sexta-feira, 31 de maio de 2013

Citação do dia (117)

"The mainstream of the economics profession has long suffered from physics envy and has sought to model the unmodelable - human action - to make their “science” appear to be physics-like and scientific."

Thomas DiLorenzo

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Clarificando a taxa justa de imposto sobre as empresas (em particular, das mais bem sucedidas)


Por Robert Ariail

Citação do dia (116)

"Because we are self-controlling beings, we are also responsible for our actions. This is not a moral or ethical proposition, but simply a causal one: I am responsible for what I do because I am the one who controls my actions. By the same token, to the degree we seek to control the lives and property of others, we help to foster, in their minds, the illusions that they are not responsible for what they do."

Butley Schaffer, in Why Are We Afraid To Be Free?

Mitos persistentes: a "Idade das trevas"

Já antes assinalei o agrado que tenho pela lema da Prager University: "Undoing the damage of the University... five minutes at a time". Eis um outro exemplo desse esforço.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Desfazendo as lavagens ao cérebro aos universitários

Para conseguir anular o ideário politicamente correcto veiculado na generalidade das universidades, a proposta de Thomas Sowell, em Undoing the Brainwashin, é "simples": levando-os a leituras selectivas e decisivas. Não podendo falar por experiências de vida que não a minha, não escondo o meu cepticismo quanto à possibilidade de a "receita" fornecida poder chegar ao grosso da população universitária (e com certeza que o mesmo se passará com Sowell). A única batalha que poderá fazer a diferença centra-se na intelectualidade e essa "avança" (ou recua) de uma forma, a meu ver muito semelhante, à que Thomas Kuhn descreve em A Estrutura das Revoluções Científicas - por "paradigmas". De qualquer modo, pelo menos para a pequena comunidade que frequenta estas paragens, parecem-me úteis as referências de Thomas Sowell que já incluí (quase todas) no meu pipeline de leituras futuras. A tradução é minha.
Nesta altura do ano, com o regresso a casa dos estudantes universitários para as férias de Verão, muitos pais poderão aperceber-se de quantas ideias politicamente correctas os seus filhos adquiriram no campus. Alguns desses pais poderão perguntar-se sobre como anular algumas das lavagens ao cérebro que se tornaram tão comuns no que são supostas ser instituições de ensino superior.

A estratégia utilizada pelo general Douglas MacArthur, que tanto êxito obteve no Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial, pode ser útil neste bem diferente tipo de batalha. O General MacArthur conquistou as suas vitórias, minimizando as vítimas - algo que também é desejável nos confrontos de ideias no seio da família.

Em vez de combater os japoneses em cada uma das ilhas-fortaleza à medida que os norte-americanos avançavam em direcção ao Japão, MacArthur enviou as suas tropas em batalha apenas para aquelas ilhas que eram estrategicamente cruciais. Com o mesmo espírito, os pais que pretendam conseguir devolver os seus endoutrinados filhos à realidade não necessitam de tentar combater cada uma das ideias loucas que lhes foram transmitidas pelos seus professores politicamente correctos. Bastará demolir algumas crenças cruciais, expondo o seu absurdo, para que possam desferir um golpe na credibilidade geral dos professorais flautistas [alusão à personagem dos irmãos Grimm].

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Citação do dia (115)

"There is no better means to disclose the absurdity of a mode of reasoning than to let it pursue its full course to the end."
Carl Menger

De sofá e pipocas

Krugman Accused of ‘Uncivil Behavior’, no Wall Street Journal. Para pormenores, na perspectiva de Reinhart e Rogoff, ver aqui. Quanto à de Krugman, basta seguir o seu blogue.

Pelas razões que na altura apontei, não tenho muito a acrescentar quanto à "substância" da polémica daqueles autores com Krugman. De qualquer modo, como Robert Murphy ilustra no seu artigo Heads Krugman Wins, Tails ‘Austerity’ Loses diria que, em definitivo, a ausência de civilidade intelectual de Krugman é de facto notavelmente perturbadora.

Uma pergunta que poucos fazem

Por Grant Williams (via Zero Hedge): "Se a economia global está a estagnar, a Europa está em recessão, a China está a abrandar e é aparentemente impossível gerar crescimento, por que estão os mercados accionistas a observar máximos de sempre?"

Houve um tempo em que as bolsas forneciam sinais com significado real aos agentes económicos quanto às expectativas futuras da evolução das economias. Então, as taxas de juro tinham um significado real: elas eram, em cada momento, o resultado do encontro da procura e oferta de fundos (poupança) seja nos mercados accionistas como nos obrigacionistas. Agora, porém, e num movimento crescentemente coordenado à escala mundial, os bancos centrais destruíram o seu significado manipulando-as a tal ponto que chegaram a perto de zero (!) e aí permanecem há anos (política monetária conhecida por ZIRP), ao mesmo tempo que, directa ou indirectamente, monetizam a dívida pública (isto é, "imprimem" dinheiro em quantidades colossais). Uma das consequências directas desta política insane - estabelecida em faustosos salões por burocratas que não respondem a ninguém senão a si mesmos - é a destruição da poupança privada, especialmente a das famílias e dos pensionistas, que obtêm ridículos retornos das suas aplicações financeiras tradicionais. Esta é uma consequência intencional. O que os bancos centrais têm visado - e conseguido - é fazer deslocar as aplicações financeiras para produtos de cada vez maior risco (em busca de melhores retornos). É por isto que as bolsas sobem. As bolhas nos mercados accionistas estão a ser fabricadas. Conscientemente. Hoje como ontem.

Por memória, aqui ficam as evoluções dos últimos 5 anos dos índices S&P (Nova Iorque), DAX (alemão), FTSE (londrino), NIKKEI (Tóquio), obtidas cerca das 13 horas de hoje (cortesia da Bloomberg):

S&P:

DAX:
FTSE:
NIKKEI:

domingo, 26 de maio de 2013

Não se preocupem porque desta vez vai ser diferente

Esta estória continuou na semana que passou. A festa em Wall Street, orquestrada por Bernanke, prossegue ao ritmo que o gráfico denota. Aguarda-se, a todo o momento, que algum alto responsável (?) venha desmentir, categoricamente, as interpretações daqueles que antevêem o rebentar de uma nova bolha para um momento não muito distante.


