terça-feira, 30 de setembro de 2014

5 minutos de sanidade contra 100 anos de bombardeamentos

Uma brilhante intervenção de George Calloway na Câmara dos Comuns, em 26-09-2014, protestando contra a participação do Reino Unido em mais uma campanha de bombardeamentos no Médio Oriente, agora em pretexto da luta contra uma criatura - o "Estado Islâmico" - criada e alimentada nos bombardeamentos precedentes. O absurdo de mais esta insanidade está também magistralmente enunciada aqui


Via LRC

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A Grande Guerra 1914-1918 - O Lusitania (um bom pretexto e um alvo fácil)

Não tencionava incluir o caso Lusitania na série de posts que vimos publicando sobre a I Guerra Mundial. Todavia, é-me difícil não dar conta que a campanha de bombardeamentos aéreos agora em curso contra o “Estado Islâmico” tenha ocorrido após a divulgação sucessiva, em quatro vídeos distintos, de outras tantas decapitações. Primeiro, de dois cidadãos americanos; posteriormente, de um súbdito britânico seguido de, há dias apenas, de um cidadão francês. Creio impossível não notar a coincidência do envolvimento das três nacionalidades notáveis na geopolítica da região após a queda do império Otomano. Em conclusão: o que Obama e Cameron não conseguiram há um ano, tornou-se agora possível devido à divulgação de uns vídeos no YouTube. A "linha vermelha" estava, afinal, no efeito de choque causado pelo visionamento de decapitações. A encenação revela-se, mais uma vez, fundamental para fazer vingar um pretexto adequado.

Após o início da I Guerra Mundial, talvez não tenha havido acontecimento singular mais relevante para o que viria a ser o seu desfecho do que o torpedeamento por um submarino alemão do paquete transatlântico Lusitania, ocorrido em 7 de Maio de 1915, de que resultaram 1153 mortos (128 dos quais de nacionalidade norte-americana). E muito embora só a 6 de Abril de 1917 os Estados Unidos tenham declarado guerra às Potências Centrais, é inegável a importância daquele evento no processo de decisão que levaria a essa decisão e, com ela, a sorte da guerra[1]. Sublinhe-se, não obstante, que o presidente Woodrow Wilson, que procurava a sua reeleição em 1916, fez essa campanha eleitoral sob o slogan "He kept us out of war" (“Ele manteve-nos fora da guerra” – N.T.) o que indubitavelmente traduz o sentimento, de facto largamente maioritário na opinião pública americana à época, contra o envolvimento dos EUA na terrível guerra que decorria no teatro europeu.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Radar

Este programa de rádio é uma viagem obrigatória aos centros nevrálgicos da decisão e regulação financeira. Para compreender como são as relações entre os reguladores e agentes bancários e financeiros em pouco mais de uma hora. É uma análise feita nos EUA, à FED e, neste caso, ao Goldman Sachs. As dúvidas avolumam-se quanto à qualidade do papel dos reguladores, à transparência de todo o sistema financeiro. Atente-se na descrição do que significa, para a FED e nas palavras de um alto quadro da instituição, credibilidade. Ou no caso apresentado acerca do Goldman Sachs e Santander. Alguém se lembra do comportamento recente do nosso Banco de Portugal?

Presente Virtual

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Citação do dia (173)

"O crescimento da bolsa de ouro de Xangai (SGE) para se tornar a maior plataforma de transacção física de Ouro do mundo, fornece provas convincentes de que o futuro para o ouro é estritamente físico.
Acompanhando a mudança dos mercados do Ocidente para Oriente, a expansão de fortes plataformas de transacção de ouro na Ásia trará uma melhoria nas condições de descoberta dos preços, da liquidez, da transparência e eficiência do próprio mercado; estas melhorias transformarão a paisagem do mercado global do ouro.
Como elemento importante que é a China assumirá, com justiça, o seu lugar no mercado mundial do ouro."

