quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Emigração inevitável

Guardian, 21-12-2011
O Guardian faz eco dos movimentos migratórios que se estão a verificar nos países europeus mais atingidos pelo muito baixo, quando não negativo, crescimento económico. Os portugueses e os gregos são dos mais atingidos pelo fenómeno. Mas as pressões migratórias estão também presentes noutros países em dificuldades como a Irlanda, a Espanha e a Itália. No caso dos portugueses, Angola, Moçambique e Brasil são os destinos, naturais, dos novos emigrantes.  

Nada de particularmente novo para nós, portugueses. Desde que a economia praticamente deixou de crescer - sensivelmente um par de anos após a adesão ao euro -, os últimos números disponíveis (de 2008) já indiciavam uma aproximação aos valores atingidos na década de 60 do século passado.
Fonte: Desmitos
Recorrendo ainda ao blogue Desmitos (que saudades prof. Álvaro Santos Pereira...), note-se como o gráfico (clicar na imagem para a ampliar) evidencia uma forte correlação entre a taxa de crescimento do PIB (no eixo vertical) e o número de emigrantes em cada um dos últimos quinze anos.

Fonte: Desmitos
É portanto natural - e será mesmo inevitável - que continue a saída de dezenas de milhar de compatriotas à procura de oportunidades noutras paragens. De pouco vale "exigir" ao Governo uma solução para este problema. Sobretudo se essa exigência é acompanhada do pressuposto que a "resolução" do problema passa por o Estado "estimular" a economia subsidiando tudo e todos. Ora foi exactamente essa via que nos trouxe onde chegámos, hoje completamente vergados pela monstruosa dívida contraída. Ainda assim, desprovidos de significativa parcela da nossa soberania, caminhamos "alegremente" para a institucionalizar, agravando-a, sem sequer discutirmos seriamente as consequências que daí advirão.

É verdade que só com crescimento económico saudável será possível inverter o ciclo migratório e voltar a atrair imigrantes que bem precisamos. A questão está em saber como o obter. Creio que sem surpresa para o leitor habitual, o autor deste blogue acha que isso passa necessariamente pelo efectivo e significativo recuo do Estado na actividade económica, na burocracia (des)regulatória e no Estado "social". Infelizmente não é isso que vejo sequer enunciado pelo actual governo. Da "Europa", exigem-nos pedem-nos, que nos "harmonizemos", em particular no domínio fiscal, ou seja, exactamente o inverso do que necessitamos fazer. Estou muito pessimista.

2 comentários:

Lura do Grilo disse...

A culpa de o país não se desenvolver era de Salazar (mas ele desenvolvia-se e o FT dizia -julgo que em 64- que Portugal caminhava para um milagre económico).

Agora que não há Salazar a culpa é de quem?

Eduardo Freitas disse...

Há narrativas que necessitam ser revisitadas...