quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Carta de um empresário americano aos seus trabalhadores

Progressivamente, o facebook vem ganhando terreno no hiperespaço cibernético. Foi por lá que encontrei uma carta dirigida por um empresário aos seus trabalhadores que creio ser útil divulgar num espaço mais "ordenado" como pretende ser este blogue. Apesar do seu contexto ser nitidamente norte-americano, muito do conteúdo é, a meu ver, totalmente aplicável à realidade portuguesa. Para quem já leu "Atlas Shrugged" ("A revolta de Atlas"), nela encontrará similitudes com a personagem John Galt. A tradução é de minha responsabilidade.
A todos os meus valiosos colaboradores:

Tem havido alguns rumores por todo o escritório quanto ao futuro da empresa e, mais especificamente, quanto aos vossos empregos. Como sabem, a economia mudou para pior e apresenta muitos desafios. Porém, a boa notícia é esta: a economia não constitui uma ameaça para o vosso emprego.

O que ameaça o vosso emprego, no entanto, é a mudança do panorama político neste país. Claro que, como vosso empregador, estou proibido de vos dizer em quem devem votar - é contra a lei discriminar com base na filiação política, raça, credo, religião, etc.

Por favor votem em quem acharem que melhor servirá os vossos interesses. No entanto, deixem-me dizer-vos alguns pequenos pormenores que de facto podem ajudar-vos a decidir o que é do vosso interesse. Primeiro, embora seja fácil vociferar retórica que lança empregadores contra empregados, têm que entender que por cada empresário, há uma história por trás.

Essa história é frequentemente negligenciada e ofuscada pelo que vêem e ouvem. É evidente que me vêem estacionar lá fora o meu Mercedes. Viram a minha mansão no ano passado, pela festa de Natal. Tenho a certeza de que todos esses ícones vistosos de luxo vos evocam algumas considerações idealizadas sobre a minha vida. Porém, o que não vêem é a história por trás.

Eu comecei esta empresa há 12 anos. Naquela época, morava num apartamento, tipo estúdio, de 30 metros quadrados, e lá continuei durante 3 anos. Todo aquele espaço foi transformado num escritório para que eu pudesse levar por adiante, com uma dedicação a 100%, a construção de uma empresa que, por sinal, acabaria por vos empregar.

A minha dieta consistia em massas de macarrão ["Ramen Pride"] porque cada dólar que gastava ia para esta empresa. Eu conduzia um Toyota Corolla enferrujado e com uma transmissão defeituosa. Não tinha tempo para namorar. Com frequência, ficava em casa nos fins-de-semana enquanto os meus amigos saíam para beber um copo ou para ir a uma festa. Na verdade, eu tinha casado com a minha empresa - trabalho árduo, disciplina e sacrifício.

Enquanto isso, os meus amigos arranjavam emprego. Eles trabalhavam 40 horas por semana e ganhavam uns modestos 50.000 dólares por ano e gastavam cada cêntimo ganho. Eles conduziam carros vistosos e viviam em casas caras e usavam roupas de marcas de luxo. Em vez de ir comprar roupa da última moda, a mim bastava-me adquirir peças de vestuário que não parecessem dos anos 70.

Os meus amigos refinanciaram as suas hipotecas e viveram uma vida de luxo. Eu, no entanto, não o fiz. Eu despendi o meu tempo, o meu dinheiro e a minha vida num negócio - com a visão que, eventualmente, um dia, também eu iria poder ter recursos para poder usufruir desses luxos o que, supostamente, sucederia então aos meus amigos.

Assim, quando vocês chegam fisicamente ao escritório às 9 horas da manhã, dão mentalmente conta da passagem do meio-dia e depois saem às 5 da tarde, eu não. Para mim, não há nenhum botão de "desligar". Quando vocês saem do escritório, fizeram o que tinham a fazer e têm um fim-de-semana só para vós. Eu, infelizmente, não tenho essa liberdade. Eu como, **** e respiro esta empresa a cada minuto do dia. Não há descanso. Não há fim-de-semana. Não há happy hourEsta empresa está ligada a mim, todos os dias,  como se fosse um bebé com um dia de idade.



Vocês, evidentemente, só vêem os frutos daquele jardim - a casa agradável, o Mercedes, as férias... Nunca se dão conta da história por trás e dos sacrifícios que fiz. Agora, a economia está a desmoronar-se, e eu, o sujeito que tomou todas as decisões correctas e poupou o seu dinheiro, tenho que socorrer todas as pessoas que o não fizeram.

As pessoas que gastaram excessivamente para além dos seus salários, sentem-se de repente com o direito aos mesmos luxos que eu consegui e pelos quais sacrifiquei uma década da minha vida. Sim, ser proprietário de um negócio tem os seus benefícios, mas o preço que eu pago é íngreme e não é isento de ferimentos. Infelizmente, o custo da gestão deste negócio, de vos empregar, está começando a eclipsar o limiar do benefício marginal e deixem-me dizer-vos porquê:

Estou sendo tributado até ao tutano e o estado acha que não pago o suficiente. Eu tenho os impostos estaduais. Os impostos federais. Os impostos sobre a propriedade. Os impostos sobre vendas. Os impostos sobre os salários. Os salários dos trabalhadores. As contribuições para o desemprego. Os impostos sobre os impostos. Eu tenho que contratar um homem para gerir todos esses impostos e adivinhem? Tenho que pagar impostos para que o possa empregar. A observação das leis  e regulamentos estatais e toda a contabilidade que tal implica, ocupam agora a maior parte do meu tempo. Em 15 de Outubro, passei um cheque à ordem do Tesouro dos EUA de 288.000 dólares de impostos trimestrais. Vocês sabem de quanto foi o meu cheque "estímulo"? Zero. Nada. Absolutamente nada.