Aram Shishmanian, (CEO World Gold Council) após a abertura da negociação internacional na SGEI

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Radar

Esta semana a Royal Mint lançou um novo serviço de venda pela internet de ouro a peso (bullion) para investimento e poupança. Como diz o responsável da Royal Mint à peça da BBC, "queremos ajudar a expandir o mercado do ouro na sua forma mais acessível". Para além da compra e entrega física do metal, existe a possibilidade de os clientes abrirem uma conta e alugarem um cofre, com vista à guarda segura ou à futura transacção dos metais. São muito curiosos os recentes desenvolvimentos no mercado dos metais preciosos, especialmente quando a "gestão" do seu preço se acentua com o aproximar do final do ano.

domingo, 21 de setembro de 2014

Citação do dia (172)

"Os governantes não gostam de admitir que o seu poder está limitado por outras leis que não as da física e da biologia. Eles nunca atribuem os seus fracassos e frustrações à violação das leis económicas."
Ludwig von Mises

Leonard Cohen - Almost Like the Blues

Por ocasião do 80º aniversário do extraordinário poeta e cantor, que hoje se celebra, deixo uma belíssima faixa do seu novo álbum de originais que irá ser divulgado no próximo dia 23.

Votos de um excelente domingo.


Letra

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Um forte argumento contra a "reindustrialização"

Entre nós, os apelos à "reindustrialização" tiveram em Álvaro Santos Pereira um dos mais estrénuos defensores (foi a sua principal bandeira enquanto ministro). Pelo que por aí se escreve, parece que o (ainda?) líder do PS também é agora um seu grande defensor. Aliás, em bom rigor, será difícil encontrar alguém que, pelo menos publicamente, discorde desse "desígnio" (Telmo Azevedo Fernandes é uma rara excepção). Por mim, confesso, não ser um adepto do credo muito embora por aqui com frequência se combata o que na prática o estado faz para dificultar, quando não impedir, a actividade empresarial. Particularmente a industrial. Bastará recordar, por exemplo, a assassina política energética adoptada, que não mostra sinais de abrandar, pelo bem sucedido combate contra os preços competitivos da energia. Ou os labirínticos e orwellianos processos que os diferentes "licenciamentos" exigem apesar do nevoeiro da propaganda das iterações "simplex" e dos sucessivos programas de "estímulo e incentivo". Tudo isto encimado por uma regulação opressiva e asfixiante. Um combate activo contra o capital produtivo, pois.

No artigo que se segue (tradução e links da minha responsabilidade), Gary North explica, pacientemente, por que o discurso da "reindustrialização", entendida como a tentativa de aumentar a fatia do sector industrial em % do PIB, não apenas não faz sentido como é contrária ao aumento do bem-estar! Há dias, dei conta de uma notícia que destacava que o volume, em toneladas, de conservas exportadas por empresas portuguesas em 2013, tinha igualado um recorde que datava de 1923. Mas o que devia ser destacado é que esse recorde tinha sido igualado com apenas 5,65% do número de fábricas que havia então (400 contra as actuais 23)!

Afinal, não começou na Escócia, mas a conjugação das leis de Moore e de Meltcalf conjugadas uma quiçá surpreendente lei dos rendimentos acelerados e da impressão 3-D vai atingir em cheio o estado-nação porque irá impôr uma descentralização massiva. E esse movimento, na tese de North, é insusceptível de ser impedido. Apesar dos luditas de turno.

Um excelente fim-de-semana!
12 de Setembro de 2014
Por Gary North

Mercados Livres: Bens Mais Baratos, Maior Riqueza, Melhores Empregos

A questão surgiu num dos fóruns sobre o futuro da produção nos Estados Unidos.

Para iniciar a formulação da resposta, atentemos num gráfico da evolução da manufactura em todo o mundo. A sua trajectória não é apenas característica dos Estados Unidos; é também a da Europa Ocidental, do Japão e do mundo como um todo. Como é visível, o contributo da indústria, em termos percentuais, no total da produção económica, diminuiu marcadamente durante os últimos 40 anos. Se o gráfico abrangesse os 40 anos anteriores, observaríamos a persistência de uma inclinação semelhante. Este é um fenómeno mundial e irreversível que tem acompanhado a expansão do crescimento económico mundial ao terceiro mundo e em especial à Ásia.



Há pessoas que se queixam da redução do peso relativo da indústria no produto interno bruto dos Estados Unidos. Isto acontece devido à total falta de familiaridade dessas pessoas com o fenómeno à escala mundial. Elas não compreendem que o crescimento económico acompanha a redução, em termos relativos, do peso da manufactura numa economia nacional.

O CORAÇÃO DE RIQUEZA MODERNA

O coração da riqueza não está na indústria mas sim no conhecimento aplicado para reduzir a importância da manufactura na economia como um todo, e em aumentar a riqueza das massas através dos serviços. Estes serviços podem ser digitais. Como podem ser pessoais. Mas não se baseiam na actividade industrial.

