segunda-feira, 30 de abril de 2012

Será só uma coincidência? (2)

Richard Nixon declara a "Guerra às Drogas" em 1971. Para além da gigantesca população encarcerada que o gráfico abaixo denota, na rua, os preços da cocaína evoluem desta maneira.

Imagem retirada daqui

Será só uma coincidência?

Lyndon B. Johnson declara a "Guerra à Pobreza" em 1964. Dez milhões de milhões de dólares depois, o resultado não se pode dizer que seja brilhante, nomeadamente face à trajectória precedente:


(Via TBJ)

Steve Forbes: Ron Paul Should Be Chairman of the Fed

Sim. Depois de um rápido clean up, fecharia a coisa e deitava a chave fora.


(Via Lew Rockwell Political Theatre)

A suprema ironia?

Segundo estudo publicado na Nature (logo nela), "os parques eólicos podem [já estão a] provocar alterações climáticas", leia-se aquecimento global! É notícia no Telegraph. Um excerto:
The study, published in Nature, found a “significant warming trend” of up to 0.72C (1.37F) per decade, particularly at night-time, over wind farms relative to near-by non-wind-farm regions.

A França: um país em negação (3)

Apesar de alguns surpreendentes apoios e da minha já confessada indiferença, Monsieur Hollande tem umas ideias (?) tão "inovadoras" como são hoje as de Matusalém. E perigosas também se forem mesmo para cumprir, o que pessoalmente não acredito. Avelino de Jesus presta-nos aqui um inestimável serviço de evocação da memória.


domingo, 29 de abril de 2012

Marie Laforet - Viens, viens

Letra:

A arte de praticar esgrima com um muro

neste caso, um jornalista. Walter Williams é um respeitado académico norte-americano, economista, comentador e... é negro. A par de Thomas Sowell,  tem tornado a vida difícil a todo um conjunto de jornalistas, advogados do politicamente correcto, ao negar qualquer utilidade às políticas de discriminação 'positiva'. Pelo contrário, classifica-as de prejudiciais exactamente para com os seus destinatários. O entrevistador, um jornalista da Globo, não consegue esconder a sua incredulidade quando Williams, calmamente, fustiga as políticas baseadas na affirmative action, segundo as quais só se poderiam obter resultados sociais aceitáveis aplicando as regras da proporcionalidade - quotas - aos diferentes grupos étnicos (mais tarde de sexo e de orientação sexual) numa dada população. Para Williams, isto não é uma vitória para os negros. É uma derrota.


(Via Vento Sueste)

sábado, 28 de abril de 2012

Frase do dia (38)

«Capital goes where it’s treated best. When the capital leaves, the people are left to starve.»

Regresso ao padrão-ouro em 2013?

John Butler, autor do recentíssimo "The Golden Revolution", explica por que acredita que alguns países poderão adoptar o padrão-ouro já no próximo ano. Respondendo à observação do entrevistador de que há apenas uma pequena quantidade de ouro no mundo, relativamente ao stock de moeda fiduciária existente, sentencia: "The quantity of gold is finite, but the price isn’t." (via DailyCapitalist)

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Jim Rogers: a próxima recessão será bem pior

"...America had recessions and economic slowdowns every 4 to 6 years since the beginning of the republic, you can add by 2013 we are going to have another, and when it comes this time it is going to be worse than last time because debt is so so much higher, the 2008 slowdown was worse than 2002 slowdown because the debt was high next time the debt is going to be up there and it is going to be much worse."


Via Jim Rogers blog

E quanto é que vamos pagar pela coisa?

Como noticia o i, "[a] EPAL quer saber quais as mudanças a que terá de se adaptar, decorrentes das alterações climáticas, com previsível diminuição da quantidade de chuva, e pediu ajuda aos cientistas para preparar o seu sistema de abastecimento de água".

"Segundo Maria João Cruz, uma das coordenadoras do projecto AdaptaClima-EPAL (...) os cenários elaborados para as possíveis situações devido à mudança do clima apontam para reduções da precipitação entre 16% e 28% e aumento da temperatura, tanto máxima como mínima, de dois ou três graus, até final do século." 

