sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Porquê o ouro? (13)

No dia em que o ouro atinge as cotações mais elevadas nos últimos seis meses (rondando agora os 1690 dólares a onça), é o Telegraph (curioso!) que amplifica esta entrevista de Peter Schiff em "US 'to return to gold standard within two years', says Euro Pacific Capital chief Peter Schiff"


The wind is blowing...

Citação do dia (71)

Também a propósito disto.
"The statist philosophy considers the entrepreneur a useless idler who skims the cream from industry without performing any corresponding economic service. The nationalization of business it is said merely abolishes the unjustified privileges of parasitic drones. A salaried public servant does the job previously assigned to the businessman much more efficiently and much more cheaply. The expropriation of private ownership is especially urgent in the field of public utilities."

Ludwig von Mises, The Agony of the Welfare State, 1953

Impressoras monetárias e novilíngua

Fed não descarta estímulos perante "sérias preocupações" económicas.

Tradução: parece vir aí mais uma injecção de "liquidez estimulante" (moeda digital criada do nada nos computadores da Fed). A única curiosidade que restará é saber se depois das primeiras acções de "quantitative easing"1, conhecidas pelos acrónimos QE1 e QE2, teremos agora uma ronda Q3, a que seguirá QE4... até QEn (onde 'n' é indeterminado) ou se assistirá a mais um mero exercício de criatividade linguística.
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1A tradução, literal, daria algo como "alívio quantitativo". Soa-lhe mal? Também a mim. Mas o problema está no original...

Privatizações e concorrência (ou falta dela)


Relativamente à ANA, já sabemos que o Governo optou por um modelo que garantirá que o actual monopólio estatal será substituído por um monopólio privado. Admito que tal opção seja a que possibilite maximizar o encaixe financeiro resultante da alienação, mas não tenho dúvida dos efeitos muito perniciosos que a manutenção da ausência de concorrência necessariamente acarreterá para o país.

Não há muito tempo, a ortodoxia clamava pela suposta necessidade de os monopólios (ditos) "naturais" (água, electricidade, telefones, correio, etc., as chamadas utilities) serem alvo de particular regulação estatal pelo que daí à sua nacionalização foi um passo por que os políticos rapidamente enveredaram. Depois, sem grandes explicações, a ortodoxia pôs na gaveta esse capítulo do manual. Mas não dei conta que nenhuma família de pensamento económico (nem sequer os da família keynesiana) tenha passado a  defender a existência de alguma superioridade económica de uma situação de monopólio...

Quanto à TAP, como ainda não sabemos qual será o caderno de encargos, ainda é cedo para me pronunciar.

Permanecem assim válidas as observações que alinhavei em "Concorrência, interesse geral e mitologia".

Desejos por realidades

Ministro da Economia espanhol, Luis de Guindos: [E]l banco malo tiene que ser rentable y vender activos en 15 años. É esta asserção teleológica que permite à porta-voz do Governo, Soraya Sáenz de Santamaría, afirmar que a terceira reforma financeira do governo de Mariano Rajoy (!) tem por objectivo básico e fundamental "que não custe nem um euro ao contribuinte". Segundo Luis de Giundos esta profissão de fé assentará em "garantias" como esta: "los activos que se trasferirán no serán tan malos" [assim].

Caros leitores, se esta conversa lhes parece muito familiar com o desenrolar do "caso BPN" (que nos acompanhará por muitos anos ainda), creiam que não estão sozinhos.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

What Have the Politicians Done to Give Us Liberty?

Jeffrey Tucker conta aqui como, em conjunto com Doug French, chegaram a uma lista de acontecimentos relevantes, ordenada cronologicamente, que reproduzo abaixo, que constituem excepções à secular tendência do crescente cerceamento à liberdade (por oposição à crescente intervenção estatal) nos últimos 50 anos. Acrescentei à lista, em itálico, os nomes dos que ocupavam a presidência dos EUA.
  • Across-the-board tax cuts (1964) - Lyndon Johnson
  • Thawing of relations with China (1972) - Richard Nixon
  • Pullout from Vietnam (1973) - Richard Nixon
  • End of the draft (1973) - Richard Nixon
  • Private ownership of gold legalized (1974) - Gerald Ford
  • Airline deregulation (1978) - Jimmy Carter
  • Appointment of tight-money Paul Volcker to the Fed (1979) - Jimmy Carter
  • Trucking deregulation (1980) - Jimmy Carter
  • Marines pulled from Lebanon (1984) - Ronald Reagan
  • End of 55-mph speed limit (1987) - Ronald Reagan
  • Privatization of the Internet (1995) - Bill Clinton
  • Welfare reform (1996) - Bill Clinton
Embora uma qualquer lista deste tipo incorpore sempre uma avaliação fortemente subjectiva, acho que fazem sentido algumas observações:
  1. O número de acontecimentos é muito reduzido, apenas doze;
  2. Já passaram dezasseis anos desde o último;
  3. Richard Nixon ("I'm-not-a-crook") e Jimmy Carter ("President peanut") levam a melhor nas citações o que constitui uma pequena "vingança" retroactiva sobre a história ortodoxa recente;
  4. Há um equilíbrio perfeito entre medidas azuis e vermelhas (i.e., tomadas durante presidências republicanas e democratas).

Por quê 15 meses de atraso?

Seria tão difícil perceber assim que a tendência de saída em massa dos Certificados de Aforro, que há muito sucedia (desde que Teixeira dos Santos ludibriou os seus subscritores), só poderia acentuar-se? Estado melhora remuneração dos certificados de aforro.

Também os alemães fazem monumentais disparates

Pierre Gosselin, no NoTricksZone, é uma referência obrigatória para quem pretenda estar a par das tensões crescentes que vão surgindo na Alemanha à medida que emergem os efeitos não intencionais da "energia" verde: riscos crescentes de apagões monumentais, em grande parte consequência da inescapável intermitência das eólicas, e custos exponencialmente crescentes no custo da electricidade para os agentes económicos e para o orçamento federal, ou seja, para o contribuinte (via tarifas feed-in). Leiam-no, por favor, com regularidade.

Mas não foi através de Gosselin que dei conta deste artigo ["Germany Hits Brakes on Race to Renewable Energy Future"]. Aconteceu lê-lo na ronda diária que faço pela imprensa digital e pensei em escrever um post acerca dele. Quando no dia seguinte (ontem) voltei à Spiegel online, já não o consegui encontrar. Em contrapartida, estava lá este outro ["Germany Rethinks Path to Green Future"]. Para a Spiegel, que em questões ambientais, não anda longe do "nosso" Público, avançar, em dois dias consecutivos, com dois artigos desta natureza, é porque algo está a mudar. Já nem sequer as carteiras alemãs aguentam o monstro que, evidentemente, foi o próprio governo que o promoveu! E agora procuram, desesperadamente, uma estratégia(?) de saída em jeito de quadratura do círculo. Uma passagem de um dos artigos creio ser suficiente para a ilustrar (realces meus):
Simultaneously enthusing the population and putting the breaks on the race toward the renewable-energy future promises to be an unenviable communications challenge for even a silver-tongued politician like Altmaier [ministro do Ambiente de Merkel]. Unfortunately, he doesn't have a choice since the two are interwoven: Attractive feed-in tariffs have given eco-friendly electricity production such a boost that the expansion of the power grid and many other projects simply haven't been able to keep pace. Timetables are being mixed up, costs are spiraling out of control, and every day that the chaos continues, the green-republic project risks losing more supporters.
Não vai acabar bem. A grandes disparates, sucedem sempre grandes consequências.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Furacões

Por Michael Ramirez

Já estranhava a falta

RTP: Plenário de trabalhadores aprova criação de comissão de luta.

