segunda-feira, 19 de março de 2012

Jornalismo de "referência": trivialidades e relevância


Dois meses depois, o mesmo jornalista que assinava a notícia acima, em acto de contrição que a própria direcção do jornal assume, escreve agora:

Público, 19-03-2012: Em sete meses, Passos fez menos nomeações do que Sócrates (notícia completa só disponível para assinantes ou para quem compre a edição em papel).

Interesse de tudo isto? Muito pouco. São gastas, se contei bem, 94 linhas da notícia escolhida para "destaque" da edição de hoje, num exercício pueril contábil, para concluir, sob vários pressupostos metodológicos, que Passos fez, afinal, menos 33,8% de nomeações que o primeiro governo de Sócrates (e, já agora, usando os números que a própria notícia avança, menos 37,5% relativamente a Sócrates II). E daí? Que problema de fundo ficou resolvido, sequer endereçado, com esta "contenção"? Satisfazer o povoléu alimentando a sanha contra os "privilegiados" deste país promovendo e satisfazendo um discurso populista altamente perigoso?

Será o PREMAC de Passos tão fundamentalmente diferente do PRACE de Sócrates?(*) Ou serão os dois "Programas" essencialmente semelhantes na sua absoluta inutilidade em atacar o gigantesco cancro estatal que nos sufoca e cujas metástases se estendem a tudo e a todos? Quando pretende o governo propor a redefinição das funções do Estado? Ou será que julga que para a resolução dos nossos problemas, face ao desregramento precedente (fundado na cartilha keynesiana, não o esqueçamos), será suficiente um mero exercício de contenção ainda que fundado numa dramática punção salarial e fiscal? Será que, no fim de contas, a estratégia do governo se cinge a "fazer o mesmo gastando menos" resumindo a sua estratégia à multiplicação do que poderíamos designar por  "paradigma RTP"?
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(*) - Segundo o artigo, o futuro presidente da comissão de recrutamento dos dirigentes superiores do Estado, será João Bilhim, exactamente "o [mesmo] responsável da comissão técnica que elaborou o PRACE na primeira legislatura de José Sócrates".

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