Ah, já me esquecia: como é evidente, comentários desta natureza são próprios de bota-abaixistas que não merecem o mínimo de crédito.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Plácido Domingo - Ridi Pagliaccio

A propósito de um certo país com que convivemos todos os dias. Um bom fim-de-semana.

Quem vai pagar as reformas de amanhã?

Nos últimos dias, dei conta de uma intervenção de Daniel Bessa, desassombrada para os nossos costumes,  onde o ex-ministro da Economia de Guterres enuncia a verdade dura e crua: a Segurança Social, tal como tem existido entre nós, é um esquema piramidal, em tudo semelhante ao que a "Dona Branca" manteve nos inícios dos anos oitenta do século passado (ou, mais recentemente, Bernie Madoff). Nas palavras de Bessa, citado pelo Económico, "A Segurança Social foi [é] uma coisa muito parecidaEncarregou-se de distribuir pelos que estão dentro o dinheiro dos que estão a chegar".

Imagem retirada daqui

Mas se a já então anciã, na altura também conhecida como a "banqueira do povo", foi parar à cadeia acusada de fraude, não creio que o mesmo vá suceder àqueles que, ao longo de décadas, vêm (e continuam) sustentando o insustentável, assim promovendo, por acção ou omissão, uma fraude legalizada - e compulsória -, só possível pelo facto de ser praticada pelo próprio estado.

Na mesma intervenção, Daniel Bessa classifica a questão da Segurança Social como "a mais difícil de todas" até porque o país estará "desgraçado" se "transportar para dentro do Orçamento de Estado este problema". Um bom conselho que todavia, creio, continuará a não ser ouvido no "arco do poder". O mais provável, por mera cobardia política, será prosseguir no percurso do incumprimento parcial sucessivo, de quando em vez anunciando mais uma qualquer "reforma" para "salvar" as pensões, eufemismo para designar a diminuição dos seus montantes.

Basta um simples olhar à tesouraria da Segurança Social para constatar que a totalidade das receitas provenientes das quotizações e contribuições já não chega para pagar sequer as pensões de velhice, invalidez e sobrevivência. Nos primeiros quatro meses do ano, conforme se pode ler aqui, aquelas representaram apenas 83% destas (97% no período homólogo de 2012). Na realidade, já há muito que se "transportou para o OE" o problema, pelo que o famigerado "excedente" da Segurança Social, tantas vezes propalado pelos que persistem em não querer ver, apenas é possível à custa das crescentes transferências do OE para o sistema da Segurança Social. E isto mesmo com sucessivo recurso a paliativos, como sejam as sucessivas transferências de fundos de pensões, prática que vem desde Sousa Franco! A trágica ironia reside no facto de o estado, ao recorrer a capital acumulado, cuja finalidade era a de responder a necessidades futuras, para suprir necessidades de curto prazo (por exemplo, para pagar dívidas em atraso), está literalmente a "torrá-lo" e, consequentemente, a acelerar a implosão do sistema.

Um grande enjoo e um par de galhetas

A "agenda para o crescimento" aí está. À excepção da introdução do regime de caixa no IVA, "medida" tão atrasada quanto o tempo que este imposto leva de vida, o resto é mero verbo de encher.

Governo lamenta decisão de Bruxelas sobre galheteiros. Que outra coisa esperar da ministra Cristas, a Vermelha?

Tentando escapar à mentalidade mercantilista

Em On Escaping the Mercantilist Mindset, Gary North, socorrendo-se do inigualável discernimento misesiano, evidencia a existência de uma profunda contradição entre a perspectiva mercantilista dominante ("o que é nacional é bom") e o normal (e "egoísta") comportamento do agente económico efectivamente soberano numa economia de mercado - o consumidor. Crendo constituir um complemento adequado aos temas abordados aqui, aqui e aqui, entendi por útil traduzir o artigo.
Na sua pequena obra-prima, datada de 1944, Burocracy, Ludwig von Mises identificou o agente supremo na economia de mercado: o consumidor.
Os capitalistas, os empreendedores e os agricultores são instrumentais na condução das questões económicos. Eles estão ao leme a dirigir o navio. Mas não é deles a liberdade para traçar o seu rumo. Eles não são soberanos, são apenas timoneiros, obrigados a obedecer incondicionalmente às ordens do capitão. E o capitão é o consumidor.
Mises nunca se desviou desse argumento. Ele mostrou como a  actuação  dos clientes no mercado livre proporciona lucros a alguns capitalistas e prejuízos a outros.
Não são nem os capitalistas, nem os empresários, nem os agricultores que determinam o que deve ser produzido. São os consumidores que o fazem. Os produtores não produzem para o seu próprio consumo mas sim para o mercado. Eles estão empenhados em vender os seus produtos. Se os consumidores não comprarem os bens que lhes são propostos, o empresário não poderá recuperar as despesas em que incorreu. Ele perderá o seu dinheiro. Se ele não se conseguir ajustar aos desejos dos consumidores, irá muito em breve ser removido da sua posição de destaque ao comando do leme. Outros, que melhor fizeram para satisfazer a procura dos consumidores, substituí-lo-ão.
Este é o sistema de causa e efeito no mercado livre. São os consumidores que mandam. E eles são implacáveis​​.
Os verdadeiros patrões no sistema capitalista de economia de mercado são os consumidores. São eles, pelas suas decisões de comprar ou da abstenção de comprar, que decidem quem deverá possuir o capital e gerir as fábricas. Eles determinam o que deve ser produzido e em que quantidade e qualidade. Das suas atitudes resultará o lucro ou o prejuízo para o empreendedor. Eles transformam homens pobres em ricos e homens ricos em pobres. Eles não são patrões fáceis. Estão cheios de caprichos e fantasias, mutáveis e imprevisíveis. Eles não se importam minimamente com os méritos passados. Logo que algo lhes for proposto e que mais lhes agrade, ou que seja mais barato, abandonam os seus antigos fornecedores. Para eles, nada é mais importante que a sua própria satisfação. Eles não se preocupam nem com os interesses dos capitalistas, nem com o destino dos trabalhadores que perdem os seus empregos se os consumidores deixarem de comprar o que antes costumavam comprar.
Esta percepção não é compreendida por muitos. A mentalidade colectivista é uma característica padrão da maioria das pessoas. É preciso um acto de vontade para interiorizar a análise de Mises. Isto é tão verdadeiro entre os que auto-intitulam professos defensores do capitalismo, como o é para os seus críticos.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Do elogio da extorsão tributária ao desprezo pela empresa bem sucedida

