domingo, 29 de setembro de 2013

Citação do dia (135)

Assinalando o 132º aniversário do nascimento de Ludwig von Mises (1881-1973).
"History does not provide any example of capital accumulation brought about by a government. As far as governments invested in the construction of roads, railroads, and other useful public works, the capital needed was provided by the savings of individual citizens and borrowed by the government."
Ludwig von Mises

A versão autárquica do atávico respeitinho lusitano

Uma crónica certeira e com um timing adequado, a de Alberto Gonçalves, hoje no DN - Sua Excelência, o autarca:
"Há dias, li um jornalista jurar que a Lisboa actual está sempre em festa, cheia de animação, eventos culturais, artes de rua e "iniciativas" em geral, logo (sublinho o "logo"), o jornalista em causa apoia a reeleição de António Costa. Ainda que não fosse essa a intenção, é difícil resumir melhor a relação dos portugueses com o poder, e sobretudo com o poder local.

Para o cidadão comum, aquilo que acontece numa cidade, Lisboa ou outra, é necessariamente resultado das decisões - ou da falta delas - dos senhores que ocupam a autarquia. Se a cidade é pródiga em bares, espectáculos musicais, exposições e homens-estátua, o mérito é da câmara municipal. Se a cidade anda mortiça, a culpa é da câmara municipal. Os munícipes, criaturas sem vontade própria que seguem as decisões autárquicas como os zombies seguem mioleira fresquinha, não são para aqui chamados, excepto para exaltar a sumidade que espevitou a vida urbana ou criticar a nulidade que deixa a vida urbana desligar-se às sete da tarde. Aparentemente, ninguém é capaz de se instalar a servir copos, organizar concertos ou espirrar três vezes sem o aval, e talvez o patrocínio, de Sua Excelência, o autarca. A ausência de vida para além dos Paços do Concelho não só é uma concepção absurda: se calhar, é verdadeira.

Em países civilizados, é possível visitar uma cidade, ler sobre uma cidade ou espreitar um documentário alusivo a uma cidade e nem sequer notar a existência do senhor presidente da câmara. Em Portugal, isso seria tão estranho quanto um vereador balbuciar uma frase que não inclua a palavra "valências". Não há "apontamento de reportagem" acerca de qualquer lugarejo sem depoimento do senhor presidente. Não há jornal local sem 37 fotografias do senhor presidente. Não há procissão de Nossa Senhora dos Aflitos sem a presença do senhor presidente junto da protagonista. Não há instalação instalada em galeria sem autorização do senhor presidente. Não há garrafa de vodca aberta às duas da madrugada sem uma vénia ao senhor presidente, que afinal criou as "condições" para que os súbditos se embriagassem com galhardia. O senhor presidente, emanação do Estado, encontra-se por toda a parte, numa consumação assustadora das "políticas de proximidade" que o jargão da classe promete "incrementar".

Puro Terceiro Mundo? Obviamente. Ou, se não apreciarem a expressão, herança de séculos de pobreza e dependência, que mantêm o povo petrificado, à espera das migalhas largadas por quem manda. Se a "festa" lisboeta se deve de facto ao dr. Costa, a "festa" é uma exibição do nosso permanente atraso, hoje, aliás, celebrado em eleições."

domingo, 22 de setembro de 2013

Citação do dia (134)

"Socialism, like the ancient ideas from which it springs, confuses the distinction between government and society. As a result of this, every time we object to a thing being done by government, the socialists conclude that we object to its being done at all... It is as if the socialists were to accuse us of not wanting persons to eat because we do not want the state to raise grain."
Frédéric Bastiat

Obama: “Aumentar o limite de endividamento... não aumenta a nossa dívida”

Andará Obama a ler os discursos presidenciais de Jorge Sampaio? Deixo ao juízo dos leitores a avaliação da razoabilidade de tal hipótese visionando o curto clip de 1'20'' abaixo (discurso completo aqui), começando por transcrever o trecho relevante (meu realce).
"Now, this debt ceiling — I just want to remind people in case you haven’t been keeping up — raising the debt ceiling, which has been done over a hundred times, does not increase our debt; it does not somehow promote profligacy. All it does is it says you got to pay the bills that you’ve already racked up, Congress. It’s a basic function of making sure that the full faith and credit of the United States is preserved..."

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Mais más notícias para os trabalhadores com baixos salários

Em "More Bad News for Low Wage Workers" Robert Wenzel antecipa as (mais que prováveis) consequências de mais uma estúpida regulamentação que irá produzir efeitos contrários aos pretendidos (supondo a existência de boa-fé) pelos seus promotores. Todo o controlo de preços sobre um bem ou um serviço distorce o senão destrói de significado o "sinal" que o preço de mercado veicula aos que nele participam. No caso do mercado de trabalho, não é apenas a fixação de salários mínimos que provoca essa distorção. O mesmo sucede com a fixação, directa ou indirecta, de salários máximos. (A tradução que segue é da minha responsabilidade).
Em breve as empresas americanas terão de divulgar a relação existente entre a remuneração dos seus CEO e a da média dos trabalhadores das suas empresas, como prevê uma proposta revelada pela SEC [link] segundo notícia do Guardian.

A proposta refere-se a uma das duas principais regulamentações ainda pendentes na sequência da lei Dodd-Frank, de 2010, da reforma de Wall Street.

Neste ambiente politicamente carregado, onde abundam os intervencionistas, se eu fosse o CEO de uma empresa de capital aberto, iria fazer tudo o que pudesse para manter constante, tanto quanto possível, o rácio entre o que eu ganho e o que ganham os meus trabalhadores .

Isso poderia significar o fecho das operações que envolvessem muitos trabalhadores com baixos salários. Também poderia significar a automatização de tarefas hoje desempenhadas por trabalhadores com baixos salários. Os trabalhadores com baixos salários tornar-se-iam párias a ser evitados a todo custo pelas empresas de capital aberto. Com menor procura de trabalhadores com baixos salários, os seus salários iriam diminuir.

Bem-vindos ao mundo das consequências não intencionais da demente intervenção governamental.

Mais alguns contornos da grande golpada climática

No Daily Mail:


Não é só na finança que há muito decorre um entrelaçado e indecoroso conúbio entre o estado e as instituições financeiras "privadas", extremamente lucrativo para uns quantos à custa do sacrifício de muitos e do progressivo desaparecimento da classe média. A adopção da doutrina "too big to fail", mediante a qual, pela invocação de um tal "risco sistémico" (ou seja, da instalação do medo entre o público) se socializam os prejuízos decorrentes de comportamentos especulativos ou simplesmente ineptos (no sector financeiro, automóvel,  energético, etc.), constitui provavelmente a mais séria ameaça ao que ainda resta do sistema capitalista.

De facto, quando um conjunto de cientistas-activistas, exclusivamente dependentes do financiamento estatal nas suas actividades, conseguem influenciar a definição de políticas públicas em ordem a, supostamente, evitar o Apocalipse climático, criam-se as condições para uma espiral de demência. Com efeito, a partir de um dado momento, os cientistas-activistas financiados por meios públicos e os políticos que eles influenciaram, vêem-se numa situação que não lhes permite encarar a possibilidade de que tenham errado (quem se lembra do "bug do ano 2000", da "gripe aviária" ou da "encefalopatia espongiforme bovina"?). Também aqui há quem esteja a ganhar muito, mas muito dinheiro, à custa do brutal e desnecessário aumento da factura energética, devido à interferência estatal e subsequente introdução de distorções no mercado pela alteração do mix energético, não por razões económicas, mas exclusivamente por razões científicas políticas com favorecimento directo aos cronies (os detentores das tais "rendas excessivas", recordam-se?).

Não é pois de estranhar que após milhões de milhões de dólares despendidos na luta contra o dióxido de carbono (que chegou a ser apodado de "poluente"!), sejam agora os próprios governos que venham tentar influenciar a redacção do que é suposto ser o "estado da arte" da ciência climática! Pudera! De que outra forma poderiam justificar, a posteriori, os "investimentos" feitos para, uma vez mais, "salvar a humanidade"?

