quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Perspectivar

Odisseia pelo Espaço e pelo Tempo

“Metafísico. Mas toda a vida é uma metafísica às escuras, com um rumor de deuses e o desconhecimento da via como única via.”

Fernando Pessoa, "Livro do Desassossego", #158 - O Rio da Posse.


Nicolas Rivals


Aproxima-se o final de mais um ano e os momentos de balanço vão visitar-nos. Para estimular o exercício de perspectiva e contextualização, propomos uma grande citação, uma enigmático-sugestiva imagem e uma proposta musical experimentalista o suficiente.
Que as nossas odisseias possam ser muito ricas. E as perspectivas sobre o futuro em que seremos, mais nobres e livres.

Saudações a todos.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Tempo(s)


Edelmann


Reiterando, teimosamente, a ideia de que a realidade se-nos apresenta rugosa, assimétrica e plena de dimensões sombrias, desafiadora, esta exige-nos uma boa dose de sentido crítico.

Aos leitores do Espectador Interessado, os seus autores desejam Festas muito Felizes.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Realidades domesticadas

Um exagero até que...

Por aqui, há algum tempo que acompanhamos os mercados dos metais preciosos. Esse interesse foi sempre acompanhado de uma constatação fundamental: o mercado dos metais preciosos, especialmente os monetários, não pode estar a funcionar livremente. A medição do seu valor em papel-moeda não pode estar a resultar das dinâmicas da oferta e da procura.
O que se entende, pois sendo as verdadeiras constantes da medição de valor - historicamente testadas e comprovadas -, os metais desafiam os ímpetos manipuladores dos curadores de serviço. Pelo que denegrir o único instrumento que pode espelhar, com mais fiabilidade e estabilidade, as preferências económicas é algo que apraz aos mesmos curadores. A bem de manter o jogo da roleta.

Ao longo dos últimos anos, muitos são os casos que se tornaram públicos de bancos e agências de investimento que são acusadas de conluio para manipular os respectivos mercados. Sejam as taxas interbancárias ou os custos associados a certos serviços bancários e financeiros. Destes, vamos tendo notícia nos episódios da narrativa colectiva que os meios de comunicação vão publicando. Mas e aqueles?
Por que razão não são escrutinados os episódios de descarada manipulação dos metais monetários? Se eles representam - para aforradores, empresas ou estados - um referencial de segurança e fiabilidade financeira tão relevante?

Sinal da importância em referir estes casos, sempre foi a tradicional reacção de quem os quer desvalorizar. Em particular quando se lê, ouve e vê descrever o interesse acerca destes casos como exclusivo de pessoas com motivos obscuros, que se divertem a tentar descobrir teorias de conspiração em qualquer acção dos governos, e por aí fora. Aliás, o facto de alguém ter interesse em poupar através dos mesmos metais recebe a mesma reacção.
Talvez desconheçam estes arautos da realidade normalizada que este tópico, como poucos, toca tão fundo nas tensões valorativas entre Liberdade e Igualdade, entre Diferença e Totalitarismo, progresso e estagnação (económica e cultural).

Duvidam os leitores que os comunicadores desta realidade normalizada conhecem o que se passa? Que estão calados ao serviço, isso sim, de causas obscuras?
Oiçam-se os primeiros segundos deste pequeno vídeo que publicamos abaixo. A comunicadora diz: "Já sabemos que isto acontece...". Se já sabem, porque se entretêm a desvalorizar, a esconder, a não oferecer destaque na análise cuidada, crítica e livre este tema? Por que razão recorrer à acusação ou à condescendência?
Deve ser, precisamente, pela importância do tema. Pela necessidade de conter e guiar a Narrativa Oficial.
É quanto baste para o trazer à atenção dos nossos leitores.

Faz-se referência também a um excelente artigo de um conhecedor do mercado dos metais preciosos Bron Suchecki e a uma recolha de materiais acerca do mais recente contributo que o Deutsche Bank (exactamente um dos que foi apanhado este ano a fazer patifarias e que agora faz de informador) forneceu para esta investigação (aqui).
Para não esquecer o já clássico livro de Dimitri Speck, "The Gold Cartel", onde se efectua um estudo estatístico e circunstanciado das manobras de entorse ao mercado de metais preciosos. Pelos suspeitos do costume.



sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

A versão contemporânea da guilhotina humanitária

Rui Ramos está preocupado com o alheamento ("humanitário", claro) que antevê por parte do mundo ocidental com o fim da Pax Americana, que a expulsão dos terroristas (ele preferirá "rebeldes") de Alepo-Leste seria um seu indício, agora que Donald Trump protesta a sua vontade de acabar com a já antiga política de "mudança de regime", entretanto abertamente prosseguida com inaudita veemência no século XXI.

Pois desde a década de 1990 que o poder imperial não tem tentado fazer outra coisa. Desde os Balcãs e o Cáucaso na década de 1990, para onde caminharam os então excedentários "combatentes da liberdade" no Afeganistão, que logo aí se exercitaram no corte de cabeças, até ao paroxismo após o 11 de Setembro. Com o retomar da guerra no Afeganistão, agora contra os Talibã, e desencadeada que foi – na base de uma mentira convenientemente fabricada – a desastrosa (ou criminosa?) guerra no Iraque, os antigos “combatentes da liberdade” retomaram o seu estatuto de terroristas, até que tornaram à condição de “combatentes da liberdade” quando deram jeito. Primeiro na Líbia para ajudar ao derrube de Kadhafi e depois na Síria para alimentar convenientemente a farsa de uma “guerra civil”.