Radar

Parece que grandes investidores em Inglaterra estão a antecipar que algumas coisas podem acontecer. Ou a entender o que pode - objectivamente - ser uma reserva de valor que atravessa, como poucas, os diferentes tempos históricos. A notícia do Telegraph chama a atenção para a procura de barras de "estilo mafioso", mas também para a duplicação de vendas de moedas de ouro, especialmente as Krugerrands.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Independentemente do resultado, o referendo na Escócia é uma vitória da Liberdade

Não escondo a simpatia que nutro pelos genuínos movimentos secessionistas, nomeadamente no espaço europeu, que contestam e lutam contra o centralismo sufocante, uniformizador e tendencialmente totalitário do por muitos idolatrado estado-nação. Criação historicamente recente, cujos prelúdios remontam apenas aos séculos XVII e XVIII com as grandes revoluções ocorridas na Holanda, Inglaterra e nos Estados Unidos, tornar-se-ia a forma política “normal” após 1815 (Congresso de Viena, após a derrota definitiva de Napoleão). Sujeito a um primeiro grande “teste” – o da Guerra Civil americana – o resultado pôde ser aferido pelos mais de 700 mil mortos que nela pereceram em nome da manutenção de uma “União” tornada sacrossanta a que todos tinham que se subjugar. Os dirigentes do século XX não se impressionaram com aquele primeiro "ensaio" e, assim, a escala do Horror atingiu o que antes fora inimaginável (e materialmente impossível pela mão humana) exactamente em nome de uma nova e letal religião secular.

Foto linkada daqui

Hoje, 18 de Outubro, os escoceses irão votar pelo “Sim” ou pelo “Não” à sua secessão do Reino Unido. Seria para mim uma grande alegria que a Escócia – sim, esmagadoramente socialista, eu sei - escolhesse a via do "Sim". Mas apesar de as últimas sondagens não excluírem essa possibilidade, no meu íntimo não creio que venha a ser esse o resultado final não obstante o pânico que tomou conta das elites britânicas e da correspondente escalada do suborno sempre indissociável da actividade política. Oxalá venha a reconhecer o meu erro de previsão!

Mas, em qualquer caso, estou inteiramente de acordo com Simon Black: qualquer que venha ser o resultado final, o “simples” facto desta votação ir acontecer é, em si, uma grande vitória para a causa da Liberdade! Ficou demonstrado ser possível afrontar o que alguns pretendiam que estivesse gravado para a eternidade. Definitivamente, The Times They Are A-Changin'.

Refúgio(s)

E se começa na Escócia?

No dia da votação que bem pode ser uma representação da luta - longa e sofrida - pela Liberdade, porque não associar-lhe, através deste artigo, a estreia recente (apenas EUA) da terceira parte do filme "Atlas Shrugged". Esta última parte concentra-se em explorar o dilema vivido por uma personagem (Dagny Taggart) face à desistência, à entrada em greve daqueles que são os elementos mais criativos e produtivos da sociedade (fossem médicos, músicos, engenheiros ou simples investidores, entre outros). O dilema é mantido na trama do livro (e do filme) como exemplo de tensão entre a força das capacidades humanas com tudo aquilo que as anula.

Pergunta-se Dagny: como podem as mentes mais brilhantes do mundo entrar em greve? Como podem desistir do mundo e buscar refúgio numa qualquer reentrância geográfica remota? Como podem aceitar essa prisão?
De certo modo, é nessa condição que entendo estarem as pessoas a quem lhes causa a maior estranheza que alguém (ou comunidade) possa optar pela sua autodeterminação. Que alguém possa querer construir, sem mediação, o rumo das suas vidas é, a seus olhos, algo de inaceitável.

Dagny aprendeu da maneira mais difícil que aquela escolha não correspondia a uma prisão. Percebeu que, quando o Mal atinge certas proporções, ele perpetua-se pela exploração dos indivíduos, em particular das suas mentes mais brilhantes e criativas. Pelo que o mais libertador é, precisamente, dizer: "basta!" Entrar em greve e não contribuir para a manutenção do Mal. Dessa forma, este cairá por si.
Honestamente, por que razão se estranha a vontade tão natural de Liberdade?