Assim, segundo se pode ler no artigo (minha tradução livre) e relativamente à divulgação do mais recente relatório (Assessment) do IPCC, a "Alemanha solicitou que as referências ao declínio do aquecimento fossem apagadas"; "a Hungria manifestou preocupação pelo facto do relatório proporcionar munições aos que negam as alterações climáticas induzidas pela actividade humana"; "a Bélgica objectou à utilização do ano de 1998 como início da série estatística, porque esse foi um ano excepcionalmente quente fazendo com que o gráfico [da evolução das temperaturas] surja horizontal pelo que sugeriu usar, em alternativa, 1999 ou 2000 de modo a que a curva de tendência surja inclinada para cima"; já "a delegação dos Estados Unidos insistiu com que os autores do relatório explicassem a falta de aquecimento pela utilização da "hipótese mais avançada" entre os cientistas que o menor aquecimento se deva à sua absorção pelos oceanos (que aqueceram)".

Absolutamente extraordinário!

Hollande, candidato ao confessionário?


Nathalie, desempregada de longa duração, foi recebida, durante meia hora, pelo presidente francês, no Eliseu. O Público, emocionado, curva-se perante o gesto de Sua Resplandecência. Após a audiência, Nathalie sentiu-se "ouvida, entendida, compreendida". "E isso é importante."

Je suis vraiment ému!

Tão amigos que eles são ou a tríade do cronyism

Warren Buffet não o esconde: "Fed é o melhor fundo de investimento de sempre"

Uma observação justíssima

Manuela Ferreira Leite : "Está toda a gente a falar de mais".

A começar por si própria,digo eu.

Uma reforma "estrutural" que a malta aplaude


Bruxelas muda cálculo do défice estrutural e beneficia Portugal

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Jim Rogers: End the Fed!

A "grande experiência" em que os politburos dos principais bancos do mundo inteiro embarcaram, consistindo num exercício de planeamento central socialista a que o capitalismo é completamente alheio, consiste numa combinação de emissão ilimitada de moeda (por isso, sem fim possível) e da manipulação das taxas de juro que directamente controlam para níveis praticamente de zero, irá provavelmente acabar numa "grande implosão". Jim Rogers, numa mini-entrevista, exemplifica essa loucura monetária que o leva - por cortesia especial de Greenspan e Bernanke - a defender a extinção do Fed tal como aconteceu aos seus dois antecessores no séc. XIX:



Transcrição da entrevista da jornalista Manta Badkar (MB) a Jim Rogers (JR):

MB: Since May the tone from the Federal Reserve has been significantly more hawkish. Do you think they're heading in the right direction? What do you expect?
JR: I hope that in goodness they stop printing money. Note that this the only time in recorded history that all the major central banks in the world are trying to debase their currency at the same time. The japanese said: we will print "unlimited" - that was their word, unlimited amounsts of money. So in Washington they said: wait a minute! We can do that! So we've started to print a trillion dollars a year. A trillion dollars a year! So the english said, wait a minute guys, we can do it! The europeans said "we will do whatever is necessary", that's their term. It's absurd what's going on. It's got to end some day. The market is gonna force it to end and then they're going to come to their senses.
MB: How do you think Ben Bernanke did it?
JR: Absolute disaster! Between Greenspan and Bernanke, I mean, as you probably know, America's had three central banks. The first two disapear. Between Greenspan and Bernanke this is is going to disappear too because they'be ruined it. I mean, they printed staggering amounts of money. They've ruined the balance sheet, the balance sheet is gone full of government bonds, it has more than qradupled in five years. Bernanke is going to go down in history as an absolute disaster!
P: Who do you think the next Fed Chairman should be then?
JR: Nobody. Should abolish the Federal Reserve. The world without a central bank has problems but with this central bank... look at the people they are talking about! I mean, it's all more of the same milk! There's nobody who understands the problem. They all want to print money for their friends and they hope that's can save things until the next guy comes along and prints money.

Como é comum dizer-se, não se deve mudar o que "funciona" perfeitamente. Onde está a surpresa então?

Bolsas mundiais em máximos de cinco anos após surpresa da Fed

Via ZH

A negociação com a troika e "a marcha da História"

A substância da acesa discussão entre o PS e a coligação PSD/CDS quanto à dimensão da "flexibilização" a negociar com a troika relativamente ao OE 2014 - pelo que é noticiado, um défice orçamental equivalente a 4.5% do PIB para o Governo e de "pelo menos" 5% para o PS - está bem ilustrada nesta passagem de um texto de Murray Rothbard ("Progressistas, reacionários, histeria e a longa marcha gramsciana") hoje republicado no Instituto Mises Brasil (meu realce):
A utópica marcha da história, objetivo dos social-democratas, também é similar à dos comunistas, mas não exatamente a mesma. Para os comunistas, o objetivo era a estatização dos meios de produção, a erradicação da classe capitalista, e a tomada de poder pelo proletariado. Já os social-democratas entenderam ser muito melhor um arranjo em que o estado socialista mantém os capitalistas e uma truncada economia de mercado sob total controle, regulando, restringindo, controlando e submetendo todos os empreendedores às ordens do estado. O objetivo social-democrata não é necessariamente a "guerra de classes", mas sim um tipo de "harmonia de classes", na qual os capitalistas e o mercado são forçados a trabalhar arduamente para o bem da "sociedade" e do parasítico aparato estatal. Os comunistas queriam uma ditadura do partido único, com todos os dissidentes sendo enviados para os gulags. Os social-democratas preferem uma ditadura "branda" — aquilo que Herbert Marcuse, em outro contexto, rotulou de "tolerância repressiva" —, com um sistema bipartidário em que ambos os partidos concordam em relação a todas as questões fundamentais, discordando apenas polidamente acerca de detalhes triviais — "a carga tributária [fiscal] deve ser de 37% ou de 36,2%?".

A demência do salário mínimo - parte II

Continuação do artigo de Thomas Sowell publicado no dia 17 de Setembro na Townhall (1ª parte):
Thomas Sowell
Os resultados de um inquérito levado a cabo junto de economistas norte-americanos mostraram que 90% deles consideraram que as leis do salário mínimo conduzem ao aumento da taxa de desemprego entre os trabalhadores menos qualificados. A inexperiência é, frequentemente, o problema. Apenas cerca de 2% dos americanos com mais de 24 anos de idade ganhava o salário mínimo.

Os defensores das leis do salário mínimo justificam normalmente o seu apoio a essa legislação pelas suas estimativas de quanto "necessita" um trabalhador de modo a que tenha "um salário digno", ou pela utilização de um qualquer outro critério que preste pouca ou nenhuma atenção ao nível de saber-fazer do trabalhador, à experiência ou à produtividade geral. Deste modo, não é de estranhar que as leis de salário mínimo fixem salários que expulsam muitos jovens do mercado de trabalho.

O que é surpreendente é que, apesar da acumulação de evidências ao longo dos anos dos efeitos devastadores das leis do salário mínimo sobre as taxas de desemprego dos adolescentes negros, os membros do Conclave dos Congressistas Negros (CBC) continuem a votar a favor de tais leis.

Certa vez, há anos atrás, durante uma discussão confidencial com um membro do CBC, perguntei-lhe como era possível que eles apoiassem as leis do salário mínimo.

A resposta que obtive foi que os membros do CBC faziam parte de uma coligação política e, como tal, eram supostos votar a favor das iniciativas que os outros membros da coligação pretendessem, tais como as leis de salário mínimo, para que dessa forma os outros membros da coligação viessem a votar favoravelmente as iniciativas pretendidas pelo CBC.

Quando perguntei o que poderiam os membros negros do Congresso obter em troca do apoio às leis do salário mínimo que compensasse sacrificar gerações inteiras de jovens negros a enormes taxas de desemprego, a discussão terminou rapidamente. Talvez tenha sido veemente quando fiz aquela pergunta.

Do "Estado social" à "Sociedade da participação"

Tal como no Reino Unido, também na Holanda o soberano lê os discursos do Governo em exercício. Coube pois ao novo rei Guilherme-Alexandre servir de ventríloquo a Mark Rutte, o actual primeiro-ministro holandês, e anunciar a emergência do que designou por "Sociedade de participação" pela exaustão do modelo de estado social do século XX.

