quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Ellsberg, Woodward e Assange. Porquê a diferença?

Acho isto cada vez mais deplorável e custa-me a entender que haja quem se apresente como defensor de um Estado de Direito e nada tenha a apontar ao que está a suceder a Assange face às acusações(?) que é alvo por parte da justiça sueca e tão diligentemente "amparadas" pelas autoridades britânicas judiciárias(?). Ocorre-me, por exemplo, o caso de Vale e Azevedo.

Bob Woodward and Carl Bernstein, usando como fonte "Garganta Funda", expuseram o caso Watergate. Quantos segredos de Estado violaram? Aliás, ainda há uns meses, Woodward publicou Obama's Wars. Ao fazê-lo, como refere o Professor de Direito de Harvard, Jack Goldsmith, «with the obvious assistance of many top Obama administration officials, disclosed many details about top secret programs, code names, documents, meetings, and the like. I have a hard time squaring the anger the government is directing toward wikileaks with its top officials openly violating classification rules and opportunistically revealing without authorization top secret information

E que dizer de Daniel Ellsberg e dos Pentagon Papers divulgados ao mundo em 1971 no New York Times que, nomeadamente, contavam outra história do Vietnam que não a muito diferente mas oficial?

Qual é a diferença para Assange? Porquê o apelo à caça e ao assassínio? Porque não se ouve que esteja em marcha um conjunto de processos judiciais contra o New York Times, Guardian, Spiegel, Le Monde e El Pais? Daí que seja lógico que acompanhe a questão que David Friedman formula: «The question at this point is whether when the government fails to keep something secret, when it gives access to its secrets to someone who proceeds to pass them on, it is entitled to put the genie back in the bottle by making everyone whom they have been passed on to, at least everyone with the ability to publicize them, shut up.»

E para aqueles cuja "linha de defesa" passa por considerar indispensável e inviolável o segredo na arte da diplomacia, convidava-os a reflectirem com o João Miranda: Porque é que aqueles que tanto defendem o segredo diplomático são também aqueles que defendem o direito dos estados em se espiarem uns aos outros?

(Via EconLog)

Sem comentários: