Ben Young |
Que possamos encontrar alguma perspectiva clarificadora - de frente para a clareza rude do mar, por exemplo.
Aos leitores do Espectador Interessado, os seus autores desejam Festas muito Felizes.
Ben Young |
"Fora do manicómio em que saltita boa parte da “opinião”, o problema da Raríssimas não é ser “particular” na designação, nos estatutos e na teoria: é não ser particular na prática."
Alberto Gonçalves, Observador, 16 de Dezembro de 2017
Não sei se será uma tentativa para experimentar algo maior, mas o governo da Coreia do Sul passará a "aliviar" as dívidas dos contribuintes menos abonados. Já existe "dotação orçamental" e tem o nome de "Fundo da Felicidade".
Isto é sério. E há um burocrata que defende esta pérola destacando-a como uma característica, prepare-se o leitor, do "capitalismo confuciano". Assim. Ora veja.
Será que estes exotismos não passam disso mesmo? Ou serão ensaios para um "Jubileu da dívida" mais alargado?
Um sinal curioso (e perigoso para quem participa, julgo) do estado dos mercados e índices bolsistas é a evolução do preço da moeda criptográfica Bitcoin. Para além da dificuldade em determinar com precisão a que classe de bens pertence, a Bitcoin e o seu preço ilustram bem a natureza do movimento actual dos mercados.
Que outros activos ou investimentos têm semelhantes linhas de progressão do seu preço? Historicamente, conhecem-se alguns casos, mas o final não foi bonito. Muito se pode dizer acerca das razões que podem estar por detrás destes movimentos no preço (tendo ultrapassado os 9 mil euros ou 11 mil dólares na passada semana), ou das respostas que os governos darão a tais "veículos" especulativos. No último ano, por exemplo, na China tornou-se claro que seria um óptimo meio de mobilizar capital para o exterior, escapando às recentes campanhas de Xi para controlar o país, a moeda e os mercados.
O que gostava de sublinhar aqui, a par com esta introdução, é a qualidade deste veículo como solução, como resposta difundida até pelos meios e autores mais técnicos acerca destas matérias (criptomoedas ou novas tecnologias financeiras).
É que um dos fundadores destas ferramentas (neste caso da moeda Ethereum - Vitalik Buterin) alertou recentemente para as limitações que estas soluções possuem para dar resposta às solicitações que esta febre nos mercados parece publicitar a seu respeito. Veja-se a seguinte passagem da entrevista (cujo visionamento fortemente aconselho):
"Se se considerar o número de blocos encadeados (blockchain) que hoje podemos processar, a Bitcoin consegue processar menos de três transacções por segundo, e se conseguir chegar a quatro atingiu o seu máximo de capacidade. No caso da Ethereum tem estado a concretizar cinco transacções por segundo, se chegar às seis atinge também o pico de capacidade."
É na constatação destas limitações que os recentes movimentos de preços destes "veículos" me parecem menos saudáveis.
Para não falar de que até os participantes e conhecedores destas novas tecnologias parecem querer ignorar estas palavras.
Mesmo que se considerem as diferenças entre as moedas criptográficas e as tecnologias que as suportam (de que os blocos encadeados - blockchain -, são um exemplo) face aos múltiplos campos de aplicação possíveis, estas palavras de um fundador não devem ser ignoradas. São um aviso importante.
Será interessante seguir os próximos desenvolvimentos.
Para já, parece haver um novo campo de desenvolvimento de soluções que ultrapassa (já!) estas soluções da moda (sejam da Bitcoin, da Ethereum ou Blockchain). A novidade (da novidade!) chama-se Hashgraph e tem "elegâncias" técnicas que em muito parecem suplantar as suas concorrentes (ao nível do registo e gestão dos diferentes protocolos de informação, bem como as melhorias na justiça e segurança na gestão da rede). O seu fundador é Leemon Baird e a sua empresa conta já com centenas de contratos com uniões de crédito nos EUA.
Há muito a aprender e a velocidade dos desenvolvimentos é estonteante e os riscos (bem como as oportunidades!) podem assemelhar-se a outras épocas e febres tecnológicas, mas o futuro passa por aqui. Sem dúvida.
A alegria e o optimismo entopem, por estes dias, as ruas de Lisboa. Mas só certas ruas, desengane-se o incauto.
Enquanto são frequentes, preocupantes e reveladores os episódios de eficiência estatal, o nosso primeiro navega, com sucesso e mestria, por entre as originais águas tecnológicas. E aproveita qualquer vento ou boleia para promover as soluções do costume.
"Discutindo" e concluindo pela necessidade de mudar o mundo. Para bem de todos.
Exagero? Veja-se o paternalismo:
Por cá, os curadores de serviço, plenos de soberba e preocupações altruístas, estão determinados em baixar os encargos das famílias com a habitação. E apresentam algumas das suas brilhantes ideias - reduções de impostos e estímulos -, que nada mais são que distorções do mercado e, não há como negar, mais esforço contributivo a prazo.
E estas ideias são apresentadas como grandes contributos para a melhoria das condições de vida das populações. Pois...
Mas não há quem lembre que tal mal - o aumento dos custos com a habitação para as já apertadas famílias - resulta, de entre outras causas, de anos e anos de políticas de incentivo à construção, ao crédito para aquisição e investimento em imobiliário?? Ao que se podem juntar o aumento de procura externa, digamos, pelo aumento da procura turística ou até os programas de atribuição de vistos especiais a quem "invista" (ui, ui) em imobiliário. Tudo isto são distorções do mercado e os curadores sempre evitaram considerar as consequências não intencionadas. Agora apresentam-se como paladinos do altruísmo e vão ajudar as famílias... com mais distorções.
Que bonito círculo.
Noutro sector e a outro nível - o europeu - as inteligências (que convivem muito mal com a crítica e com a liberdade de pensamento, diga-se) que definem as políticas monetárias e financeiras da União Europeia estão a pensar resolver o problema da dívida soberana e do balanço da banca europeia. Como? Criando uma plataforma de obrigações (Euro Bond) com duas grandes categorias (sénior e júnior). Porém, a venda dessas obrigações seria feita com porções conjuntas dessas obrigações (júnior, que rima com junk, misturada com a sénior e mais segura). Onde já vimos isto? Onde?
Na crise de 2008! A solução nada mais é do que um Credit Default Obligation (CDO). O sonho de qualquer malabarista, pois há quem vá ganhar com a manobra, não esqueçamos.
Mas e o resto da sociedade? As famílias? As pessoas?
O que oferecerão estas inteligências a seguir? O que farão para restaurar os estragos que eles mesmos provocam?
Esta gente não aprende.
O pior, é que nós também não. Certo?
"Estes não são tempos normais. As taxas de juro das obrigações alemãs estão tão baixas que até as maturidades a 30 anos, com taxa de 1,14%, traduzem-se em rendimentos reais negativos.
Retornos livres de risco, de facto."
James Grant, "Almost Daily Grant´s", 30 de Agosto de 2017
Tradução e itálicos da nossa responsabilidade.
"O estrangulamento do dinamismo económico
No mundo actual, aqueles que podem aceder ao crédito para comprar os activos existentes são as grandes corporações com fluxo de caixa positivo (ainda que com um crescimento débil) e os seus accionistas – os ricos. Estas corporações endividam-se para recomprar as suas próprias acções ou outros activos disponíveis, como imobiliário. Isto aumenta o endividamento não produtivo no sistema através destas grandes companhias, ou através de clientes dos bancos de investimento (...), que não poderia existir e prosperar se as taxas estivessem nos 4% ou 5%.
Em contraste, os empresários, aqueles em quem a economia pode contar para construir os activos de amanhã, não conseguem obter capital, pois o sistema bancário considera menos arriscado destinar esse capital a uma General Electric para que esta possa recomprar as suas próprias acções do que emprestar a um lunático com o projecto bizarro de contruir uma nova armadilha para ratos ou um computador quântico, ou qualquer outra coisa de útil. Escusado será dizer que esta combinação de aumento do endividamento financeiro e declínio do investimento produtivo, aumenta muito a vulnerabilidade do trabalhador comum, bem como dos mais pobres quando um abrandamento económico ocorrer.
Em conclusão:
- Baixas taxas de juro não são mais do que uma forma de capitalismo para os amigos (crony capitalism). Quanto mais próximo se estiver do banco central ou do governo, mais lucro é possível concretizar, como bem mostrou Richard Cantillon no séc. XVIII.
- Baixas taxas de juro beneficiam os ricos que são proprietários de activos.
- Baixas taxas de juro conduzem a um declínio na taxa de crescimento estrutural da economia.