Notícia: Dutch King: Say Goodbye to Welfare State

Vídeo:

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Da intrínseca constitucionalidade dos processos inflacionários

Este poderia ter sido, digamos, um sub-título do artigo de Vitor Bento - Duas questões fundamentais - publicado hoje no Económico. Com efeito, como se constatou nos dois anteriores processos de resgate do século passado, ninguém então se preocupou com a legalidade, no plano constitucional, do violento imposto inflacionário (por via da profusa emissão de moeda pelo Banco de Portugal para "alimentar" a tesouraria do Ministério das Finanças) e com as consequentes e muito violentas reduções que os salários reais sofreram nessas ocasiões.

Oh!

PS sentiu na troika “enorme relutância na flexibilização” do défice

A demência do salário mínimo

Em resposta a mais uma investida dos proponentes de leis (federais e estatais) fixando salários mínimos obrigatórios mais elevados para "estimular" a economia americana, Thomas Sowell vem, mais uma vez demonstrar a sua insustentabilidade lógica e até mesmo empírica no seu artigo - "Minimum Wage Maddness". Como por várias vezes tenho assinalado neste blogue, Sowell é uma personagem muito perigosa para os defensores do "politicamente correcto" e para todos aqueles que tomam os desejos por realidades.  A par com Walter Williams, é negro, nasceu pobre, teve de interromper os estudos e começar a trabalhar em empregos modestos (mais do que um em simultâneo) conseguindo por fim chegar à universidade e ser de há muito hoje uma das referências intelectuais mais marcantes nos Estados Unidos. Já publicou bem para cima de 30 livros (lista).

Que ele possa ajudar a combater uma das mais persistentes falácias que, embora mil vezes já refutada, sempre "regressa" fazendo tábua rasa da lógica e das terríveis consequências da sua aplicação. (A tradução que se segue do artigo citado é da minha responsabilidade.)
Thomas Sowell
As cruzadas políticas pelo aumento do salário mínimo estão novamente de volta. Os defensores de leis sobre o salário mínimo atribuem frequentemente a si próprios o crédito de terem mais "compaixão" para com "os pobres". Mas raramente se preocupam em verificar quais são as consequências reais da aplicação de tal legislação.

Um dos mais simples e mais fundamentais princípios económicos é que as pessoas tendem a comprar mais quando o preço é mais baixo e menos quando o preço é mais elevado. No entanto, os defensores da legislação sobre o salário mínimo parecem pensar que o governo pode aumentar o preço do trabalho sem reduzir a quantidade de trabalho que virá a ser contratada.

Quando passamos dos princípios económicos aos factos concretos, o caso contra a legislação sobre o salário mínimo é ainda mais forte. Os países com legislação sobre o salário mínimo, quase invariavelmente, têm maiores taxas de desemprego do que os países que a não têm.

A maioria dos países tem hoje leis do salário mínimo, mas nem sempre assim aconteceu. As taxas de desemprego foram muito inferiores em locais e tempos em que não havia leis do salário mínimo.

A Suíça é uma das poucas nações modernas que não tem uma lei do salário mínimo. Em 2003, a revista "The Economist" relatava: "o desemprego na Suíça aproximou-se de um máximo de cinco anos ao atingir 3.9% em Fevereiro". Em Fevereiro do corrente ano, a taxa de desemprego na Suíça foi de 3.1%. Uma recente edição da "The Economist" evidenciava uma taxa de desemprego na Suíça de 2.1%.

A maioria dos americanos hoje nunca viu taxas de desemprego tão baixas. No entanto, houve um tempo em que não havia lei federal do salário mínimo nos Estados Unidos. A última vez que tal ocorreu foi durante a administração Coolidge [Agosto de 1923 a Março de 1929], quando a taxa de desemprego anual chegou a um valor tão baixo como 1.8%. Quando Hong Kong era uma colónia britânica, não havia lei do salário mínimo. Em 1991, a taxa de desemprego era de menos de 2%.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Matt Ridley: O pessimismo deslocado de Sir David Attenborough

Já em tempos alinhavei no EI (por exemplo, aqui) algumas linhas sobre o marco histórico - que ocorreu por volta de 1800 - que permitiu, por razões ainda hoje acerrimamente discutidas entre académicos, ultrapassar o que se costuma designar por armadilha malthusiana. Refiro-me ao resultado de um conjunto de circunstâncias - entre outras, as Revoluções Industrial e Agrícola, o desenvolvimento de novas instituições, a expansão e defesa dos direitos de propriedade e, segundo Deirdre [ex-Donald] McCloskey, da "vitória dos valores éticos burgueses" - que vieram a permitir a ocorrência, em simultâneo, de um espantoso aumento populacional acompanhado de uma ainda mais extraordinária melhoria nas condições de vida das populações (ainda que de forma muito assimétrica na linha do tempo).

Independentemente do peso relativo de cada um dos factores "explicativos" para a evolução verificada na explosão demográfica e no rendimento per capita não creio que haja dúvida de que a impressionante evolução tecnológica, que continua em aceleração, ocupará um lugar muito importante na explicação do dinamismo económico que se verifica, sustentadamente, de há pouco mais de duzentos anos para cá. (E todavia os "modelos" econométricos fogem do "factor tecnológico", como o diabo da cruz - de facto, como modelar a mente humana? - o que, por si só, deveria ser suficiente para descartar a sua utilidade prática para efeitos futuros).

O profundo pessimismo que Thomas Malthus veiculava - compreensível com o olhar então contemporâneo para tudo o que (não) se passou nos milénios anteriores - continua hoje vivíssimo, em boa medida associado ao culto da Mãe Natureza e do espantalho do "esgotamento de recursos" e concomitante abominação, implícita quanto não explícita, da espécie humana que, a não ser sustida no seu crescimento, melhor, sem garantir o seu (radical) decréscimo, porá fim ao objecto de culto e, posteriormente, do própria espécie humana.

Creio que Sir David Attenborough não subscreve integralmente (pelo menos, de modo público) as teses catastrofistas, sucessivamente desmentidas pela realidade, de um Paul Ehrlich ou de uma Rachel Carson e das legiões dos seus seguidores. Não obstante, ainda que de uma forma mais subtil e visualmente muito mais atraente, Attenborough tem feito passar ao longo dos anos uma espécie de "nostalgia por antecipação" nos seus documentários/séries que, naturalmente, procura suscitar "tomadas de consciência" e uma "urgência em fazer algo" (por parte dos governos, evidentemente) para prevenir a destruição da Mãe Natureza. No texto que se segue (minha tradução e meus realces), Matt Ridley, autor do famoso "O O[p]timista Racional" explica que há razões bastantes, já hoje, para que Sir David Attenborough pelo menos atenue o seu pessimismo e que, não obstante a sabedoria (?) convencional, não há incompatibilidade entre crescimento económico e conservação/desenvolvimento da natureza, bem pelo contrário.
Numa acção de promoção da sua iminente nova série acerca da evolução dos animais, Sir David Attenborough afirmou, numa entrevista esta semana, pensar ser impossível que possa ocorrer uma redução da população humana durante este século e que "temos sorte em estar a viver agora, porque as coisas irão piorar". As pessoas irão olhar para trás, daqui a 100 anos, "para um mundo que estava menos apinhado de gente, que estava cheio de maravilhas naturais e que era mais saudável".

É uma opinião comum, a dele, que eu em tempos partilhei. Ele deseja que as pessoas desfrutem dos espaços abertos e das abundantes manadas de caça que ele tem tido a felicidade de observar. Para que isso possa suceder, ele acha que é vital que se reduza a população humana.

De um modo muito polido, diria que eu agora discordo, de forma apaixonada, das duas premissas da sua argumentação. É realmente muito provável, ao invés de impossível, que a população esteja a diminuir nos finais deste século e é igualmente bastante provável que as pessoas nessa altura vivas venham a dispor de mais regiões selvagens para explorar e de mais fauna para admirar relativamente ao que sucede hoje.

A taxa de crescimento da população mundial reduziu-se sensivelmente a metade, tendo passado de mais de 2% por ano na década de 1960 para cerca de 1% agora. Até mesmo o número total de pessoas, que anualmente se soma à população anual, tem vindo a cair de há perto de 30 anos para cá. Se estas reduções continuarem, esse número chegará a zero por volta de 2070 - daqui a pouco mais de 50 anos. Nas últimas décadas, a taxa de natalidade baixou em todo um mundo. A fertilidade no Bangladesh passou de quase 7 filhos por mulher em 1960 para pouco mais de 2 hoje; no Quénia, de 8 para 4.5; no Brasil, de 5.7 para 1.8; no Irão, de 6.8 para 1.9; na Irlanda, de 3.9 para 2.

