segunda-feira, 30 de junho de 2014

Dilemas futuros


Ou como o futuro há-de fazer-se entre crescimento e prosperidade.

O vídeo que a seguir se apresenta explora alguns dos dilemas que o futuro pode reservar-nos. Este vídeo é uma síntese recente de um conjunto mais vasto de vídeos, a que o autor Chris Martenson chamou "The Crash Course". Ao longo dos seus vinte e seis capítulos, o curso analisa, a partir de múltiplos contributos, alguns dos desafios que o futuro da nossa vida comum exige que consideremos. Na síntese aqui sugerida, o autor e a equipa da Peak Prosperity focam-se nos constrangimentos, desafios e possibilidades que, enquanto seres humanos, necessariamente vamos enfrentar em três domínios centrais: economia, energia e ambiente (os três E´s em inglês). A partir de uma posição que podemos chamar de optimismo racional.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

O que é que eles sabem que nós não sabemos?

São múltiplos os sinais da disfuncionalidade dos mercados financeiros resultantes das prolongadas políticas de supressão das taxas de juro (ZIRP/NIRP), de uma inflação monetária sem precedentes e do regresso em força da promoção do crédito subprime (com particular afinco no crédito imobiliário nos EUA mas também, por exemplo, na Holanda). A actividade económica real continua num torpor pastoso apesar dos sucessivos anúncios de recuperação e das "acções sem precedentes", também conhecidas por "medidas não convencionais", tomadas pela generalidade dos bancos centrais. Entretanto, os níveis bolsistas continuam a quebrar recordes atrás de recordes sem que se vislumbrem sinais de escoramento na economia real (na realidade, mais não são que fenomenais transferências de riqueza da Main Street para Wall Street, ou seja, dos 99.99% para os 0,01%). A Fed finge que o seu próprio "sucesso" lhe permite agora abrandar os "estímulos" passando o testemunho ao BCE (que se prepara para avançar com o seu próprio QE enquanto se passam umas coisas estranhas na Bélgica). É por tudo isto que ouvir da boca de um alto responsável de um banco central, de um dos sistemas financeiros mais sólidos do mundo, dizer que atravessamos uma "inquieta calmaria" em "águas desconhecidas" e que os seus bancos devem reforçar os seus capitais e liquidez não pode deixar de ser notícia. Assim, enquanto por cá assistimos ao desenrolar da mais recente e não surpreendente história de mais um dos "bancos do regime", creio valer a pena a leitura da crónica de Simon Black que se segue e que me propus traduzir.
Myanmar, 25 de Junho de 2014
Por Simon Black

Um alerta para a "inquieta calmaria" nos mercados financeiros, vindo de Singapura


Bem, há pelo menos alguém que percebe o que está a acontecer.

Quando a quase totalidade dos bancos centrais do planeta está a sinalizar ao mundo que tudo vai bem no plano económico, o vice-presidente da Autoridade Monetária de Singapura (Lim Hng Kiang) disse ontem [24-06-2014] durante um jantar que "uma inquieta calmaria parece ter-se instalado nos mercados" e que "permanecemos em águas desconhecidas".

Foi realmente incrível ouvir uma linguagem tão incisiva por parte de um funcionário de um banco central.

O Sr. Lim apontou para os riscos "óbvios" e disse que iríamos enfrentar adiante "solavancos na estrada". Mas isso é um eufemismo.

Ouro - um regresso esperado

Antes mesmo de ganhar o prémio nobel da economia em 1999, Robert Mundell pronunciou um discurso no Latrobe College (Pensilvânia, 1997) de que se seleccionou, traduziu e editou a seguinte passagem:
“O sistema monetário internacional no séc. XXI”, Robert Mundell - 12 de Março de 1997

"Não penso que voltaremos a ver um tempo em que duas grandes economias – os Estados Unidos e a União Europeia – fixem as suas moedas ao ouro, como fizeram no passado. O mais provável é que o ouro volte a ser usado a dada altura, talvez daqui a dez ou quinze anos, quando os governadores dos bancos centrais se sentirem confortáveis a falar publicamente acerca do seu uso, ao preço do mercado e não fixo, entre os próprios bancos centrais.
O ouro terá um papel na estrutura do sistema monetário do século XXI, diferente do que desempenhou no passado. Podemos analisar o período do padrão-ouro como sendo um período único na história, quando havia um balanço entre os poderes e não havia uma superpotência a dominar.
Esperemos que o maior evento do século XXI seja o facto de o dólar e o euro aprendam a viver juntos."