Ainda que sem ponta de surpresa, não deixo de considerar absolutamente abominável o comportamento dos políticos e dos media, respaldados no profundo ódio que a generalidade dos intelectuais nutre pelo capitalismo lucro, ao amplificarem sucessivas histórias de supostas “fugas” ao fisco por parte das empresas (ou de particulares), mesmo quando nada há de ilegal nas suas práticas. Ou seja, sempre que a empresa, no quadro legal vigente (tantas vezes em permanente redefinição), consegue fazer baixar a sua factura fiscal, tal é tipo por imoral e revelador de outra "fuga" - a referente à sua “responsabilidade social”. Aliás, em bom rigor, dir-se-ia até que a “responsabilidade social” de cada empresa se gradua pela taxa efectiva de imposto que suporta! E, como é evidente, ela será tanto mais "responsável" quanto mais impostos sobre os lucros pagar. Juntando-se-lhe o planeamento fiscal “agressivo” (e até mesmo) “abusivo”, também aqui assistimos ao importante papel mistificador da novilíngua.

É, pois, no domínio da moral que a questão se joga. E aí, para a opinião desgraçadamente maioritária, a geração de riqueza (e de postos de trabalho) levada a cabo pelas empresas, pesa muito menos que a "responsabilidade social" que evidenciem pelos impostos que pagarem. Na realidade, as empresas não são desejadas, elas limitam-se a ser toleradas. O esquizofrénico discurso "crescimentista" assim o atesta.

Chegou agora a vez da gigante Apple, de facto culpada de ser uma empresa altamente lucrativa. De facto culpada de ter sobrevivido à insignificância. De facto culpada do tremendo sucesso que conseguiu com o lançamento de uma torrente de produtos inovadores, altamente desejados por centenas de milhões de clientes em todo o mundo, sem que para isso tenha necessitado de "estímulos" e subsídios politicamente orientados. Partilho da ofensa sentida por Rand Paul no decorrer da audiência de Tim Cook (o presidente-executivo da Apple) perante um comité no Congresso, como o vídeo seguinte documenta. Não é a Apple que tem de "pedir desculpa" ou de "confessar" o "pecado" de não ter pago impostos "suficientes". Como Paul refere, o Congresso faria melhor se se olhasse ao espelho e, em consequência, tomasse a iniciativa de pedir desculpa. À Apple, evidentemente.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Citação do dia (113)

"The average American of today is intellectually so far removed from his forebears that instead of regarding government with apprehension, he is more likely to regard it as a virtual parent, concerned only with protecting and helping him."
George Reisman

Mais perigoso que a derrocada de um edifício

Ao contrário das catástrofes de origem natural (que os eco-teócratas continuam a insistir na sua associação à actividade humana apesar das evidências), a catástrofe de 24 de Abril passado no Bangladesh, ocorrida com o desabamento de um prédio de oito andares onde estavam instaladas cinco fábricas têxteis, poderia - e deveria - ter sido evitada. Ninguém, suponho, disputará esta asserção. Já quanto ao que deve ser feito para melhor prevenir a perda de milhares de vidas, as opiniões dividem-se. E muito. No seu artigo More Dangerous than the Factory Building Collapse, George Reisman afasta as considerações de ordem emocional e ideológica para deixar fluir o raciocínio económico, preocupando-se assim com acções, causas e consequências, com "o que se vê e o que não se vê" (Bastiat). Como o provérbio refere, "O Inferno está cheio de boas intenções". A tradução do artigo é da minha responsabilidade.
O recente desmoronamento no Bangladesh de um edifício onde estavam instaladas fábricas têxteis e que resultou na morte, até ao momento [link], de mais de 1100 pessoas das que lá trabalhavam, fez brotar uma onda internacional de indignação não apenas contra o proprietário do edifício, mas também contra diferentes cadeias de lojas nos Estados Unidos e na Europa, muitos delas de renome, que venderam roupa produzida naquele prédio. Exige-se-lhes que assumam a responsabilidade pelas condições de trabalho nas fábricas que as abastecem e que deixem de trabalhar com fábricas que não ofereçam condições humanas e seguras nem paguem salários justos.

George Reisman
Tais exigências assentam na crença segundo a qual, na ausência de intervenção governamental, a lógica do lucro dos empresários ou capitalistas levá-los-ia a pagar salários de subsistência a trabalhadores obrigados a trabalhar um número intolerável de horas em condições sub-humanas. E mais: que os lucros alegadamente assim extorquidos aos trabalhadores estão à disposição dos capitalistas sob uma espécie de saco azul como se, pelo menos numa parte mais ou menos substancial, pudessem ser devolvidos aos trabalhadores de quem foram levados), ou utilizados em benefício desses trabalhadores, sem nenhum efeito negativo para além de privar os capitalistas de alguns dos seus lucros imorais. É geralmente dado como certo que a razão pela qual o tipo de condições prevalecentes no Bangladesh e no resto do Terceiro Mundo, não existe nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, se deve ao advento da legislação laboral e social e que o que é necessário é estender tal legislação aos países onde ela ainda não vigora.

sábado, 18 de maio de 2013

A mentira, sempre a mentira


Por Gary Varvel

Citação do dia (112)

"Freedom is indivisible. As soon as one starts to restrict it, one enters upon a decline on which it is difficult to stop."
Ludwig von Mises

David Stockman: Printing ourselves to death

Para financiar as suas despesas, o Estado pode recorrer a, grosso modo, três fontes: 1 - impostos suportados pelos actuais contribuintes; 2 - emissão de empréstimos (equivalentes a impostos a suportar pelos contribuintes futuros); 3 - monetização do défice (isto é, literalmente, imprimir notas numa quantidade totalmente discrionária).