No ínterim, sob a inspiração teórica do cientista político Gene Sharp, decorreu toda uma longa campanha de “golpes suaves” que se iniciou em 2000 com o derrube de Slobodan Milošević pela actuação da Otpor (‘Resistência’, em sérvio). Aí foi criado o template e o conjunto de formadores para os activistas das revoluções coloridas (Geórgia, Ucrânia, Quirquistão, Birmânia) com a prestimosa ajuda de numerosas NGO, entre as quais a generosamente financiada OSI de George Soros. Este template, com a ajuda das novas tecnologias, esteve depois presente nas “primaveras árabes” com os resultados que se conhecem, e onde gigantes tecnológicos como a Google, o Facebook e o Twitter cumpriram papéis relevantes (no caso desta última, chegou ao ponto de ajustar as horas de manutenção da plataforma!).

Estamos assim, quinze anos volvidos sobre a “guerra ao terror”, com sete (7) países a serem bombardeados com regularidade – Afeganistão, Paquistão, Iraque, Síria, Líbia, Iémen e Somália. Só no Afeganistão e no Iraque estima-se que o custo das intervenções militares seja da ordem dos seis milhões de milhões de dólares (um ‘6’ seguido de doze zeros). As vítimas contam-se pelas dezenas de milhões, entre mortos, feridos e deslocados. Os países atingidos viram as suas infra-estruturas quase totalmente destruídas, o que significa longas décadas de reconstrução. E o que têm os intervencionistas e os supostamente afligidos por questões humanitárias para mostrar? Que Saddam Hussein e Kadhafi estão mortos?

É disto que Rui Ramos já está nostálgico? Do não alheamento ocidental?

sábado, 10 de dezembro de 2016

Radar

No seguimento dos nossos artigos acerca da manobra de ilegalização e mudança de mais de oitenta por cento do papel moeda na Índia, deixamos aqui uma ligação para um conjunto de relatos do que se passa, efectivamente, na sociedade indiana por estes dias (ver aqui).
Depois do beneplácito dado por Rogoff, a ideia decerto ganhará adeptos mais intensamente numa Europa falida e refém de políticos desejosos de "novidade tecnológica" para fazer disparar o crescimento.
De quê, saberemos depois.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Carta aberta de um americano, agente russo, a Vladimir Putin

Paul Craig Roberts
Independentemente do que se pense ou deixe de pensar acerca de Donald Trump, o facto é que nunca antes desta refrega eleitoral, nem mesmo durante os anos da II Guerra Mundial, se verificou uma tão ampla e violenta campanha contra (ou mesmo a favor) um candidato presidencial nos Estados Unidos. Se pensarmos em termos de Ocidente, essa campanha não foi menos virulenta, nem menos enviesada na Europa. Entre nós, não dei conta de um jornal, muito menos de um canal de televisão, que fosse sequer longínquamente neutro na disputa. Não dei conta de um político, de um jornalista que fosse pró-Trump antes de conhecerem os resultados eleitorais, o que, em circunstâncias "normais", seria, até estatisticamente, impossível. Por cá, só dei conta desta expiação. No grande esquema das coisas, a cadeia RT foi - é - a grande excepção. Conhecidas as relações, pelo menos financeiras, com a Rússia de Putin, as acusações à RT, que já vêm desde o seu início, subiram imenso de tom. Tornaram-se até histéricas. Não foi a Rússia de Putin acusada de interferir e mesmo manipular a campanha eleitoral, por exemplo, promovendo ataques informáticos para revelar emails embaraçantemente reveladores? E agora que a media tradicional, foi derrotada fragorosamente pelos novos canais e redes de comunicação, que mais se haviam de lembrar que descobrir websites de "notícias falsas"? De chegar ao ponto de o parlamento europeu acusar a RT de ser um desses canais e "recomendar" intervenções para remediar a irradiação de "notícias falsas"? Paul Craig Roberts ganhou a distinção de ter sido indicado como um dos mais de 200 websites de "mentiras". Resolveu, em conformidade, escrever uma carta a Vladimir Putin cuja tradução me pareceu pertinente. Ei-la:

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Master Class - Keith Weiner

"Poder de Compra do Rendimento"

Partilhamos com os nossos leitores uma palestra de Keith Weiner organizada pelo American Institute for Economic Research - AIER. O orador é um proeminente teórico da visão de Antal Fekete e tem dinamizado a produção de conhecimento económico e financeiro no Gold Standard Institute e em Monetary Metals.
Neste último, Weiner conseguiu recentemente financiamento para o lançamento de um novo produto de investimento em Ouro - onde o rendimento é pago em ouro, precisamente.
Nesta palestra, Weiner procura mostrar as profundas contradições conceptuais do actual sistema monetário e financeiro global do ponto de vista da Nova Escola Austríaca, que resultam das perspectivas de Keynes e Friedman.

Alguns dos pontos abordados são:
- as actuais visões teóricas (e práticas) acerca do sistema estão erradas quanto ao foco da sua análise (especialmente a errada concepção das taxas de juro e natureza do crédito);
- a destruição de capital (e a desvalorização monetária) no último século;
- uma nova visão da produção da riqueza - a produção e o investimento, não o consumo;
- apresentação surpreendentemente simples de um novo indicador: poder de compra do rendimento.

A interpretação aqui apresentada da actual situação é sintetizada por Weiner numa imagem muito clara: estamos a gravitar para um buraco negro. Não há como pensar de outro modo. Assistimos a uma destruição sem precedentes de capital. O orador avisa: mesmo os que ainda julgam beneficiar da situação estão adormecidos, pois também estão a fazer desaparecer riqueza.