- Baixas taxas de juro aumentam muito a fragilidade do sistema através de um aumento generalizado do endividamento nos segmentos da economia que não produzem riqueza.
- Baixas taxas de juro impedem a destruição criativa, em particular a manutenção das companhias que não são saudáveis, encurralando o trabalho e o capital em projectos sem viabilidade económica.
- Tudo isto conduz ao aparecimento dos demagogos.
É difícil imaginar uma política mais desastrosa."
Charles Gave, "Strangulation of enterprise", 25 de Agosto de 2017.
Por entre fogos e militares espanhóis a combater os mesmos, por entre as palavras do presidente-animador (doentias especulações de orientação motivacional) espelhadas pelos meios convencionais de informação, não há quem dê por conta disto?
A notícia da Reuters começa por dizer que são os "Estados Nação", mas isto é um balão de ensaio. Só pode.
O título da notícia é prometedor: "União Europeia explora medida de congelamento de contas para prevenir corrida aos bancos"
Assim. E não há quem analise, discuta e se oponha? Mas não estamos a caminho de um paraíso de prosperidade? Para que servem, então, estas medidas?
Se algum leitor tiver acesso ao relatório que o artigo refere, por favor, partilhe na caixa de comentários.
Agradecemos todos.
As recentes manobras de charme de Macron junto dos líderes europeus está a acelerar a concentração. Do projecto europeu. Parece estar em desenvolvimento adiantado a criação de um Fundo Monetário Europeu (concorrente do FMI). Alguns vêem já a hipótese de um verdadeiro Tesouro Europeu.
Pergunto-me: alguém discutiu isto? Houve algum referendo que legitimasse tal aprofundamento político, económico e financeiro?
Ninguém responde.
“Como a China está a aumentar o seu poder global
A China tem ao seu dispor múltiplos modos através dos quais pode projectar o seu poderio económico, melhorar a sua balança comercial e exercer controlo sobre a dívida dos seus parceiros comerciais. Ao fazer uso deles, lentamente, garante uma influência política e económica que se reforça constantemente.
Caso sejam bem sucedidos nos seus intentos com a Nova Rota da Seda [conhecida internacionalmente como One Belt, One Road, daqui em diante referida por OBOR], a China pode esperar mitigar alguns dos seus problemas - que resultam do ciclo doméstico de crédito mal-parado - e, incidentalmente, garantir aquela projecção política e económica.
Os comentadores da iniciativa OBOR parecem dividir-se entre optimistas e cépticos quanto à capacidade da China em alcançar os seus objectivos com tal iniciativa. À partida, a ideia parece simples: a OBOR promete abrir mercados para as exportações chinesas. Mas essa abordagem parece-me simplista e inocente. Quanto mais investigo este tópico, mais concluo que há muito mais por detrás da OBOR do que se pode ver para já. Os chineses são muita coisa, mas não são estultos.
Consideremos alguns dos seus problemas, das suas ambições e a razão pela qual a OBOR é central para o mandato de Xi.
Excesso de capacidade
A China sofre de um excesso de capacidade produtiva e também de um problema interno de dívida no seu sistema bancário. Mas a OBOR pode providenciar os meios para a China diminuir essa dívida e exportar esse excesso de capacidade. Os chineses podem alcançar isso permitindo financiamento a países que estejam, desesperadamente, a necessitar dele – a Grécia encaixa aqui muito bem.
Aliviar a bolha de crédito
Certamente que um elevado nível de crédito não produtivo castiga o crescimento do produto chinês, mas considere-se o seguinte: e se a China transferisse a sua dívida doméstica para o balanço dos seus parceiros na OBOR?
Como?
O governo chinês pode emprestar aos seus parceiros o dinheiro necessário para grandes projectos de infra-estruturas – como, de resto, já estão a fazer. Quando esses projectos estiverem a ser construídos, uma boa parte dessa construção será atribuída a companhias chinesas, dando-lhes a hipótese de exportar o excesso de capacidade e ao mesmo tempo diminuir a bolha de crédito.
A China tem cerca de três triliões de dólares em papel/crédito que pode entregar a troco de poder e influência. Pense-se nisto:
O que é preferível?
Uma pilha de dólares? Com a FED ao leme que tem mostrado, sem ambiguidades, que assim que surjam as dificuldades, abandona o seu papel de referência monetária em prol da segurança e estabilidade política doméstica?
Ou apostar numa iniciativa que dá vantagem política e económica de alcance global?