No vídeo que se segue, David Stockman, apresentado por Lew Rockwell, explica com uma clareza meridiana, como as administrações americanas, sensivelmente desde Lyndon B. Johnson e Richard Nixon (incluindo a de Reagan) até às de Bush e Obama, têm permitindo, através da Reserva Federal (Fed), não recorrer à dor imediatamente perceptível da "solução 1" mas antes a um mix de 2 e 3 (através da supressão das taxas de juro e da compra directa ou indirecta pela Fed dos títulos do Tesouro emitidos assim garantindo o financiamento dos gigantescos défices federais). E assim se vai destruindo o mercado livre. A corrupção, essa, cresce na razão inversa daquela destruição. Só o retorno a práticas de sound money (no passado, o padrão-ouro) poderá inverter esta espiral.

Primazias

Cada vez mais adepto (e praticante) da fuga às espúrias breaking news, perdoar-me-ão  os leitores por me ir referir a uma notícia de há uma semana atrás. Refiro-me às declarações de Carlos Abreu Amorim (CAA), candidato do PSD à câmara de Gaia e, pelo menos por enquanto, ainda vice-presidente da bancada laranja na Assembleia da República. Destaco o seguinte trecho:
"[É] preciso pedir o regresso da política, é preciso que os problemas sejam tratados através de uma percepção dos anseios e necessidades das pessoas e isso é muito mais vasto do que a visão tecnocrática afunilada com que muitos dos problemas do país têm sido tratados até agora."
Evidentemente que CAA estava a pedir a saída de Vítor Gaspar do governo, presumivelmente o afunilador-mor que está a impedir/dificultar que a "política" regresse. Mas não será antes que CAA pretenda, como Tavares Moreira pergunta, "regressar à despesa?" tanto mais que Gaia, mercê do aturado esforço do dr. Menezes, é o segundo município mais endividado  do país? Terá o actual candidato à câmara de Gaia mudado de opinião desde que escreveu isto?

É cansativo este recorrente apelo ao regresso ao "primado da política" por oposição a um muito invocado mas completamente inexistente "primado da economia", vulgo "economicismo" ou "financismo". Quem clama pelo regresso do que sempre esteve presente - e cada vez mais presente - são todos aqueles que acham que na realidade, com uma ou outra cambiante, há "mais vida para além do défice". Ora, como a realidade se encarregou de nos mostrar, há um momento a partir do qual esse engano tem trágicas consequências.

Em Portugal, sob regime democrático, o único primado que a História assinala é o da irresponsabilidade financeira do Estado que quer "fazer obra" (betão, estado social, etc.) sem estar disposto a ficar com o ónus resultante da imposição dos impostos necessários para a financiar.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Citação do dia (111)

"There is no virtue in compulsory government charity, and there is no virtue in advocating it. A politician who portrays himself as 'caring' and 'sensitive' because he wants to expand the government's charitable programs is merely saying that he's willing to try to do good with other people's money. Well, who isn't? And a voter who takes pride in supporting such programs is telling us that he'll do good with his own money - if a gun is held to his head."
P.J. O'Rourke

domingo, 12 de maio de 2013

4 maneiras de gastar o dinheiro (legendado)

O legado de Milton Friedman é, no mínimo, disputável quanto à efectiva (e não apenas retórica) defesa do funcionamento do mercado livre (de onde exceptuava a produção e gestão da moeda - "política monetária" - que, segundo ele, deveria ser monopólio do estado e do seu "braço" para o efeito, o banco central). David Stockman, no livro que passa agora na montra - The Great Deformation - não é brando nos adjectivos com que o mimoseia (justamente, em minha opinião).

Em qualquer caso, Friedman tinha um raro dom: o de conseguir comunicar de uma forma desarmadamente simples, acessível a todos, mesmo quando endereçava questões bem complexas. No pequeno vídeo que se segue, Friedman limita-se a fazer uma observação arguta, lógica, da natureza humana: um indivíduo, ou um grupo de indivíduos, não muda pelo simples facto de mudar de "chapéu" (voluntária ou involuntariamente), agindo antes, em cada contexto, em função dos incentivos/desincentivos com que se depara.

sábado, 11 de maio de 2013

Onde já se viu tamanha anormalidade?

O Ministério da Educação, as organizações de professores do ensino público e umas algo bizarras organizações de pais, têm muito mais em comum do que as respectivas retóricas deixam transparecer aos mais incautos - a partilha da defesa de um sistema desenhado por "especialistas" através do planeamento central da "escolarização" e da "educação" (coisas bem diferentes entre si). Na verdade, a discórdia, ainda que frequentemente inflamada, apenas traduz a defesa do "bom"  contra o "mau" planeamento central de uns e de outros.

Um dos afloramentos recentes dessa cíclica discórdia foi o relativo à reintrodução dos exames no fim do 1º ciclo do ensino básico (ou seja, a antiga 4ª classe). Como não podia deixar de ser, as organizações dos professores do ensino público, com o ser proverbial e insuperável horror relativo a qualquer forma de avaliação externa, que incida sobre os conhecimentos dos "seus" estudantes, estiveram frontalmente contra a  "medida" governamental. Os exames são, na sua opinião, evidentemente desnecessários e até mesmo prejudiciais para o "desenvolvimento harmonioso das crianças". Este ano, porém, e para alguma infelicidade de certa imprensa de "referência", a anunciada perturbação escolar acabaria por não se verificar embora s louros pela acalmia fossem, à cabeça, reclamados.

Enfim, tudo muito trivial e cansativamente repetitivo. Apenas me refiro a este tema para destacar um pequeno mas divertido excerto das considerações que a Associação de Professores de Matemática entendeu expender a propósito da prova realizada ontem. Cito, da notícia do Público:
A direcção da Associação de Professores de Matemática (APM) considerou a prova adequada ao nível etário das crianças e ao programa em vigor, mas contestou a sua realização por, entre outras razões, incidir "num conjunto de capacidades e conhecimentos muito restritos e centrados em aspectos mensuráveis".
Sim, calculem só: um exame de Matemática "centrado em aspectos mensuráveis". Onde já se viu tamanha anormalidade?