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Zonas não conhecidas do nosso universo monetário

Acabado de publicar, o relatório anual da equipa da Incrementum é uma ferramenta muito útil para compreender os "tempos económicos" em que vivemos. Ou experimentar uma cartografia das zonas inéditas do universo monetário que, sem ilusões, habitamos. Especialmente quando se procura compreender quem ganha e quem perde com as políticas actuais dos governos e bancos centrais. FMI incluído, claro.
O relatório possui, igualmente, análises de variados cenários económicos e geoestratégicos futuros, o papel do ouro e da prata em carteiras de investimento diversificado (comparações com dólares, petróleo, acções em diferentes combinações). Complementando o conteúdo e o interesse dos mais recentes comentários dos nossos leitores, traduz-se a seguinte passagem (o relatório é uma versão mais extensa do que o habitual), acrescentando-se o sublinhado.
Ronald-Pete Stoeferle & Mark J. Valek (Junho, 2014), “In Gold We Trust” - Incrementum p.19

"No actual sistema monetário, profundamente fraccionário, um fenómeno deflacionário no crédito teria consequências importantes para a economia real, em particular no sistema bancário. A permanente expansão da oferta de moeda e crédito tornam-se fins em si mesmos no actual sistema de moeda-crédito.
Esta é a verdadeira razão pela qual a deflação é, nos dias de hoje, a nemesis dos governadores dos bancos centrais.
O objectivo de todos os organismos, de todos os seres humanos e de toda a burocracia é maximizar as suas hipóteses de sobrevivência. Nesta perspectiva, a deflação representa uma ameaça existencial ao actual sistema monetário, que tem de ser combatida por todos os meios. Por forma a esconder a instabilidade inerente do sistema de crédito, as políticas extremamente expansivas dos bancos centrais continuarão a compensar a deflação no crédito.
Na nossa opinião, isto representa um acto de equilibrismo sobre o fio da navalha."

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Citação do dia (167)

"No seu “World Economic Outlook” de Outubro de 2012, o FMI analisa com detalhe as provas práticas da austeridade e não gostou do que encontrou. Em particular, o FMI concluiu que o multiplicador associado ao aumento da carga fiscal pareceu maior do que tinham, previamente, assumido. Ou seja, por cada aumento da carga fiscal há uma contracção económica correspondente, que é maior do que se esperava. Isto resulta numa maior diminuição da actividade económica e ao, infeliz, desfecho de aumentar a percentagem da dívida pública face ao PIB. Que seria o oposto do esperado e desejado. Enquanto o FMI prefere não usar o termo, o que acabei de descrever é a armadilha da dívida.
A partir de um certo ponto, uma economia acumula mais dívida do que aquela que pode pagar sem recorrer a uma desvalorização da moeda. No caso desses países terem recorrido a crédito numa moeda estrangeira, então nem a desvalorização funcionará e alguma forma de reestruturação ou incumprimento se tornam necessários para liquidar a dívida.
O FMI está, tacitamente, a admitir que aquelas economias da zona euro que estão em esforço – e para já a falhar – na aplicação da auteridade, são vítimas da armadilha da dívida."

As novas roupas dos keynesianos” – John Butler

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Uma certa Educação

Na primeira pessoa, a explicação de como se pode tirar proveito das fragilidades "montadas" no sistema financeiro. Com benefícios, pessoais e sociais - económicos e políticos. E o relato inclui, pelo menos, dois dilemas morais explícitos.
Respostas e atitudes reveladoras de uma certa Educação. O vídeo que se apresenta é uma parte da entrevista, cujo visionamento completo se aconselha vivamente.


