terça-feira, 18 de setembro de 2012

Blowback e o império benevolente

O vídeo abaixo, de Agosto de 2011, é mais uma prova da presciência de Ron Paul. É útil recordá-lo após o recente e trágico assassinato do embaixador americano na Líbia.


A sua premonição, ou melhor, o apelo que faz ao senso comum deveria servir de encorajamento a seguir as suas palavras, na declaração que fez divulgar ontem, dia 17 de Setembro, que procurei traduzir ainda que de forma algo apressada:
O ataque ao consulado dos EUA na Líbia e o assassinato do embaixador americano e de vários dos seus assistentes é um outro trágico exemplo de como a nossa política externa intervencionista enfraquece a nossa segurança nacional. Quanto mais os EUA tentam controlar o resto do mundo, seja pela promoção da democracia, seja ajudando governos estrangeiros ou através de bombas, mais acontecimentos ficam fora de controle e resultam no caos, em consequências não-intencionais e em mais tiros pela culatra [blowback].

Infelizmente, o que vimos na Líbia na semana passada, não é nada de novo.

Na década de 1980, no Afeganistão, os EUA apoiaram os radicais islâmicos nos seus esforços para expulsar os invasores militares soviéticos. Estes radicais tornaram-se no que é conhecido como sendo a Al-Qaeda, e os nossos aliados de uma circunstância viraram-se contra nós de forma espectacular em 11 de Setembro de 2001.

O Iraque não tinha uma significativa presença Al-Qaeda antes da invasão dos EUA em 2003, mas a nossa ocupação desse país e a tentativa de o refazer à nossa imagem provocou uma reacção em massa que abriu a porta à Al-Qaeda, causou a morte de milhares de soldados norte-americanos, um país destruído e uma instabilidade que não mostra sinais de diminuir.

Na Líbia, trabalhámos com, entre outros, os rebeldes do Grupo de Combate da Líbia (LIFG), que incluia elementos estrangeiros da Al-Qaeda. Tem sido apontado que os radicais afiliados da Al-Qaeda que combatemos no Iraque foram alguns dos mesmos grupos com quem trabalhámos para derrubar Khadafi na Líbia. No ano passado, numa entrevista à televisão, previ que o resultado do bombardeamento da NATO na Líbia seria provavelmente um aumento da presença da Al-Qaeda no país. Disse, na altura, que poderíamos estar a entregar à Al-Qaeda um outro prémio.



Não muito depois de a NATO ter derrubado Khadafi, a bandeira da Al-Qaeda foi hasteada sobre o tribunal em Benghazi. Devemos surpreender-nos pois, que menos de um ano mais tarde tenha havido um ataque ao nosso consulado em Benghazi? Tem-nos sido dito, pelo menos durante os últimos 11 anos, que estas pessoas são o inimigo que nos procura fazer mal.

Há perigo na crença de que podemos refazer o mundo subornando alguns países e bombardeando outros. Mas  é precisamente isso  que os intervencionistas - sejam eles liberais [no sentido norte-americano] ou conservadores - parecem acreditar. Quando o mundo não se conforma à sua imagem, eles parecem genuinamente chocados. A reacção da Secretária de Estado ao ataque contra o consulado dos EUA em Benghazi foi de confusão. "Como pôde isto  acontecer num país que ajudámos a libertar, numa cidade que ajudámos a salvar da destruição", perguntou.

O problema é que não sabemos e não podemos saber o suficiente sobre essas sociedades que procuramos refazer. Nós nunca tentamos ver através dos olhos daqueles que procuramos libertar. A Líbia está num caos total, a infra-estrutura foi bombardeada e reduzida a escombros, a economia deixou de existir, os gangues e as milícias mandam pela força brutal, o governo é visto como um fantoche dos EUA, completamente ilegítimo e impotente. Como poderia alguém ficar chocado que os líbios não vejam o nosso bombardeamento do seu país como sendo a sua salvação da destruição?

Actualmente, os EUA estão a apoiar tão activamente os rebeldes na Síria que até mesmo a nossa CIA nos diz que eles são afiliados da Al-Qaeda. Muitos desses combatentes radicais islâmicos na Síria estiveram, não há muito tempo, lutando na Líbia. Temos de aprender com estes erros e cessar imediatamente todo o apoio aos rebeldes da Síria, para que mais uma vez a história não se repita. Estamos literalmente a apoiar as mesmas pessoas na Síria que estamos combatendo no Afeganistão e que acabaram de matar o nosso embaixador na Líbia! Devemos finalmente abandonar o impulso intervencionista antes que seja tarde demais.

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