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Segurança social e cobardia política

A Segurança Social, um dos "pilares" do estado de "Bem-Estar" é - sempre o foi - um esquema de Ponzi. Ponto final, parágrafo.

Como ocorre em qualquer esquema piramidal, a emergência (e a evidência) da sua insustentatibilidade é apenas uma questão de tempo. O desmoronamento inicia-se (e reinicia-se) sempre que o fluxo do dinheiro que entra no sistema for menor que aquele que dele sai. Não é assim de admirar a contínua tergiversação e o exercício contorcionista acerca do "contrato social" seja do poder em exercício seja de quem o pretende assumir no futuro. A "saída" tem sido, e muito provavelmente continuará a ser, a do incumprimento parcial, ou seja, a redefinição sucessiva do ominoso "contrato social" intergeracional. Por cada episódio de revisão desse "contrato", também denominada por "reforma", alguém surgirá na televisão a anunciar que, "se nada se fizesse, o Estado  Social estaria condenado" pelo que anunciará pela n-ésima vez a sua "salvação".

Não haja pois quaisquer ilusões: de uma maneira ou de outra, o default (parcial, mas incessante) não é apenas provável como é uma certeza.

E todavia houve quem tivesse avisado, uma década após a instituição da segurança social sob a forma que ainda hoje, no essencial, perdura. Mas nenhum "homem de estado" quis ouvir Ludwig von Mises:
"No decorrer do processo de interferência estatal com a poupança e o investimento, Paulo poupa no ano de 1940 pagando cem dólares à instituição de segurança social nacional. Em troca, recebe uma reivindicação [claim] que é, virtualmente, uma promissória incondicional de crédito [IOU - "I Owe You"] por parte do estado. Se o estado gastar os cem dólares em despesa corrente, nenhum capital adicional virá a existir, nem nenhum aumento na produtividade do trabalho. A promissória do estado consiste num cheque sacado sobre os futuros contribuintes. Em 1970, um certo Pedro pode ter que cumprir a promessa do estado, embora ele próprio não tenha obtido qualquer benefício do facto de Paulo, em 1940, ter poupado cem dólares. Deste modo, torna-se óbvio que não há necessidade de olhar para a Rússia soviética para compreender o papel que o financiamento público desempenha nos nossos dias. O argumento de pacotilha de que a dívida pública não é um fardo, porque "a devemos a nós mesmos" é ilusório. Os Paulos de 1940 não a devem a si mesmos. São os Pedros de 1970 que a devem aos Paulos de 1940. Todo o sistema é o apogeu do princípio do curto prazo. Os homens de estado de 1940 resolvem os seus problemas transferindo-os para os homens de estado de 1970. Nessa data, os homens de estado de 1940 serão estadistas mortos ou anciãos glorificando a sua maravilhosa realização, a segurança social (Human Action" (1949), pp. 843-44)

quinta-feira, 9 de maio de 2013

A novilíngua e a tentativa de destruição da faculdade de pensar

Thomas Sowell, em artigo ontem publicado sob o título Words That ReplaceThought, discorre sobre o ataque cerrado a que está sujeita a faculdade de pensar. Ainda que o conteúdo do seu texto verse especialmente a realidade americana, creio não estar muito distante, observadas as devidas proporções, do que por aqui venho classificando de "pensamento mágico". Por esse motivo, pareceu-me poder ser interessante proporcionar uma tradução do seu texto (como habitualmente, da minha responsabilidade).
Thomas Sowell
Se alguma vez vier a ocorrer uma competição de palavras visando substituir o vocábulo "pensamento", "diversidade" deverá ser reconhecida como a indiscutível campeã mundial.

Não será necessária a mais ténue prova ou o recurso a um único passo de lógica, quando alguém escrever, com entusiasmo, acerca dos supostos benefícios da diversidade. A mera ideia de testar esta maravilhosa e mágica palavra contra algo tão desagradável quanto a realidade sugere algo de sórdido.

Se alguém perguntar se as instituições que promovem a diversidade 24 horas por dia conseguem obter melhores ou piores relações inter-raciais que as instituições que o não fazem, daí só poderá resultar para esse alguém ser tido por uma má pessoa. Apresentar evidências sólidas de que os locais obcecados com a diversidade têm piores relações inter-raciais é correr o risco de se ser rotulado de incorrigível racista. O pensamento livre não é livre.

O Supremo Tribunal dos Estados Unidos decidiu que o governo tem um "interesse imperioso" na promoção da diversidade - aparentemente mais imperioso que a exigência constante da 14ª Emenda referente à "igual protecção" de todos perante a lei.

Como é que um país racialmente homogéneo como o Japão consegue ter uma educação de alta qualidade sem o ingrediente essencial da diversidade, para a qual existe, supostamente, uma necessidade "imperiosa"?

De modo contrário, por que razão a Índia, uma das nações etnicamente mais diversas da Terra, tem hoje um registo de intolerância intergrupal e de letal violência que é pior que o que existia no nosso Sul nos dias de Jim Crow [link]?

O simples acto de se colocarem tais perguntas faz com que surjam acusações de tácticas indignas e motivos demasiado rasteiros para serem dignos de resposta. Não que os crentes ferverosos da diversidade pudessem de qualquer modo responder.

Entre as palavras candidatas a tornar o pensamento obsoleto, logo após "diversidade", está a palavra "justo".

Aparentemente, todos têm direito a um justo quinhão da prosperidade de uma sociedade, seja trabalhando 16 horas por dia para ajudar a criar essa prosperidade, seja não fazendo mais que viver à custa dos contribuintes ou a depender da mendicidade ou do crime para arranjar uns quantos dólares.

Aparentemente devemos-lhes algo, simplesmente por nos podermos agraciar com a sua presença, mesmo que sintamos que poderíamos muito bem passar sem eles.

No outro extremo da escala dos rendimentos, é suposto que os ricos paguem a sua "justa parte" de impostos. Mas em nenhum dos extremos da escala dos rendimentos se define a "justa parte" como sendo um determinado número ou proporção, ou outra qualquer forma concreta. É apenas um sinónimo político para "mais", embrulhado numa sonoridade retórica moralista . Na realidade, "justo" significa apenas mais poder arbitrário para o governo.