Boas reflexões.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Contra um mundo infestado de auto-nomeados peritos

Ante-Scriptum: devo um pedido de desculpas por esta longa ausência sem uma palavra de explicação. O problema é que não há explicação, e, portanto, não pode haver desculpa. Hoje, senti que devia voltar. Veremos se para continuar. Em qualquer caso, um muito obrigado aos leitores do Espectador Interessado.

Eduardo Freitas
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Há dias, um colunista de esquerda protestava o seu total apoio à globalização deste que se assegurasse que todos ganhassem nesse processo, o que não estaria entretanto a suceder. Ora, que entidade existe que "assegura" o que quer que seja? Aquela salvaguarda mais não era que um novo apelo a um ainda maior intervencionismo estatal, seja no plano nacional através de compensações aos "deserdados" da globalização, seja no plano supranacional onde "peritos" desenhariam acordos de "livre" comércio onde prevalecesse a "equidade" na distribuição dos seus benefícios.

Uma monstruosidade deste calibre, uns bons furos acima dos tratados multilaterais de "livre" comércio que a elite globalista tem tentado fazer avançar, à semelhança da sua "gestão" da cada vez mais suspeita vaga migratória que vivemos, é obviamente inaceitável para qualquer espírito livre.

Por favor não me entendam mal. Eu sou inteiramente favorável à globalização entendida como o resultado natural da divisão e especialização do trabalho internacionais. Por exemplo, fui e sou, um defensor das sweatshops porque não me incomoda a alegada "exploração" dos seus trabalhadores por pérfidas multinacionais quanto é ela que permite retirar milhões da pobreza mais abjecta em que antes viviam. Isto enquanto a canalha progressista vociferava contra a concorrência "desleal", a "escravização" dos operários com soldos "miseráveis" e, pasme-se, a utilização de trabalho infantil (como se antes as crianças adolescentes não trabalhassem em condições muito piores e a ganhar muito menos ou, simplesmente, morressem à fome ou de doença).

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Derradeiros Propósitos

Estaremos atentos? A recente manobra de Modi (pm indiano) de proceder à proibição e ilegalização de 86% das notas em circulação na Índia está completa. O balanço não é completo mas, depois de registadas mortes e muita tensão nas filas para trocar as notas, um dos cérebros desta tendência - Kenneth Rogoff - já procedeu à sua celebração.
O artigo do seu blogue é exemplar. Aponta, com clareza é preciso sublinhá-lo, a direcção que "os mercados avançados" devem seguir. Ou seja, temos um Missionário a dizer o que acontecerá.
Estamos atentos?
Traduzo um dos parágrafos do artigo que Rogoff publicou (ver aqui), pela clareza das razões que estão - de facto - na base de todas as iniciativas desta natureza (sublinhados meus).
Veja-se:

"Estará a Índia a seguir o roteiro expresso em "The Curse of Cash"? A sua motivação parece ser essa, de facto. Um tema central nesse livro é que ainda que os cidadãos dos países avançados (sic) usem papel-moeda extensivamente (no caso dos EUA 10% das transacções), a maior parte da moeda física é mantida na economia paralela, alimentando a fuga aos impostos e o crime."

Ou ainda:

"De facto, os países em vias de desenvolvimento partilham dos mesmos problemas e a corrupção e a falsificação (de moeda - NT) é ainda pior. Simplesmente trocar as notas velhas por notas novas tem tantas vantagens quanto a intenção de eliminar, por completo, as notas de maior denominação. Qualquer pessoa que apareça para trocar largos montantes de papel-moeda torna-se vulnerável às autoridades legais e fiscais."

Ora o que estas inteligências não parecem ver (vêem mas não dizem, só pode) é que, a coberto da luta contra o crime, estas decisões são, na sua essência, manobras de confisco. É esse o seu derradeiro propósito.
Por mais que o repitam estas inteligências, é impossível não entender o seguinte: a hipótese de eliminar a economia paralela e reduzir, como causa, a carga fiscal é falsa.
O que se vê, tanto no presente como num contexto histórico mais alargado, é que o aumento da carga fiscal é constante (acompanha o crescimento do estado) e nem a melhoria na eficácia da máquina fiscal possibilita a diminuição da carga fiscal.
Mas as inteligências tanto repetem a mentira que ela se impregna na mente de todos como verdade.
Aliás, o título do livro de Rogoff é bem claro a revelar o pressuposto por detrás de toda a manobra: a maldição do papel-moeda.
É claro, não é?

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Radar

A realidade narrada está impregnada de análises a mais um "acontecimento improvável". Não devíamos, antes, considerar as "surpresas" - a eleição de Trump e o Brexit - como resultados lógicos?
Falando de verdadeiras inevitabilidades, aquelas que vão sendo construídas e apresentadas pelos Narradores, o ritmo da sua concretização intensifica-se nos momentos de maior distracção. Há, claramente, uma tendência e ninguém parece preocupar-se em questionar a direcção.
A Índia decidiu terminar e recolher as notas de maior denominação. Veja-se a notícia e a declaração do banco central indiano (RBI). Esta última é uma pérola, um exemplo do esmerado esforço de estancar o pânico e o "papão" é sempre o mesmo: acabar com o crime. Quase um manual de sobrevivência. Uma delícia.
E na Austrália a manobra está igualmente a começar.
Alguém conhece lugar onde estas inevitabilidades mereçam uma pequena parte da atenção que recebem tópicos tão relevantes e metafísicos como os desvarios de Trump ou os contratos de Cristiano Ronaldo?
Gostava tanto de saber.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Irresistível

Aqui

Irresistível comentar este disparate.
Não porque seja falso, coisa que ainda não sabemos. Mas porque bastaria este senhor considerar a situação de milhares de contribuintes que, pagando, não têm médico de família, ou que aguardam horas nas urgências, meses e anos por consultas, exames e tratamentos para moderar a sua indução.
Não conheço outra corporação que alegue tal conclusão: "daqui a dez anos haverá inundação de médicos" para limitar o acesso à profissão. A analogia com a inundação é só engraçada, mas pouco.