Ainda faz parte da sabedoria convencional que a única maneira de conseguir diminuir o crescimento demográfico implica agir maldosamente para com as pessoas, embora por motivos nobres. Seria necessário necessário coagi-las, suborná-las, envergonhá-las ou educá-las para terem menos filhos contrariando as suas preferências. Um país - a China -, reduziu de facto a sua taxa de natalidade com medidas coercivas sob a forma da política do filho único. Outro - a Índia -, tentou introduzir a esterilização forçada na década de 1960, em troca de ajuda alimentar dos Estados Unidos, mas [o seu Governo] foi derrotado pelo protesto popular e pela democracia, factores desconhecidos na China.

No entanto, em todos os outros países, o controlo voluntário da natalidade provou ser uma arma mais eficaz que a coerção, e a taxa de natalidade desceu igualmente de forma rápida. Isto sucedeu porque aconteceram coisas boas: crescimento económico, emancipação feminina e, acima de tudo, a conquista da mortalidade infantil. Contanto que as mulheres tenham algum tipo de acesso aos meios de controle de natalidade, um dos melhores factores preditivos de uma taxa de natalidade decrescente é uma taxa de mortalidade infantil em queda. Logo que as crianças parem de morrer na infância, as pessoas passam a planear famílias menos numerosas. Assim que pensem que as suas crianças irão sobreviver, começam a investir nelas, em vez de optar por ter mais filhos.

domingo, 15 de setembro de 2013

Mais um certeiro estímulo no combate ao emprego

Estado compensa empresas pelos encargos de 1% com fundos de despedimento

A arrogância fatal do cientismo em sistemas caóticos

No WUWT, um artigo indispensável da autoria de Willis Eschenbach ("Um passo à frente, dois à rectaguarda") para ajudar a compreender a inutilidade das tentativas de modelar o sistema climático com o intuito de produzir previsões de longo prazo, apesar do exponencial aumento das capacidades computacionais postas ao dispor - com o dinheiro dos contribuintes - às instituições intrinsecamente alarmistas (de que outro modo conseguiriam o abundante financiamento estatal?).

Como se pode ler no website do Met Office (minha tradução), um dos antros ícones do alarmismo mundial climático, na página referente às sucessivas gerações dos seus famosos supercomputadores, cuja última actualização, à data de hoje, remonta a 7 de Novembro de 2011:
A investigação que levamos a cabo sobre as alterações climáticas está a ajudar os governos, empresas e indivíduos a planear antecipadamente os desafios que enfrentamos no futuro. As previsões que fazemos, e a orientação detalhada que proporcionamos, tem o potencial para proteger a vida numa escala gigantesca em todo o mundo, e, potencialmente, para permitir reduções ainda maiores [nas emissões de] CO2.
O mesmo Met Office, instituição alvo da crescente galhofa já não apenas no Reino Unido devido às suas previsões estrondosamente falhadas, de tal modo que resolveu cancelar a publicação de previsões de "longo prazo", ou seja, as que vão além de 30 dias, revistas todas as semanas. Não obstante, numa atitude em tudo semelhante à que Hayek, no contexto da disciplina de Economia, designou pelo "The Fatal Conceit - The Errors of Socialism" ("A arrogância/presunção fatal - os erros do socialismo"), o Met Office persiste em obter – com êxito - cada vez mais dinheiro poder computacional através da ampla generosidade dos governos. Por exemplo, depois de terem gasto 30 milhões de libras esterlinas em 2009 num novo supercomputador (que emite CO2 em profusão),  irá agora obter um outro, desta feita de 100 milhões de libras!

Imagem retirada daqui

Ora, regressando ao artigo de Willis Eschenbach, e nas suas palavras, "por volta de 1980 [quando os computadores eram, digamos, "a pedal"], foram divulgadas as primeiras estimativas do que é conhecido por "sensitividade climática de equilíbrio" (em inglês, ECS) ou seja, qual seria o aumento na temperatura global em resultado de um aumento para o dobro da concentração de CO2. Nessa altura, o intervalo de variação estimado apontava para algo entre 1.5ºC e 4.5º C".

33 anos depois, o avanço é extraordinário, conforme se evidencia no 5º Assessment Report do IPCC (AR5) agora "soprado" à imprensa. Na análise de Eschenbach: o intervalo estimado para a "sensitividade climática de equilíbrio" é agora de... 1,5ºC - 4,5ºC! Notável, não é?

Um apelo à precaução vindo da Rússia (que terá valido a pena)

A última semana foi verdadeiramente febril quanto à evolução dos acontecimentos na Síria que culminou (?) hoje mesmo, com um notável desinteresse pouco entusiasmo dos jornais de "referência" europeus (não nos americanos), com o anúncio da celebração de um acordo entre os EUA e a Rússia, mediante o qual é aparentemente encontrada uma "saída" para a crise e evitada assim uma escalada de consequências imprevisíveis da situação que já de si era (e continua a ser) explosiva.

É impossível saber o que daqui a 20, 50 anos os livros de História registarão mas é talvez provável que façam menção a uma peça de jornal, assinada pelo ex-KGB, reincidente presidente russo vitalício em exercício (e sempre profissional) Vladimir Putin com o título "A Plea for Caution From Russia" ("Um apelo à precaução vindo da Rússia"). Um artigo que Patrick J. Buchanan classifica de "notável" (vídeo recomendado); que fez com que John Boehner, o Speaker da Câmara dos Representantes, se tivesse sentido "insultado"; que o neocon John McCain classificou como um "insulto à inteligência de cada americano" e que a outros lhes terá provocado a sensação de "vómito". Não é de admirar a reacção: Putin atreveu-se a pôr em causa o "excepcionalismo americano", uma espécie de elemento absorvente (e "absolvente") das malfeitorias feitas em seu nome...

Parecem-me motivos bastantes para justificar uma tradução do texto de V. Putin. Pro memoria.
Moscovo - Os recentes acontecimentos envolvendo a Síria impeliram-me a falar directamente ao povo americano e aos seus líderes políticos. É importante que o faça num tempo em que a comunicação entre as nossas sociedades é insuficiente.

As relações entre nós passaram por diferentes fases. Confrontámo-nos durante a guerra fria. Mas também já fomos aliados, e juntos derrotámos os nazis. A organização internacional universal - as Nações Unidas - foi então criada para evitar que uma tal devastação voltasse a acontecer.

Os fundadores das Nações Unidas compreenderam que as decisões que afectam a guerra e a paz somente devem ser tomadas por consenso, e foi com o consentimento da América que o veto dos membros permanentes do Conselho de Segurança foi consagrado na Carta das Nações Unidas. A profunda sabedoria desta decisão esteve na base da estabilidade das relações internacionais ao longo de décadas.

Ninguém deseja que as Nações Unidas sofram o destino da Liga das Nações, a qual entrou em colapso porque não detinha apoio real. Mas isto poderá suceder caso países influentes ignorem as Nações Unidas e levem a cabo acções militares sem autorização do Conselho de Segurança.

O potencial ataque dos Estados Unidos à Síria, apesar da forte oposição de muitos países e de grandes líderes políticos e religiosos, incluindo o Papa, resultará em mais vítimas inocentes e numa escalada do conflito que poderá, potencialmente, alargá-lo muito para além das fronteiras da Síria. Um ataque iria aumentar a violência e desencadear uma nova onda de terrorismo. Poderia prejudicar os esforços multilaterais para resolver o problema nuclear iraniano e o conflito israelo-palestiniano e desestabilizar ainda mais o Médio Oriente e o Norte da África. Poderia desequilibrar todo o sistema internacional de lei e ordem.

A Síria não está a assistir a uma batalha pela democracia, mas a um conflito armado entre governo e oposição num país multi-religioso. Existem poucos campeões da democracia na Síria. Mas há mais do que suficientes combatentes da Al-Qaeda e de extremistas de todos os matizes a lutar contra o governo. O Departamento de Estado dos Estados Unidos designou a Al-Nusra e o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que lutam ao lado da oposição, como organizações terroristas. Este conflito interno, alimentado por armas estrangeiras fornecidas à oposição, é um dos mais sangrentos do mundo.

sábado, 14 de setembro de 2013

Citação do dia (133)

"The saddest life is that of a political aspirant under democracy. His failure is ignominious and his success is disgraceful."
H. L. Mencken

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Boas intenções e melhores resultados


And Syria too. (Via fb)

Virá a Síria a ser o "momento Suez" para os EUA?