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Radar

A guerra na sua dimensão financeira está ao rubro: Moscovo procura impedir o pânico relativamente à sua moeda.
Naquilo que parece ser um universo à parte, a China antecipa a inauguração da plataforma de transacção física de ouro para a próxima quinta-feira. Confirme-se na peça outras bolsas de transacção que estão programadas para iniciar funções nos próximos tempos. Notável.

Este neoliberalismo que nos governa

Imperdíveis n' Oinsurgente:
O recurso ao humor corrosivo (mas inteiramente justo):
Os heróis do governo (reloaded)
Gremlins e prostitutas
Governação Disney
A aplicação, ao caso prático da infame proposta de "lei da cópia privada", do que Bastiat identificou em "O que se vê e o que não se vê":
Os custos escondidos da nova lei da cópia privada

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Farage exige o fim dos jogos de guerra com Putin

Uma voz de sanidade no Parlamento Europeu: "Na guerra contra o extremismo islâmico, Putin está do nosso lado".

Da (in)consistência intelectual de um economista

que se tornou num activista político.


A simplicidade do diagrama só sublinha a riqueza do seu conteúdo. Um exemplo ilustrativo de que visitar o Coyote com frequência é altamente recomendável.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A Europa face aos Estados Unidos: independência ou vassalagem?

A NATO foi criada em 1949 no contexto da Guerra Fria superveniente à II Guerra Mundial. Hoje, após a implosão do império soviético e consequente dissolução do Pacto de Varsóvia (fundado em 1955), a sua actuação alargou-se progressivamente a leste chegando hoje a meridianos tão distantes como os do Mar Cáspio e do Afeganistão. Vai bem distante o âmbito do Atlântico Norte... como distante e letra morta ficou o compromisso estabelecido entre a administração Bush I e Gorbatchov em 1990 - o de que a NATO não se expandiria para leste caso Moscovo permitisse a dissolução pacífica da URSS. O texto que segue, da autoria de Eric Margolis, é de há dois meses atrás mas mantém, creio, a sua plena actualidade. A tradução, bem como a introdução de links e a referência a um vídeo muito especial, são da minha responsabilidade.
12 de Julho de 2014
Por Eric Margolis

A Europa continua como em 1945 - na perspectiva de Washington
(It’s still 1945 in Europe – in Washinton's view)

Qual é exactamente o grau de independência da União Europeia? Considerando os acontecimentos recentes envolvendo os Estados Unidos e os seus aliados europeus, não é possível evitar a pergunta.

Eric Margolis
Primeiro, foi o caso das descaradas escutas, por parte da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA), ao telemóvel privado da chanceler alemã, Angela Merkel, e, muito provavelmente, a muitos mais VIP na Alemanha, um aliado chave dos EUA e a nação mais importante da Europa.

Washington e a NSA minimizaram este incidente terrivelmente embaraçoso com o habitual "bem, todos fazem o mesmo".

Não é verdade. Imaginem o alvoroço furibundo que teria ocorrido caso tivesse sido a Alemanha a escutar o Blackberry do presidente Barack Obama. A chanceler Merkel sofreu uma humilhação mas fez por minimizar o escândalo, sem disposição ou capacidade para castigar os EUA através de uma qualquer acção punitiva real - como, por exemplo, determinando o encerramento de uma das bases militares norte-americanas estacionadas na Alemanha desde há 69 anos.

domingo, 14 de setembro de 2014

25 anos depois, um novo muro na Europa agora subsidiado por Bruxelas

Em mais um episódio da cerrada floresta de decepções em que a Ucrânia se vem mostrando pródiga[1], a acusação que Kiev fazia a Moscovo, em Abril, de pretender construir um novo "muro de Berlim", transformou-se na intenção de efectivamente o materializar só que agora por parte de Kiev e com co-financiamento da União Europeia! É para este perigoso absurdo que Christopher Booker nos chama a atenção na sua coluna de ontem no Telegraph (minha tradução e anotação):
Quem poderia prever há uns meses atrás que o 25º aniversário da queda do Muro de Berlim seria marcado pela construção na Europa de um outro "muro", de quase 1600 km de comprimento, para impedir as pessoas de atravessar uma fronteira internacional?