Associação de consumidores ou de vendedores?

Banca está a fazer concorrência desleal na venda de casas.
"A associação de consumidores [?!] Sefin considera que as condições preferenciais que os bancos oferecem no crédito para a compra das casas que têm no balanço estão a distorcer a concorrência, penalizando os particulares que querem vender os imóveis."
A regra prática a observar, sempre que alguém invoca "concorrência desleal", é que esse alguém pretende ir à carteira do consumidor e/ou do contribuinte, através da obtenção de um qualquer favor do aparelho estatal em prol dos que sofrem a tal "distorção da concorrência". Este é mais um desses casos.

O vazio extremo (2)

François Hollande, que começou por prometer congelar os preços dos combustíveis (por três meses), viu-se obrigado a adiar a oportunidade de uma tão estrutural medida, quando os preços começaram a cair nos mercados internacionais. Apontei, em devida a altura, o seu azar. Evidenciando um apurado jogo de cintura, logo então aproveitou a oportunidade para falar da introdução de um imposto uma taxa sobre a gasolina para proteger as famílias de aumentos conjunturais!!

Eis senão quando os preços do crude retomam a trajectória ascendente (ver widget na coluna à direita, no final da página), assim se materializando a oportunidade para retomar a opção inicial de "congelamento", que tinha aliás sido prometida em campanha eleitoral. Mas não. O governo francês convenceu as petrolíferas a baixar, durante três meses, as suas margens em três cêntimos; e, num passo de magia distributiva trapaceira, decidiu subsidiar os consumidores de combustíveis com os impostos dos contribuintes, em outros três cêntimos. A coisa vai custar 300 milhões de euros que irão, direitinhos, acrescer ao défice do orçamento. Para quê? Para absolutamente nada (como Guterres terá acabado finalmente por perceber quando fez, ou deixou que se fizesse, uma patetice semelhante).

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A caminho da harmonização fiscal

Gasolina em Espanha deverá ultrapassar 1,70 euros nos próximos dias [em consequência do aumento da taxa normal do IVA de 18% para 21%].

Precisamos de dinheiro já e sem condições

Deparámo-nos hoje com mais uma declinação da extraordinária perspectiva krugmanita de que "a dívida [detida por nacionais] não é importante já que a devemos a nós próprios" ("we owe it to ourselves"). Ora vejam (itálicos meus):
Cataluña solicita al Estado un rescate incondicional de 5.023 millones
El gobierno catalán ha solicitado este martes al Gobierno español adherirse al Fondo de Liquidez Autonómico, al que pedirá prestados 5.023 millones de euros, pero ya ha advertido de que no aceptará "condiciones políticas" para disponer de unos recursos "que son de los propios catalanes".
Fantástico! O insolvente solicita exige um resgate mas "sem condições"! Para quem julgava que Alberto João Jardim era um espécime único1, assim se prova quão enganado estava.
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1Aliás, também neste domínio, não nos devemos esquecer de Carlos César. Seria uma injustiça.

Convenhamos que é divertido

Ler os useiros e vezeiros Cavaleiros do Apocalipse (alguém ainda se lembra da privatização do Diário de Notícias e da Capital ou da abertura da televisão à iniciativa privada em 1991-92?):
Mário Soares diz que modelo de concessão da RTP é "uma pouca vergonha" 
RTP: Conselho de Redacção diz que proposta de concessão prejudica os portugueses e tem "contornos pouco claros"
Mas também, e aqui o divertimento é bem maior, há algumas originalidades:
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Adenda: isto também é engraçadíssimo.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O que pretende Rupert Murdoch com este tweet?


Constatar que uma internet livre, e portanto incontrolável, está a matar os jornais reconhecendo, em modo contemplativo-filosófico, mais uma emergência da famosa destruição criadora de que falava Schumpeter?

Ou o famoso magnata dos media estará antes a apelar à intervenção "reguladora" (dos Estados, pois quem mais?) para defender (a todo o custo?) a indústria criada por Gutenberg, da "concorrência selvagem" e do "caos" que a acompanha, em proveito próprio?

Ron Paul, Tampa, 26 de Agosto de 2012

Apresentado pelo seu filho, o senador Rand Paul, Ron Paul (por volta dos 9:00) inicia o que me pareceu ser um dos seus mais importantes discursos de sempre (para que chamei a atenção aqui). A integridade de carácter, a recusa do compromisso quando está em causa o princípio fundamental da liberdade, a incansável denúncia do papel da Reserva Federal (Fed) na expansão incansável do Estado e do financiamento das aventuras imperialistas e a indissociável defesa de uma moeda forte ("sound money"). A solução, ao contrário do que todoo o establishmente defende não é mais Estado ou um Estado mais "eficiente". A solução, pelo contrário, é: "Get the government out of our lives, and off our backs and out of our wallets" e passa por, no plano individual, aceitar que as acções têm consequências.

domingo, 26 de agosto de 2012

Citação do dia (70)

"[W]e should learn from history that civilizations are created and sustained by individuals; they are destroyed by collectives".
Butler Schaffer

Ron Paul Rally, Tampa, Florida, ao vivo!

Em directo, video streaming: http://www.youtube.com/watch?v=hEmDu1AYA4o

As pessoas antes dos lucros!

Uma carta de Don Boudreaux ao Wall Strret Journal (minha tradução e itálico):
Os mercados concorrenciais são muitas vezes criticados por estimularem a busca fanática de lucros à custa de outros objectivos valiosos, como um ambiente mais limpo. Tais críticas, é claro, surgem da incapacidade de compreender a verdadeira natureza dos mercados e das instituições - especialmente, a propriedade privada - em que os mercados estão embebidos.

Mas há uma instituição que, com justiça, pode ser acusada de demasiadas vezes elevar a procura do lucro a uma perigosa obsessão: o governo. Pois que outra forma haverá de descrever a imposição pela administração de Obama de (...) introduzir "direitos aduaneiros antidumping, com taxas entre 31% e quase 250%, aplicáveis a painéis solares que contenham células solares fabricadas na China ("Solar Flare-Up: Back Tax Roils U.S. Firms", em 25 de Agosto)? O Tio Sam está intencionalmente a aumentar os preços aos americanos na compra de produtos que o próprio governo insiste serem bons para o meio ambiente. O governo está fazendo isso apenas para proteger os lucros dos produtores americanos de painéis solares.