Se ao menos às pessoas se deixasse que estas fizessem livremente as suas escolhas, tal "inundação" não passava de pequeno aguaceiro. Táxis, bancos ou médicos teimam em não perceber o que Mises explicou há muito tempo: estão a meio do caminho. Querem uma coisa e o seu contrário. Querem eficácia do mercado, mas querem manter artificialmente a defesa do seu interesse particular. Querem respeitar os direitos das pessoas, mas forçar as escolhas que estas podem fazer.
E por artificialmente entenda-se à força. Literal ou em letra de Lei.
Sonhadores.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Possibilidades

Manhãs clarividentes

Existem manhãs televisivas interessantes. Onde se pode aprender um pouco ou relembrar informações importantes que, à custa de tanta análise desportiva social perversa (ou o que por cá passa por seus substitutos), já esquecemos.
Imaginar que as televisões generalistas podiam investir alguns minutos de boa disposição e informação crítica é esforço inglório?

Não parece. Vejamos. Pela Irlanda:

Aqui

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Bitcoin e Blockchain - REDUX

A confiança estilhaçada - que caminho seguir?

Publicamos aqui o primeiro de seis pequenos episódios que ilustram o estado da coisa quanto às criptomoedas e às respectivas tecnologias financeiras, bem como os princípios e valores iniciais do projecto Bitcoin, a sua diversificação geográfica e os propósitos divergentes que este sector tecnológico incorpora presentemente.
Importa ter presente que alguns dos colossos bancários e financeiros globais estão atentos. Mais, estão a investir cada vez mais nos gabinetes de desenvolvimento das tecnologias de "organização autónoma descentralizada" (DAO em inglês), na esperança de estar na frente e liderar a(s) mudança(s) que o sector bancário e financeiro enfrenta.

São muitos os desafios que estas tecnologias enfrentam, mas são muitas mais as opções que oferecem. Tendo isto por adquirido, compreende-se o alcance de uma ideia como esta: transferência de valor de forma segura, descentralizada e concorrencial. Por isso, o apelo à independência face ao estado (qualquer estado ou poder centralizado numa grande corporação, por exemplo) parece vencido pelas circunstâncias. Vejam-se as arrogantes declarações de Larry Summers, ou o esforço das instituições bancárias em acelerar a corrida ao "novo armamento" adquirindo muitas pequenas empresas de tecnologia que já estavam a conduzir o desenvolvimento dos seus projectos nas ditas tecnologias DAO.

Há muito a dizer e a analisar nestes episódios, mas é, para mim pelo menos, inegável a sensação de estar perante um novo mundo que se abre à nossa frente.
E com a proximidade da Web Summit em Lisboa, este documentário vem mesmo a calhar.
Parabéns à equipa da TechCrunch.
Boas reflexões.


Nota: os episódios aparecem como sendo sete mas, descontando o "piloto", o documentário distribui-se em seis episódios de aproximadamente sete minutos.



segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Radar

Num gesto raro e até surpreendente, Otmar Issing faz a sua radiografia do projecto europeu. Sem receios de encarar a visão consensual que a burocracia europeia tem de si mesma e do conjunto dos dogmas que suportam o projecto, Issing diz coisas como (traduzo): "Um dia o castelo de cartas vem abaixo". Ou que "o euro foi traído pela política".
Descontando a aparente inocência daquelas palavras, estas declarações são importantes para ilustrar o estado do projecto europeu, especialmente depois do Brexit e das manobras de bastidores para prevenir outras saídas.
Declarações que Issing fez à publicação Central Banking e que Ambrose Evans-Pritchard contextualiza no artigo deste domingo.
O despertador está a tocar. Será que alguém o ouve?

domingo, 16 de outubro de 2016

Alívio ou "o folgar das costas"


Depois de Centeno ter sido avisado pela agência de rateio que a situação fiscal era confortável (e por isso se manteria a avaliação de Portugal), nota-se um ligeiro suavizar da percepção da doença de que padecemos.
Essa suavização não é genuína, não nos enganemos.
É apenas a condição para que o BCE se mantenha "a pagar a festa". E como é preciso manter os espíritos alegres e plenos de esperança, impõe-se a manutenção da parada.

Aliás, o nosso governo fará a sua parte e dará cumprimento à "expansão económica" (note-se as aspas) pela força de... impostos. Por outro lado, não obstante as pressões alemãs, o investimento público avançará em sectores que revelem bom retorno. Político, bem entendido. Mas tudo se fará pela folga que o BCE garante. Como de resto mostra a segunda imagem.
Há alguma margem, comparando com as congéneres, para o BCE continuar a intervir.
Até quando?

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

E se...


Apenas uma agência internacional mantém as obrigações portuguesas com estatuto de investimento suficiente para que o Banco Central Europeu as continue a comprar. Até quando?
Até ao agravar da discussão em torno do orçamento?
Até à próxima corporação levar a cabo uma qualquer estratégia de extorsão?