sábado, 21 de junho de 2014

Metais Preciosos - a história dos últimos vinte anos

Compreender a história recente das políticas de intervenção dos bancos centrais nos mercados financeiros em pouco mais de vinte minutos? Compreender, também, que mercado livre, imprensa crítica e independente são conceitos em erosão acelerada no Ocidente, num tão breve vídeo? É surpreendentemente simples.
Tanto a produção de prova como a argumentação, no mínimo, valeriam uma análise séria e justa por parte de autoridades e cidadãos preocupados com o seu futuro. De qualquer indivíduo livre, acrescentaria. É que as implicações destas políticas de supressão são antigas e têm origem histórica na necessidade dos estados, e interesses a eles associados, em criar dívida, perpetuando assim determinadas relações de poder.
A palestra que a seguir se apresenta é levada a cabo por Bill Murphy, um dos responsáveis de uma associação em defesa da verdade sobre todo o esquema de manipulação do preço do ouro e da prata. A associação GATA tem procurado trazer à consideração do público (especialmente norte-americano, mas já tem feito apresentações na Ásia também) a natureza do cartel (bancos centrais e bancos de investimento), da sua acção e consequências na "condução" de todos os assuntos relativos ao ouro, à protecção da riqueza produzida por todos os indivíduos. Uma dimensão da luta pela Liberdade, portanto.
Sabemos que quando se quer desacreditar alguém e os seus argumentos, se acusa essa pessoa de promover teorias conspirativas. Que o diga Snowden, certo?
De teorias da conspiração a factos históricos em poucos passos. Duvida? Ora veja:

quinta-feira, 19 de junho de 2014

A Grande Guerra 1914-1918 – Algumas notas e fragmentos (VII)

Depois de um interregno aparente, regresso explicitamente ao tema da I Guerra Mundial suprimindo o impulso de escolher para título deste post qualquer coisa como um (por aqui) improvável "Obrigado, Lorde Keynes!" Explico-me. No seu livro de 1919, As Consequências Económicas da Paz" (a paz (?) de Versalhes), Keynes oferece-nos uma breve mas ainda assim rica descrição do ambiente prevalecente no mundo ocidental até às vésperas da eclosão da hecatombe iniciada em Agosto de 1914. Ela ilustra a tripla liberdade então existente - a da livre circulação de pessoas, dinheiro e bens - que o liberalismo clássico tinha tornado possível pela primeira vez na História.  O trecho que se segue é, creio, disso bem ilustrativo. Finda a guerra, uma nova era se iniciaria: a da deificação do estado-nação, do nacionalismo, do proteccionismo e da autarcia. Em suma, a vitória do colectivismo sobre o individualismo para o que era imprescindível proceder à sistemática destruição do padrão-ouro moeda que tinha vigorado nos 100 anos precedentes. A tradução é minha, bem como os realces introduzidos. (O livro está disponível para download gratuito em português do Brasil.)
John M. Keynes
"Que extraordinário episódio de progresso económico humano constituiu aquela era que terminou em Agosto de 1914! É certo que a maior parte da população trabalhava duramente e vivia com um baixo padrão de conforto, mas, aparentemente, contentava-se com a sua sorte. Todavia, a qualquer homem de capacidade ou carácter acima da média, era possível escapar a esse destino, ascendendo às classes média e alta, para quem a vida oferecia, a baixo custo e com pouco esforço, conveniências, confortos e amenidades que iam muito além do que os monarcas mais ricos e poderosos de outras eras alguma vez possuíram. Enquanto beberricava o chá matinal ainda na cama, o habitante de Londres podia encomendar por telefone diversos produtos de todo o mundo, nas quantidades que achasse adequadas, na expectativa razoável que fossem entregues rapidamente à sua porta; em simultâneo, e pelos mesmos meios, podia investir a sua riqueza em recursos naturais e em novos empreendimentos em qualquer parte do mundo e participar, sem esforço ou dificuldade, nas vantagens em perspectiva; ou podia decidir ligar a segurança da sua fortuna à boa-fé dos habitantes de um município importante num qualquer continente que a sua fantasia ou as informações de que dispusesse pudessem recomendar. Se o desejasse, podia assegurar, sem demora, um meio de transporte barato e confortável para qualquer país ou clima, sem necessitar de passaporte ou outra qualquer formalidade; podia enviar um seu empregado ao balcão mais próximo de um banco para se abastecer dos metais preciosos que entendesse conveniente, viajando de seguida para um país estrangeiro, sem conhecer a religião, a língua ou os costumes locais, transportando consigo a sua riqueza sob a forma de moedas, e considerar-se-ia muito ofendido e muito surpreendido caso houvesse o mínimo de interferência nos seus movimentos. Mas, e o mais importante de tudo, considerava esse estado de coisas como sendo normal, certo e permanente, excepto no sentido da introdução de novos aperfeiçoamentos, pelo que considerava qualquer desvio como sendo aberrante, escandaloso e evitável. Os projectos e a política do militarismo e imperialismo, dos monopólios, rivalidades raciais e culturais, restrições e exclusões, que iriam desempenhar o papel de serpente neste paraíso, eram pouco mais do que diversões quotidianas dos jornais, sem que parecessem exercer qualquer influência no curso normal da vida social e económica, cuja internacionalização, na prática, estava quase completa."