Que se danem os consumidores e o ambiente! O que precisa de protecção, acima de tudo, aparentemente, são os lucros das empresas comparsas do Tio Sam.

sábado, 25 de agosto de 2012

Mas afinal de quem é que nos temos de proteger?



Confusos?

Não vi, mas não é para admirar


"Ao ver os os noticiários da RTP apercebo-me de que, pela primeira vez desde a sua criação, a RTP não está ao serviço do governo" escreve Carlos Guimarães Pinto.

As previsões de Marc Faber para a economia global

Indispensável ver.

Culpado até prova em contrário?


Gosto bastante, como mero espectador de sofá, fora uma outra e muito ocasional ida ao estádio, de alguns desportos, como os jogos com bola ou o atletismo, mas não ao ponto de trazer o tema do desporto para as bandas do blogue (muito menos sobre ciclismo, que não gosto nada). Creio pois ser a primeira vez que me proponho escrever umas linhas laterais sobre o tema, a propósito do caso Lance Armstrong.

Fazendo parte daqueles que deploram e contestam as doutrinas proibicionistas impostas pelo aparelho estatal, em particular as que contendem com o direito de cada tomar, sob uma qualquer forma, as substâncias que entender, não aceito que, no abstracto, o que vulgarmente se designa por doping, seja moral ou eticamente reprovável. O que será sempre moralmente reprovável será a quebra de um contrato por qualquer uma das partes nele envolvidas.

Ora, conhecidas que sejam, a priori, as condições a observar por parte do atleta no disputar de uma dada competição, em particular - que "passe" nos testes de despistagem de substâncias que se utilizadas, são supostas conferir uma vantagem artificial perante os outros competidores -, é inaceitável que, após os factos, uma qualquer entidade externa às partes contratantes se atribua o direito de vir acusar o atleta de doping (ou seja, de quebra de contrato) mediante "provas" não previstas no contrato inicial (ainda por cima, muitos anos passados, embora para mim isso seja um aspecto menor)1. Lance Armstrong terá sido um dos atletas do mundo que mais vezes foi sujeito a testes de despistagem anti-doping (cerca de 500!), mas nunca teve um único controlo positivo!

Acusado não obstante, mediante o recurso a várias denúncias de ex-colegas (a inveja, sempre a inveja?) e a supostos "testes sanguíneos consistentes [com a sua hipotética utilização]", entendeu por bem não prolongar uma guerra onde o Estado americano, pela mão da Agência Anti-Doping dos Estados Unidos (USADA), vem mostrando uma dificilmente entendível sanha persecutória contra Armstrong, que dura há cerca de 10 anos, contando para tal com recursos aparentemente infinitos (os dos contribuintes, evidentemente). Armstrong terá entendido talvez que nunca iria conseguir dispor de um montante de recursos equivalente. Sabia, com toda a certeza, que iria surgir a acusação de que "se não se defende, é porque é certamente culpado". Não foi preciso esperar muito para que os lacraus "justiceiros" surgissem. Guilty until proven innocent?
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1Herbert Hoover, num dos seus livro de memórias, o Freedom Betrayed, conta que aquando dos julgamentos de Nuremberga  (nota nº 12, na página 145), os defensores dos réus alemães tentaram que o tribunal aceitasse como prova o tratado nazi-soviético assinado na véspera da invasão da Polónia pelos alemães (e consequente início da II Grande Guerra). Os soviéticos objectaram a que o documento (e seus anexos) fosse aceite (eles que invadiriam a Polónia 17 dias depois) o que realmente viria a suceder. Hoover sugere uma provável explicação para o facto: "[T]he Russians, having joined at Nurnberg in establishing ex post facto Nazi crimes by which aggression became punishable by death, did not wish so obvious a conviction of themselves to be placed on record. See the New York Times, January 2, 1948, p. 19:3)."

Ron Paul, a Fed e o padrão-ouro

Ron Paul, ao que parece, não foi sequer convidado para discursar na Convenção Republicana que se iniciará na próxima 2ª feira, 27 de Agosto, em Tampa, na Florida, e que irá entronizar Mitt Romey como o candidato do partido republicano que irá defrontar Obama nas eleições presidenciais de Novembro. 

Não obstante, duas das ideias que solitária mas porfiadamente perseguiu durante as primárias - concretizar uma auditoria às actividades da Fed e caminhar para o retorno a uma política de moeda forte ("sound money") -, parecem ter feito o seu caminho e farão parte do candidato republicano. Quanto à primeira, é o próprio Mitt Romney que a admite; relativamente à segunda, parece ser já certo que alguma referência a um revisitar da questão da ligação entre o dólar e o ouro será contemplada (o que deixa Paul Krugman inquieto o que é, digo eu, um bom sinal) trinta anos depois do último "debate" institucional sobre o tema nos EUA.

Para alguém como Ron Paul, cuja decisão de entrada na vida pública se deveu precisamente à decisão do presidente Nixon de "suspender" a já então (1971) muito ténue ligação do dólar ao ouro e que redigiu, em co-autoria com Leweis Lehrman, o relatório minoritário da U.S. Gold Comission (1982), não haverá grandes ilusões quanto ao alcance próximo desta sua vitória, 30 anos depois do seu "arquivamento". Não obstante, ei-lo aqui, uma vez mais, ao seu melhor nível, explicando a razão de ser da imperiosa necessidade do regresso a um regime de moeda forte ou seja, nas suas palavras, do regresso à sanidade monetária:

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A polícia do Pré-crime e do Pensamento na América de Obama

Orwell, em 1984, antecipou a thinkpol (polícia do pensamento). No filme "Minority Report", de Steven Spielberg, a brigada policial PreCrime prendia criminosos antes dos crimes serem cometidos a partir Da presciência de três "Precogs". As redes sociais surgiram posteriormente a estas obras. Mas foi por uma página privada, no Facebook, que tudo terá começado.

Aqueles "ingredientes" (não sei quem seriam os "Precogs") estiveram reunidos na prisão e confinamento psiquiátrico, durante 6 dias, do ex-marine de 26 anos, veterano das guerras do Iraque e do Afeganistão, Brandon Raub, arrastado de sua casa no dia 16 de Agosto, em tronco nu, sem que tenha sido alvo de qualquer acusação. Presentes estavam elementos de três corpos policiais: a polícia local, agentes do FBI e dos Serviços Secretos. Finalmente, ontem, 5ª feira, um juíz declarou a sua detenção "inválida" e Brandon foi libertado.

