sábado, 15 de setembro de 2012

A Primavera Árabe complica-se para os EUA

Pat Buchanan, na sequência do cerco às embaixadas americanas e do assassínio do embaixador americano na Líbia, pergunta: Time To Come Home? A tradução é de minha responsabilidade.
Não terá passado já suficientemente tempo para fazer uma análise custo-benefício do nosso envolvimento no Médio e Próximo Oriente?

Contando apenas este breve século, foi lá que travámos as duas mais longas guerras de nossa história, que colocámos a nossa autoridade moral por trás de uma "Primavera Árabe"que derrubou aliados na Tunísia, no Egipto e no Iémen, e que fornecemos o poder aéreo que salvou Benghazi e derrubou Muammar Khadafi.

Contudo, esta semana, as embaixadas dos EUA estiveram sob cerco na Tunísia, no Egipto e no Iémen, e diplomatas norte-americanos foram massacrados em Benghazi.

O custo das nossas duas guerras é de 6.500 mortos, 40.000 feridos e 2.000 milhões de dólares que foram empilhados sobre uma dívida nacional que é de 16 milhões de milhões de dólares, maior do que toda a economia dos EUA. E o que é que, em nome de Deus, temos nós para mostrar em troca?

Enfrentamos o ódio pandémico sobre o nosso país de Marrocos ao Paquistão. A visão de bandeiras americanas a serem rasgadas em pedaços e queimadas por turbas tornou-se tão comum por lá que quase parece que nos acostumámos a ela.

Quais são as raízes deste ódio árabe e islâmico?

Osama bin Laden, na sua declaração de guerra contra nós, deu três razões para o seu casus belli.


A primeira razão era a presença de tropas americanas no solo da Arábia Saudita, a casa sagrada de Meca e Medina. A segunda, as sanções dos EUA sobre o Iraque, que na altura se disse estarem a causar a morte prematura a pelo menos 500.000 crianças iraquianas.

A terceira era o apoio dos EUA a Israel, visto no mundo árabe como um implante colonial para os humilhar e negar ao povo palestiniano o seu direito a uma nação própria.

Ultimamente, surgiram novas causas de ódio árabe e muçulmano dirigido contra nós.

A primeira é o que os muçulmanos devotos acham a nossa cultura imoral e decadente e que a consideram uma ameaça às suas sociedades e à sua juventude.

A segunda resulta dos promotores do ódio ao Islão na América e no Ocidente que deliberadamente os provocam com retratos insultuosos e blasfemos do Profeta e da sua fé.

Embora as bases americanas na Arábia Saudita tenham entretanto sido em grande parte encerradas, os Estados Unidos tenham praticamente retirado do Iraque e as sanções tenham aí sido levantadas, a América não irá mudar para acomodar o mundo deles.

O apoio a Israel é a posição declarada de ambas os partidos. E, apesar de a secretária de Estado, Hillary Clinton, ter justamente classificado o filme amador, "A Inocência dos Muçulmanos", que causou a mais recente vaga de tumultos anti-americanos, de repugnante e condenável, nós não iremos revogar a Primeira Emenda, que protege provocadores e pornógrafos.

No entanto, em todo o mundo, existem centenas de milhões de muçulmanos para quem a fé é o seu bem mais precioso. Eles vivem-na. Morrerão por ela. E não poucos matarão em seu nome. Outros irão aproveitar-se de insultos reais ou imaginários à sua fé para incitar as multidões a expulsar-nos do seu mundo.

E alguns americanos irão ajudá-los, utilizando livros, filmes e vídeos para manifestar seu desprezo pelo Islão.

Temos portanto aqui um conflito irreconciliável.

A palavra islâmica, especialmente em toda a região árabe, está passando por uma transformação, um Grande Despertar. Os muçulmanos da Nigéria ao Mali,  à Etiópia, ao Sudão, ao Magreb e ao Médio e Próximo Oriente estão cada vez mais militantes e mais hostis para com o cristianismo e outras religiões.

E como nós não vamos mudar a nossa posição sobre Israel, ou a nossa cultura tal como ela é, ou a nossa Primeira Emenda, os confrontos são inevitáveis.

Talvez que o melhor rumo de acção para a América seja reduzir a nossa presença na região, trazer a maioria dos nossos diplomatas e soldados para casa, e deixar que aquelas pessoas encontrem o seu destino por elas próprias.

Segundo, dados os custos e consequências das nossas guerras no Afeganistão e no Iraque e da intervenção na Líbia, deixemos os sírios resolver a guerra por si mesmos. Não há nenhuma garantia que a queda de Bashar Assad, dada a presença  jihadista e da Al-Qaeda nas forças que procuram o seu derrube, se traduza numa melhoria da defesa dos interesses dos Estados Unidos.

Em terceiro lugar, os Estados Unidos deveriam dizer ao governo egípcio que o seu fracasso em proporcionar segurança à nossa embaixada foi um ultraje e que, se não os pudermos ver como um governo amigável com interesses comuns, não hesitaremos em cortar a ajuda e a alertar os cidadãos americanos a não viajar para o Egipto.

Sem a ajuda dos EUA, dos empréstimos ocidentais e dos turistas, a economia do Egipto iria afundar-se com o presidente Morsi na casa do leme. Temos de lhes tornar claro que, negado o respeito que a nossa nação merece, estamos dispostos a fechar a torneira ao seu regime.

O Médio Oriente parece estar passando por um conflito sectário e tribal não muito diferente do da Guerra dos Trinta Anos de 1618 a 1648. Como eles ficaram fora da nossa Guerra dos Trinta Anos, saiamos nós da deles.

Se não protegerem as nossas embaixadas das turbas que vêm queimar a nossa bandeira, vamos baixar a bandeira nós mesmos e levar para casa a Velha Glória.