John Maynard Keynes, As Consequências Económicas da Paz (1919)

quarta-feira, 18 de junho de 2014

O fim desta narrativa

A responsabilidade dos bancos centrais na situação económica e financeira mundial tem vindo a ocupar um lugar cada vez mais central nos meios de comunicação convencional. Lentamente, é certo. Um detalhe, um personagem, um acto de cada vez (o próximo a revelar-se). Há tentativas levadas a cabo para compreender a dinâmica e o possível fim da narrativa vigente (esta última identificada, pelo menos, aqui e aqui).
O artigo (parcial) que a seguir se apresenta foi traduzido e editado por mim
Quando quebra esta história?”, Ben Hunt - 25 de Maio de 2014

“Acredito que os mercados, hoje, são essencialmente vazios, já que o que passa por volume e liquidez corresponde, essencialmente, a máquinas a falar umas com as outras, estabelecendo posicionamentos em carteiras de investimento ou arbitragens efémeras. Ao invés da expressão do desejo dos humanos em serem proprietários de acções de empresas reais.
Acredito que hoje o nível de preços no mercado reflectem a maior política de acomodação monetária na história humana, em vez de resultados de empresas reais.
Acredito que os riscos políticos para a estrutura do mercado de capitais, bem como para o comércio internacional não eram assim tão graves desde os anos trinta. Em conclusão e face a estes riscos, acredito que alguém está a dar-nos música de violinos.
No entanto, isto não significa que pense que as coisas vão mudar para a semana, ou para o mês que vem. (...) Mas todos sabemos que toda a gente sabe que são as políticas dos bancos centrais a determinar os resultados do mercado. Também não estou a dizer que é impossível existir uma grande mudança nas crenças e comportamentos dos agentes no mercado.
Convenientemente, a Teoria dos Jogos providencia a ferramenta certa para desmontar estes processos sociais. Para iniciarmos esta explanação, considerem uma experiência mental clássica do Jogo do Conhecimento Comum – a ilha da tribo dos olhos-verdes. Segue assim:

segunda-feira, 16 de junho de 2014

O inimigo do meu inimigo tornou-se inimigo do meu amigo

A incapacidade de reconhecer os erros cometidos e assumir as respectivas responsabilidades é uma característica excessivamente comum nos políticos para reduzir estas declarações de Tony Blair a um mero caso do foro psiquiátrico. A mentira das "armas de destruição maciça" não foi no essencial diferente - à excepção, talvez, da sua escala - dos "incidentes" do Golfo de Tonkin, da explosão a bordo do USS Maine no porto de Havana ou do bombardeamento do Fort Sumter entre inúmeros outros exemplos. Mas a História ensina-nos que os Impérios não são eternos e, a meu ver, os acontecimentos recentes no Iraque são já extremamente parecidos com a última fase da guerra do Vietname (que começou com os franceses, recorde-se). Por muitas "linhas vermelhas" que se tracem (em caso de conveniência, já se vê). E não é que não tenha havido avisos prévios do que aí viria (um bom exemplo de avivar de memória pode ser lido aqui).

Com tradução de minha responsabilidade (tal como as imagem e os links introduzidos), o texto abaixo de Eric Margolis fornece uma narrativa que, infelizmente sem surpresa, não encontro eco nem nos media nem na blogosfera portuguesa. Também aqui as pistas para o que está a suceder no Médio Oriente remontam aos tempos da I Guerra Mundial e às maquinações imperiais das "Grandes Potências".
14 de Junho de 2014
Por Eric Margolis

Iraque: o caos todo-poderoso

Eric Margolis
O falecido Saddam Hussein tinha realmente razão quando previu que a invasão americana do Iraque se iria tornar na "mãe de todas as batalhas". Onze anos depois, a batalha continua.

