quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Uma verdade muito inconveniente


O Inenarrável(*) que desgraçadamente nos governa(?) descobriu agora que "o crescimento económico e a redução do endividamento externo de Portugal" resultarão do aumento das exportações portuguesas. Para tal, entendeu dar "um primeiro sinal" ao reunir-se com as maiores empresas exportadoras "nacionais" (Repsol, Autoeuropa, Bosh Car Multimedia, Peugeot Citroen...) para "delinear" uma estratégia que "potencie" as exportações nacionais. Anunciou também que o objectivo do governo é "facilitar o emprego e o trabalho" mas através de medidas "exequíveis" e "pragmáticas".

Potenciar, dinamizar, delinear, facilitar. Estes são os verbos socráticos, os do desgoverno. O que o país precisa, isso sim, é que o governo não atrapalhe, não esteja permanentemente a mudar as regras do jogo e desista de intervir em todos os sectores aos diferentes níveis.

Hoje instalou-se entre nós uma explicação relativamente cómoda para explicar a estagnação em que vivemos nos últimos 10 anos: a adesão ao euro, ao tornar impossível o recurso à desvalorização, retirou-nos o único mecanismo verdadeiramente eficaz para repormos a nossa competitividade externa. Este facto, conjugado com o deslumbramento de um "acréscimo" de riqueza motivado pela a brutal descida da taxa de juro, transportou-nos para o descalabro em que temos vivido, muito em especial, quanto ao desequilíbrio nas contas externas.

Mas o problema é, a meu ver, bem mais profundo e advém de termos construído um Estado "social" crescentemente incompatível com a debilidade do nosso tecido económico. É, aliás, o que Medina Carreira não se tem cansado de chamar a atenção.

Em Welfare state crack-up, o articulista, George Bragues, da Universidade de Guelph-Humber em Toronto, num artigo inteiramente dedicado ao nosso país, termina-o escrevendo:
[As] Portugal's ranking in the Heritage Foundation economic freedom index fell from 38th place in 1995 to its current standing at 62nd. The country's adoption of the euro also bought some time by reducing debt-servicing costs. Figuring that giving up its own currency would force the government to implement market reforms, instead of resorting to the previous ways of depreciation, the bond market lowered the risk premium charged on Portuguese debt. But few reforms were made.

Unlike other developed nations, Portugal built its welfare state on a relatively weak economic foundation. Hence, it is among the first to have run into difficulties, making it a harbinger of the coming crack-up in social democracy. What Portugal can, and must, do is show the way out of this morass by truly completing its revolution and extending the freedom that its people won in the political sphere to their economic lives as well.
(*) - Na sintética e feliz cunhagem de José, do blogue PortadaLoja.

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