Dirão uns que se tratou de um episódio singular e, portanto, sem significado. Discordo. Não tivesse a mãe de Brandon imediatamente recorrido ao poderoso amplificador da internet para contar o o que se tinha passado com o seu filho e colocasse o vídeo da sua prisão online, o que possibilitou a rápida intervenção do Instituto Rutherford e a defesa legal do ex-Marine, e talvez quase ninguém tivesse sabido de nada durante muito tempo (lembram-se de "A Troca"?). Proponho-vos pois ouvir o presidente do Instituto, John W. Whitehead sobre este assunto. Partilho a qualificação de Whitehead: chilling.

Back to the future

No programa de John Stossel, uma curta e divertida incursão no contraste entre desejos e realidades, que ainda persistem mais de um século decorrido. Por razões singelas, como esta, ou densas como esta outra. Por mais leis e decretos que surjam.

Government Motors - a mesma história de sempre (3)

General Motors is headed for bankruptcy — again, titulava a Forbes há uns dias atrás. Apesar das dezenas de milhar de milhões de dólares - que, é praticamente certo, o contribuinte nunca recuperará -, Obama orgulha-se do bailout de que a  GM foi alvo (juntamente com a Chrysler e, muito em especial, o grande sindicato do sector automóvel, o UAW).  Tanto que assim é que quer repetir o "sucesso"!!

Ora a verdade é que GM recomeçou a perder quota de mercado (a Toyota retomou a liderança mundial na produção de automóveis, recuperando das ondas de choque do tsunami e das cheias na Tailândia onde tem importantes fábricas de componentes); as suas operações na Europa (marcas Opel e Vauxhall), são um desastre; os "estímulos" com que o seu braço financeiro tem promovido as vendas vêm deteriorando significativamente a qualidade da sua carteira de créditos à aquisição de veículos (o crédito subprime diz-lhe alguma coisa?); as projecções de vendas do seu carro eléctrico híbrido (o Volt/Ampera) vão sendo sucessivamente revistas em queda, pondo a ridículo as "metas" de Dan Akerson, o CEO da GM (e do próprio Obama que o nomeou na sequência da nacionalização da GM). Um sucesso! Ou, nas palavras memoráveis de uma certa ex-ministra lusa, "uma festa"!

Entretanto, e como já tinha sucedido com o próprio Volt, também a produtora de carros híbridos de luxo - a Frisker - achou por bem chamar 2400 viaturas à "revisão" na sequência da ignição de fogo a bordo de um dos seus veículos. É redundante acrescentar que também a Frisker foi alvo de generosos subsídios/empréstimos do governo federal americano (ou seja, novos impostos diferidos ao contribuinte) mas em prol da "economia verde" (ainda que os carros da Frisker sejam produzidos na... Finlândia!).

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Com caldos de galinha

Se for verdade o que se lê sob o título Governo concessiona RTP1 e fecha RTP2 (notícia veiculada pelo Sol com desenvolvimento prometido para a edição de amanhã), e portanto estiver errado o que aqui reproduzi (com origem no Expresso), de bom grado admitirei que Passos Coelho terá ido bem além do que eram as minhas expectativas. Mas, como há muito que pago (na factura da electricidade) sem ver nem ouvir (a RTP), é melhor deixar assentar algum do muito pó que por aí anda (sem desmentidos) e esperar pelo anúncio formal da selecção do "cenário" final.

Citação do dia (69)

"The 'private sector' of the economy is, in fact, the voluntary sector; and 'the public sector' is, in fact, the coercive sector."
Henry Hazlitt

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Vai este homem dar a vitória a Obama?


Apesar do título da notícia - Fed com mais apetite para novos estímulos - creio que a resposta será Wall Street que a irá dar se der luz verde, agora, a mais uma ronda de quantitative easing, ou seja, a mais uma injecção de novo dinheiro que, em primeiro lugar, visará levar os índices bolsistas a patamares "adequados" e, desse modo, a induzir positivamente os animal spirits. Os mercados responderam assim. O ouro voltou a ultrapassar os 1650 dólares a onça.

Absurdo

Citação do dia (68)

"Politicians never accuse you of 'greed' for wanting other people’s money — only for wanting to keep your own money."
Joseph Sobran

Grandes mistificações (2)

Dando sequência a Grandes mistificações (1), prossigo, ao ritmo possível, a leitura de Freedom Betrayed, um dos livros de memórias de Herbert Hoover (há uns dias na vitrina), 31º presidente dos EUA de 1929 a 1933, especialmente dedicado a dilucidar o período da administração de Franklin Delano Roosevelt (FDR), de 1938 até ao final da II Grande Guerra (já com Truman na presidência). Ainda que dado por finalizado pelo próprio Hoover em 1963, quando já contava 89 anos, o livro só foi publicado em 2011, 47 após a morte do seu autor (1964).

Hoover tem, não o esconde, contas pessoais a ajustar com FDR. Perdeu para ele a presidência quando tentou a recandidatura (nas eleições de Novembro de 1932) e não conseguiu vir a ser escolhido pelo seu partido para voltar a defrontar FDR nas cruciais eleições de 1940. Alguns tentarão (tentam) desvalorizar o livro como uma espécie de vendetta pessoal póstuma. Creio, pelo que já li, ser muito injusta, errada mesma, essa opinião. Hoover é de uma enorme minúcia na documentação do que escreve (bem maior que a de  muitos historiadores profissionais...) pelo que não é fácil descartar o que escreve. E o que escreve é puro revisionismo histórico.

Hoover tentou - é historicamente indisputável - evitar a participação dos EUA na guerra que se aprestava na Europa, defendendo a manutenção da tradição "isolacionista" norte-americana. Ao invés, precocemente, Hoover apercebe-se que FDR, apesar do discurso oficial, vai preparando, passo a passo, com actos concretos ainda que oficiosos, uma interferência cada vez mais activa no teatro que virá a ser de guerra em Setembro de 1939.

É neste contexto que, em 1 de Fevereiro de 1939, num discurso radiofónico difundido a nível nacional, e tentando ainda influenciar o rumo da política externa do seu país, Hoover perguntava aos americanos que o ouviam:
1. Shall we reverse our traditional policies ["Isolacionismo"] at this time?

2. Shall we set ourselves up to determine who the agressor is in the world?

3. Shall we engage in embargoes, boycotts, economic sanctions against agressor nations?

4. Shall we do this where the Western Hemisphere [Continente Americano] is not attacked?

5. Shall we provide an armament greater than that necessary to protect the Western Hemisphere from military invasion?

6. Shall we take collective action with other nations to make these more than words ans short of war policies effective?

7. Are we to be the policeman of the world?
Perguntas que, com Franklin Delano Roosevelt na presidência, logo seguido por Harry Truman, teriam uma resposta eloquentemente afirmativa. As escolhas que foram então feitas viriam a ser determinantes para o futuro dos EUA e do mundo até hoje. "Are we to be the policeman of the world?" A grande maioria dos políticos do mainstream americano, democratas ou republicanos, continua a achar que sim.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

O Conselho de Governadores dos bancos centrais

Poderemos chamar-lhe QE ("quantitative easing"), "Operation Twist", LTRO ("Long-term refinancing operations") ou um outro qualquer acrónimo resultante de uma criatividade linguística por parte dos Bancos Centrais que visa, em primeiro lugar, confundir em vez de esclarecer. O principal objectivo é que o público acredite que "eles" estão fazendo algo para "resolver a crise". Daí que uma das "armas" de Mário Draghi, há muito passada a fase da bazuca, seja a retórica (como é naturalmente também o caso de Bernanke ou Mervyn King, do Banco de Inglaterra). Daí que Draghi afirme que, "para salvar o euro", recorrerá a todas as medidas, mesmo que não convencionais e que essas medidas serão suficientes (para "resolver" as crises das dívidas soberanas).