Nesta semana, assistimos ao colapso de duas divisões do exército governamental do Iraque, 30 mil homens correndo como galinhas diante do avanço implacável dos combatentes do ISIS - Estado islâmico do Iraque e do Levante (Síria). O mesmo exército fantoche que foi treinado e equipado durante uma década pelos EUA pela soma de 14 mil milhões de dólares. Um mau augúrio para aquilo que aguarda o exército e a polícia do Afeganistão, também eles criados pelos EUA.

Recordam-se de quando o presidente George W. Bush se vangloriava da "missão cumprida"? Não foi o malévolo Saddam Hussein linchado pelos aliados xiitas dos EUA? Não foi a temida Al-Qaeda derrotada e o seu líder, Osama bin Laden, assassinado? Recordam-se de todo aquele palrar proveniente de Washington para "drenar o pântano" no Iraque?

Logo que os EUA derrubam um desafiante ao seu domínio no Médio Oriente - aquilo que chamo de American Raj - há outro que se ergue. O mais recente: o ISIS, uma feroz força jihadista que agora controla grandes parcelas da Síria e do Iraque.

domingo, 15 de junho de 2014

Sobre o Crédito ou a história a repetir-se

Nos pacotes de medidas dos bancos centrais podemos identificar ciclos. Ou seja, as políticas dos bancos centrais repetem-se desde, segundo o texto que a seguir se traduz, os anos vinte. Isso é válido para o BCE que, enquanto instituição, não existia nesse tempo. Segundo Doug Nolan, as políticas são, precisamente, as mesmas. Apesar de conduzirem a problemas e a dilemas já conhecidos. Que hão-de dar lugar a mais intervenções num ciclo que facilmente se torna visível.
Esta é a tese do artigo (parcial) que a seguir se publica, introduzindo os sublinhados que não estavam no original.


Doug Nolan, "A distribuição do crédito" - 6 de Junho de 2014

Nos últimos 23 trimestres – desde o terceiro trimestre de 2008 até ao primeiro do corrente ano – o crédito federal americano cresceu 3.338 triliões ou 351%. Acima deste crescimento ´parabólico` o crédito/liquidez da FED cresceu 1.474 triliões ou 52% nas últimas 82 semanas. (...) Tracei, repetidamente, paralelos entre o actual ciclo de Crédito – extraordinariamente prolongado – e o ciclo do período entre a 1ª Grande Guerra e 1929. Ambos os períodos possuem muitas características semelhantes, sejam os profundos avanços tecnológicos, inovação financeira, activismo experimental na gestão monetária e nos resultantes ciclos de crédito, economia e especulação.

sábado, 14 de junho de 2014

A bolsa ou a vida

Considerando a blogosfera nacional, há quem escreva com muita qualidade sobre a actual realidade financeira, económica e política. Essas análises podem partir de pressupostos ideológicos muito diversos, mas há um ponto fundamental que partilham. Mesmo se o fazem segundo discursos que dão, a esse elo, tonalidades e intensidades diferentes.
Estou a fazer referência à natureza intrinsecamente boa do estado e da acção dos seus agentes. O pequeno vídeo que a seguir se apresenta demonstra que, não obstante as delicadas arquitecturas de "controlo e balanço" das instituições políticas, estando os incentivos presentes pela própria natureza monopolizadora do estado, o Mal não pode deixar de ter lugar.
Um breve enquadramento do convidado de Bill Moyers: Neil Barosfky é procurador federal e foi escolhido por Obama para acompanhar o TARP. Arrisco que o convidado partilharia do consenso que assinalei atrás, mesmo se viu, por dentro, esse Mal.
Que trilogia é sugerida por este pequeno vídeo?

sexta-feira, 13 de junho de 2014

A Conquista dos EUA pela Espanha

Como aqui se dá conta, a declaração que se segue (minha tradução), alegadamente proferida por Winston Churchill em entrevista dada em Londres em 1936 a William Griffin, editor do The New York Enquirer, viria posteriormente a ser desmentida pelo próprio Churchill. Tal facto levou Griffin a intentar-lhe uma acção cível que todavia não chegaria a ser apreciada em tribunal (estava-se então em 1942, e Churchill era primeiro-ministro da Grã-Bretanha em plena II Guerra Mundial).
«A América deveria ter-se preocupado com os seus próprios assuntos e ficado de fora da Guerra Mundial. Se vós não tivésseis entrado na guerra, os Aliados teriam feito a paz com a Alemanha na Primavera de 1917. Tivéssemos feito a paz, não teria havido o colapso na Rússia seguido do comunismo, a desagregação na Itália seguida do fascismo, e a Alemanha não teria assinado o Tratado de Versalhes, que entronizou o nazismo na Alemanha. Se a América tivesse ficado fora da guerra, todos esses "ismos" não estariam hoje a varrer o continente europeu e a destruir o regime parlamentar - e se a Inglaterra tivesse feito a paz nos inícios de 1917, teria salvo as vidas de mais de um milhão de britânicos, franceses, americanos e outros.»