Com o nome de código oficial de "Muro", é este o plano do periclitante regime de Kiev para construir valas, trincheiras e uma "vedação resistente a explosões" ao longo da fronteira entre a Ucrânia e a Rússia, que o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko [2], tem esperança que a UE venha a co-financiar. Sem dúvida que Bruxelas ficará feliz em canalizar o nosso dinheiro para um projecto insano como este, até porque toda esta confusão foi desencadeada pelas suas movimentações imprudentes e provocatórias com a finalidade de absorver a Ucrânia na UE e na NATO.

Foi também por isto que aviões da NATO transportaram na semana passada duas rampas de lançamento de mísseis para Kharkov, para ajudar o exército ucraniano a chacinar ainda mais civis no leste da Ucrânia do que aqueles que já matou. Mas por que razão o nosso secretário da Defesa Michael Fallon – ao se encontrar com os seus colegas da UE em Milão na passada quarta-feira - se apressou a aplaudir este perigoso absurdo?
[1] Ontem, sábado, houve mais um segundo "comboio humanitário" que entrou na Ucrânia vindo da Rússia mas que passou, significativamente, despercebido ao contrário do furor ocorrido com o primeiro.

[2] Há poucos dias a Wikileaks divulgou este telegrama "diplomático", assinado pelo embaixador americano em Kiev em 2006, onde o agora presidente ucraniano era então designado de "nosso insider", isto é, um informador dos EUA.

sábado, 13 de setembro de 2014

"A guerra para todo o sempre", por Pat Buchanan

Uma das maiores dificuldades, impossível de contornar, na compreensão dos fenómenos sociais foi apontada pelo francês Frédéric Bastiat, uma das grandes figuras do liberalismo do século XIX, no seu famoso conjunto de ensaios coligido sob o título de "Ce qu'on voit et ce qu'on ne voit pas" (O que se vê e o que não se vê), publicado em 1850. Referindo-se à matéria económica, Bastiat explicava como a parte invisível, "submersa" e diferida no tempo dos fenómenos, poderia até ser mais importante que aquela que se apresenta imediatamente visível aos olhos de todos.

O artigo de Pat Buchanan que me propus hoje traduzir (imagens e links meus) ilustra bem, creio, esta ideia. Obama, tudo o indica, decide entrar numa nova guerra porque (convenientemente?) surgiram uns vídeos no YouTube (e portanto na televisão) coreografando a decapitação de dois jornalistas americanos pelo "Estado Islâmico". Sem surpresa, a comoção no mundo ocidental, e nos EUA em particular, foi de generalizado horror pelo barbarismo das imagens (mas acaso esta imagem será menos bárbara?). Daqui resultou a inversão da opinião americana, aferida pelas sondagens, relativamente à participação no atoleiro mortal em que se transformou a Síria. Aparentemente, o que se viu (o que se deu a ver?) produziu os seus efeitos e tornou dispensável uma ponderação de médio e longo prazos. Obama bin Laden, onde quer que esteja, não poderá deixar de sorrir.
Por Patrick J. Buchanan
12 de Setembro de 2014

A guerra para todo o sempre
(The Forever War)

A estratégia que o presidente Obama anunciou na quarta-feira à noite para "degradar e finalmente vir a destruir o grupo terrorista conhecido como ISIL", é incoerente, inconsistente e, em última análise, não credível.

Patrick J. Buchanan
Há um ano atrás, Obama e John Kerry estiveram entusiasticamente à beira de lançar ataques aéreos contra o presidente sírio, Bashar al-Assad, devido à sua alegada utilização de armas químicas para "matar o seu próprio povo".

Mas quando os americanos se ergueram como um todo exigindo ficar de fora do conflito na Síria, Obama rapidamente fez desaparecer a sua "linha vermelha" e anunciou uma nova política de não envolvimento nas "guerras civis de outros".

Agora, depois de vídeos das decapitações de dois jornalistas norte-americanos terem incendiado a nação, o presidente, lendo as sondagens, fez uma nova pirueta.

Agora, Obama quer conduzir o Ocidente e o mundo árabe directamente para a guerra civil da Síria. Só que, desta vez, iremos bombardear o ISIL e não Assad.

Quem fornecerá as legiões que Obama irá envolver para esmagar o ISIL na Síria? O Exército Livre da Síria, os mesmos rebeldes que foram derrotados uma e outra vez e cujas possibilidades de derrubar Assad foram ridicularizadas pelo próprio Obama em Agosto último como sendo uma "fantasia"? O ELS é uma força de "antigos médicos, agricultores, farmacêuticos e assim por diante", zombou o presidente.