Uma nota para o excelente serviço da equipa do "The Daily Shot". Passará (a partir de Novembro) a estar associado à subscrição de um grande jornal americano. Deixarei de acompanhar a equipa e o seu trabalho.
Godspeed.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Manobra táctica ou visão estratégica?

Fonte
O diapositivo acima consta da apresentação que o governador do Banco de Portugal fez no encontro entre Bancos Centrais dos Países de Língua Portuguesa (sic) que, há dois dias, decorreu em Lisboa. Para leitura dos materiais de suporte à intervenção de Carlos Costa seguir a ligação na imagem (esta corresponde ao diapositivo 4). Recomenda-se a leitura "da integral" do governador.
Esta intervenção expressa que intenção? Será um manobrar táctico correspondente à gestão dos danos que se amontoam no sector bancário e financeiro português? Limitando os "danos morais" na fase de balanço e limpeza?

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Citação do dia (195)

“O que temos visto por esse mundo fora, da Índia aos Estados Unidos da América passando pelo Reino Unido, é a revolta contra o pequeno círculo de funcionários legisladores que não têm nada a perder [no-skin-in-the-game], jornalistas com acesso privilegiado ao poder e essa classe de semi-intelectuais paternalistas com um grau académico de uma grande Universidade [Ivy league, Oxford-Cambridge], ou outra educação de marca, que dizem a todos nós: 1) o que fazer; 2) o que comer; 3) como falar; 4) como pensar... e 5) em quem votar.

O Intelectual Ainda Idiota (IAI) é um produto da Modernidade que se tem multiplicado desde meados do século XX até atingir os máximos de hoje, a par do largo conjunto de pessoas sem coisa alguma a perder [no-skin-in-the-game] que tem invadido muitas dimensões da vida actual. Porquê? Simplesmente porque, na maioria dos países, o papel dos governos é cerca de cinco a dez vezes maior do que era há um século (expresso em percentagem do PIB).

sábado, 24 de setembro de 2016

Quando? - Actualização


Será um técnico head-and-shoulders em formação, aquilo que se mostra no canto inferior direito do gráfico?
Podemos, a partir da confirmação desse indicador técnico, induzir uma quebra de valor e confiança no sector bancário europeu?
Irresistível?

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Quando?


Podemos fazer algumas perguntas - quando vai o Deutsche Bank ser comercializado abaixo dos dois dígitos? - por exemplo.
Mas o que importa na actual situação do projecto europeu é saber: quando vão os líderes políticos dos países que têm estado sob programas de assistência ou vigilância, por parte dos "duros" dos alemães e holandeses, usar este caso do DBank para ferir aquela dureza?
Irresistível, não?
Considere-se, por exemplo, Mateo Renzi (o sector bancário em Itália está na rua da amargura, não esqueçamos), procurando uma projecção de força e insuflar a "boa consciência" do seu país, vai deixar escapar esta oportunidade de atingir o "norte da Europa"?
E com isso dar início à derrocada das peças do dominó europeu?
Irresistível.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Constantes


Quando estamos num barco e contemplamos a orla marítima, não é esta que se mexe e oscila. Antes, é o barco onde estamos que baloiça. .

sábado, 10 de setembro de 2016

Radar

No seio das dúvidas e da desorientação que o presente político, económico e financeiro causa em todos os seus agentes, começam a a agitar-se forças de inovação tecnológica que hão-de representar desafios salutares a vários sectores económicos.
Sugerem-se três artigos dedicados à aplicação de tecnologias digitais e das codificações criptográficas (em particular a blockchain) ao sector bancário e segurador.
Quanto aos seguros - "Tornar a estratégia digital uma realidade nos seguros" (inglês)
Quanto ao sector financeiro - "As mais inovadoras empresas de tecnologia financeira na Europa" (inglês)
E - "Meios de pagamento digitais e porque estamos à beira de uma revolução" (também em inglês)

Independentemente dos optimismos fáceis (e do desejo de revoluções), começam a vislumbrar-se mudanças interessantes, especialmente no domínio financeiro. Pergunto-me que consequências essas mudanças terão no domínio monetário?
Inicia-se o caminho para a unificação totalitária? Ou abre-se o espaço da livre escolha?

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Crises de Identidade - actualização



Os gráficos ilustram bem o caminho a seguir por parte do BCE quanto ao Programa de Compras para o Sector Público (obrigações), mas também quanto ao Programa das Garantias de Crédito/Liquidez dos Mercados.
Os limites estão à vista, mas ainda há algum espaço para manter o Jogo.
O que acontece se chegarmos a esse limite e os resultados continuarem a ser tão pobres? Ou caso a situação se agrave?
Há, sabemos, o poder para estes génios dobrarem as vicissitudes quando elas são obstáculo à manutenção da Narrativa do sucesso. Isso já sabemos.
Mas quem garante que os restantes jogadores não começa a duvidar da sanidade da jogada?

Crises de identidade - a paródia de um sistema


Quando podemos ver para além do faz-de-conta, beneficiando de um salutar distanciamento, é fácil identificar a natureza bipolar, digamos, é possível vislumbrar as mutações forçadas por que passam os curadores de serviço.
Mal que, por natureza, infligem a si mesmos. E que nos faz vítimas.
Pela Europa já assistimos à "Japanização" do mercado bolsista e, à distância num horizonte não muito longínquo, sabemos que os estímulos dados por (Super Mario) Draghi aumentarão. Fantástico. Não deve haver problemas. Nenhum mesmo.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Pensamento mágico - uma viagem contada

"Os nossos tempos não são diferentes dos antigos"

A mais recente reflexão de Ben Hunt foi publicada (aqui) e ela dá o título para esta entrada. Publicamos abaixo a entrevista que o autor também publica quinzenalmente e que, desta vez, dedicou precisamente ao seu último relatório. Estas gravações, incorporando outros exemplos e argumentos, facilitam o alargamento do público para as suas reflexões.
Não posso deixar de recomendar ambas, ainda que prefira as notas escritas.