Winston Churchill (Agosto de 1936)
Tenha ou não Churchill proferido esta declaração (cujos pontos de vista eram à época partilhados por outras personalidades como o líder trabalhista Ramsay MacDonald ou o historiador Harry Elmer Barnes), é preciso recuar a 1898 para localizar o ponto de viragem em favor de um assumido intervencionismo externo dos EUA - sempre crescente até hoje - assim abandonando as mais veementes advertências dos Pais Fundadores quanto às consequências que adviriam para a América caso esta alguma vez enveredasse pelo aventureirismo externo.

Com a macabra oportunidade que o reemergir de mais um surto de violência no dilacerado Iraque vem proporcionar, venho sugerir ao leitor uma incursão pela pouco referida guerra Hispano-Americana (que se estendeu a Cuba e Porto Rico, Filipinas e Guam). Para guionista proponho aquele que é um dos meus historiadores preferidos dos séculos XIX e XX, Ralph Raico, que irá invocar o injustamente esquecido William Graham Sumner. A tradução do texto (de uma alocução proferida de Raico na FEE em 1995, também disponível em áudio) é da minha responsabilidade bem como das imagens escolhidas.
Por Ralph Raico (1995)


Ralph Raico
O ano de 1898 constituiu um marco na história americana. Foi o ano em que a América entrou em guerra com a Espanha - o nosso primeiro envolvimento com um inimigo estrangeiro no amanhecer da era da guerra moderna. À parte uns escassos períodos de contenção, nunca mais deixámos de nos enlear nos conflitos externos.

Algures na década de 1880, um grupo de cubanos iniciou a luta pela independência da Espanha. Tal como sucedeu antes e depois com muitos revolucionários, tinham pouco apoio real entre a massa da população. Recorreram assim a tácticas terroristas: devastando zonas rurais, dinamitando ferrovias, e matando aqueles que lhes surgiram pela frente. As autoridades espanholas responderam com duras contramedidas.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Os políticos e burocratas preferem as vítimas invisíveis

No que constitui um outro excelente artigo, o Prof. Walter Williams evoca a filosofia libertária iniciada com John Locke ("Quem é o dono de si mesmo?") e o célebre ensaio de Frédéric Bastiat ("O que se vê e o que não de vê") para evidenciar as consequências reais das acções/omissões e do tipo de incentivos que a interferência do estado inevitavelmente introduz nos diferentes mercados. Neste artigo, Williams debruça-se sobre o tema da introdução de novos fármacos.

Adenda: a tradução é da minha responsabilidade bem como a introdução de links e realces no texto.
10 de Junho de 2014
Por Walter E. Williams

Quem é o seu dono?

Walter E. Williams
Darcy Olsen, presidente do Instituto Goldwater com sede no Arizona, e Richard Garr, presidente da Neuralstem, uma empresa de biotecnologia, escreveram "O Direito a Tentar drogas experimentais" no USA Today (2014/05/28). Eles observaram que "este ano, mais de 5.000 americanos irão perder a batalha contra a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), comummente conhecida como doença de Lou Gehrig". Até há pouco tempo, não havia medicamentos no mercado que melhorassem significativamente as vidas dos pacientes com ELA. Mas há agora um em ensaios clínicos - que se mantém bem promissor - que a Food and Drug Administration [equivalente, na área do medicamento, ao Infarmed português – N.T.] não aprovou. O tempo médio que demora a obter a aprovação de uma droga pela FDA é de 10 anos. Esse é um tempo que os doentes terminais não têm.