Agora, Obama pretende que o Congresso autorize o dispêndio de 500 milhões de dólares destinados a treinar e armar aqueles médicos e farmacêuticos e a enviá-los para o combate contra um exército de terroristas jihadistas que acaba de se apoderar de um terço do Iraque.

Antes que o Congresso vote um cêntimo que seja, deverá obter algumas respostas.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Radar

O guião euro-americano das sanções contra a Rússia continua. Mas, do outro lado, age-se de forma muito clara para acomodar necessidades de novos eixos.
Andava o PM inglês a prometer correr com a Rússia do sistema SWIFT. Pois, as mudanças parecem ter começado. Antes mesmo das ameaças ocidentais.
Tanta acção a decorrer. Tanto cavalo furtivo. E nós, o que vemos?

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Com a companhia das nuvens

E para lá de volatilidades forçadas

No seguimento do ciclo de entrevistas que Lars Schall iniciou com Ambrose Evans-Pritchard (e que prosseguiu com John Butler, CEO da Amphora Capital - ver aqui), em nome da Matterhorn Asset Management, seleccionámos outras duas entrevistas: a Alasdair Macleod (da GoldMoney) e a Jan Skoyles (recentemente nomeada CEO da The Real Asset Company).

No caso da entrevista a Alasdair, destaque-se, não apenas o detalhe de terem sido impedidos de filmar em frente do Banco de Inglaterra (depois dos vídeos de Maloney, talvez tenham considerado que a sua imagem não poderia piorar mais), mas a apresentação mais equilibrada da actual situação estratégica dos metais preciosos, da competição exercida pela China e Rússia face ao papel de LBMA como praça para a determinação dos preços dos metais estratégicos, bem como as três principais razões por que faz todo o sentido manter uma parte dos recursos de cada um em ouro ou prata. Não deixando de tentar clarificar a situação do ouro alemão que não é repatriado dos Estados Unidos para Francoforte.

Quanto à entrevista com Jan Skoyles, sublinhe-se o projecto que esta jovem CEO se prepara para lançar de uma plataforma para cripto-moedas respaldadas em reservas de ouro (através da tecnologia que a bitcoin possui como meio de pagamento). E também o programa Get Real, onde Jan discute as diferentes dinâmicas, possibilidades e desafios no mercado de recursos e bens tangíveis - sejam os metais preciosos, o vinho, whisky, a arte ou o gás natural (aqui).

O Verão pode ter acabado, mas nem todos receiam o inverno.




segunda-feira, 8 de setembro de 2014

As acções de Putin na Ucrânia: "inaceitáveis" ou provocadas e previsíveis?

Independentemente de isto se vir a confirmar - caso em que, a meu ver, só acelerará a importância do eixo Moscovo-Pequim (tal como a intervenção no Iraque acabaria a reforçar a posição do Irão) -, parece-me pertinente a devida referência à coluna de sábado do insuspeitíssimo Christopher Booker, no Telegraph, relativa à situação na Ucrânia e da qual retirei o título que encima o post.[1] [2] A tradução é da minha responsabilidade bem como os realces de segmentos do texto.
É sempre revelador quando os políticos nos transmitem que algo é "inaceitável". O que eles querem dizer com isso é que, muito embora as pessoas possam ter a expectativa de que eles irão fazer alguma coisa a esse respeito, o facto é que não têm a menor ideia do quê. Foi por isso que os líderes ocidentais, incluindo David Cameron, reunidos para a cimeira da NATO no País de Gales, nos disseram que a intervenção do presidente Putin na Ucrânia era "inaceitável".

O verdadeiro problema aqui não é apenas o de os nossos dirigentes não saberem o que fazer relativamente a Putin e à horrível guerra civil na Ucrânia, que já matou quase 3,000 pessoas e que os russos parecem estar a ganhar sem grande esforço. A questão é que eles e muitos outros no Ocidente têm vindo a fazer uma leitura errada desta crise desde que ela começou no início do ano.