Assim, esta entrevista visa mostrar que o tempo presente não é, do ponto de vista antropológico, diferente de épocas passadas. No que diz respeito a mecanismos estruturais da relação entre o homem e o real, das relações de poder entre pessoas e instituições e do modo como estas instituições legitimam e exercem o poder, as semelhanças, segundo Hunt, são inegáveis. E quanto mais depressa admitirmos isso, mais facilmente podemos provocar ou acelerar a mudança para uma nova etapa.

De Claude Levi-Strauss, a Piaget e aos espectáculos televisivos que resultam de cada reunião de governadores dos bancos centrais em pouco mais de quarenta minutos. Não esquecendo Woody Allen (através do seu filme "Annie Hall"), Orwell, as entrevistas dos colossos jornalísticos do presente, bem como o funcionamento da "canalização" sagrada das nossas omnipotentes instituições financeiras e monetárias.
Compreender o propósito dos mercados de financiamento de curto prazo? O propósito dos mecanismos da taxa LIBOR? Com inteligência, ironia e bom-humor?

A ouvir e apreciar criticamente.

Votos de um excelente fim-de-semana.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Rádio Espectador Interessado


Apesar das novidades. As quais nos nos fazem crer, farão do inferno o paraíso.
O que se pode dizer? Parece diferente. Será?

Excelente terça-feira.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

O deleitoso faz-de-conta



Não esqueçamos que o Verão está a acabar. Que se aproxima a altura das colheitas. Não me refiro às vindimas, mas à colheita das tempestades que se semearam. De natureza política, económica e financeira.
Vai ser interessante ver as voltas que hão-de dar os curadores de serviço para preparar as negociações relativas ao próximo orçamento de estado português. Assim como a situação da banca europeia - e é necessário manter a atenção a todo o sector na Europa: Portugal, Espanha, Itália... Alemanha.
Por isso é que o faz-de-conta se vai intensificar. Em várias frentes.
Haja saúde!

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Um teste à força. Das convicções.


Aproveito para deixar uma citação de Josh Crumb. Tão simples quanto lúcida (daqui):

"O ouro não faz as pessoas ricas, a dívida e o papel-moeda é que as faz pobres."

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

O futuro finalmente comunicado pelo Consenso

Ainda num ritmo algo intermitente, publicamos a tradução de parte de uma entrevista levada a cabo por David McAlvany a Richard Duncan. Seleccionaram-se estes parágrafos, pois considerou-se que eles permitem vislumbrar com clareza o que devem estar, seguramente, a pensar fazer os curadores e especialistas do Consenso económico e político.

Por aqui sempre procurámos evidenciar o tamanho das mangas dos mágicos de serviço, assim como a ausência de limites da sua imaginação. As linhas que aqui traduzimos, porém, revelam que o Consenso já equaciona abandonar, definitivamente, qualquer tentativa de justificar o injustificável, já equaciona deixar de criar ilusões e distracções. Estas linhas mostram o que sempre esteve por detrás de uma filosofia da economia e da política dos últimos cinquenta anos: um logro; um negócio para obter algo a troco de nada.

O entrevistado afirma, com todas as palavras, que o passado deve ser esquecido e que, não podendo a tradição servir de guia na compreensão da presente situação económica e política, se deve fazer tábua rasa do pensamento e da investigação passada para se poder escolher livremente novas soluções para os novos problemas...



O Creditismo substituiu o Capitalismo” – Richard Duncan em entrevista concedida a David McAlvany a 27 de Julho de 2016

David McAlvany (DM) – Na sua opinião, a mudança nas políticas dos bancos centrais para controlar as taxas de juro a estes níveis indefinidamente, não causará mudanças na natureza dos mercados financeiros?

Richard Duncan (RD) – Sim, julgo que causarão mudanças fundamentais e completas porque, se considerarmos os últimos cem anos, os bancos centrais – se existissem – não se preocupavam em manipular os preços dos activos. Mas em termos da economia global, e das implicações económicas globais, o mundo nunca gozou das condições que agora enfrentamos: níveis globais de dívida altíssimos, uma economia com excesso de capacidade (tanto nas indústrias, como nos mercados de trabalho). Na Índia, por exemplo, é possível encontrar 300 milhões de pessoas que trabalham por cinco dólares por dia. Por isso temos um excesso de capacidade de mão-de-obra, o que significa a ausência de pressões inflacionistas.

sábado, 6 de agosto de 2016

Cogitações (5)

Aproveitando o desafio para exercitar o raciocínio e o espírito crítico, informam-se os leitores que o ritmo das publicações aqui pelo Espectador Interessado abrandará nos próximos dias.
Para acompanhar a canícula rebelde que se avizinha, forçada a andar escondida pela influência dos ventos do quadrante norte, faz-se uma pausa de alguns dias.
Focando-nos agora no que é importante, partilho duas pequenas proposições de dois autores que acompanho. Desvalorizando o aparente carácter normativo, elas encerram, julgo, a tentativa de alcançar uma visão metafísica acerca desta coisa tão humana e volátil como é a economia e os mercados. Porque a acção humana também o é, diria Mises.