Os legisladores no Colorado, Louisiana e Missouri aprovaram recentemente legislação conhecida por "Direito a Tentar", e os eleitores do Arizona irão pronunciar-se sobre esta matéria em Novembro próximo. A iniciativa "Direito a Tentar" foi concebida pelo Instituto Goldwater. Ela proporcionaria aos doentes terminais o acesso a drogas experimentais que tivessem observado os ensaios básicos de segurança. Sob a supervisão de um médico, seria dada a oportunidade às pessoas de testar drogas experimentais promissoras antes de elas obterem a aprovação final da FDA.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Um ano depois sabemos que

As bruxas de Macbeth na versão Draghi et al

Vimos procurando ajudar a decifrar "o guião" que norteia as sucessivas operações de manipulação do sistema monetário e financeiro por parte dos bancos centrais à escala mundial (com particular e natural atenção ao ECB), operações essas pomposamente conhecidas por "política monetária". E embora na divisão do trabalho no Espectador Interessado, esta matéria esteja naturalmente (e muito bem) entregue ao LV, não resisto a uma intervenção, num registo menos habitual, depois de um amigo me ter chamado à atenção do Kaiser Report 611 (de 7 do corrente, vídeo abaixo). Assim, e na sequência de referências recentes, e agradecendo ainda à veia da Mónica Colaço [1], aqui fica um comentário à situação, estrutural, que atravessamos:
Um, dó, li, tá. A dívida veio e ficou por cá.
Trabalho, trabalho, trabalho e já está!
As obrigações queimam e dinheiro não há,
O que ele comprava, jamais comprará.
Olho de salamandra e dedo de rã
Pelo de morcego, casca de romã
Não comprará mais,
Nem hoje nem amanhã.



[1]  - Uma tradução/adaptação de uma brincadeira de Max Keiser, logo no início do vídeo, ela própria adaptada da cena das três bruxas na peça Macbeth, de Shakespeare, e que "corre" assim:

Bubble, bubble, toil and trouble.
Bonds burn and prices double.
And eye of newt, and toe of frog,
Wool of bat, and tongue of dog,
Cost more than you can afford

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Para lá das primeiras linhas dos balanços

Quando queremos - mesmo - compreender o alcance do jogo que decorre para lá dos títulos das edições políticas ou económicas dos meios de comunicação convencional, podemos encontrar quem nos explique. A seguir partilha-se um programa gravado (podcast) acerca do que são os grandes movimentos financeiros que misturam autoridades soberanas e grandes operadores institucionais.
O que está para lá das primeiras rubricas dos balanços não é bonito. Essas rubricas são as mesmas em que todos parecem acreditar (vejam-se os índices bolsistas) e nas quais grandes entidades financeiras, bancárias ou industriais se apoiam para obter avaliações que, de seguida, hão-de respaldar créditos para negócios cada vez mais especulativos e nos quais o risco se encontra, em absoluto, distorcido. O desfecho dos quais, todavia, se encontra assegurado. E assim sucessivamente… "estando uma parte da mesa a acumular todas as fichas".

sábado, 7 de junho de 2014

Face a face

Já por aqui se associou esperança e juventude. Quantos adultos fariam o mesmo, na situação em que estes jovens se encontram? Podem dizer-me que é a ignorância das consequências de afrontar a autoridade do estado e por aí fora.
Julgo que não é isso. Será, julgo, o oposto disso: será uma teimosia de confrontar a autoridade com a sua responsabilidade, demonstrando as contradições entre discursos e acções.
Simples?

sexta-feira, 6 de junho de 2014

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Aquela primeira semana de Junho



A equipa de sábios do Banco Central Europeu (BCE) prometeu. E cumpriu. A orientação prospectiva que manifestou é, apesar de tudo, espelho das dúvidas que existem na Europa. Da cartola tirou as taxas de juro negativas, condições especiais para operações de refinanciamento, mas ficou aquém de um programa de "facilitamento quantitativo" - QE à americana. Ou seja, não deu o passo que a FED já deu há muito - a da injecção directa de liquidez nos mercados financeiros. A FED assumiu essa política porque podia e não tinha dúvidas que o podia. Ou não queria deixar adivinhar hesitações a ninguém. Mas e a Europa? E o projecto europeu? Estariam os alemães disponíveis para a "solução americana"?
Seja como for estas medidas suscitam umas quantas perguntas. Não são originais, mas, julgo, oportunas:
- Pode o BCE obrigar os bancos a fornecerem mais crédito à economia? (estando com rácios de capital em limites - considerados até bem recentemente - baixos e sem terem do outro lado parceiros com bom perfil de risco);
- Mais dívida pode conduzir à prosperidade?
- De que forma a penalização da poupança conduz à criação de riqueza?
- Por que razão se tem, da deflação, um medo como do mar sem fim e dos monstros que o habitam?
Haverá alguém que articule respostas?
Isto, deixando toda a aparelhagem keynesiana de parte, claro.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Agora que estamos em Junho (actualizado)