Mas o fim da linha é sempre o mesmo e é desprovido de qualquer novidade: imprimir, imprimir, imprimir e voltar a imprimir dinheiro (em forma digital, modernamente). Daí, enfim, a parca criatividade demonstrada pelos banqueiros centrais no vídeo. As legendas, se activadas, estão em português. (Via A espuma dos dias).

Perpetual war for perpetual peace (2)

No seguimento de Perpetual War for Perpetual Peace e do mais recente rufar de tambores:

Via fb

Para as burocracias suportadas pelos Estados, as crises são sempre oportunidades

Crise leva BCE a contratar 40 novos funcionários.

Poucos terão enunciado, de uma forma tão singela como Eric Rahm, ex-Chefe de Gabinete de Barack Obama, em entrevista ao WSJ:
"You never want a serious crisis to go to waste... Things that we had postponed for too long, that were long-term, are now immediate and must be dealt with. This crisis provides the opportunity for us to do things that you could not do before."
Mas para quem queira perceber o desenvolvimento secular deste fenómeno, na pátria de Thomas Jefferson (mas também de Alexander Hamilton...), e como já várias vezes por aqui assinalei, é obrigatório ler a indispensável obra do grande Robert Higgs:


Sabem o que é uma bolha?


No Azinomics, duvida-se que a Apple valha mais que o valor conjunto da Dell, Google, HP, Facebook e Microsoft e apresentam-se fortes razões para justificar o cepticismo.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Na América, durante o turno de Obama

é pelos vistos possível prender um cidadão em sua casa, algemá-lo sem o deixar sequer vestir uma camisa, enfiá-lo num carro da polícia local, na presença de agentes do FBI e dos Serviços Secretos, e conduzi-lo... a um hospital psiquiátrico onde ficou internado por prazo indefinido, sem que tenha sido acusado de nada. Brandon Raub, de 26 anos, é um ex-marine com comissões de serviço no Iraque e no Afeganistão. Permanece até ao momento sem ser formalmente acusado. Aliás, refira-se que a polícia recusa classificar de prisão o regime em que se encontra sujeito Brandon Raub.

Raub terá cometido o "crime" de ter publicado, na sua página do Facebook, várias mensagens de índole política que, alegadamente, as autoridades terão considerado de natureza potencialmente terrorista. O Instituto Rutherford assumiu a defesa legal de Raub e fez publicar um comunicado sobre este assunto.

Julgava que episódios desta natureza eram uma imagem de marca de anteriores, e felizmente já desaparecidos, "paraísos na terra". Mas não. Pelo que me parece assistir a Robert Wenzel toda a razão quando agora os invoca: Welcome to The Soviet United States of America. E atenção: a sua página do Facebook pode, potencialmente, tornar-se num pré-crime.

Citação do dia (67)

"When plunder becomes a way of life for a group of men living together in society, they create for themselves, in the course of time, a legal system that authorizes it and a moral code that glorifies it."

Frédéric Bastiat

Irrelevâncias estivais

Sucessão bicéfala é solução "para o século XXI", diz Francisco Louçã.

Daniel Oliveira acusa Louçã de fazer "política suja".

domingo, 19 de agosto de 2012

Ruína ambiental, económica e moral

Depois de mais um acontecimento-sem-precedentes-que-afinal-não-era-bem-assim - o de durante o último mês de Julho se ter verificado um recorde de altas temperaturas nos EUA que não era um recorde - o Departamento de Agricultura estima que a colheita de milho no país sofra um decréscimo de 13% face ao ano anterior. Nos mercados, a antecipação dos efeitos de tal redução na colheita, vem-se traduzindo numa (natural) subida do preço do milho o que vem provocando consequências entre as quais um acentuado acréscimo no abate de gado por parte dos seus produtores, pelo acréscimo de preço das rações (o milho é uma componente fundamental delas) e... consequente diminuição no preço da carne.

Sempre atento, Obama não teve dúvidas sobre o que havia a fazer e ordenou a compra pelo governo federal de 170 milhões de dólares de carne, como se relata aqui. "Como os preços [da carne] estão baixos, os agricultores e rancheiros necessitam de ajuda, faz sentido", explicou Obama. E continuou: "faz sentido para os agricultores que assim conseguirão melhores preços para o seu produto [carne] e faz sentido para os contribuintes que assim pouparão dinheiro porque desta forma arranjamos alimento, que de qualquer modo teríamos de comprar, a um melhor preço." Tem prémio: uma imbecilidade muito difícil de igualar!!!

Em consequência da asinina e mandatória política de utilizar o etanol (nos EUA, destilado a partir do milho) como combustivel, 40% - quarenta por cento! - do total da produção de milho nos EUA tem por destino o depósito de combustível dos automóveis! E o governo federal não olha a meios: imposição de tarifas aduaneiras (para evitar a importação de etanol do Brasil) para além da subsidiação aos agricultores e aos fabricantes da coisa. E tudo isto quando, ambientalmente, até Al Gore já reconheceu que o etanol é um desastre (o de "1ª geração", sendo que o "bom", o de "2ª geração" (etanol celulósico) não existe, embora seja obrigatório...). Em resumo: uma ruína ambiental, económica e moral.

Declaração de Assange na embaixada do Equador em Londres

Este resumo não está disponível. Clique aqui para ver a mensagem.

Ufa! Que alívio!

Luis de Guindos, ministro da Economia de Espanha: Bancos não precisam do empréstimo de emergência "por hoje"

Empregos verdes, subsídios negros

Vejamos:
  • A 3 de Agosto, o banco Export-Import dos EUA, uma agência federal, anunciou a concessão de uma garantia, ao financiamento por parte do Bank of America, de um empréstimo de 32,1 milhões de dólares  a uma empresa brasileira para que esta comprasse pás eólicas à LM Wind Power, cuja sede se situa na Dinamarca. Segundo o comunicado do próprio banco, com tal decisão assegurar-se-iam 250 empregos permanentes em duas fábricas daquela entidade nos EUA;

  • No dia seguinte, 4 de Agosto, a LM Wind Power anunciou que iria dispensar 234 trabalhadores numa das instalações nos EUA, no Arkansas (precisamente uma das supostamente beneficiadas com a decisão do banco).
Notável, de facto.