Nunca será demais repetir que o que desencadeou a crise não foi a vontade de Putin em restaurar as fronteiras da União Soviética, mas antes a ambição absurdamente insensata por parte do Ocidente em ver a Ucrânia ser absorvida pela UE e pela NATO. Nunca teria sido possível que Putin ou todos aqueles falantes de russo no leste da Ucrânia e na Crimeia amavelmente assistissem a que o país que foi o berço da identidade russa se tornasse parte de um bloco do poder ocidental. A Rússia ficaria ainda menos contente em ver os únicos portos de águas quentes da sua marinha nas mãos de uma aliança militar que tinha sido formada para, em primeiro lugar, para a conter.

sábado, 6 de setembro de 2014

"A paranóia antideflacionista", por Jesús Huerta de Soto

Um antídoto contra a barragem de propaganda da elite manipuladora, amplificada pelo habitual papaguear extasiado dos media convencionais, é a proposta que deixamos para o fim-de-semana. Ele consiste em uma recente alocução do professor Jesús Huerta de Soto em que este desmonta o que muito propriamente designa da "paranóia antideflacionista" que a elite propala a bem de uns beneficiários muito específicos. Uma hora de visionamento que, assim o julgamos, pode proporcionar um elevado retorno e permitir perceber por que razão coisas como esta possam estar a acontecer sem que o céu se abata sobre as cabeças dos (moderadamente) hereges.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Inexoráveis falências do planeamento central

Em 1920 (!), Ludwig von Mises publicou um célebre ensaio (invocado na imagem) em que demonstrava, por recurso a um rigoroso processo de dedução lógica, a impossibilidade de se proceder ao “cálculo económico” nos regimes socialistas, entendidos como aqueles em que os meios de produção são de propriedade estatal. A consequência era devastadora: a supressão do mecanismo de formação dos preços dos bens de produção conduziria, mais cedo ou mais tarde, à inexorável inviabilidade da economia socialista [1]. É aqui que reside a chave para o entendimento da implosão (súbita, só na aparência) do império soviético - a falência do planeamento central. E não, não foi por causa da “guerra das estrelas” de Reagan, narrativa que os neoconservadores se apressaram a fazer passar e que persistem em alimentar.

Não obstante a evidência da hecatombe (a China ainda foi a tempo de a evitar rumando a porto diferente), é indiscutível que permanece em grande parte da intelectualidade, economistas incluídos, um fascínio pelo planeamento centralizado, ainda que embrulhado em cambiantes de uma tal “economia social de mercado”, “humanista”, redistributiva, "justa", etc. Através da "adequada" regulação (um sinónimo brando para planeamento central), ela permitiria combinar os benefícios da economia de mercado - a formação dos preços enquanto sinalizadores de preferências e de escassez relativa – evitando os seus “excessos” e ”falhas”.

Uma destas variantes tem sido interpretada pelos sucessivos políticos populistas argentinos apostados em nunca mais permitir que o seu país volte a ocupar o lugar que já foi seu nas primeiras décadas do século XX - o da 10ª economia do mundo! Outra, é a do regime chavista na Venezuela (onde já se ilustra a justeza de uma frase célebre de Milton Friedman – “Se se conferisse ao governo federal a gestão do deserto do Sahara, em cinco anos ocorreria uma escassez de areia”). Axel Kicilfof, o actual ministro das Finanças da tresloucada Kirchner, pensa ser possível gerir a economia a partir de folhas de cálculo (ele é, afinal, o sr. “Excel”). Recorde-se, aliás, que já Salvador Allende tinha sonhado comandar a economia do Chile com supercomputadores a partir de uma sala de comando - o Panóptico - inspirada numa qualquer nave espacial - o “projecto CyberSyn”. Uma e outra vez, continuam a pretender reinventar o “socialismo planeamento científico” (planeamento central). Os resultados são os de sempre – catastróficos. O gráfico seguinte, elaborado aquando da desvalorização do peso argentino em Janeiro último, mais não faz que anunciar o próximo desastre de mais um período hiperinflacionário:


_______________________
[1] - Enquanto aquele Grande Sismo se preparava, a edição de Economics, “O” manual da autoria de Paul Samuelson – a “bíblia” da disciplina de Economia que durante 40 anos formou gerações e gerações de estudantes universitários -, ainda previa em 1989 (!!) que, em poucos anos, a dimensão da economia da União Soviética iria ultrapassar a dos Estados Unidos…

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Infalibilidade ideologicamente infalível

Mão amiga fez-me chegar uma notícia inserta na edição do Expresso do passado fim-de-semana (link não disponível), assinado por Virgílio Azevedo, cujo título não esconde ao que vem (a imagem à direita reproduz a chamada à primeira página).