A pergunta que eu faço é esta: quem é que está a estimular a economia? Eu, o tipo que tem proporcionado empregos bem pagos a 14 pessoas e serve mais de 2,2 milhões de pessoas por ano, com um negócio florescente? Ou a mãe solteira que fica em casa, grávida do quarto filho, esperando pelo próximo cheque da assistência social?

Obviamente, o governo considera que é esta última que proporciona o estímulo económico a este país. A verdade é que, se eu deduzisse (leiam, roubasse) 50% do vosso salário vocês despedir-se-iam e deixariam de trabalhar  aqui. Quero dizer, por que não? Isso é de loucos. Quem quer ser recompensado de apenas 50% do seu trabalho árduo? Bem, eu concordo que é por isso que o vosso emprego está em perigo. Aqui está o que muitos de vocês não entendem .. para estimular a economia é necessário estimular o que faz funcionar a economia. Se, subitamente, o estado me "mandasse" não ter que pagar impostos, adivinhem o que sucederia? Em vez de depositar aqueles 288.000 dólares para o buraco negro de Washington, eu tê-los-ia investido, contratado mais funcionários, e gerado crescimento económico substancial. Os meus empregados teriam usufruído da riqueza desse corte de impostos na forma de promoções e melhores salários. Mas bem os podem esquecer agora.

Quando se tem um homem em coma à beira da morte não pensamos que desfibrilar e dar choques no polegar o irão trazer de volta à vida, pois não? Não se desfibrilará antes o coração? As empresas são o coração da América e sempre assim foi. Para as reiniciar, é necessário estimulá-las, não matá-las. De repente, os agentes do poder em Washington acreditam que o ópio da América é o factor essencial do motor económico americano.

Nada poderia estar mais longe da verdade e este é o tipo de mudança que vocês podem guardar para vós mesmos. Onde pretendo então chegar com tudo isto? É muito simples. Se quaisquer novos impostos me forem impostos, a mim ou à minha empresa, a minha reacção será rápida e simples. Eu despedir-vos-ei. Eu despedirei os vossos colegas de trabalho. Vocês poderão, depois, suplicar ao governo para vos pague a vossa hipoteca, o vosso SUV e o futuro da vossa criança. Francamente, não é mais problema meu. Nessa altura, irei fechar esta empresa, mudar-me para outro país e reformar-me.

Sabem, eu estou farto. Eu estou farto de um país que penaliza o sector produtivo para dar ao improdutivo. A minha motivação para o trabalho e para criar empregos será destruída e, com ela, a minha cidadania.

Enquanto os impostos de 95% na América parecem óptimos no papel, não se esqueçam da história por trás: se não houver emprego, não haverá rendimento para taxar. Um imposto sobre zero dólares, é zero. Então, quando tomarem a decisão de votar, perguntem a vós mesmos, quem é que entende o funcionamento da economia  das empresas e quem é que não o entende? De quem são as políticas que põem em perigo o vosso emprego? Respondam a estas questões e saberão quem possa ser o único capaz de salvar os vossos empregos. Enquanto os media vos querem dizer "é a economia, estúpido", digo-vos que não é.

Se perderem o vosso emprego, não será pelas mãos da economia; será pelas  mãos de um furacão político que varreu o país, cilindrou a Constituição, e terá mudado para sempre a sua paisagem. Se isso acontecer, poderão encontrar-me nas Caraíbas do Sul sentado numa praia, reformado, e sem funcionários com que me preocupar.

Assinado, o vosso chefe,

Michael A. Crowley, PE
Crowley, Crisp & Associates, Inc.
Professional Engineers
1906 South Main Street, Suite 122
Wake Forest, NC 27587
Telefone: 919.562.8860 x22
Fax: 919.562.8872

4 comentários:

Lura do Grilo disse...

Excelente. Mas os ricos são sempre vistos como uma espécie raivosa que vive do trabalhos dos outros.

J H P disse...

Na mesma senda recomendo o seguinte texto, que fez "furor" nos mesmos meios há uns meses atrás:

http://andorjakab.blog.hu/2012/01/06/this_is_why_i_don_t_give_you_a_job

Tentei traduzir o melhor que pude e enviei-o para o autor.

FYI

Nota da republicação via lewrockwell:

This is a translation of the original Hungarian post, "To"lem ezért nem kapsz munkát" posted on the 27th of July, 2011. Although it rocked the Hungarian blogosphere – generated more than 90,000 Facebook likes – nothing has changed for the better. On the contrary. It's a whole lot worse now. To all of you international readers, here €760 net sounds like a dream salary for most people. Even medical doctors make less than half of this, at the beginning of their career. Prices on the other hand are the same as everywhere else. HUGE thanks go to Spencer Rathbun for helping me out with the English txt.

Follow-up: "I don't give a job. Am I being antisocial?" http://andorjakab.blog.hu/2012/01/08/i_don_t_give_a_job_am_i_being_antisocial – My apology to those who got really upset after reading the first few paragraphs.

January 13, 2012

J H P disse...

*Tentei traduzir o melhor que pude e enviei-o para o autor, que incluiu o link na lista por baixo do texto e a publicou no seu Facebook:

https://www.facebook.com/note.php?note_id=173867069380133

Eduardo Freitas disse...

Caro J H P,

Obrigado pela indicação, mas já conhecia o texto traduzido para inglês, creio que exactamente lido no LRC.

Já quanto à tradução em português, desconheci-a. Obrigado por a partilhar.