(Via Coyote)

A recorrente vitória de Julian Simon

50 anos após a publicação, pelo Clube de Roma, do deplorável, alarmista e totalmente errado The Limits to Growth, Steven Horowitz assina Julian Simon Wins Again, But Will Anyone Learn? (tradução minha):
Talvez tenha dado conta desta história da AP, sobre a "surpreendente" redução nas emissões de CO2, que regressaram aos níveis de 1992. Uma explicação para esta diminuição está no número de centrais americanas produtoras de electricidade que migraram do carvão para o gás natural. Este último reduz drasticamente as emissões de CO2. O que explica então esta mudança?

Bem, para os economistas, não é surpresa: foram os preços relativos.

O gás natural tornou-se significativamente mais barato, levando a que mais centrais levassem a cabo a reconversão. Uma razão para que o gás seja mais barato, é evidente, está na tecnologia da fracturação [fracking]. Deste modo, os nossos amigos ambientalistas têm aqui um pequeno dilema: a oposição ao fracking significa oposição (ao mais barato) gás natural, o que significa oposição à substituição das poluidoras centrais alimentadas a carvão, grandes produtoras de CO2. Uma vez mais, os sinais emitidos pelos lucros levam os empresários a encontrar substitutos para os caros e poluidores processos e, por essa via, ao desenvolvimento de novas tecnologias que criam recursos utilizáveis e valiosos onde eles não existiam anteriormente. Isto conduz à redução de  preços desse substituto, o que conduz à substituição da tecnologia antiga e poluidora.

Julian Simon, aceite uma vénia.

Se ler a reportagem da AP, encontrará o ambientalista do costume, relutante e vacilante, afirmando que "esta não é realmente uma solução" e observando a  "ironia" do gás natural reduzir as emissões de CO2. Não é ironia, pessoal! Pensar que se trata de ironia apenas se deve à recusa em ouvir o que os economistas e pessoas como Julian vêm dizendo há décadas: os mercados solucionam estes problemas melhor do que os decretos governamentais.

De notar igualmente a surpresa pelo facto de que as centrais eléctricas se tenham convertido tão rapidamente do carvão para o gás. Isto não é surpresa para ninguém com um conhecimento básico da economia. Os sinais emitidos pelos lucros são poderosos e as pessoas respondem às mudanças de preços relativos. Isso faz parte da cadeira de Introdução à Economia logo na sua 2ª semana. As mesmas pessoas que estão surpreendidas por isto também foram surpreendidas pela rápida reconversão após a Segunda Guerra Mundial. A surpresa neste caso é apenas uma palavra rebuscada para "ignorância".

A prova dos argumentos de Julian Simon e de outros talvez nunca tenha sido mais evidente do que a transmitida nesta história, mas os verdadeiros dogmáticos não são aqueles de nós que são cépticos não da ciência das alterações climáticas mas da acompanhante ciência social e política, os dogmáticos são os que continuam a negar o poder dos processos de mercado, mesmo quando a evidência está bem à sua frente.

É pedir muito para que exemplos como este possam levar a um repensar do seu dogma? Provavelmente.

sábado, 18 de agosto de 2012

Não vale a pena culpar os alemães

Uma das mais persistentes (e perniciosas) falácias veiculadas pelos media, cuja aceitação é facilitada pela  generalizada iliteracia económica, reside na atribuição de uma valorização positiva às exportações por contraste com uma demonização das importações (as doutrinas mercantilistas, não por acaso, surgiram e solidificaram-se com a emergência do absolutismo). Isto, claro, se não se estiver a falar de países como, por exemplo, a Alemanha ou a China. Nestes casos, por razões misteriosas, aqueles países são acusados de cometerem o crime de, ao não consumirem níveis "adequados" de bens importados, contribuírem para provocar desequilíbrios nas contas externas dos seus parceiros comerciais. Para os desequilibrados, claro está, a "culpa" não é deles, é dos outros.

Tem sido comum, no quadro da crise da dívida soberana na Europa, assistirmos a que muitos daqueles economistas que sabem que assim não é, acompanhem, as mais das vezes por omissão, a histeria irracional que preside àquele tipo de argumentos. Como já aqui chamei a atenção, e apesar do que Adam Smith, David Ricardo ou J. Stuart Mill sustentaram e Karl Marx exacerbou para os fins que se conhecem, o valor de um bem não é algo que exista de per se e que portanto seja externo (independente) às duas partes (comprador e vendedor) que o comerciam (trocam). Admitindo sempre a livre vontade, ou seja, a inexistência de coerção, se A se propõe vender um bem a B e este o compra é exactamente porque A valoriza o dinheiro recebido a título do preço mais do que o valor que atribuía ao bem que detinha; inversamente, o mesmo se passa com B pois este só adquire o bem porque lhe confere maior valor do que  associava ao dinheiro que teve de ceder a B. Como tal, em cada troca voluntária, o bem-estar de cada um dos intervenientes aumenta sempre face ao que sucedia antes da transacção e é por isto que, para o economista, o valor (de um bem ou serviço) é subjectivo (ou não-cardinal), variando no tempo para cada um dos agentes económicos.

Significa isto que a arbitrariedade geográfica sobre a qual se apuram défices ou superavits externos, por si só, nada diz quanto à real evolução do bem-estar da população de cada país. Por outro lado, a ninguém está atribuída a função de fazer qualquer tipo de julgamento, estatístico ("objectivo") ou moral, quando à escolha que a família X fez quando entendeu gozar férias, digamos, nas Seychelles, ou a família Y quando optou por adquirir um Volkswagen novo e não um automóvel em 2ª mão no stand de usados da esquina, mesmo que à custa de endividamento.

O gráfico seguinte, produzido pela UBS (União de Bancos Suíços) e que copiei daqui, evidencia a evolução acumulada do rendimento disponível das famílias, entre 2000-2010, por decis de rendimento. É fácil constatar (clicando na figura vê-se melhor) que o período imediatamente posterior à introdução do euro, afinal, beneficiou particularmente as famílias de países como a Grécia, Portugal ou a Espanha em que o poder de compra subiu substancialmente (e artificialmente). Por estranho que possa parecer, a Alemanha não aparece entre os beneficiados.

Clicar para ampliar a imagem
Sucede que as famílias e as empresas portuguesas fizeram as suas escolhas, num quadro de abundância e extremo embaratecimento do crédito (via taxas de juro manipuladas pelo BCE, ou seja, via euro) e, sobretudo, impulsionadas pela profligacia do Estado português. Não vale a pena culpar os alemães.

E assim continuará o "serviço público"

Apocalypse Not

Matt Ridley, o famoso autor do The Rational Optimist, livro infelizmente não traduzido entre nós, consegue em Apocalypse Not: Here’s Why You Shouldn’t Worry About End Times uma demolidora desmontagem da torrente catastrofista que se instalou, em particular no mundo ocidental, nos últimos 50 anos.