As decisões constitucionais por cá estão a causar preocupação. Lá por fora também. Há um novo programa de apoio financeiro preparado para aplicar na Grécia e – sucessões à parte – a Espanha prepara também um programa de estímulos à economia. O que dirá Draghi e a equipa do BCE esta semana?
A acreditar nos pressupostos, que todos conhecemos, parece óbvio onde isso pode levar-nos.
Para já, impõe-se colocar os dados na mesa. Para poder entender o que aí vem. A médio prazo. Vejamos.
O quadro seguinte apresenta a Dívida Privada e Pública em % do PIB (Maiores Países – anualizado)

20082013
1Japão604,9%656,8%
2E.U.A.357,2%346,1%
3Austrália325,1%325,0%
4Zona Euro412,9%462,6%
5Reino Unido500,6%544,4%
6Canadá244,2%286,3%
7China320,0%420,0%
8Média Ponderada402,7%435,6%

Fonte: Lacy Hunt, Hoisington Management – através de John Mauldin
Actualização - procedeu-se à correcção da data relativa ao fim do período a que os dados referem (2013 e não 2009), como inicialmente publiquei; agradecimentos Eduardo, mais uma vez.

Notam a diferença entre 2008 e o presente? Alguém pode afirmar que a crise já "se vê pelo espelho retrovisor", quando se regista uma subida na dívida de 35%, aquilo mesmo que foi o rastilho para a crise de 2008?
Face a estes dados, seguiremos as críticas ao Tribunal Constitucional? As (habituais) disputas pelo poder nos diferentes partidos? Ou veremos esses episódios pelo que são: laterais?
De seguida, deixo três referências rápidas. Começou a discussão, de um modo muito discreto e difuso, acerca da hipótese de acabar com a moeda.
Não estou a referir-me à tese de James Rickards (cuja entrevista se publicou aqui). Antes a hipótese de os estados acabarem com a moeda física para arrumar com a economia paralela e o anonimato nas transacções económicas. Ou seja, começa a discutir-se (aqui e aqui) o modo de tornar os movimentos de moeda (a que vier a ser adoptada) controlados pelos estados. E para quê? Publicamente, esse controlo serve para combater o anonimato e o terrorismo (ainda seremos chamados de terroristas quando usarmos dinheiro em vez de cartão bancário!). No entanto, analisando mais demoradamente e considerando também os dados apresentados atrás, tudo parece reduzir-se a mais uma forma de os estados terem ao seu dispor mais recursos. Caso a necessidade surja. Estes esforços serão mais um sinal do que, do ponto de vista fiscal, os estados podem fazer para arrecadar mais recursos. Assim se instale o mínimo de desespero.
Por fim, deixo um pequeno vídeo acerca de como a discussão está a ser, a este respeito, deformada nos EUA.
Esclarecedor ou aterrador?.


segunda-feira, 2 de junho de 2014

Citação do dia (166)

"Perguntemo-nos rapidamente: estamos mesmo a perseguir a igualdade financeira? Como é que podemos saber que nível de desigualdade é aceitável ou natural? E porque é que tem de ser a regra da maioria a decidir isso?
Posto isto, uma pessoa pode dizer lógica e empiricamente que as quebras abruptas nos mercados (crashes) diminuem as desigualdades. Essas quebras são os mecanismos naturais para isso, são também uma resposta de catarse face à manipulação das taxas de juro por parte dos Bancos Centrais e respectiva inflação nos activos, bem como às ajudas aos governos em dificuldades financeiras (bailouts) que tanto amplificam a desigualdade. Assim, as quebras são o mecanismo homeostático do capitalismo a trabalhar para corrigir um sistema distorcido.
Nós estamos na situação ridícula onde políticas governamentais utópicas que pretendem minimizar as desigualdades serem, elas mesmas, consequência de outras políticas governamentais – uma volta completa às manipulações do mercado, portanto. Ou seja, depois de termos sido atropelados por um carro, o melhor tratamento assumido é fazer recuar o carro por cima de nós outra vez. "