Boa semana e boas reflexões.
"Se se mata a variabilidade, mata-se a selecção. Se se mata a selecção, matam-se os mercados."
Pasquale Cirillo

"A estratégia é ditada, não pelos dados estatísticos, mas pela espada da necessidade."
Alex Gurevich

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Radar

Já com uns dias (data de 28 de Julho), o Gabinete de Avaliação Independente do FMI tornou publica a sua avaliação da acção do Fundo Monetário nos últimos anos. Especialmente, a sua conduta, pressupostos e resultados do programa de apoio à Grécia, Irlanda e Portugal. Pode aceder-se a uma síntese aqui.
Ou aceder ao reltório completo e escolher os capítulos mais interessantes aqui.
Para aguçar o apetite, partilho aqui duas conclusões: houve falta de transparência e os pressupostos da acção da Troika foram demasiado optimistas, não tendo considerado a experiência adquirida em situações anteriores.
Dois artigos de análise do relatório e das suas conclusões: Evans-Pritchard e Frances Coppola.
Se a coligação governamental lê estes materiais...

sábado, 23 de julho de 2016

Citação do dia (194)

“Desde a falência do Lehman Brothers, já foram implementados em todo o mundo 654 cortes nas taxas de juro e os bancos centrais, entretanto, já adquiriram 12.3 triliões em activos (e cada banco central que tentou subir as respectivas taxas foi forçado a retroceder a política e essas taxas desceram a níveis ainda mais baixos do que inicialmente).”

Ronald-Peter Stoeferle e Mark Valek (Junho 2016), “In Gold We Trust”, pp. 137,138.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Vida inteligente?


Mais balões? Que tal um para a Caixa Geral de Depósitos? E para o Novo Banco? Banca alemã? Banca italiana?
Outro para o regresso da austeridade em Portugal, outro para a "gerigonça portuguesa", um para a embrulhada turca, outro para o mar do Sul da China...
E que tal outro para os exames que os alunos portugueses farão no futuro e que não serão classificados? Ou ainda para a cortina de fumo que é a ideia de um "Orçamento participativo"?

Que tempos!

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Delícias para as noites de Verão

Partilhamos com os leitores uma entrevista que, em jeito de uma conversa à beira mar, toca aspectos estruturantes da nossa narrativa colectiva.
Na presente entrevista, Jim Rickards (último artigo que lhe dedicámos) partilha a sua experiência de reuniões com reguladores americanos, dedicando especial atenção às relações destes com os grandes bancos. Uma delícia. Mortal.
De passagem, compara os montes legislativos criados para privilegiar disciplinar o mundo financeiro das últimas décadas nos EUA.
Termina com um conselho tão simples como, julgo, sábio.
E não é porque o entrevistado se parece com os retratos que conhecemos de Jeremy Bentham.

Votos de uma excelente noite de Verão e boas reflexões.


sexta-feira, 8 de julho de 2016

Uma espreitadela ao esquema - que continua e cresce

Fonte

Desde 2012 que o negócio acima exemplificado se vai concretizando. Com os resultados que os mais recentes índices bolsistas dos bancos italianos demonstram.
Isto depois de mais um "pacotinho" de ajuda do BCE em Junho último.
Se juntarmos os problemas políticos latentes em Itália (também em Espanha, onde os seus bancos também estão sob pressão, ou na Alemanha com, pelo menos, dos seus maiores bancos a descer nas avaliações de mercado), então o cenário está montado para uma boa tragédia.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Radar

Publicou-se hoje o relatório do inquérito (Chilcot de seu nome) à participação do Reino Unido na guerra do Iraque. Ver aqui.
O primeiro ministro inglês demissionário fará uma declaração esta tarde.
E Blair já afirmou que assume toda a responsabilidade. Sobre o quê?
A imprensa pede ajuda à leitura crítica do enorme relatório:

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Citação do dia (193)

“A noção de "crime de ódio" é promulgada por aqueles que querem substituir a justiça pela engenharia social e a pela reeducação.”
Dan Sanchez, Junho 2016

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Quem está a ser ingénuo?

Assisto, com um cansaço cada vez maior, ao espectáculo montado em torno do resultado do referendo no Reino Unido. Desde as manifestações em Londres, aos discursos e comportamentos contraditórios e inaceitáveis de vários (ir)responsáveis políticos europeus, passando pelos "especialistas" e comentadores do consenso nacional.
Todo o ruído serve para quê? Concorrer ou substituir o intoxicante nacionalismo de chuteiras que ameaça terminar rapidamente?

Retirado daqui.

Receio que um bom princípio de análise sejam as linhas que se seguem à primeira, nesta imagem.
Não aceitemos as "vistas curtas" que nos teimam em impor.
Para enquadrar a questão britânica em todas as suas dimensões, incluindo os desafios que a Europa enfrenta, leia-se Evans-Pritchard. E tome-se o pulso aos desafios, mais do que às campanhas de medo e intimidação.

"Who´s being naive, Kay?"

terça-feira, 28 de junho de 2016

Variável de controlo

Selecciono e traduzo uma parte de uma excelente reflexão levada a cabo por Ben Hunt. Não posso recomendar mais a leitura integral, não só deste texto, mas de toda a obra reflexiva de Hunt. O conjunto das "Notas" já publicadas constituem material mais que suficiente, na quantidade e na qualidade, para um grande livro de análise do nosso presente global. A riqueza das suas abordagens ao mundo da economia e do investimento financeiro é enorme. Para não falar da elegância e do humor com que integra Filosofia, Psicologia, Literatura, Cinema e História no contexto das suas análises económicas e financeiras. Imperdível.

