domingo, 22 de abril de 2012

Resposta a 12 mitos ambientais

Um contributo para a celebração do Dia da Terra de 2012: do livro Little Green Lies: Twelve Environmental Myths, por Jeff Bennett (minha  tradução):
Proposição 1: O "Pico Petrolífero" (Peak Oil) foi alcançado.
A produção anual de petróleo, ainda que tenha aumentado no último século, está prestes a diminuir por causa da crescente escassez. Dada a nossa dependência do petróleo e o ritmo acelerado a que estamos a usá-lo precisamos agora de tomar medidas activas de política para poupar no que resta.
Resposta:
Ninguém sabe ao certo que reservas de petróleo estão disponíveis. À medida que as reservas conhecidas se esgotam, a subida de preços incentivará a exploração e os avanços tecnológicos o que, por sua vez, promoverá a expansão da oferta disponível de petróleo, bem como o aparecimento de fontes substitutas de energia.

Proposição 2: A produção de energia renovável deve ser estimulada.
As fontes de energia não-renováveis estão a esgotar-se tão rapidamente  que em breve experimentaremos faltas de energia. As não-renováveis são igualmente fontes "sujas" de energia. As energias renováveis devem ser estimuladas para assegurar o fornecimento contínuo de energia limpa.
Resposta:
As fontes renováveis de energia têm um potencial limitado no curto e médio prazos para satisfazer a procura. Escolher 'vencedores' para serem destinatários de estímulos é, provavelmente, uma má decisão dada a rápida evolução tecnológica. As energias renováveis têm as suas próprias desvantagens ambientais.

Proposição 3: Nas escolhas do consumidor devem ser integradas as características ambientais dos produtos, tais como a "distância" (quilómetros alimentares), a "pegada ecológica", o "conteúdo energético", a "água virtual" e a "pegada de carbono".
Os cidadãos devem ser informados dos seus impactos sobre a energia, fauna, flora, água, clima etc, no momento da compra de bens e serviços para que assim possam reduzir o seu impacto sobre esses recursos. Cada recurso é escasso e valioso. Devemos conservá-los, especialmente para as gerações futuras.
Resposta:
Caso se focassem num único conjunto de recursos escassos (água, energia ...) aquando das suas decisões de consumo, as pessoas poderiam ignorar o seu impacto sobre outros recursos escassos. O resultado é uma "falsa economia". Logo que os impactos sobre os múltiplos recursos sejam objecto de um índice, as distorções surgem. Os preços são os mais eficazes instrumentos no destaque da escassez.

Proposição 4: A população mundial deve ser limitada.
Com o crescimento populacional maior é a pressão sobre os recursos limitados do planeta e portanto sobre o ambiente. A única maneira de proteger o meio ambiente, eliminar a fome e assegurar recursos suficientes para as gerações futuras, implica parar o crescimento populacional.
Resposta:
O homem é um recurso. Ele tem a possibilidade de recorrer a tecnologias inovadoras e instituições para lidar com a escassez crescente de certos recursos. Novas maneiras de atender às necessidades das pessoas e novas fontes de recursos escassos podem ser descobertas.

Proposição 5: O crescimento económico e o comércio são maus para o ambiente.
O crescimento económico, alimentado pelo comércio internacional, significa maior pressão sobre os recursos escassos, incluindo o ambiente. Para proteger o meio ambiente e economizar recursos para o futuro, o comércio deveria ser restringido para reduzir o crescimento.
Resposta:
O comércio e o crescimento económico aumentam a riqueza das pessoas. Por sua vez, essa maior riqueza vai aumentar as exigências das pessoas relativamente à protecção do ambiente e possibilita a capacidade da sociedade para proporcionar protecção ambiental, especialmente através do desenvolvimento tecnológico.

Proposição 6: Nenhum resíduo deve ter como destino um aterro.
Os resíduos não devem ser desperdiçados. Tratam-se de recursos que podem ser reutilizados e reciclados. O envio de resíduos para aterros implica que mais recursos "virgens" sejam colhidos/explorados. De resto, os resíduos dispostos em aterros podem constituir uma fonte de poluição do ar e da água.
Resposta:
A reciclagem e reutilização de "resíduos" é um processo que utiliza recursos escassos. Políticas que impeçam a utilização de aterros podem provocar que mais recursos tenham que ser usados do que aqueles que foram poupados e não reduzem necessariamente a utilização de recursos naturais virgens. Os aterros não necessitam ser fontes de poluição.