Consultando o site do projecto, pode ler-se (realces e itálicos meus):
«Há actualmente um amplo consenso científico de que as alterações climáticas provocadas pela intensificação antropogénica do efeito de estufa se irão agravar ao longo do século XXI. Um dos sectores mais vulneráveis às alterações climáticas nos países do sul da Europa é o dos recursos hídricos. Nos últimos 40 anos observou-se já, nesta região, uma ligeira tendência de diminuição da precipitação média anual e uma tendência mais clara de aumento da variabilidade da precipitação acumulada no inverno, com maior frequência de invernos muito secos e invernos muito chuvosos. As projecções até ao final do século, obtidas com os vários modelos climáticos globais disponíveis, são concordantes no que se refere a uma intensificação das tendências referidas
Fantástico, não é? E quanto a consenso científico, não tem de facto havido outra coisa ultimamente...

Quando aprenderemos?



De "estímulo" em "estímulo" até à próxima (e colossal) implosão

Se do lado de cá do Atlântico, há quem continue a teimar em promover o "crescimento" à custa da emissão de ainda mais dívida pública, indirectamente monetizada pelo BCE (LTRO e similares), do lado de lá, por especial obséquio da Fed e dos seus sucessivos programas de "quantitative easing" e de uma política de taxas de juro zerohá sinais de recuperação económica. Sucede que há também outros sinais. Um deles está representado no gráfico abaixo (clicar na imagem para ver melhor) que reflecte o que talvez pudesse ser designado por um novo tipo de "multiplicador", mais propriamente, um divisor keynesiano-monetarista: parece terem sido necessários 2,52 dólares de nova dívida pública (a vermelho) para obter um dólar adicional no PIB (a azul) no primeiro trimestre deste ano (via ZH):

Clicar para ver melhor
Não admira pois que o establishment clame por mais inflação.

Estimulando a economia europeia

Férias de Michelle [Obama] em Espanha custaram 379 mil euros.

Obamanomics em acção (3)

Why wave of Mexican immigration stopped, pergunta a CNN. Michael Ramirez propõe uma (credível) explicação alternativa:


quinta-feira, 26 de abril de 2012

Frase do dia (37)

"It is amazing that people who think we cannot afford to pay for doctors, hospitals, and medication somehow think that we can afford to pay for doctors, hospitals, medication and a government bureaucracy to administer it."
Thomas Sowell

Rita Redshoes - Choose Love

Letra:

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Inovação na continuidade

François Hollande anunciou que se for eleito dirigirá um memorando aos chefes de Estado da União Europeia, uma espécie de adenda ao fiscal compact, que conterá quatro pontos:
1º - Emissão de eurobonds para financiar projectos de infra-estrutura («pour financer des projets d'infrastructure»);
2º - "Libertação" das possibilidades de financiamento do BEI («libérer les possibilités de financement de la Banque européenne d'investissement»)
3º - A criação de uma taxa sobre as transacções financeiras («la création d'une taxe sur les transactions financières avec les États qui en décideront»);
4º - Mobilização de todo o remanescente dos fundos estruturais europeus («mobiliser tous les reliquats des fonds structurels européens»)
Imaginação notável, a de Hollande. Prevejo que o PS português, que assim vê reforçada a sua legitimidade em clamar por um "pacto de crescimento", aliás agora também defendido por Draghi, volte rapidamente à carga quanto à "necessidade imperiosa" de avançar com o TGV, o novo aeroporto de Lisboa, a finalização do  perímetro de rega do Alqueva e similares. Como é sabido, quando a dose da medicação não se revela adequada não há como que aumentar a dose. A dívida pública já está em níveis recorde? E daí? Não é o céu o limite?

Não aprendem

Os argentinos aplaudem a deriva populista de Cristina Kirchner. Aproveitando a inspiração proporcionada pelo livro exposto na vitrina, "ellos piensan que son libres". Estão enganados.

Em defesa da deflação

Com o anúncio do lançamento no mercado da primeira geração de processadores com transístores 3D, dei-me conta que passaram 30 anos (no dia 23 deste mês) sobre o lançamento do ZX Spectrum, máquina que desencadeou uma revolução – a da massificação e ubiquidade do computador tornas possíveis pelo  preço relativamente acessível com que foi lançado no mercado, assim se juntando às "linhas" branca e castanha existentes no lar (o modelo que comprei em 1984, o de 48K, custou-me cerca de 35 contos1).

Sete anos depois do Spectrum, comprei nos finais de 1990 o meu primeiro PC, um 286, com 20 Mb de disco duro e 2 Mb de RAM. Custou-me 450 contos (monitor de 14" incluído)2 a que houve que juntar mais 50 contos para a impressora de agulhas.