A arma mais poderosa
Ler aqui |
"A liquidação de um banco cujo valor estava nos milhões de milhões em pleno mercado vigoroso e uma economia a crescer?
Um raro e estranho avistamento, seguramente.
O anúncio de hoje de que o Banco Popular Espanhol SA seria absorvido pelo mais sólido Banco Santander, sob os auspícios do Banco Central Europeu pelo preço de um euro, aviva a memória relativa a Março de 2008, do Bear Stearns e de J.P.Morgan."
James Grant, "Almost Daily Grant´s", 7 de Junho de 2017
Tradução e itálicos da nossa responsabilidade.
Ver aqui |
"A ´tirania` de Pisístrato fazia parte de um movimento mais alargado que se estava a desenvolver nas cidades comercialmente mais activas da Grécia do século sexto, para substituir o poder feudal de uma aristocracia proprietária pelo domínio político de uma classe média temporariamente aliada aos pobres. Tais ditaduras brotavam tanto de uma patológica concentração da riqueza, como de uma incapacidade dos ricos em alcançar um compromisso.
Forçados a escolher, o pobres - como os ricos - amam o dinheiro mais do que a liberdade política. E a única liberdade política capaz de perdurar é aquela que é preparada e cuidada para evitar que os ricos privem os pobres pela capacidade ou pela subtileza, e os pobres de roubarem os ricos pela violência ou pelos votos.
Assim, o caminho para o poder nas cidades comerciais gregas era simples: atacar a aristocracia, defender os pobres e alcançar um entendimento com a classe média. Chegado ao poder, o ditador abolia as dívidas e créditos, confiscava grandes propriedades, lançava impostos aos ricos para financiar obras públicas ou redistribuía a riqueza excessivamente concentrada. Depois de ganhar o consentimento das massas através de tais medidas, importava garantir o apoio da comunidade dos negócios promovendo o comércio, a emissão de moeda, a assinatura de tratados comerciais, ou aumentando o prestígio da burguesia.
Forçadas a depender da popularidade mais do que do poder hereditário, as ditaduras, na sua maior parte, mantiveram-se afastadas de guerras, suportavam a religião, mantinham a ordem, promoviam a moralidade, favoreciam um estatuto elevado para as mulheres, encorajavam as artes e despendiam avultados recursos a aprimorar as suas cidades.
E faziam isto, em muitos casos, enquanto mantinham procedimentos de governo popular de maneira a que, mesmo debaixo de um governo despótico, as pessoas aprendessem as maneiras da liberdade."
Will Durant, "The Story of Civilization II, The Life of Greece", pp. 122, 123
Tradução e itálicos da nossa responsabilidade.
Ainda há quem duvide da selectividade e da abordagem qualitativa do jornalismo. Tenho por clara e confirmada a inclinação na descrição, na análise e no comentário (muitas vezes confundidos).
Alguém duvida que, se os autores de semelhante ideia fossem outros, de outro quadrante político (conhecido ou não), a reserva moral que a opinião publicada ainda julga ser se manteria serena?
Estou a imaginar os títulos: "Populismo cresce em Portugal" ou "Trump, Farage e Le Pen têm seguidores em Portugal".
Assim como assim, é apenas mais um fim de semana de activismo político. Nada de mais.
Podemos notar, todavia, que o problema europeu não desapareceu. Como se pretendia mostrar com os recentes festejos dos 60 anos.
Ironias.
Lê-se e acredita-se.
Resposta da eurodeputada Monika Hohlmeier em entrevista (aqui).
E que dizer do título escolhido para a peça?
Ouvem-se por aí algumas das últimas conclusões a que chegou o INFARMED a propósito dos resultados de (e cito) "tratamentos inovadores para a hepatite C só possíveis pela concorrência entre produtores".
Ouve-se mas não se acredita. Será possível que o politicamente correto duvide que a abolição de limitações à entrada de novos operadores traz benefícios? Em particular para quem mais precisa deles?
Este profundo consenso não olha à sua volta e não vê que os sectores onde se diminuem as limitações à actividade económica são aqueles onde os custos mais baixam e a qualidade dos produtos sobe?
Se isto já acontece, entre outros, com telefones móveis, roupa desportiva ou (vejam lá!!) com medicamentos inovadores para tratamento de doenças, por que espera o politicamente correto? Em nome de que coerência (filosófica ou política) podem manter-se os constrangimentos à concorrência seja em que sector for?
Pior cego...