É a hipótese que Simon Black coloca, escrevendo ontem de Hong-Kong ("It’s official. America’s Suez moment has arrived [video]"), recorda a crise do Suez que viria a oficializar a perda de estatuto de superpotência do Reino Unido (na realidade já um facto antes de acabar a II Grande Guerra e fazer parte do grupo dos vencedores) e a "entrega" do ceptro aos Estados Unidos da América que não o deterá eternamente. A tradução é minha.
No Verão de 1956, o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser nacionalizou o Canal de Suez, com isso fazendo desencadear uma crise mundial.

O Suez liga o Mediterrâneo ao resto do mundo, e é uma das mais importantes vias marítimas do comércio internacional. Portanto, isto foi um grande acontecimento.

A Grã-Bretanha era um dos principais interessados no canal, e, quase imediatamente, o governo britânico reuniu uma pequena coligação constituída pelo Reino Unido, pela França e por Israel para retomar o controlo ocidental.

A sua acção militar subsequente, no entanto, em muito desagradou o governo dos EUA. E o tio Sam rapidamente afirmou o seu novo papel de superpotência do mundo.

É verdade que a Grã-Bretanha fora outrora a potência dominante no mundo. Mas anos de finanças públicas insustentáveis e de declínio económico fizeram mudar tudo isso.

No final da Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha estava praticamente falida. Mas a realidade não se tinha ainda instalado. Eles ainda se consideravam a si próprios como uma superpotência.

Os políticos britânicos continuavam à mesa das negociações de paz. Eles ajudaram a criar a ONU, a dividir na Alemanha, e até mesmo a influenciar o novo sistema financeiro global em Bretton Woods.

A realidade finalmente chegou com violência durante a Crise do Suez.

Tornou-se claro que o Reino Unido já não tinha a força económica ou o prestígio internacional para fazer o que quisesse. E com os EUA a oporem-se à invasão do Egipto, o governo britânico não tinha outra escolha senão a de retirar suas tropas.

Ao fazê-lo, a Grã-Bretanha entregou as rédeas do domínio do mundo aos Estados Unidos. E a América manteve esta posição por décadas.

Mas para quem esteja prestando atenção, este estatuto tem vindo a diminuir.
A Ásia está a levantar-se. Grandes centros de riqueza e poder têm crescido por todo o mundo. As finanças americanas estão desoladas. E a sua moeda é agora amplamente criticada por governos estrangeiros.

Mas os políticos americanos têm ignoraram completamente esta tendência ao longo da última década. Eles gastam e agem como se o domínio global dos EUA fosse um rio inesgotável.

Com a Síria, no entanto, os EUA podem ter finalmente chegado ao seu "momento Suez".

A Rússia agora, praticamente sozinha, tem impedido o governo dos EUA de levar a cabo um ataque na Síria.

E o presidente da Rússia levou mesmo o seu caso até ao povo americano em que eloquentemente criticou tanto a política dos EUA, bem como a noção do excepcionalismo americano.

Vladimir Putin é um bárbaro. Mas ele comanda uma nação que tem todo o poder e a força de que necessita para enfrentar os Estados Unidos e o resto do Ocidente.

Apenas há alguns meses atrás, foram os russos que apontaram o dedo aos governos europeus pelo confisco das contas bancárias no Chipre, comparando tais tácticas às da União Soviética.

Foram também os russos que enfrentaram o Ocidente e deram abrigo a Edward Snowden.

Tudo isso teria sido impensável há dez anos atrás. E isso pode muito bem ser o evento que os historiadores do futuro ao olharem para trás venham a escolher como o dia em que a América perdeu a sua posição dominante global.

Não será nada caso para chorar. O mundo não está a chegar ao fim, está apenas a mudar. E isso vem ocorrendo há milhares de anos.

Os italianos foram a superpotência mundial, pelo menos duas vezes na história - uma durante o tempo da Roma antiga, outra durante o Renascimento. Os chineses, os espanhóis e os persas todos tiveram o seu tempo no topo do trono.

O poder e a riqueza mudam ao longo do tempo. E esta é uma tendência importante a abraçar.

Síria: uma interpretação do que aconteceu nos últimos dias

Num estilo inconfundível, o juíz Andrew Napolitano faz uma leitura interpretativa dos mais recentes acontecimentos na Síria, nomeadamente o recuo a que Obama foi obrigado (também pela sua própria e extraordinária inépcia). Como é habitual, trata-se de mais um brilhante texto por parte de Napolitano que, se possível, deve ser lido no original - "Obama’s Incompetent and Unconstitutional Case for War". A tradução que se segue, de minha responsabilidade, empalidece a qualidade do texto mas tenho esperança que possa ser, não obstante, um contributo para difundir uma interpretação dos acontecimentos (que estão longe de terem estabilizado) que é muito diferente da transmitida pelos media portugueses.
Quando o secretário de Estado John Kerry, aparentemente irritado pela falta de sono, respondeu de uma forma arrogante mas que pensava ser realista, à pergunta de um repórter numa conferência de imprensa em Londres, no fim-de-semana passado, ele dificilmente poderia imaginar qual seria a reacção do mundo. Questionado sobre se existiria alguma coisa que o presidente sírio, Bashar al-Assad, poderia fazer àquela hora relativamente tardia para evitar uma invasão americana, Kerry disse a uma audiência internacional que se Assad desistisse de todas as armas químicas que o seu governo possui, os EUA renunciariam a uma invasão.

Mas tal não constituía uma preocupação, acrescentou Kerry. Assad não irá fazer isso, e nós acabaremos por invadir a Síria de modo a cumprir a ameaça do presidente Obama. Durante dois dias, Obama manteve-se em silêncio sobre isto enquanto o seu arqui-inimigo, o presidente russo, Vladimir Putin, se colocava sob os holofotes arrogando-se da superioridade moral.

Putin, parecendo-se mais com um laureado com o Nobel da Paz do que com o assassino por que é conhecido, ofereceu-se para mediar um acordo segundo o qual o stock químico sírio seria entregue às Nações Unidas, o governo sírio poderia continuar a defender-se dos esforços da Al-Qaeda para tomar o poder, e os EUA não interviriam na Síria.

Obama é normalmente firme quanto à sua convicção de que necessita fazer valer a ameaça que proferiu no Verão passado, quando tentava superar Mitt Romney na dureza da retórica. Foi nessa altura que Obama ameaçou intervir na guerra civil da Síria se fossem usadas armas químicas pelo governo. Não obstante, e odiando o embaraço internacional que viu desabar sobre si, quando subitamente Putin parece ser mais razoável que ele, Obama admitiu à minha colega da Fox News, Chris Wallace, que a ideia inspirada por Kerry e pressionada por Putin parecia merecer ser considerada. E de seguida o governo sírio concordou.

Ainda na semana passada, o presidente argumentava que só a força militar poderia mostrar ao mundo que os EUA não falam em vão. Ainda na semana passada, ele deu-se conta que precisava de cobertura política para justificar uma invasão impopular, e por isso pediu ao Congresso autorização para invadir a Síria, mesmo sabendo que já detém a autoridade legal para ordenar uma invasão. Ainda na semana passada, enviou a sua equipa política, incluindo a ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, para defender que a guerra é a única saída. E ainda na semana passada, insinuou que poderia bombardear a Síria mesmo que o Congresso dissesse que não.

O que aconteceu?

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Something is in the air

Não há maneira de saber se é apenas algo de efémero, mas não foi Putin quem fez parar os tambores de guerra. Não, foram os próprios americanos que o conseguiram assim derrotando, pelo menos para já, o Partido da Guerra (veja-se como o líder da maioria (democrata) no Senado, Harry Reid, chegou ao ponto de afirmar que "os anarquistas tomaram conta do Congresso"!!). Jon Stewart, em dois clips do programa do seu programa, do dia 10 de Setembro, ilustra bem a coisa (um pouco de paciência para os segundos iniciais de publicidade...). 