Os negritos e pontuais edições são da minha responsabilidade.
Os principais instrumentos de política monetária em 2016 – as palavras usadas para construir o “Conhecimento Comum” [em que consiste a Narrativa partilhada] e moldar o nosso comportamento, as palavras escolhidas para produzir certos efeitos mais do que para expressar a verdade, as palavras relativas à “orientação futura” e à “política de comunicação” dos [bancos centrais] – são placebos.

Como uma falsa terapia para as enxaquecas, os placebos da política monetária são muito eficazes porque eles agem sobre os fenómenos fisiológicos da dor que são regulados pelo cérebro. Os placebos são inúteis nos fenómenos que o cérebro não regula, como a instabilidade de um ligamento depois de uma entorse ou o caos celular que resulta de um cancro.

Nos mercados que se regem por princípios fundamentais, há um equilíbrio saudável entre a minimização da dor e a maximização das recompensas. E nos mercados conduzidos pelas políticas [como é, actualmente, o nosso]?
Os três melhores princípios de investimento, nestes casos, são: evitar a dor, evitar a dor e evitar a dor.
Estamos - todos - apenas a tentar sobreviver, não no sentido literal, mas num sentido emocional regulado cerebralmente. E isso deixa-nos totalmente vulneráveis ao poder suavizante dos placebos.

Ben Hunt,"O efeito placebo", 20 de Abril de 2016.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Radar

Apresentações que iluminam. Sou subscritor desde o início e o projecto não tem paralelo nos meios de comunicação que conheço ou conheci. Aliás, é um ginásio para pensar. Isso, como facilmente se percebe, faz toda a diferença.
Ficam aqui duas ligações para programas de acesso livre, recentes e de pertinência inquestionável:
- Ciclos económicos e investimento - Raoul Pal;
- Brexit - Pippa Malmgren.

Vistas Curtas

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Vacas voadoras e deleitosas prisões

Humildade e bom senso

No meio da tempestade de activismos políticos, monetários e financeiros, são cada vez mais refrescantes as escassas hipóteses de pensar a realidade com consciência dos limites humanos, com conhecimento histórico e técnico. O bom senso parece ter desaparecido definitivamente da paisagem e do discurso - social e político. Partilhamos, por isso, uma palestra muito informal de James Grant. A frontalidade e a humildade de Grant parecem de outro tempo.

São tempos de vacas voadoras, de uma presidência sufocante, do excepcionalismo na consideração dos problemas (veja-se CGD), de piadas de mau gosto (as empresas gozarem de uma conta-corrente com o estado é considerado um avanço civilizacional e fruto de uma mente brilhante socialista). São tempos em que acumulamos ataques à liberdade de propriedade e pensamento (quando o estado exige que um hotel não discrimine os clientes que quer servir).
Há quem acredite na bondade desta tolerância forçada? Neste paternalismo sem vergonha?

Nas esferas mais elevadas do poder (na Europa e nos EUA), as discussões para concertar activismos devem estar ao rubro, pois nada está a funcionar como há muito pretendem os curadores. São vários os títulos de dívida a taxas de juro negativas (8 a 10 triliões, consoante as fontes) e as dúvidas crescem quanto à saúde da economia mundial, mas os curadores ainda exercem o seu papel inchados de credibilidade auto-atribuída.

Que contexto para a conversa com Grant!

Resta-nos o humor e o bom senso.
Rindo e pensando.






domingo, 22 de maio de 2016

Síntese e reconsideração

A propósito do tanto que se tem escrito por aqui acerca dos desvarios dos curadores, o último artigo publicado por Eduardo Freitas (ver aqui), incitou-me a tentar sintetizar os passos essenciais da narrativa em alguns pontos.
E, assim, a acção condicionante dos bancos centrais por esse mundo fora visa:
1) criar inflação
2) implementar taxas de juro negativas
3) fazer crescer artificialmente o PIB através de compras de activos e do aumento da despesa pública
4) eliminar a disponibilidade de moeda física para limitar a poupança.

A reunião deste fim-de-semana do G7 evidencia as dificuldades que aqueles passos, ainda assim, enfrentam. Estes magos agem como se a realidade que recriam (que resulta distorcida e irreconhecível) pudesse ignorar a natureza impossível do que fazem ao tentar a quadratura do círculo. O esforço de dispor livremente de variáveis para alcançar relações e causalidades, funciona apenas nos modelos matemáticos que eles mesmos usam.
As realidades, política e económica, que forçam não são isométricas e escapam - por vezes, de forma bem violenta - às tentativas da sua homogeneização.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Radar

Horas depois de mais uma reunião, a Reserva Federal americana (FED) decidiu sublinhar a hipótese de subida nas taxas de juro já em Junho.
Se não estivéssemos - todos - ainda tentar compreender qual seria a lógica das política financeira e monetária da FED dos últimos oito anos, esta decisão de "aperto" face ao abrandamento económico seria desmascarada como uma contradição. Um testemunho cruel face ao que se tem feito para evitar a crise global. Porto Rico. Alô??

Assim, resta-nos o humor.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Estado da Coisa


A tabela anterior é reveladora. Parte muito importante da dinâmica do mercado do ouro durante 2016 verificou-se na área de investimento. Os números do "conservador" World Gold Council são elucidativos.
Se a isto juntarmos as recentes declarações de reconhecidos gestores de fundos de investimento globais acerca da situação de debilidade perigosa dos mercados financeiros, então a dinâmica aqui sublinhada torna-se facilmente compreensível. 
Sublinho, todavia, a natureza protectora do metal precioso. Um seguro contra a "licenciosidade dos políticos e burocratas". Como a imagem ilustra, eles têm bem mais do que as três setas de Abe e Kuroda.