Confirmando vários rumores que há algum tempo circulavam, a Microsoft oficializou esta semana o processo de
descontinuação (
phasing out) da mítica marca Internet Explorer e a decisão tomada de rumar noutras direcções embarcando num projecto significativamente designado de "Espartano". Foi este o pretexto para revisitar a épica guerra dos
browsers (navegadores na Internet); recordar a intervenção estatal e judicial que, como sempre, pretendeu ditar vendedores e vencidos em nome da "sã concorrência"; e, por fim, e mais importante, retirar as riquíssimas lições do sucedido. É este o foco do
artigo de Jeffrey Tucker que hoje vos proponho.
Mas primeiro um breve interlúdio para contextualizar a minha leitura do sucedido. Na faculdade, tivera uma cadeira introdutória de Informática - de papel e lápis. Uns bons anos depois, num momento de maior desafogo financeiro, comprei um ZX Spectrum com o qual, para além de jogar (muito), me divertia a fazer umas habilidades com a sua versão de Basic (pouco). O meu primeiro PC doméstico foi adquirido em 1991 (mediante empréstimo bancário). Juntamente com a impressora, a coisa importou em 500 contos, à volta de 5500 euros a preços de hoje! Com ele viria pouco depois o primeiro Windows a sério - o 3.1. Dois anos antes, tivera contacto profissional com o salto gigantesco que representava o passar da estação de trabalho individual para um ambiente colaborativo assente numa rede (com partilha de impressoras!) e tomo contacto com a extraordinária beleza e facilidade de utilização dos (porém caríssimos) Apple Macintosh. Desde então, que o portátil passou a fazer parte da minha bagagem permanente. Depois, creio que foi em 1995, durante as férias de Verão, ao "digerir" um breve manual, que finalmente compreendi o poder da internet - e o sentido de urgência que Bill Gates tentava então incutir em toda a Microsoft - quando me apercebi da extraordinária facilidade em criar páginas web que a linguagem HTML permitia. Foi uma autêntica epifania. "
A rede era o computador", proclamava-se na
Sun Microsystems. Foi mais ao menos por essa altura que me recordo de ler nos jornais o caso da guerra dos
browsers a que alude o artigo de Jeffrey Tucker. Recordo-me de ter achado um absurdo a acusação de monopólio que se imputava à Microsoft. Já tivera até então experiência bastante para perceber, que máquinas e software não só não paravam de melhorar, em qualidade e desempenho, como o seu preço (real e nominal) tinha descido vertiginosamente (e assim tem continuado até hoje). Se algo caracterizava a indústria era a sua duríssima competitividade em
benefício dos consumidores, traduzida na extraordinária ascensão e queda de protagonistas (Wang, Digital, IBM, etc.). Só bem mais tarde viria a compreender a lenda criada à volta das leis "antitrust" da época "progressiva" nos EUA e o
posterior surgimento do suporte teórico "justificativo" do intervencionismo regulatório estatal cujo orwelliano lema se pode resumir em algo como: "A melhor defesa da concorrência é a sua eliminação". A guerra dos
browsers, e o apelo que então foi dirigido ao poder (por competidores directos e prospectivos, auxiliados pela histeria mediática dos media convencionais), é um exemplo eloquente da verdadeira utilidade da regulação estatal: servir compadrios. A inevitável consequência é a destruição, ou pelo menos, o sério prejuízo da criatividade e pujança do mercado. Uma última nota para voltar a sublinhar, aspecto que não é endereçado no artigo, que o sector das TIC há bem mais de 30 anos que demonstra à evidência a falácia do
papão deflacionista.
20 de Março de 2015
Por Jeffrey Tucker
Sem muito alarde, a Microsoft anunciou este mês que irá descontinuar progressivamente o seu muito conhecido navegador web - o Internet Explorer (IE). Nas notícias, o foco principal tem incidido nas razões que o levaram a ser suplantado pelo Chrome, Safari e Firefox, entre muitos outros navegadores existentes no mercado. Além disso, as aplicações móveis estão a dar passos gigantescos na navegação web em geral.
Isto é de facto verdade. Nas plataformas com que lidei, assisti à forma como o IE passou de uma quota de utilização dos 95 para os 20%, um crash espectacular e bem merecido, do pináculo em que se tinha instalado, que demorou uns bons 20 anos. A Microsoft nunca foi capaz de corrigir os seus infindáveis problemas de segurança. Cada nova versão, da 1 à 10, parecia corrigir alguns problemas da versão anterior ao mesmo tempo que introduzia outros mais.
Não foi inteiramente culpa da Microsoft: a condição de navegador dominante do IE tornou-o num alvo incessantemente submetido aos ataques de todos os criadores de malware no mundo. Mesmo uma equipa de mil programadores da Microsoft foi incapaz de ultrapassar esse problema. Não ajudou que a própria Microsoft estivesse tolhida pela sua gigantesca dimensão e estrutura de gestão burocrática.