Uma outra palavra que desactiva o pensamento é "acesso". Das pessoas que não conseguem satisfazer os padrões do que quer que seja, da admissão à universidade à concessão de um empréstimo hipotecário, frequentemente se diz que lhes foi negado o "acesso" ou a oportunidade.

Mas igualdade de acesso ou igualdade de oportunidades não é o mesmo que igual probabilidade de sucesso. Aos republicanos não lhes são negadas iguais oportunidades para votar na Califórnia, embora na realidade as hipóteses de um candidato republicano conseguir ser eleito na Califórnia sejam muito menores que as hipóteses de eleger um democrata.

Pela mesma razão, se a todos for permitido apresentar candidaturas à admissão na universidade, ou à concessão de um empréstimo hipotecário, e se as suas candidaturas forem todas avaliadas pelos mesmos padrões, então todos têm igualdade de oportunidades, mesmo se o idiota da aldeia tiver uma menor probabilidade de entrar na Ivy League [link] e alguém com um mau historial de crédito tiver menos probabilidade de que lhe emprestem dinheiro.

"Acessível" é uma outra popular palavra que serve como um substituto para pensamento. Dizer que todos têm direito à "habitação a preços acessíveis" é muito diferente de dizer que todos devem decidir que tipo de habitação ele ou ela consegue pagar.

Os programas governamentais de promoção de "habitação a preços acessíveis" são programas destinados a permitir a algumas pessoas que decidam que habitação pretendem e a forçar as outras pessoas - contribuintes, proprietários ou quem quer que seja - a absorver uma parte do custo de uma tomada de decisão onde estes não tiveram voz.

De modo mais geral, fazer com que diversas coisas sejam "acessíveis", de maneira alguma aumenta a quantidade de riqueza numa sociedade acima do que sucederia fossem os preços "proibitivamente caros". Pelo contrário, os controlos de preços reduzem os incentivos para produzir.

Nada disso constitui matéria transcendente. Mas se cada um não parar para pensar, não importa ser-se um génio ou um idiota. Palavras que impeçam as pessoas de pensar, reduzem até mesmo pessoas inteligentes ao patamar de idiotas.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Regressos

Por muito que custe ao PS, e custa um bocadinho depois de há pouco mais de um mês a "linha dura" (João Galamba & Cia) ter apelidado de "fantasiosa" essa possibilidade, o certo é que o governo e em particular Vítor Gaspar, acabou de marcar  um ensaio de "regresso aos mercados" como se diria em linguagem de rugby, antes que o prazo expirasse (Setembro de 2013, como se previa no memorando de entendimento). Não terá sido um ensaio muito vistoso mas, ainda assim, permite de alguma forma contrariar a lengalenga costumeira de que o destino do país está inteiramente dependente da magnanimidade da "solidariedade" da Alemanha, pouco importando o que por nós próprios consigamos fazer.

Três breves notas:
  1. A taxa de juro média da emissão, 5,66%, é bastante superior aquela que estamos a pagar à Troika (cerca de 3,4%) e que iremos pagar no pós-Troika (daí a vincada pergunta de Tavares Moreira). Tal facto deveria fazer moderar a indignação daqueles que classificam de "usurários" os juros que estamos a suportar pela sua ajuda financeira e que permite ao estado continuar a pagar os salários e as pensões todos os meses;
  2. O "sucesso" (muito relativo) desta colocação pode levar alguns (muitos) a supor que a "austeridade" está a terminar. Não está e creio estar muito longe o momento em que tal venha a suceder (8/10 anos?). Com efeito, se a economia privada já terá feito o essencial do (inevitável) ajustamento, o Estado continua a gastar bem acima do que deveria pelo que persistem muitas dúvidas quanto à uma efectiva inversão da trajectória do stock de dívida pública em % do PIB que continua em crescimento;
  3. Embora o governo, ao fim de quase dois anos (!), tenha finalmente começado a falar, ainda  que em termos muito vagos, em "reforma do estado", é-me incompreensível que uma sua formalização seja precedida da divulgação do documento de estratégia orçamental. E esta arenga de Álvaro Santos Pereira, noutras circunstâncias louvável, pode muito bem ser apenas o prenúncio do regresso ao discurso da lipoaspiração por aí resumindo o entendimento do governo do que entende por "reforma do estado".

O logro do estímulo ao consumo

Segundo relata o Jornal de Negócios, François Hollande, fazendo juz ao cognome justamente conquistado, aceita, notem bem, aceita, levar a cabo no seu país as reformas que a Alemanha lhe sugere se, notem bem, se em contrapartida (!), a sra. Merkel fizer subir os salários alemães, para "apoiar a procura interna" para assim, nisto depositando a sua fé, conseguir reactivar a economia francesa "poupando" os franceses dos excessos de austeridade do rigor.

Para os crédulos de que acreditam que Robinson Crusoe e Sexta-Feira, para conseguirem prosperar na sua ilha deserta, desataram a consumir o que a natureza lhes pôs à disposição (afinal de contas, parafraseando Keynes, a longo prazo estarão ambos mortos...), talvez este pequeno vídeo possa ajudar a explicar que a prosperidade - isto é, o crescimento económico - só pode assentar na precedência da produção sobre o consumo e não no inverso (para uma explicação mais elaborada e completa, ver aqui).

Notícias que não são notícia (2 de muitas)

Parecem ser infindáveis os desastres verdes de Obama e, consequentemente, a economia e os "empregos" da mesma coloração. À lista que aqui deixei há tempo, juntou-se, já há uns dias1, o processo de falência da Fisker Automative produtora de umas centenas de viaturas de luxo Karma (New York Times ou no Washington Post), outra das "visionárias" empresas que surgiram, única e exclusivamente, à custa do erário público, entre subsídios e empréstimos. (Para uma análise circunstanciada do caso Fisker e das lições a retirar, ver aqui.)