Proposição 7: A água e a energia devem ser usadas de forma "eficiente ", qualquer que seja o custo.
A água e a energia são recursos escassos. A sua utilização necessita ser minimizada para que as gerações futuras venham a ter quantidade suficiente. Os governos devem investir em tecnologias que assegurem que menores quantidades de energia e água sejam usadas ​​na produção de bens e serviços.
Resposta:
Investir em medidas de "eficiência" significa utilizar outros recursos escassos como substitutos da energia e da água. Uma "falsa economia "resulta porque os outros recursos, incluindo o trabalho e o capital, podem bem ser mais escassos do que a energia e água.

Proposição 8: O ambiente é de um valor infinito e não deve ser prejudicado.
O ambiente proporciona-nos um "sistema de suporte à vida ". Sem ele nós não podemos sobreviver e por isso devemos protegê-lo a todo custo. Devemos absolutamente assegurarmo-nos de que as espécies raras e ameaçadas são protegidas de modo a que o seu número aumente.
Resposta:
Sem o meio ambiente não poderíamos existir e assim o seu valor absoluto é infinito. No entanto, esse não é tema relevante para a definição de políticas. Alterações ao meio ambiente aportam benefícios e custos finitos que necessitam ser ponderados e avaliados.

Proposição 9: Temos que reduzir os gases com efeito de estufa (GEE) para evitar alterações climáticas globais.
As alterações climáticas globais induzidas pelo homem constituem uma séria ameaça para que o planeta retenha a capacidade de manter a humanidade e os actuais ecossistemas. Os danos causados pelas alterações climáticas serão tão grandes que as emissões de GEE devem ser reduzidos agora.
Resposta:
A redução de emissões de GEE seria onerosa. A decisão de suportar esses custos deve ser tomada com referência aos benefícios esperados resultantes da redução de emissões de GEE. A redução de emissões de GEE não eliminará o risco da mudança climática.

Proposição 10: O cuidado com o meio ambiente não pode ser confiado ao sector privado.
O meio ambiente proporciona "bens públicos" que devem estar disponíveis a todos gratuitamente. Isso significa que o governo tem que ser responsável por cuidar do meio ambiente. O sector privado destruí-lo-á ou irá tentar lucrar com ele.
Resposta:
O sector público vai enfrentar problemas na gestão do meio ambiente. A informação para a tomada de decisão é dispendiosa. Os incentivos dos políticos e burocratas podem conflituar com o melhor interesse público. As soluções privadas podem ter custos menores e estarem melhor alinhadas com o bem-estar da sociedade.

Proposição 11: A agricultura e a extracção de minérios estão sempre em conflito com o meio ambiente.
As indústrias agrícolas extractivas empobrecem o nosso stock de recursos naturais, frequentemente de forma irreversível. Causam também a degradação ambiental incluindo a erosão do solo, a perda de biodiversidade e a contaminação química da água e do ar.
Resposta:
Embora haja que proceder a arbitragens (trade-offs) entre a mineração, a agricultura e o meio ambiente, os problemas podem ser reduzidos através do recurso a técnicas de gestão e à tecnologia. Medidas compensatórias ou de mitigação nos campos e nas minas podem igualmente melhorar o ambiente.

Proposição 12: As decisões sobre o futuro do ambiente devem ser tomadas usando o "princípio da precaução".
Se há o risco de uma acção proposta vir a prejudicar o meio ambiente, o princípio da precaução exige que os decisores políticos coloquem o ónus da prova de que assim não será nos promotores dessa acção.
Resposta:
Há sempre algum risco de dano ambiental resultante da acção humana. Demonstrar que não há nenhum risco de dano é impossível. Existem também incertezas associadas com a não tomada de acções que o "princípio da precaução" ignora.

1 comentário:

Lura do Grilo disse...

O João Miranda escreveu qualquer coisa parecido sobre o Malthusianismo