Na minha opinião, a RTP, a RDP, a Lusa e a ERC, a que juntam no passado ainda recente os jornais estatizados e uma tal "Alta Autoridade", constituem (constituíram) autênticos cancros. Financeiros, desde logo, mas sobretudo imorais e como tal ilegítimos à luz de uma ética defensora da liberdade contra a interferência estatista, por natureza propagandística na defesa da Situação. Se há país no mundo que atesta o que acabo de escrever, há mais de 70 anos, é Portugal. De Salazar e Caetano, como de Vasco Gonçalves a Passos Coelho, passando por Mário Soares ou Cavaco e Silva e todos os outros chefes de Governo.
Em devido tempo, uns meses antes de ter iniciado este blogue, saudei as intenções que o então novo líder do PSD, Passos Coelho, anunciou, em livro por si publicado, quanto à privatização da RTP. Pouco a pouco fui-me sentindo ludibriado à medida que Miguel Relvas, ia divulgando as intenções do Governo. Vejamos a cronologia recente:
- A 8 de Agosto é anunciada a constituição de um grupo de trabalho (GT) para "definir o conceito do serviço público na área da comunicação social" num prazo de 60 dias; na mesma data, Miguel Relvas anuncia que a RTP iria "vai apresentar um programa de reestruturação até dia 15 de Setembro.";
- A 2 de Setembro último, divulgando o desabafo de Vasco Graça Moura, acompanhava Pacheco Pereira, nesta aposta. Três dias depois, era anunciado que a RTPN passava a designar-se RTP Informação interpretando que este anúncio nada mais era que a confirmação da justeza da aposta de Pacheco Pereira que eu próprio subscrevia. Houve quem discordasse.
- A 29 de Outubro, voltava a fazer eco de Pacheco Pereira quanto à perplexidade que causavam os sucessivos anúncios de Miguel Relvas no domínio (conceito do "serviço público" ) que, supostamente, o GT nomeado pelo governo, iria ajudar a redefinir;
- A 9 de Novembro, são anunciadas três demissões do grupo de trabalho. Cito Francisco Sarsfield Cabral: "tive acesso às declarações que foram feitas pelo ministro dos Assuntos Parlamentares, e entendi que não fazia sentido continuar a fazer parte do grupo de trabalho;
- Finalmente, ontem, dia 14 de Novembro, é divulgado o relatório do GT.
«5. Os trabalhos deste GT decorreram num período de intensa actividade no âmbito dos operadores de serviço público, por força da sua inclusão, pela primeira vez, no Orçamento de Estado, obrigando a tutela a intervir e a dar explicações públicas. Nesse sentido, a «aprovação do plano de sustentabilidade económica e financeira da RTP» (PSEF) pelo Governo, no passado dia 24 de Outubro, alterou as condições de elaboração do relatório do GT. Ao declarar oficialmente que pretende «salvaguardar a “marca RTP” enquanto referencial histórico-cultural» e ao anunciar, desde já, a decisão de manter um canal generalista “não-residual” de informação e entretenimento, o Ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares fez suas as propostas do PSEF da RTP, incluindo a de que «a RTP continuará a sua actividade num mercado altamente concorrencial, não podendo abdicar de objectivos de audiências [que] garanta[m] as receitas de publicidade que lhe[s] estão associadas» (pág. 7 do PSEF). Esta declaração de princípios ultrapassa largamente o âmbito temporal do plano, para 2012, do mesmo modo que o empenho político num canal de informação da RTP, hoje chamado RTP Informação, pode corresponder a uma estratégia governamental para a sua instrumentalização.6. Em consequência das declarações e factos ocorridos neste período, o GT teme em especial pelo modelo de informação que o Governo aparenta defender, por considerarmos que permitirá perpetuar a influência, quando não a interferência, do poder político, quer na televisão e na rádio públicas, quer na agência de notícias. Parece-nos por isso perniciosa a orientação pressuposta no PSEF quanto às modalidades do serviço de informação do operador público e quanto à definição do modelo institucional e seus canais, assim como quanto à continuação da publicidade, que não só prejudica todo o sector, como inevitavelmente contamina os conteúdos e a programação.
7. Considerando-se ultrapassado nas suas funções, o GT ouviu do Sr. Ministro que, quaisquer acções suas neste contexto, nomeadamente as relativas ao PSEF da RTP e ao seu comunicado a este propósito, se referiam exclusivamente ao horizonte temporal de 2011-2012 e que, por isso, em nada feriam a missão deste GT; e que, ao lidar com a redefinição de serviço público, o GT iria produzir um conjunto de recomendações, agora consubstanciadas neste Relatório, que seriam elemento essencial da definição da política e actuação futura do Governo neste domínio. Nesse sentido, o Grupo de Trabalho resolveu contornar os condicionalismos expostos e prosseguiu a preparação deste documento como prova do seu serviço pro bono à sociedade e como prova da independência com que trabalhou.»
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