Ridley enumera as sucessivas instanciações do catastrofismo reinante que nos transformaram em apocaholics (na expressão sugerida por Gary Alexander) - "crescimentos populacionais explosivos, fomes globais, pragas, guerras pelo controlo da água, esgotamento do petróleo, escassez de minerais, diminuição de espermatozóides no sémen, diminuição da camada de ozono, chuvas ácidas, invernos nucleares, bug do ano 2000, epidemia das vacas loucas, abelhas assassinas, mudança de sexo nos peixes, epidemia de cancros induzida pela utilização de telefones celulares e catástrofes climáticas".

E, tal como se verifica no Apocalipse clássico, identifica os respectivos Cavaleiros: "os químicos (o DDT, os CFC, a chuva ácida), as doenças (a gripe aviária, a gripe suína, a SARS, a SIDA, o Ébola, a doença das vacas loucas), as pessoas (a população, a fome) e os recursos (petróleo, metais)".

Foto retirada de http://2012apocalypse.net/
Ridley propõe-se visitar cada um destes Cavaleiros. Vale a pena conhecer essa visita. Aqui.

Citação do dia (66)

"If you board the wrong train, it is no use running along the corridor in the other direction."
Dietrich Bonhoeffer

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O Homem Mais Perigoso do Mundo

Com o som do rufar dos tambores de guerra a aumentar significativamente esta semana (veja-se, por exemplo, aquiaqui ou aqui) Patrick J. Buchanan tenta apelar à sanidade. A tradução, algo livre, é minha.
No Outono, os jornais dos EUA irão dedicar inúmeros centímetros de colunas de artigos assim como as redes de TV reservarão intermináveis horas revisitando o mês mais perigoso da história da república, se não mesmo do mundo.

A decisão de Nikita Khrushchev de, secretamente, instalar em Cuba mísseis balísticos de médio alcance, equipados com armas nucleares, começou a formar-se na sua mente algum tempo antes, talvez em Abril de 1961.

Foi nessa altura que o novo e jovem presidente dos EUA, John F. Kennedy, promoveu o desembarque de uma brigada de cubanos com a intenção desta se vir a tornar a vanguarda de um exército de guerrilha tendo em vista o derrube do regime de Fidel Castro.

A Baía dos Porcos tornou-se uma metáfora para a loucura irresponsável e para o fracasso.

Khrushchev tinha ordenado a um exército de tanques que entrasse em Budapeste para esmagar a Revolução Húngara de 1956 e assistiu, atónito, à recusa de um presidente dos EUA em usar seu poder para eliminar uma base soviética situada a 90 milhas da costa da América.

Em Junho, Kennedy encontrou Khrushchev em Viena e foi verbalmente atacado. Em Agosto, Khrushchev voltou a testar Kennedy construindo um muro para separar Berlim Oriental e selar o sector soviético. Os berlinenses que procuravam fugir foram baleados.

Kennedy ordenou um ano de mobilização dos reservistas.

Moscovo, em seguida, quebrou uma moratória sobre testes atmosféricos de armas nucleares, fazendo explodir uma gigantesca bomba de 57 megatoneladas no Árctico.

Em meados de Outubro de 1962 os mísseis soviéticos estavam em Cuba. O seu raio de alcance de 2400 quilómetros colocava Washington, D.C., ao seu alcance.

O chefe da Força Aérea era o general Curtis LeMay, ex-chefe do Comando Aéreo Estratégico, que se gabava da actuação da sua frota de B-29 durante a guerra do Pacífico, "Nós incendiámos, cozemos e assámos até à morte mais pessoas em Tóquio naquela noite de 9 para 10 de Março da que foi reduzida a vapor no conjunto de Hiroshima e Nagasaki."

LeMay queria bombardear e invadir Cuba, mesmo depois de Khrushchev ter retirado os mísseis. Quando Mao Zedong denunciou o recuo de Khrushchev, chamando à América "um tigre de papel", Khrushchev terá recordado a  Mao que "Este tigre de papel tem dentes nucleares." Mao, alegadamente, teria então indicado a sua disposição para perder 300 milhões de chineses numa guerra nuclear se tal guerra acabasse com os Estados Unidos.

Estes foram tempos graves e de homens perigosos. O que leva a esta recitação de como era o nosso mundo há 50 anos é a história da mais recente capa da The Weekly Standard, "O Homem Mais Perigoso No Mundo."

A foto da capa é do Ayatollah Ali Khamenei, o "homem com uma missão" no Irão, de quem se diz estar tentando obter uma bomba atómica e que "abomina os Estados Unidos num grau superior ao de Stalin, Mao, Tojo e Hitler em conjunto." Se este "líder supremo obtiver armas nucleares, será necessário um milagre para que ele não conduza estupidamente o seu país à guerra."

O objectivo último do artigo de 5000 palavras é: Tenha medo. Tenha muito medo deste homem.

Das sanitas e do cocó

Bill Gates tem evidentemente todo o direito a fazer o que bem entende com o seu dinheiro. O seu projecto de promover o surgimento de uma nova geração de sanitas, especialmente dirigido àqueles que não dispõem de "água, sistema de esgotos ou electricidade", pode vir a proporcionar-lhes importantes e mesmo radicais melhorias sanitárias. E os primeiros protótipos já estão aí. Entre outros, gostei particularmente da ideia apresentada pela Universidade de Toronto. Permitiria talvez também endereçar problemas conexos. Por exemplo, este:


O desmoronamento moral

Quando assistimos a que um indivíduo como Jim Corzine, um bom amigo de Obama, ex-presidente executivo da falida MF Global, se vai livrar, aparentemente, de uma acusação criminal apesar da fraude maciça que lá ocorreu ("desapareceram" 200 milhões de dólares das contas de clientes) e que, em contrapartida, Julian Assange, o principal responsável pela Wikileaks, organização que permitiu desvendar inúmeras verdades inconvenientes, entre as quais crimes de guerra (como este ou este), enfrenta, na pátria onde surgiu a Magna Carta, através da ameaça de destruição de séculos de negociações que conduziram à Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, via Estocolmo, uma provável entrega aos americanos (onde o esperaria um Grande Júri), a bússola moral perdeu-se.

Nota: Bradley Manning, o alegado fornecedor à Wikileaks de 250 mil telegramas diplomáticos - caso que ficou conhecido pelo Cablegate - está preso, sem julgamento, desde Maio de 2010; desde então enfrentou um regime de prisão solitária durante onze meses consecutivos, durante os quais foi mantido numa cela de 1,8m de largura por 2,4m de comprimento, 23 horas por dia, na qual lhe impediam que dormisse entre as 5 da manhã e as 10 da noite, sem que sequer pudesse usar as paredes ou o chão para se exercitar e onde era obrigado a dormir nu. Para se perceber até onde pode chegar um regime durante o turno de um Nobel da Paz, leia-se isto. Hediondo.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Elvis Presley - In the ghetto

No 35º aniversário da morte do "King".