Nos EUA ou na Alemanha, os grandes defensores da economia e "empregos" verdes (como António Mexia é exemplar paradigmático), nomeadamente os ligados à energia solar, há muito que vêm acusando as empresas chinesas de práticas de dumping (nome "chique" e politicamente correcto para designar concorrência) com a consequente onda de falências de empresas do sector, na Europa e nos EUA. Pois bem, parece que terão agora uma boa oportunidade para reganhar quota de mercado (ironia, ironia..) com a queda da solar Suntech no tribunal de falências na China (grato ao Fiel Inimigo pela chamada de atenção). Como adivinharão, a nota1 é replicável para esta outra não-notícia no que respeita à imprensa portuguesa de "referência". Por que será, por que será?

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1 Bem que me contive aguardando pela publicação na nossa imprensa de "referência" de uma menção quanto a este assunto. Este post é, evidentemente, a constatação, sem surpresa, da sua supressão ausência.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Uma estória e duas notícias

As notícias1:
Dow Jones encerra acima dos 15 mil pontos pela primeira vez em 117 anos de história

Número recorde de lares beneficiários de "vales de alimentação" -- 1 em cada 5
A estória:
bem resumida no seguinte tweet de Bill Gross, presidente executivo do maior fundo de obrigações do mundo, a PIMCO (via ZH):
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1 Por uma razão misteriosa, este indicador - nº de lares/famílias a viver de "vales de alimentação - nunca surge nos nossos media desde que Obama subiu à presidência. Por que será?

segunda-feira, 6 de maio de 2013

François Hollande: o aniversário do vazio da retórica crescimentista

Há cerca de um ano atrás, o Expresso achava por bem noticiar o que suporia vir a constituir um dos primeiros marcos na nova era que François Hollande, o Crescimentista, vinha inaugurar: Hollande já escolheu o carro presidencial. É um híbrido a diesel ("uma opção verde e modesta")!

Um ano volvido, o mesmo Expresso noticia hoje: Hollande sem razões para festejar. Daniel Ribeiro, o correspondente em Paris, a propósito da austeridade do rigor que se instalou no palácio do Eliseu novamente a marcar a diferença, escreve a certa altura (realce meu): "Para tentar cativar a perda de confiança do seu eleitorado (...) todos os símbolos servem. Até a venda de vinhos de luxo da cave do Eliseu. No fim do mês vão ser leiloadas em Paris 1200 garrafas, entre as quais estão diversas "Petrus 1990", avaliadas em 2200 euros cada uma. A ideia é comprar vinhos mais baratos para o Palácio e incluir o excedente no orçamento." A fé depositada nas acções simbólicas -e "modestas"! -, inteiramente partilhada pelo jornalista, é realmente extraordinária!

Num registo um pouco mais sério, o i interroga-se: A crise do socialismo é mais grave do que parecia? Enumerando o rol de insucessos de Hollande, a articulista acha por bem contrapor a importância  do cumprimento da promessa eleitoral de fazer aprovar a lei do casamento homossexual sublinhando que o presidente francês foi ainda "mais além" consagrando agora a lei a possibilidade de adopção de crianças por parte de duas pessoas do mesmo sexo. Neste tema, confesso não conseguir discernir onde estará o impulso na actividade económica mas não me custa conceder que "haja mais vida para além do crescimento económico".

Em ambiente de verdadeira implosão económica Hollande está hoje acossado por todos os lados, inclusivamente dentro do seu próprio partido. Tal como aconteceu com a "Hope" de Obama também rapidamente se esfumou o mote "Le-changement-c'est-maintenant".

Conclusão: o pensamento mágico está longe de ser um exclusivo lusitano.

Sound money - a pedra angular para o retomar de uma sã prosperidade

Em Federal Reserve Blows More Bubbles, Ron Paul volta a sublinhar a importância central que representa o restaurar de uma moeda forte (sound money), peça absolutamente essencial para que possa cessar a manipulação permanente que os governos e os respectivos bancos centrais sujeitam os seus cidadãos assim lhes impondo as respectivas consequências. Esta não é uma posição que vise um particular quadrante do espectro político do mainstream. Ainda há pouco ouvi na televisão (enquanto jantava num restaurante), uma parte do discurso de Paulo Portas acerca de linhas insusceptíveis de serem cruzadas, assim interpretando o papel do parceiro "compassivo" do actual governo. Ocorreu-me que não foi um democrata, nem sequer Jorge Sampaio, que sentenciou que "deficits don't matter", mas sim o über-falcão-republicano Dick Cheney, quando era vice-presidente de Reagan. Curioso, não é?
A tradução do texto é da minha responsabilidade.
Na semana passada, na sua sessão regular de definição de políticas, a Reserva Federal anunciou que iria dobrar a dose das políticas que até agora não conseguiram obter quaisquer resultados para além de uma economia estagnada. Foi uma decisão decepcionante ainda que não surpreendente.

A Fed afirmou que está preparada para aumentar as suas aquisições mensais de obrigações do Tesouro e títulos garantidos por hipotecas caso as coisas não comecem a melhorar. Mas, na realidade, a Fed já vem adquirindo mais do que os anunciados 85 mil milhões (85 seguido de nove zeros ou, em notação científica, 85 x 109) de dólares mensais. Entre Fevereiro e Março, os títulos detidos pela Fed aumentaram de 95 mil milhões de dólares. De Março para Abril, elas aumentaram em 100 mil milhões de dólares. Ao todo, a Fed injectou mais de 500 mil milhões de dólares na economia desde que anunciou a mais recente ronda de "alívio quantitativo" (QE3), em Setembro de 2012.

Embora tenha havido muita gente em pé de guerra quando a Fed anunciou que iria comprar títulos da dívida pública no montante de 600 mil milhões de dólares, aquando da ronda anterior (QE2), todos parecem estar tranquilos relativamente à magnitude do programa QE3 pois ele não vem acompanhado, à cabeça, de uma etiqueta com um preço enorme. Mas, no final do ano, o balanço da Fed poderá atingir os 4 milhões de milhões de dólares (4 x 1012) ou, na terminologia norte-americana, 4 trillions.