"Repensando" o 11 de Setembro de 2001

E não apenas devido ao muito estranho colapso do Edifício nº 7... (via LRC)

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Nigel Farage faz aquecer (ou gelar?) Durão Barroso

Hoje, no dia em que se conheceram os valores referentes a Agosto da série (iniciada em Novembro de 1996) de valores das temperaturas recolhidas por satélite por meio de sistemas de detecção remota (Remote Sensing Systems, ou RSS), é possível constatar - como o fez Christopher Monckton - que, com esta série de dados, há 202 meses (16 anos e 10 meses) que se verifica um aquecimento global da ordem dos... ZERO graus! Foi este o dia que Durão Barroso, alvo favorito de Nigel Farage no Parlamento Europeu (que o primeiro faz inteiramente por merecer), escolheu para invocar um "consenso albanês" de 99% (!) dos cientistas climáticos, poucos dias depois de o seu próprio Comissário para a Indústria ter denunciado o "sistemático massacre industrial" em boa parte imputável ao exorbitante custo da energia eléctrica na Europa, consequência de anos e anos de adopção e prática de uma fanática agenda "verde".

Citação do dia (132)

"Naturally the common people don’t want war: Neither in Russia, nor in England, nor for that matter in Germany. That is understood. But, after all, it is the leaders of the country who determine the policy and it is always a simple matter to drag the people along, whether it is a democracy, or a fascist dictatorship, or a parliament, or a communist dictatorship. Voice or no voice, the people can always be brought to the bidding of the leaders. That is easy. All you have to do is tell them they are being attacked, and denounce the peacemakers for lack of patriotism and exposing the country to danger. It works the same in any country."

Herman Göring

terça-feira, 10 de setembro de 2013

João Miguel Tavares: Portugal, inconstitucional no seu todo

Ao longo dos anos, têm vindo a rarear as minhas situações de concordância com os escritos de João Miguel Tavares (JMT), não sei se por razões imputáveis a mim, a ele ou a ambos (o mais provável). Em qualquer caso, hoje voltei a apreciar uma sua crónica (não disponível online). Sob o título "O texto e o contexto", JMT, a certa altura, escreve:
«(...) há aqui um problema de texto e um problema de contexto, que a Constituição ignora. Em bom rigor, se os juízes-conselheiros aplicassem os seus vastos critérios interpretativos logo ao artigo 1º, o país inteiro seria declarado inconstitucional ao fim das primeiras cinco palavras: "Portugal é uma República soberana".»
Exactamente.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Eric Margolis: Síria - o objectivo último é o Irão

Eric Margolis, escreve que o "Buldózer americano está pronto para começar a rolar" e crê haver fortes razões para supor que o objectivo último é o Irão como aliás Wesley Clark publicamente já tinha deixado nas entrelinhas. A tradução é da minha autoria.

Importante (e inteligente) desenvolvimento de última horaRússia pede à Síria para entregar arsenal químico para evitar ataque dos EUA.
"Recordando os massacres e destruição durante a guerra da independência da Grécia durante a década de 1820 do Império Otomano, Victor Hugo escreveu na altura: "Os turcos passaram por aqui. Está tudo está em ruínas e todo o mundo está de luto".

Hoje, as nações em ruínas e sob luto são o Iraque, o Sudão, o Afeganistão e, em menor grau, a Líbia, todos desmembrados ou divididos pela força do poderoso Império americano ["American Raj"].

A Síria é claramente o alvo seguinte do buldózer imperial americano. Após dois anos de uma brutal rebelião, armada e financiada pelos EUA e seus aliados regionais, a Síria enfrenta agora a devastação.

A campanha de ataques aéreos e de mísseis irá esmagar a força aérea síria, os tanques, a artilharia e as comunicações. Israel está preparado para esquadrinhar as ruínas da Síria.

Pura comédia negra. Roubando desavergonhadamente a propaganda da administração Bush, a Casa Branca de Obama tem vindo de facto a advertir que as armas químicas sírias (a maioria das suas matérias-primas proveniente da Europa) representam uma ameaça terrível para os Estados Unidos. A Síria adquiriu armas químicas para enfrentar o grande arsenal de armas nucleares de Israel, originalmente fornecidas pela França.

Não actuar equivalerá a um outro apaziguamento à la Munique, adverte Obama. Mas o Congresso dos EUA não podia agir porque ainda estava de férias de Verão.

O presidente Obama até concedeu que não havia urgência em agir. O importante era, segundo declarou, que a "credibilidade" dos Estados Unidos estava em jogo. Os políticos invocam a credibilidade como uma desculpa depois de terem cometido um enorme erro - em especial, as insensatas "linhas vermelhas" de Obama na Síria que encurralaram o presidente num beco [numa box] criado por ele mesmo.

Previsões e aldrabices vs realidades

12 de Dezembro de 2007:
________________________________________
Nota: vejo grandes similitudes entre o catastrofismo das previsões climáticas e o anunciado Apocalipse associado a uma opção não-intervencionista em conflitos que nos não dizem respeito. Em ambos os casos, a táctica da difusão do medo e da "emergência" da intervenção estatal-imperial de que é "preciso agir" porque "o tempo se está a esgotar" é sensivelmente a mesma. Creio que Steven Goddard, editor do Real Science, concordará com esta asserção.

Adenda:

Trecho do certeiro comentário do leitor Luís Vilela: "Ando há muito a ruminar essa mesma ligação. Vejo voluntarismo em ambas as situações, que favorece uma visão de que a realidade se terá de adaptar a um conjunto de valores difusos (idealismo, liberalismo, materialismo). Uma visão que culpa o homem e lhe dá a esperança de uma redenção pela construção de uma acção moralizadora e reparadora desses mesmos males."

Citação do dia (131)

"Rightful liberty is unobstructed action according to our will within limits drawn around us by the equal rights of others. I do not add 'within the limits of the law' because law is often but the tyrant's will, and always so when it violates the rights of the individual."
Thomas Jefferson

Avistamento perto da embaixada dos EUA no Líbano

Via ZH:

domingo, 8 de setembro de 2013

Obama e linhas vermelhas 3D

Clicar na imagem para ver melhor

Por Robert Ariail

A intervenção militar americana na Síria: Cui bono?

Num esforço continuado, revelador de uma energia aparentemente inesgotável, o Ron Paul Institute for Peace and Prosperity, fundado há uns meses atrás e dedicado à análise das matérias de política externa, tornou-se rapidamente numa referência para a concentração de esforços, numa lógica não partidária, para todos aqueles que acham que é imperioso pôr fim ao aventureirismo bélico americano pelos quatro cantos do mundo e, muito em particular, no Médio Oriente. Foi lá que ontem encontrei uma peça, a que atribuo grande credibilidade pela lista dos subscritores do "Memorando", e que me levou a fazer o esforço de o traduzir numa matéria que não me é suficientemente familiar. Porquê conferir credibilidade a ex-espiões, ou pelo menos a ex-insiders (link), perguntarão. Bem, entre outras razões socorro-me do relato de Daniel Ellsberg, na sua Memória sobre o Vietname e sobre os Papéis do Pentágono (livro ainda na vitrina), onde ele pôde constatar, a começar por si próprio, que os analistas profissionais do seu tempo, que trabalhavam para as sucessivas administrações americanas, convergiam praticamente todos na conclusão pela futilidade da intervenção americana no Vietname e, em particular, da escalada da guerra por Lyndon Johnson e Richard Nixon (como antes por JFK). Os políticos, esses, tinham porém planos próprios, impermeáveis à análise e à informação proveniente dos serviços de intelligence. Vejo muitos paralelos com a situação presente relativamente à Síria.

Os Profissionais de Intelligence Veteranos para a Sanidade [VIPS na sigla em inglês] emitiram um memorando dirigido ao presidente Obama desafiando directamente as alegações da sua administração sobre a utilização pela Síria de armas químicas:

MEMORANDO PARA: O Presidente

DE: Profissionais de Intelligence Veteranos pela Sanidade (VIPS)

ASSUNTO: Será a Síria uma armadilha?

Prioridade: IMEDIATA

Lamentamos informá-lo que alguns dos nossos antigos colegas de trabalho nos estão a dizer, de forma categórica, que contrariamente às afirmações da sua administração, as informações mais credíveis mostram que Bashar al-Assad não foi responsável pelo incidente químico que matou e feriu civis sírios em 21 de Agosto, e que os funcionários dos serviços secretos britânicos também sabem que assim foi. Ao escrever este breve relatório, optámos por assumir que V. não tenha sido plenamente informado porque os seus conselheiros decidiram dar-lhe a oportunidade daquilo que é comummente conhecido como "desmentido plausível".

