade ciosos da preservação da soberania que ainda mantêm face a Bruxelas.
É por tudo isto que aconselho vivamente a leitura desta entrevista promovida pela Der Spiegel onde participam dois renomados economistas alemães que são intérpretes razoavelmente fiéis às duas correntes atrás enunciadas. É uma entrevista particularmente interessante já que não se refugia num economês para iniciados.
1 comentário:
Anuncia-se a 'guerra civil' europeia, com o norte de um lado e o sul do outro. Fazendo o paralelismo com a guerra civil americana, há uma semelhança: o norte é quem tem maior riqueza. Há uma diferença: na Europa, o sul representa a visão federal. Aguardo resultado semelhante: a vitória do norte.
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