Letra:

Confrontos vs massacres, desacatos vs chacinas

Fazendo uma pequena prospecção pelo que os indignados de profissão dedicaram a sua atenção no dia de hoje, só consegui encontrar uma preocupação, certo que veemente, com a violência policial na África do Sul no Seixal.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Oh!

Suspiram os adeptos lusos do crescimentismo perante a realidade, cumpridos que são 100 dias da presidência de Hollande. Nem o admirável Público consegue esconder uma (contida) frustação:
"Os primeiros 100 dias de Hollande mostram um mandato marcado pela deterioração da economia francesa, ameaçada de recessão [crescimento zero no 2º trimestre do ano face ao trimestre anterior, 0,3% em termos homólogos]. Hollande cortou os salários do seu Governo, propôs um novo imposto sobre os altos rendimentos, mas hoje, por força da situação complicada na indústria e no emprego, é um Presidente prudente, cuja acção, segundo uma sondagem do Figaro, não agrada a 54% dos franceses."
Absolutamente extraordinário! O paraíso crescimentista, que estava ali mesmo ao virar da esquina, revela-se afinal mais difícil de atingir porque (de repente, só pode) se veio a verificar uma "situação complicada" na indústria e no emprego. Veremos se a  França, daqui a algum tempo (6/9 meses?), não está a fazer declarações do género "A França não é a Espanha, nem a Itália". Mas, para os mais optimistas que continuam a crer que para que a mesma receita funcione (a que prescreve a injecção de "estímulos" na economia) apenas basta aumentar a dose dos ingredientes e manter a retórica "anti-austeridade excessiva", o Público deixa-lhes uma mensagem de esperanças: "Mas 100 dias não definem um mandato". Haja  Deus!

Citação do dia (65)

"The phenomenon of economic ignorance is so widespread, and its consequences so frightening, that the objective of reducing that ignorance becomes a goal invested with independent moral worth. But the economic education needed to reduce such ignorance must be based on austere, objective, scientific content—with no ideological or moral content of its own."

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Combater os combustíveis fósseis... com combustível fóssil

pode, à superfície, ser tido pelos greenies, como um autêntico sacrilégio. E porém, até já no New York Times, se escrevem artigos como este de que retirei o extracto inicial (minha tradução):
A batalha contra as alterações climáticas está a ser perdida. O movimento ambientalista e a indústria da energia, ao mesmo tempo que se envolvem num acalorado debate sobre temas desde a energia nuclear ao das areias betuminosas, estão a perder a "visão da floresta".

Há um reduzido reconhecimento por ambos os lados que as actuais políticas para reduzir as emissões de dióxido de carbono não são suficientes para lidar com a ameaça que representam. É o crescimento, movido a carvão, de países como China e Índia, que gera grande parte dessas emissões. A menos que seja encontrado, rapidamente, um substituto barato e rapidamente mobilizável para o carvão, será quase impossível controlar com segurança os níveis de dióxido de carbono que estão a crescer em todo o mundo.

Embora o movimento ambientalista possa ter, à primeira vista, o gás de xisto como um inimigo nessa luta, ele pode na verdade vir a constituir-se como um amigo. Um amplo desenvolvimento dos recursos de gás de xisto - com adequadas salvaguardas ecológicas - pode ser a melhor via para atingir as rápidas reduções na concentração de dióxido de carbono que precisamos para manter um ambiente habitável da Terra.
Ironias!

Ler aqui o artigo na íntegra: Shale Gas to the Climate Rescue.

Uma notícia e sua ilustração

A notícia, veiculada pela Lusa, é que vão ser construídas 7 (sete) novas centrais de produção eléctrica, a fuel, em Angola. A fotografia que o Sol escolheu para a ilustrar é esta:


Será que foi descoberta uma tecnologia revolucionária de produção de fuel eólico ou será de eólicas alimentadas a fuel que se estará a falar? Pouco provável, em qualquer caso. Talvez se pretenda, apenas, iludir o leitor.

Corporações em acção e o activismo da igualdade de género

Convocada por uma tal Confederação dos Sindicatos Marítimos e Portuários (sem presença na web), decorre até às 8 horas de amanhã uma greve dos trabalhadores portuários em protesto contra as intenções do Governo que, segundo Vítor Dias, vice-presidente da sobredita, pretende alterar o actual regime do trabalho portuário visando, com isso,
"retira[r] aos trabalhadores portuários grande parte do âmbito de intervenção profissional para o dar a trabalhadores não qualificados, a trabalhadores que vão executar trabalho portuário mas para os quais não é exigível qualquer qualificação ou certificação, ou seja, o que quer que for para a graduação do trabalho."
Tentei, sem sucesso, encontrar o projecto de alteração mas parece-me evidente que está em causa a reacção, compreensível, de quem vê os seus "direitos" ameaçados. Como é habitual, é erigido um qualquer espantalho - quem não se lembra do terrível perigo para a saúde pública que consituiria a venda de leite em pó pediátrico fora das farmácias? -, neste caso a "qualificação" e "certificação" daí resultando uma "desgraduação" dos postos de trabalho (o que quer que isso seja). Mais um exemplo de rendas excessivas, é o que é.

O curioso é que durante a infrutífera pesquisa, aquando da visita ao site do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos (onde tinha eu a cabeça para vir ali procurar o projecto?!), descobri uma verdadeira pérola que, encomendada no anterior Governo pelo então Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, está datada de Outubro de 2011 e tem o timbre do Gabinete de Planeamento Estratégico e Relações Internacionais do Ministério da Economia e Emprego. Refiro-me ao Guia orientador para uma linguagem promotora da Igualdade de Género. Na antecâmara do Guia (com maiúscula) pode ler-se (realces meus):
Neste Guia são propostas algumas normas orientadoras, simples e pragmáticas, de substituição de formas linguísticas por novas formas, que proporcionem uma comunicação mais inclusiva, através de dois princípios fundamentais: a visibilidade e a simetria dos géneros feminino e masculino.

Importa sublinhar a importância da alteração progressiva da linguagem, de uma forma concertada em todos os Serviços da Administração Pública, em respeito pelo direito de homens e de mulheres à representação linguística da sua identidade.
Aviso: para estômagos mais sensíveis, recomendo a devida moderação na leitura do Guia que, certamente, não tarda e passará a Decreto, na esteira da Presidenta Dilma Roussef.
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Leitura complementar: esta notícia evidencia que o problema das corporações e da defesa dos seus "direitos", apenas conseguidos através da "captura" estatal, está longe de ser um problema exclusivamente luso. Daí que os sindicatos dos estivadores gregos defendam que "este não é mais um problema de um só país, mas um problema que diz respeito à Europa". Dito de outra forma, pretendem que o governo de Bruxelas lhes outorgue esses "direitos" uniformizando-os na União Europeia para prevenir o "desregramento da concorrência". Ora que melhor maneira de o conseguir que através da sua supressão?