Nós já enveredámos por este caminho noutra ocasião - com o presidente George W. Bush, a quem dirigimos os nossos primeiros memorandos VIPS, imediatamente após Colin Powell, no discurso que proferiu na ONU, a 5 de Fevereiro de 2003, em que impingiu "intelligence" fraudulenta para sustentar o ataque ao Iraque. Na altura, optámos também por dar ao presidente Bush o benefício da dúvida, pensando que ele estava a ser enganado - ou, no mínimo, muito mal assessorado.

A detecção da natureza fraudulenta do discurso de Powell não exigia particular inteligência. E assim, naquela mesma tarde, instámos veementemente o V. antecessor que "ampliar a discussão para além... do círculo daqueles conselheiros que se inclinam de forma evidente para uma guerra para a qual não vemos nenhuma razão convincente e da qual acreditamos que as consequências não intencionais poderão vir a ser catastróficas". Nós oferecemos-lhe o mesmo conselho hoje.

As nossas fontes confirmam que um incidente químico de algum tipo causou de facto mortos e feridos no dia 21 de Agosto, num subúrbio de Damasco. Elas insistem, no entanto, que o incidente não foi o resultado de um ataque do Exército [regular] Sírio utilizando armas químicas do seu arsenal. Esse é o facto mais saliente, de acordo com agentes da CIA que trabalham no tema da Síria. Dizem-nos que o director da CIA, John Brennan, está a perpetrar uma fraude do tipo pré-guerra-do-Iraque junto dos membros do Congresso, dos media, e do público - e talvez até mesmo junto de si.

sábado, 7 de setembro de 2013

O enigma do desinteresse dos investidores pela TAP


A TAP, que é "nossa" porque presta um imprescindível serviço "público" (já a Ryanair, por exemplo, não o faz, como é evidente), em particular desde que Jorge Coelho atribuiu a Fernando Pinto a gestão (pelo menos em termos formais), vem batendo sucessivos recordes de transporte de passageiros que as suas relações públicas se esforçam por publicitar e os meios de comunicação social, particularmente os de "referência", de amplificar.

Ouvimos (d)isto anos e anos a fio. A TAP deveria ser, pois, um bombom apetitoso para os vorazes capitalistas predadores que por aí pululam, embora economistas (?), académicos de profissão, que chegaram a apontar para uma avaliação da companhia num valor superior a mil milhões de euros (esquecendo-se (!) de deduzir o passivo...) se tivessem indignado com o valor da proposta de compra de Germán Efromovitch, a única de que o governo dispôs, de 40 milhões de euros.

Mas não, mais uma vez, e agora com um perigosíssimo "ultraliberal" à frente do ministério da Economia, o resultado é este: Processo de privatização da TAP congelado. Assim, depois da RTP, o CDS preserva mais uma relíquia. Valiosíssima, está bem de ver. 

Mas afinal de quem é esta guerra?

É a pergunta que Patrick J. Buchanan formula em mais um artigo em que defende vigorosamente a auto-exclusão dos EUA de um envolvimento na guerra civil Síria que grassa há mais de dois anos - "Just Whose War Is This?". Neste artigo, Buchanan foca importante aspectos internos dos EUA que raramente são focados. A tradução, como habitualmente, é da minha responsabilidade.
"Na Quarta-feira [dia 4 de Setembro], John Kerry disse ao Senado para não se preocupar com o custo de uma guerra americana na Síria.

Os sauditas e os árabes do Golfo, confortados com um rotundo barril de petróleo, vendido aos consumidores americanos a 110 dólares, irão pagar a conta dos mísseis Tomahawk.

Será que chegámos a isto - soldados, marinheiros, fuzileiros e aviadores norte-americanos, agindo como mercenários de sheiks, sultões e emires, quais Hessianos [mercenários de Hessen, Alemanha] da Nova Ordem Mundial, contratados para levar a cabo a matança pelos sauditas e pela realeza sunita?

Ontem [5ª feira], também, surgiu um relatório espantoso no Washington Post.

A Conferência dos Presidentes das Principais Organizações Judaicas Americanas [link] juntou-se com o lobby israelita AIPAC [link] numa campanha pública a todo o gás em favor de uma guerra dos EUA contra a Síria.

Marvin Hier do Centro Simon Wiesenthal e Abe Foxman da Liga Anti-Difamação invocaram o Holocausto, tendo Hier acusado os EUA e a Grã-Bretanha de não terem conseguido salvar os judeus em 1942.

No entanto, se a memória for útil, em 1942 os britânicos estavam a combater Rommel no deserto e os americanos recolhiam ainda os seus mortos em Pearl Harbor e morriam em Bataan e Corregidor.

A Coligação Judaica-Republicana, também financiada por Sheldon Adelson, o magnata do casino de Macau, cuja preocupação pelas crianças que sofrem na Síria é uma espécie de lenda, está também a apoiar a guerra de Obama.

Adelson, que desembolsou 70 milhões de dólares para derrubar Barack, quer a sua recompensa - a guerra à Síria. E ele está a consegui-la. O Presidente da Câmara dos Representantes, John Boehner, e o líder da maioria, Eric Cantor, já a saudaram e nela se alistaram. Sheldon, o mais rico de todos os ricos financiadores políticos, está a comprar uma guerra para si próprio.

E todavia, será realmente inteligente que organizações judaicas coloquem um selo judeu numa campanha para arrastar a América para uma guerra que a maioria de seus compatriotas não quer travar?

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Capitalismo selvagem

Ryanair vende viagens para a Europa a 14,99 euros. Segundo o Económico, "[a] partir do aeroporto de Faro ou do Porto, os clientes da Ryanair vão poder viajar para a Europa [1000 destinos] por menos de 15 euros."

Um autêntico escândalo! Não será igualmente inconstitucional?

7.11%? E não será inconstitucional?


Retirado daqui, à hora da publicação do post.

Da inexistência de credibilidade das administrações americanas

Ontem, Peter Klein, escrevia a propósito da (falta de) credibilidade das alegações humanitárias (!?) da administração americana para justificar o bombardeamento, unilateral, na Síria (minha tradução):
"Os EUA têm que bombardear a Síria, dizem-nos, para manter a sua "credibilidade" no palco mundial. Eu não consigo entender isso. O governo dos EUA invadiu, ocupou e desestabilizou o Afeganistão e o Iraque. O Exército dos EUA usa bombas de fragmentação, de fósforo branco, e munições de urânio empobrecido, todos elas proibidas ou desencorajadas através de tratado ou convenção internacional. O Presidente apoia a execução extrajudicial, as extradições não judiciais e a tortura, todas elas proibidas pelas Convenções de Genebra. A NSA espia os seus próprios cidadãos, em violação da lei dos EUA, e nega esse facto até ser apanhada em flagrante. Que credibilidade é possível atribuir ao governo dos EUA?"
James Bovard, por seu lado, em "We can't trust White House Syria claims", e a propósito do celebérrimo massacre de oficiais polacos, perpetrado pelo exército vermelho, ocorrido durante a II GG na floresta de Katyn, em 1940, que só o ano passado, mais de 70 anos depois(!) e mais de 20 após o fim da Guerra Fria (!!), se soube oficialmente que os EUA tinham "abafado" a verdade, faz observar que, a nada acontecer que modifique o secretismo, aliás crescente, das administrações americanas, só em 2082 os EUA admitirão a verdade sobre o caso sírio.

Vejamos, então, recorrendo à história recente, e sem invocar inúmeros exemplos de operações de false flag, que viriam a "justificar" as pré-desejadas intervenções guerreiras pela administração imperial em exercício, "Dez ataques com armas químicas que Washington não que falemos". Segue-se uma tradução minha, parcial e adaptada, deste artigo de Wesley Messamore. As  imagens têm a mesma proveniência.