Nos dias que correm é possível comprar equipamento incomensuravelmente mais poderoso pelos mesmos montantes. Só que a unidade, em vez do "conto", passou entretanto a ser o euro (1/5 daquela). Pelo meio, reduziu-se imenso o número de construtores, mas nem por isso a concorrência tem sido menos "feroz" o que tem proporcionando, aos consumidores e às empresas, num contínuo incessante, cada vez melhores produtos cada vez mais baratos (em termos reais e até nominais). Para aqueles que ostentam credenciais académicas nominalmente respeitáveis e que têm um medo terrível da deflação, há aqui um fenómeno que deveria merecer uma explicação de sua parte ainda por cima tratando-se de um mercado onde a regulação tem estado, no essencial, arredada. 

Ouve-se mesmo, de boa parte do establishment, a defesa de uma maior inflação como veículo instrumental para "resolver a crise da dívida". O facto de a inflação corroer destruir as poupanças acumuladas e atingir em cheio os que vivem apenas de salários e pensões não lhes oferece, sequer, uma objecção ética. O que o establishment sabe - e aí não se engana - é que a inflação beneficia directamente os devedores em prejuízo dos credores e, sendo os estados os principais devedores, lógico é que os defensores do intervencionismo nas economias a favoreçam.

Em defesa da deflação, pois. Em defesa do movimento natural e não manipulado dos preços como consequência do aumento da produtividade e das inovações tecnológicas.
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1Usando os dados disponibilizados pelo PORDATA, utilizando como deflator o IPC (sem habitação) e tomando 1984 como ano base, tal significaria que um custo, actualizado aos preços de hoje, 4,5 vezes maior, ou seja, 790 euros.

2Consultando a mesma fonte, isso equivaleria hoje a 972 contos, o mesmo é dizer, uns portentosos 4860 euros!

A lógica do monstro

Comissão Barroso propõe aumento de 6,8% do orçamento comunitário para 2013. De acordo com o Jornal de Negócios, "o executivo comunitário justifica o aumento... com a necessidade de honrar os compromissos com os Estados-membros". Uma argumentação totalmente sobreponível àquela outra, repetida ad nauseam entre nós, de que, "para salvar o 'Estado social', é inevitável um novo aumento de impostos". O resultado é o que se conhece.

terça-feira, 24 de abril de 2012

E o Sumo Pontífice abandonou a igrega

O Professor James Lovelock, autor da Hipótese de Gaia, acaba de reconhecer que errou nas suas profecias apocalípticas resultantes do que julgava ser o "inevitável" e terrível aquecimento global. Atente-se nas suas declarações à MSNBC:
"The problem is we don’t know what the climate is doing. We thought we knew 20 years ago. That led to some alarmist books – mine included – because it looked clear-cut, but it hasn’t happened," Lovelock said.

"The climate is doing its usual tricks. There’s nothing much really happening yet. We were supposed to be halfway toward a frying world now," he said.

"The world has not warmed up very much since the millennium. Twelve years is a reasonable time… it (the temperature) has stayed almost constant, whereas it should have been rising – carbon dioxide is rising, no question about that," he added.
Aguardemos agora pelas reacções dos membros do colégio cardinalício. Mas hoje sinto que algo de importante se alterou. Uma alteração talvez dramática. Mas para James Delingpole, esta notícia, a confirmar-se, será ainda mais significativa. Concordo.

Mitos que se desfazem


Segundo a sabedoria convencional, uma superior robustez dos sistemas operativos da Apple (face aos da Microsoft) dotaria os Macs de imunidade face a vírus e bicharocos vários por oposição ao que sucedia aos da sua Némesis de sempre. Esse mito (nunca deixou de o ser) foi definitivamente derrubado este mês. Primeiro com o vírus Flashback, depois com o Sabpad, centenas de milhar de Macs foram infectados e, inclusive, têm funcionado como veículo de infecção de máquinas Windows! Talvez por, como o Telegraph de hoje alvitra, os "[c]ybercriminals view Macs as a soft target, because their owners don’t typically run anti-virus software and are thought to have a higher level of disposable income than the typical Windows user. Mac users must protect their computers now or risk making the malware problem on Macs as big as the problem on PCs."

Especuladores "maus" e especuladores "bons" (act.)

Sempre que os preços de algum bem de consumo corrente sobem significativamente e assim se mantêm durante um período alargado de tempo, a tese maioritária para explicar a alta do preço é, invariavelmente, atribuída aos vis especuladores (de ambos os sexos, bem entendido). Esta "narrativa" é alimentada, com um enlevo muito especial, pelos governantes em funções (nada como culpar um inimigo escondido na penumbra).

Se por um momento dermos um salto até à Venezuela, podemos constatar como Chávez abundantemente recorre à retórica exorcizante contra os especuladores. Primeiro, pela alta de preços tornada inevitável pelas rotativas do banco central; depois, após o governo ter decretado preços máximos para certos bens e serviços, pela escassez de bens daí decorrente. Bebendo nessas fontes inspiradoras que foram a escola soviética e nazi (e derivados diversos), os preços oficiais são muito baixos quando comparados com os do mercado (negro) com a consequente e inevitável escassez. Filas longuíssimas em lojas com para prateleiras escassamente povoadas e incongruências próprias do planeamento central nas "lojas do povo":  muitas galinhas e manteiga mas uma escassez tremenda de café (sim, na Venezuela!) e uma impossibilidade de obter papel higiénico. A cáfila responsável está bem identificada: os especuladores! E os ditos que se cuidem: Chávez ameaça nacionalizar todos os que se oponham aos seus planos de vender os bens e serviços aos preços que o estado achar convenientes.

Sucede, porém, que os especuladores não apostam apenas nas subidas de preços. Por estranho que a alguns possa parecer, também há quem aposte em futuras baixas de preços. É o exemplo dos contratos de futuros do crude que o gráfico seguinte evidencia (via Carpe Diem):


Vejam só que há especuladores que apostam que, lá para Dezembro de 2016, os preços do crude disponível irão baixar para menos de 90 dólares o barril (o preço spot hoje rondou os 104 dólares). Que acontecerá a estes especuladores se tal não vier a suceder? Irão perder dinheiro, claro. Mas desses especuladores os governos não falam.
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Leitura complementar: I Love Oil Speculators, por Charles Goyette.

Ron Paul: It ain't over yet!

Ron Paul Wins in Iowa and Minnesota, Romney in Panic, na RT.
«Ron Paul supporters surged to victory in Sunday’s Minnesota and Iowa district conventions. A number of Romney Hawks are now deeply concerned that Paul has already laid the groundwork for success in six more caucus states
Para quem tem acompanhado as primárias republicanas, não deixa de ser ridículo que Iowa já tenha anteriormente sido "ganho" por Romney, depois por Santorum e, agora, naquilo que importa - eleição de delegados à convenção republicana em Tampa - por Ron Paul! Rachel Maddox glosa o tema (via OInsurgente):


Para quem tiver tempo, o vídeo que se segue, captado ontem em entrevista à CNBC, vale bem a pena ser visionado. Ficará com uma visão rica da leitura económica de Ron Paul dos EUA e da grande barreira que a conventional wisdom veiculada pela mainstream media representa à sua divulgação. Paul tem também tempo (pouco) para estabelecer as suas ideias sobre política externa.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Ciberguerra

Depois do Stuxnet parece que há outro bicharoco à solta lá pelo Irão. Enquanto o primeiro visou instalações e equipamentos ligados à produção de urânio enriquecido, agora parece ser a vez da indústria petrolífera.

Estado e a Educação ou o estado da Educação

Reconhecido por Nuno Crato o que toda a gente já tinha percebido, vai começando a faltar tempo para que um dos rostos mais importantes na batalha contra o eduquês concretize pelo menos algumas das mudanças necessárias na sua passagem pelo ministério da Educação. Ramiro Marques deixa-lhe um repto muitíssimo importante. Até lá, creio valer a pena esperar 15 segundos para, através do humor, corroer a posição daqueles que acham que o Estado existe para alimentar os que sentam à mesa do orçamento. A começar pelas burocracias.

Será que não há fuga do euro?