O crescente ridículo a que os aquecimentistas se vinham expondo leva-os, mais uma vez, a mudarem de táctica. Em vez de continuarem a negar a continuada e crescente divergência entre as temperaturas projectadas pelos modelos climáticos e as efectivamente medidas - a "pausa" ou o "hiato" -, surge agora, às escâncaras, a tentativa para postergar para um período de médio prazo no futuro (não demasiado longínquo, claro, para manter a urgência alarmista) o retomar do "aquecimento global" (que, entretanto, andaria escondido no fundo dos oceanos).

Para justificar a manchete, o artigo do Expresso recorre nomeadamente aos académicos nacionais encartados no aquecimentismo, Filipe Duarte Santos e Pedro Viterbo. Mas, valha a verdade, e ainda que "empurrado" para o fim do artigo, ao dar voz ao decano dos climatologistas portugueses - o catedrático da Universidade de Évora, João Corte-Real -, lá acaba por ter que reconhecer, indirectamente, que o "consenso" que legitimou estas opções não existe e que, portanto, a ciência não está estabelecida. Segue-se a transcrição do excerto da notícia que contraria frontalmente a tese que a manchete veicula (realces meus):
"... [A] ação humana, quando considerada isoladamente, conduz a um reforço do efeito de estufa e, assim, a aquecimento." A questão está antes em saber "se a ação humana é dominante, uma vez que a temperatura à superfície da Terra não é controlada apenas pelas concentrações de gases de efeito de estufa."

Corte-Real insiste que não conhece "nenhuma demonstração dedutiva de que o aumento da temperatura tenha origem principal na ação humana", mas "apenas conclusões indutivas sugeridas pelos modelos climáticos".

O que se pode concluir do hiato na subida das temperaturas "é que a ação humana não é dominante e que, consequentemente, o Homem não controla o clima."

O professor da Universidade de Évora acha que mais teorias vão continuar "porque o objetivo é insistir na influência da ação humana no clima. Ou seja, quer aqueça quer arrefeça, o mais importante irá ser o Homem".  Mas João Corte-Real não pensa assim. "Basicamente, não sabemos, o sistema climático ainda não é suficientemente compreendido, estamos às apalpadelas, o desconhecimento tudo consente! E a insistência numa ideia a priori não é a atitude científica e atrasa a desejável compreensão dos mecanismos que têm lugar no sistema".
A coisa é tão grotesca que há quem ache já não valer a pena bater mais no ceguinho. Não sou, porém, dessa opinião. Porquê? Porque, via Bruxelas,  é isto que nos vai continuar a flagelar até que a maré da opinião pública vire e, com ela, as decisões políticas (excerto da página 6):
"Os objetivos em matéria de luta contra as alterações climáticas representarão pelo menos 20% da despesa da UE no período de 2014-2020 e serão portanto refletidos nos instrumentos apropriados, de modo a garantir que contribuem para reforçar a segurança energética, desenvolvendo uma economia hipocarbónica eficiente em termos de recursos e resistente às alterações climáticas, que reforçará a competitividade da Europa e criará mais empregos e empregos mais ecológicos."
Até lá, continuarão os contínuos aumentos dos preços da energia e dos impostos e a consequente perda de competitividade e de emprego em ordem a que "a humanidade se salve dela própria".

Citação do dia (171)

Os Verões de 2012 e 2014

"Nesta era de inflação monetarista, os Alemães mostram-se como um bastião de discernimento. No seu melhor, as políticas monetárias podem apenas poupar tempo. No seu pior – a realidade, no fundo – permitem bolhas problemáticas que ficam fora de controlo.
Porque haveriam os bancos europeus de tomar parte no risco (alto) de conceder crédito à economia, quando podem fazer lucros seguros e sem risco comprando dívida soberana?
Do mesmo modo, porque haveria um empresário americano de investir em ampliar as suas instalações ou adquirir novo equipamento, quando tanta “riqueza” é criada a comprar as acções da sua própria empresa?
Entretanto, após dois anos de estímulos monetários globais maciços prolongaram-se históricos investimentos na China e por toda a Ásia. O que exacerbou as bolhas, enquanto piorou todo o panorama global na atribuição de preços e investimentos.
Os desequilíbrios globais estão mais acentuados.”

Reflectindo acerca dos Verões de 2012 e 2014" - Doug Noland - 29 de Agosto de 2014