Creio que será tão velha quanto a civilização ocidental a convivência com o anúncio, para um momento mais ou menos próximo na linha do tempo, da chegada do Apocalipse. A esta luz, a tese catastrofista do "aquecimento global" / "alterações climáticas" é apenas o seu mais feroz afloramento.
É curioso assinalar que tenha sido precisamente em pleno
take-off do sistema capitalista, que viria a proporcionar um tão extraordinariamente longo período de crescimento económico que, ironicamente, tivesse sido teorizada pelo economista Thomas Malthus, a tese da "inevitabilidade" da estagnação do crescimento do rendimento
per capita - a
armadilha malthusiana como viria a ficar conhecida. Supostamente, como Malthus enunciou, em 1798, no seu "
An Essay on the Principle of Population" (
pdf), de 1798, a combinação de um crescimento populacional inelutável (em
progressão geométrica) com a escassez relativa de recursos (que cresceriam apenas segundo uma progressão
aritmética) era fatal. Ainda no século XIX, um outro economista famoso, Stanley Jevons, num ensaio também célebre -
The Coal Question (
pdf), de 1865 -, pré-anunciava o "fim" do recurso fundamental em que assentava a revolução industrial - o carvão.
No século XX, as teorias catastrofistas ganharam novo fôlego a partir de Hiroshima e Nagasaki e acentuaram-se, a partir dos anos 60/70 do século passado, algures na intersecção entre a crise dos mísseis em Cuba (1962) e a emergência do "movimento verde" (com o livro "
Silent Spring" da autoria de Rachel Carson também de 1962) e, posteriormente, com o acidente de
Three Mile Island (1979). Pelo meio, Paul Ehrlich repescou os velhos (e errados) argumentos de Malthus em
The Population Bomb (1968) e, uns anos depois (1972), foi o Clube de Roma quem se aprestou a repristinar Jevons com o volume "
The Limits to Growth" que "provava" que quase todos os recursos materiais fundamentais iriam acabar dentro de poucas décadas nomeadamente os combustíveis fósseis (novamente a energia, cem anos depois). Quando lemos
Christopher Booker e Richard North ou
Matt Ridley, constatamos que a histeria do pânico se instalou entre nós. Os mais pessimistas dirão que se tornou mesmo endémica. A mais recente "crise", que ainda decorre - a carne de cavalo vendida por vaca -, aí está para o confirmar e irá terminar, pela certa, como todas as outras: com mais leis, mais "regulamentos", mais burocracia, mais batalhões de "inspectores", mais coimas, maiores custos de produção e comercialização e, consequentemente, um (ainda) menor crescimento económico.
Esta semana foi notícia de "caixa" nos jornais ingleses (por exemplo,
aqui e
aqui) a notícia veiculada pelo responsável pela
Ofgem (o regulador britânico da área energética) que o Reino Unido enfrenta sérios riscos de apagões gigantescos com o fecho, já no próximo mês de Março, e por imposição de Bruxelas, de várias centrais a carvão que, no seu conjunto, representam uma capacidade equivalente a quase 1/6 do total das necessidades de energia eléctrica do país. E isto sem que, entretanto, tenha sido construída capacidade alternativa, seja de centrais térmicas a gás ou nucleares! Uma vergonha anunciada (que os media do
mainstream, eles próprios promotores do "verde" politicamente correcto, patrocinaram) que atravessa os governos de Tony Blair e de Gordon Brown mas também o de David Cameron que vem prosseguindo a loucura diarreica dos subsídios às ventoinhas cuja produção de electricidade, sendo inerentemente intermitente, não assegura que exista electricidade quando ela é necessária. E ainda têm a lata de vir alertar os consumidores para se prepararem para o aumento
significativo brutal da electricidade que aí vem. Christopher Booker, no
Telegraph, ou Richard North, no seu
blogue, relembram todos os avisos que foram fazendo desde 2004 e que quase todos preferiram ignorar.
Tudo isto devia ser bem conhecido pelos portugueses: em tempos, um secretário de Estado da Energia afirmou, em 2006, que "
São os consumidores que devem este dinheiro [o défice tarifário]. Não é mais ninguém", a propósito da projectada subida do preço da electricidade para 2007, de 15,7%, proposta pela ERSE na altura comandada por Jorge Vasconcellos, aumento que Sócrates vetou (e que levou à saída de Vasconcellos que apresentou a sua demissão). Sabemos onde
tudo isto já chegou mas ainda não sabemos até onde chegará. Tem receio? Seria irracional que o não tivesse.