Imagem retirada daqui
Apesar da sua juventude, o Professor Philipp Bagus, discípulo do "austríaco" Jesús Huerta de Soto, é uma reconhecida autoridade, dos dois lados do Atlântico, em matéria monetária, sendo disputada a sua presença e intervenção em variadíssimos fóruns em plena crise do euro. Hoje mesmo foi publicado mais um artigo sobre a matéria intitulado Is There No Escape from the Euro?, cuja leitura integral recomendo, onde volta a pronunciar-se favoravelmente quanto a "haver vida para além do euro". Para Bagus, ela existe, e é mais saudável - e livre - que a actual, embora reconheça a existência de dificuldades e mesmo de perigos que todavia, na sua opinião, serão ultrapassáveis com reformas e adequada habilidade táctica no período de transição. O artigo termina assim (minha tradução):
A honestidade intelectual exige que se reconheça existirem custos importantes numa de saída do euro, tais como problemas jurídicos ou os associados ao "desemaranhar" do BCE. No entanto, estes custos podem ser atenuados por reformas ou por hábil pilotagem. Alguns dos alegados custos são na verdade benefícios do ponto de liberdade, tais como os custos políticos ou a liberalização dos fluxos de capitais. Na realidade, outros podem mesmo ser vistos como uma oportunidade, como uma crise bancária que seja usada para reformar o sistema financeiro e, finalmente, colocá-lo sob uma base sólida. Em qualquer caso, estes custos devem ser comparados com os enormes benefícios em sair do sistema que consistem na possível implosão do Eurosistema. Sair do euro implica deixar de fazer parte de um inflacionário sistema de auto-destruição monetária, de crescentes estados de bem-estar, queda de competitividade, resgates financeiros, subsídios, transferências, risco moral, conflitos entre nações, centralização, e, em geral, uma perda de liberdade.
Nota: o artigo aqui referenciado retoma uma intervenção, que também dei conta por aqui, que Bagus fez em Bruxelas, num fórum patrocinado pelo UKIP e dirigido por Godfrey Bloom.

Reumático em Abril

Associação 25 de Abril sai pela primeira vez das comemorações da revolução.


Desassombro e independência

O primeiro contacto que me recordo de ter tido com a figura de Miguel Cadilhe passou pelo recurso que fiz, já na universidade, a escritos seus no domínio da matemática financeira1. Por essa altura, creio que a única informação(?) que dele tinha era a fama que lhe advinha da elevadíssima taxa de reprovações com que brindava os seus alunos na universidade do Porto. Depois, claro, vem a sua nomeação para ministro das Finanças dos dois primeiros governos de Cavaco Silva e o seu abandono precoce (foi substituído por Miguel Beleza), em desacordo (ao tempo, de modo algo discreto) com o primeiro-ministro.

Cadilhe é um personagem desassombrado e, creio, ao longo de quase 30 anos de exposição pública, tem manifestado, como poucos, uma independência de pensamento assinalável, mesmo quando faz propostas, a meu ver, totalmente inaceitáveis. Recordo-me, por exemplo, da ideia que expôs de utilização das reservas de ouro para financiar rescisões de funcionários públicos por mútuo acordo e assim reduzir estruturalmente a despesa pública. Quer num caso como noutro se espelha a ideia de utilização das políticas one shot com o intuito de produzir resultados significativos num prazo curto.

Hoje, numa muito interessante entrevista ao Público ao i, Cadilhe é, como sempre directo: dois exemplos:
Sobre a adesão ao euro:

"[Foi] um erro estrutural... a opção política de entrar na união monetária e na moeda única(...) O erro histórico... foi a desproporção entre a moeda única e a nossa estrutura produtiva. (...) Avisei que, com a moeda única, iríamos ter mais défices externos, menos PIB efectivo, menos PIB potencial, menos emprego. Chamaram-me eurocéptico e outros mimos que me colocavam a nadar contra-a-corrente."

Sobre o BPN e respondendo à pergunta "O pior negócio para oso contribuintes chama-se BIC?", Cadilhe responde, retomando anteriores declarações:

"Não. Chama-se nacionalização. Ou se quiser, chama-se Sócrates, Teixeira dos Santos, Constâncio, a brilhante trindade que contemplou a coisa e contemporizou durante anos, agitou-se e assustou-se connosco no Verão de 2008, negou-se então a assumir o erro das omissões ou cumplicidades passadas, alegou um absurdo risco sistémico, decretou apagar todos os pecados, e nacionalizou. Um erro calamitoso."
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1Engraçado que, bem mais de 30 anos passados, tenha voltado às suas sebentas para dar uma ajuda aos meus filhos, já universitários.