Sem recuperação à vista, para onde está indo todo este dinheiro? Ele está gerando bolhas. Bolhas no sector da habitação, no mercado accionista e na dívida pública. A dívida pública está a aproximar-se rapidamente dos 17 milhões de milhões de dólares (17 x 1012, um número composto de 14 algarismos) estando a Fed a monetizar [isto é, a criar dinheiro a partir do nada para financiar os défices públicos] a maior parte da dívida recentemente emitida. O mercado de acções vem batendo recordes nos últimos dois meses, com os investidores a procurar tirar partido do dinheiro barato e abundante. Afinal, enquanto a Fed mantiver as torneiras abertas, os lucros nominais estarão ali ao seu alcance. Mas isto é um castelo de cartas. Num dado momento, tal como ocorreu em 2008-2009, o mercado irá castigar as más actuações da Fed enquanto busca a retoma de uma real normalidade.

Enquanto isso, as famílias estão sofrendo. Enquanto Wall Street e o governo tiram proveito do acesso ao novo dinheiro "grátis" vindo da Reserva Federal, a Fed afirma que não há inflação. Mas quem é que não pagou preços mais altos no supermercado, na bomba de gasolina, nas propinas, nos seguros? Já é suficientemente mau que os rendimentos familiares tenham estagnado, mas o poder de compra real diminuiu tanto que um em cada sete americanos - 47,3 milhões de pessoas -, vivem hoje dos "vales alimentares" . Cinco milhões estão recebendo subsídio de desemprego, ascendendo a 21,5 milhões o número de desempregados, de acordo com os números do próprio governo. Isso corresponde a 13,9% - perto de dobro da taxa de desemprego de 7,5% anunciada na semana passada.

Seguramente nós não estamos em recuperação. Nós não vemos o desemprego de longa duração e as filas das sopas dos pobres como sucedeu na Grande Depressão, mas isso apenas se deve ao facto de as filas serem hoje electrónicas .

Não é de surpreender que a Reserva Federal tenha decidido agraciar o povo americano com mais das mesmas fracassadas políticas. Mas é decepcionante. Sabemos qual é a verdadeira solução: permitir que o mercado funcione. Permitir aos empreendedores a oportunidade de criar ao invés de sufocar a inovação através de regulamentações arbitrárias. Permitir que as taxas de juro subam para igualar os riscos na economia. Permitir que as dívidas incobráveis sejam [reconhecidas como tal e] liquidadas para que seja possível construir sob uma base sólida. Parar de imprimir dinheiro para beneficiar o governo e os grandes bancos. Restaurar um sistema de moeda forte para a economia e para o povo americano. Uma moeda forte e não manipulada é a base para a prosperidade e o melhor controlo sobre o big government e o crony capitalism.

E eis que regressa a teoria das "almofadas" orçamentais

de resto parte integrante do pensamento mágico circunstante (ou será estruturante?):
Taxa sobre pensões pode cair [em 2014].

Pro memoria - Almofada no OE 2012: conheça as contas do PS

sábado, 4 de maio de 2013

Breve reflexão sobre o pensamento mágico em vigor

Qual a razão que leva o comum das pessoas a pensar que, ao contrário do que sucede com uma qualquer entidade privada (famílias ou empresas), seria possível ao estado, sistemática e indefinidamente, gastar mais do que colecta através dos impostos (actuais ou futuros/diferidos)?

Será por ser ele, estado, que detém o monopólio legal da emissão de papel-moeda, por essa via obtendo a "isenção" da observância de um princípio elementar que reconhecemos como evidente e essencial na gestão das finanças familiares? Dificilmente. Com efeito, se aceitássemos este excepcionalismo como válido, não seria lógico que, por exemplo, o Zimbabwe fosse hoje uma das nações mais ricas do mundo? Mais: se o que nos separa da prosperidade é simplesmente pôr "as rotativas a trabalhar", de que raio estamos à espera?

Se será razoável supor que muitos intuam o funcionamento da lei da procura e da oferta num mercado (como creio que suceda no quotidiano com os produtos agrícolas), qual a razão que leva quase todo o mundo a supor ser possível contrariá-las, por mero acto de vontade política, por exemplo através da fixação de um salário mínimo nacional? Acaso esperarão que o emprego cresça quando se aumenta administrativamente o seu preço?! Parece que nada se aprendeu com a ruína do comunismo e com a impossibilidade de funcionamento de uma economia desprovida de um sistema de preços reais.

É certo que há economistas (?) que muito têm contribuído para alimentar esta trágica e generalizada iliteracia económica. Paul Krugman é, evidentemente, um dos mais proeminentes como o título do seu último livro manifesta - End This Depression Now! Para o über-ultra-hiper-keynesiano e seguidores, a receita para a saída da crise é muito simples: o estado deve "estimular" a economia aumentando os níveis de despesa pública ao mesmo tempo que o banco central faz a sua quota-parte "estimuladora" imprimindo furiosamente moeda e manipulando as taxas de juro para níveis a rondar os zero por cento (quando não negativas!). O quanto gastar e o quanto imprimir é algo de indefinido - é "o que for preciso". A regra a observar é, pois, muito simples: ir aumentando sucessivamente as doses até que, um dia, finalmente, a crise acabe. Quando tal suceder, invocará a sua razão e lamentará o tempo perdido e a (supostamente inútil) dor provocada na perseguição dessa coisa terrível que é a "austeridade" - post hoc ergo propter hoc.

Na promoção da irracionalidade (insanidade lógica), a novilíngua é evidentemente indispensável. Gastar passou a ser considerada uma virtude enquanto poupar se transformou numa actividade de desprezível avareza e, em consequência, merecedora do respectivo opóbrio e merecido castigo - as tais taxas de juro nominais de 0%. Levando o "raciocínio" um pouquito mais além, há até quem defenda como solução um "regime de despesa privada obrigatória"!

Confirma-se assim que a Grande Insanidade, o "Pensamento Mágico", se instalou. Como Gary North observou, "Politicians cannot bring themselves to stop spending money the governments do not have" e, acrescento eu, haverá sempre "economistas" dispostos a sancionar, "cientificamente", a vontade dos políticos.

Não vejo pois razão alguma para optimismos.

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P.S.: tenho por dispensáveis quaisquer comentários às "medidas" ontem anunciadas por Passos Coelho bem como quanto à "agenda para o crescimento" que o ministro Álvaro Santos Pereira tirou da cartola. Não tenho nada para acrescentar ao que aqui escrevi.