Dando sequência a
Grandes mistificações (1), prossigo, ao ritmo possível, a leitura de
Freedom Betrayed, um dos livros de memórias de Herbert Hoover (há uns dias na vitrina), 31º presidente dos EUA de 1929 a 1933, especialmente dedicado a dilucidar o período da administração de Franklin Delano Roosevelt (FDR), de 1938 até ao final da II Grande Guerra (já com Truman na presidência). Ainda que dado por finalizado pelo próprio Hoover em 1963, quando já contava 89 anos, o livro só foi publicado em 2011, 47 após a morte do seu autor (1964).
Hoover tem, não o esconde, contas pessoais a ajustar com FDR. Perdeu para ele a presidência quando tentou a recandidatura (nas eleições de Novembro de 1932) e não conseguiu vir a ser escolhido pelo seu partido para voltar a defrontar FDR nas cruciais eleições de 1940. Alguns tentarão (tentam) desvalorizar o livro como uma espécie de vendetta pessoal póstuma. Creio, pelo que já li, ser muito injusta, errada mesma, essa opinião. Hoover é de uma enorme minúcia na documentação do que escreve (bem maior que a de muitos historiadores profissionais...) pelo que não é fácil descartar o que escreve. E o que escreve é puro revisionismo histórico.
Hoover tentou - é historicamente indisputável - evitar a participação dos EUA na guerra que se aprestava na Europa, defendendo a manutenção da tradição "isolacionista" norte-americana. Ao invés, precocemente, Hoover apercebe-se que FDR, apesar do discurso oficial, vai preparando, passo a passo, com actos concretos ainda que oficiosos, uma interferência cada vez mais activa no teatro que virá a ser de guerra em Setembro de 1939.
É neste contexto que, em 1 de Fevereiro de 1939, num discurso radiofónico difundido a nível nacional, e tentando ainda influenciar o rumo da política externa do seu país, Hoover perguntava aos americanos que o ouviam:
1. Shall we reverse our traditional policies ["Isolacionismo"] at this time?
2. Shall we set ourselves up to determine who the agressor is in the world?
3. Shall we engage in embargoes, boycotts, economic sanctions against agressor nations?
4. Shall we do this where the Western Hemisphere [Continente Americano] is not attacked?
5. Shall we provide an armament greater than that necessary to protect the Western Hemisphere from military invasion?
6. Shall we take collective action with other nations to make these more than words ans short of war policies effective?
7. Are we to be the policeman of the world?
Perguntas que, com Franklin Delano Roosevelt na presidência, logo seguido por Harry Truman, teriam uma resposta eloquentemente afirmativa. As escolhas que foram então feitas viriam a ser determinantes para o futuro dos EUA e do mundo até hoje. "Are we to be the policeman of the world?" A grande maioria dos políticos do mainstream americano, democratas ou republicanos, continua a achar que sim.