1 - As forças armadas dos EUA lançaram 75 milhões de litros de produtos químicos sobre o Vietname de 1962 a 1971


Durante a Guerra do Vietname, as forças armadas dos EUA pulverizaram as florestas e terras agrícolas do Vietname e países vizinhos com 75 milhões de litros de produtos químicos, incluindo o muito tóxico Agente Laranja, para deliberadamente destruir o abastecimento alimentar, arrasar a ecologia da floresta e devastar a vida de centenas de milhares de pessoas inocentes. O Vietname estima que em resultado de uma década de ataques químicos, 400 mil pessoas tenham sido mortas ou mutiladas, 500 mil bebés tenham nascido com problemas congénitos e 2 milhões tenham sido vítimas de cancro ou outras doenças. Em 2012, a Cruz Vermelha estimou que um milhão de pessoas no Vietname são deficientes ou têm problemas de saúde relacionados com o Agente Laranja. [E, todavia, como Patrick J. Buchanan, assinalava "Depois de 58 mil mortos, saímos do Vietname. Quantos americanos mataram os vietnamitas desde que partimos?".]

2 - Israel atacou civis palestinianos com fósforo branco em 2008-2009


O fósforo branco é uma horrível arma química incendiária que faz derreter a carne humana até aos ossos.

Em 2009, múltiplos grupos de direitos humanos, incluindo o Observatório dos Direitos Humanos, a Amnistia Internacional e a Cruz Vermelha Internacional informaram que o governo israelita estava a atacar civis no seu próprio país com armas químicas. Uma equipa da Amnistia Internacional afirmou ter encontrado "provas irrefutáveis de utilização generalizada de fósforo branco" enquanto arma em áreas civis densamente povoadas. O Exército israelita negou as acusações no início, mas acabaria por vir a admitir que elas eram verdadeiras.

Após a série de acusações destas ONG, os militares israelitas chegaram mesmo a atingir o quartel-general da ONU (!), em Gaza, com um ataque químico. Que havemos de pensar de todas estas provas quando as comparamos com as do caso contra a Síria? Por que não tentou Obama bombardear Israel?

3 - Washington atacou civis iraquianos com fósforo branco em 2004


Em 2004, jornalistas "embebidos" nas forças armadas dos EUA no Iraque começaram a relatar a utilização de fósforo branco em Fallujah contra insurgentes iraquianos. Inicialmente, os militares mentiram e disseram que só estavam a usar fósforo branco para criar cortinas de fumo ou para iluminar alvos. Depois, admitiram ter usado o volátil produto químico como arma incendiária. À época, a emissora de televisão italiana RAI exibiu um documentário intitulado "Fallujah, o massacre escondido", que incluiu imagens sombrias de vídeo e fotografias, bem como entrevistas a testemunhas oculares residentes em Fallujah e a militares dos EUA que revelavam como o governo dos EUA fez indiscriminadamente chover fogo químico branco sobre a cidade iraquiana derretendo mulheres e crianças até à morte.

4 - A CIA ajudou Saddam Hussein a massacrar iranianos e curdos com armas químicas em 1988


Os registos da CIA provam agora que Washington sabia que Saddam Hussein estava a usar armas químicas (incluindo gás de nervos sarin e gás mostarda) na Guerra Irão-Iraque, no entanto, continuou a fornecer informações secretas ao exército iraquiano, informando Hussein dos movimentos das tropas iranianas sabendo que ele usaria essas informações para lançar ataques químicos. Em certo ponto no início de 1988, Washington advertiu Hussein para um movimento de tropas iranianas, que teria terminado a guerra com uma derrota decisiva para o governo iraquiano. Em Março um encorajado Hussein com novos amigos em Washington atingiu uma aldeia curda ocupada por tropas iranianas com múltiplos agentes químicos, matando cerca de 5 mil pessoas e ferindo pelo menos 10 mil mais, a maioria deles civis. Milhares de pessoas morreram nos anos seguintes de complicações, doenças e malformações congénitas.

(...)
7 - O FBI atacou homens, mulheres e crianças com gás lacrimogéneo em Waco, em 1993



No infame cerco em Waco de uma pacífica comunidade de Adventistas do Sétimo Dia, o FBI bombeou gás lacrimogéneo para dentro de edifícios sabendo que mulheres, crianças e bebés os ocupavam. O gás lacrimogéneo era altamente inflamável e acabou por dar origem a um incêndio que envolveu os edifícios em chamas levando à morte de 49 homens e mulheres e 27 crianças, incluindo bebés e crianças. De lembrar, que atacar um soldado inimigo armado num campo de batalha com bombas de gás lacrimogéneo é um crime de guerra. Que tipo de crime constitui um ataque contra um bebé com gás lacrimogéneo?

Ler o resto do artigo aqui.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Do consenso cozinhado de 97% ao real de 0,3%

Cooks ’97% consensus’ disproven by a new peer reviewed paper showing major math errors, no WUWT. Como se recorda no texto, Michael Crichton enunciou uma definição de ciência (natural) em termos definitivos:
"If it’s science, it isn’t consensus; if it’s consensus, it isn’t science."

Michael Crichton
Mas não se espere que Obama vá agora ao Twitter emendar a mão... pois a sua agenda, também aqui, é a da promoção de interesses especiais. É aliás disso que trata o livro "Crony  Capitalism in America" de que aqui dei ontem conta. 

A ler

Equidade e confiança (um resumo), por João Miranda.

Do pretenso rigor e correspondente ridículo

Segundo o Económico (versão digital), verificou-se que "[o] número de desempregados em Espanha baixou em 31 para 4.698.783 milhões em Agosto" (realce meu).

Isto faz-me lembrar uma anedota, verídica, de um director de informática, há um quarto de século atrás, que quando perguntado sobre o número de PC então existentes na sua empresa respondeu que seriam "perto de sete"!

Destruição criativa

Are We Rome?

Ron Paul emitiu mais uma notável declaração agora relativamente ao que está em causa no pedido de autorização que Obama vai endereçar ao Congresso a propósito do anunciado ataque com mísseis à Síria. Pela sua importância, achei relevante traduzir o texto, o que faço mais abaixo. Antes dele, porém, uma chamada de atenção para um notabilíssimo livro da autoria de Cullen Murphy, com uma estrutura narrativa invulgar (talvez até única), cujo título, "Are We Rome?: The Fall of an Empire and the Fate of America", é em boa medida glosado no texto de Ron Paul.
O presidente Obama anunciou neste fim-de-semana que ele decidiu usar a força militar contra a Síria e que solicitaria autorização do Congresso quando este voltar a reunir após a pausa de Agosto. Cada membro tem a obrigação de votar contra esta utilização irresponsável e imoral da força militar dos EUA. Mas mesmo que cada um dos representantes e senadores venha a votar a favor de uma outra guerra, isso não melhorará essa terrível ideia pelo simples facto de se verificar uma espécie de aceno de cumprimento da Constituição. De resto, o presidente deixou claro que a autorização do Congresso é supérflua, ao afirmar, falsamente, que ele tem a autoridade para agir sozinho, com ou sem o Congresso. Que o Congresso se permita a si próprio ser tratado como uma montra de decorações pelo presidente imperial é algo de simplesmente espantoso.

O presidente afirmou no Sábado que o suposto ataque químico na Síria, a 21 de Agosto, significou "um grave perigo para a nossa segurança nacional". Discordo da ideia de que cada conflito, cada ditador e cada revolta, em qualquer parte do mundo, seja de alguma forma crítica para a nossa segurança nacional. Esse é o raciocínio de um império, não de uma república. É o tipo de pensamento que este presidente partilha com o seu antecessor e que está a conduzir-nos à falência e à destruição das nossas liberdades na nossa própria terra.

De acordo com recentes notícias da comunicação social, os militares não têm dinheiro suficiente para atacar a Síria pelo que haveria que ir ao Congresso para obter uma autorização de despesa suplementar para levar a cabo os ataques. Parece que o nosso império está no fim das suas possibilidades financeiras. Os ataques limitados que o presidente defendeu para atacar a Síria custariam aos EUA algo na casa das centenas de milhões de dólares. O chefe do estado-maior conjunto das forças armadas, General Martin Dempsey, escreveu ao Congresso no mês passado a dizer que só o treino dos rebeldes sírios e dos mísseis em número "limitado" e dos ataques aéreos significariam uma verba na "ordem dos milhares de milhões" de dólares. Devemos compreender com clareza o que uma outra guerra irá significar para a economia dos EUA, para não mencionar os efeitos dos custos desconhecidos adicionais, tais como um aumento brusco nos custos dos combustíveis em resposta ao disparo dos preços do petróleo.