E os parentes não caíram na lama

ou, como escreve Pedro Guerreiro a propósito da tomada de controlo do BPI pelo banco espanhol La Caja, "[a] tropa dos centros de decisão nacional tem os chaimites na garagem". E creio que a procissão ainda vai no adro.

domingo, 22 de abril de 2012

A França: um país em negação (2)


Por Sam Island, no New York Times

A França: um país em negação

era o título do editorial da Economist que vinha acompanhado desta excelente fotomontagem:


O carácter aprazível que ela deixa transparecer pouco tem a ver com a realidade económica francesa. Mas é exactamente essa esquizofrenia que a campanha eleitoral para as eleições presidenciais tem vindo a transparecer. Ora a França, depois de 30 anos de nacionalizações desastrosas, da semana das 35 horas para - calcule-se! - "promover" o emprego, de um nível de impostos surreal, levados a cabo por de Mitterand, Chirac e Sarkozy está exangue. Em 2011, as despesas públicas atingiram a cifra aterrorizante de 56% do PIB para mais um ano de anémico crescimento. Perdeu, já este ano, a icónica notação de rating do triplo A. E, porém, o que propõem os candidatos que passaram hoje à segunda volta das eleições presidenciais, Sarkozy e Hollande, é mais do mesmo: mais estatismo, mais impostos, mais subsídios, mais proteccionismo. Parece-me pois irrelevante a escolha que o eleitorado vier a fazer no próximo 6 de Maio.

Sarah Slean - Last Year's War


Letra:

Resposta a 12 mitos ambientais

Um contributo para a celebração do Dia da Terra de 2012: do livro Little Green Lies: Twelve Environmental Myths, por Jeff Bennett (minha  tradução):
Proposição 1: O "Pico Petrolífero" (Peak Oil) foi alcançado.
A produção anual de petróleo, ainda que tenha aumentado no último século, está prestes a diminuir por causa da crescente escassez. Dada a nossa dependência do petróleo e o ritmo acelerado a que estamos a usá-lo precisamos agora de tomar medidas activas de política para poupar no que resta.
Resposta:
Ninguém sabe ao certo que reservas de petróleo estão disponíveis. À medida que as reservas conhecidas se esgotam, a subida de preços incentivará a exploração e os avanços tecnológicos o que, por sua vez, promoverá a expansão da oferta disponível de petróleo, bem como o aparecimento de fontes substitutas de energia.

Proposição 2: A produção de energia renovável deve ser estimulada.
As fontes de energia não-renováveis estão a esgotar-se tão rapidamente  que em breve experimentaremos faltas de energia. As não-renováveis são igualmente fontes "sujas" de energia. As energias renováveis devem ser estimuladas para assegurar o fornecimento contínuo de energia limpa.
Resposta:
As fontes renováveis de energia têm um potencial limitado no curto e médio prazos para satisfazer a procura. Escolher 'vencedores' para serem destinatários de estímulos é, provavelmente, uma má decisão dada a rápida evolução tecnológica. As energias renováveis têm as suas próprias desvantagens ambientais.

Proposição 3: Nas escolhas do consumidor devem ser integradas as características ambientais dos produtos, tais como a "distância" (quilómetros alimentares), a "pegada ecológica", o "conteúdo energético", a "água virtual" e a "pegada de carbono".
Os cidadãos devem ser informados dos seus impactos sobre a energia, fauna, flora, água, clima etc, no momento da compra de bens e serviços para que assim possam reduzir o seu impacto sobre esses recursos. Cada recurso é escasso e valioso. Devemos conservá-los, especialmente para as gerações futuras.
Resposta:
Caso se focassem num único conjunto de recursos escassos (água, energia ...) aquando das suas decisões de consumo, as pessoas poderiam ignorar o seu impacto sobre outros recursos escassos. O resultado é uma "falsa economia". Logo que os impactos sobre os múltiplos recursos sejam objecto de um índice, as distorções surgem. Os preços são os mais eficazes instrumentos no destaque da escassez.

Proposição 4: A população mundial deve ser limitada.
Com o crescimento populacional maior é a pressão sobre os recursos limitados do planeta e portanto sobre o ambiente. A única maneira de proteger o meio ambiente, eliminar a fome e assegurar recursos suficientes para as gerações futuras, implica parar o crescimento populacional.
Resposta:
O homem é um recurso. Ele tem a possibilidade de recorrer a tecnologias inovadoras e instituições para lidar com a escassez crescente de certos recursos. Novas maneiras de atender às necessidades das pessoas e novas fontes de recursos escassos podem ser descobertas.

Proposição 5: O crescimento económico e o comércio são maus para o ambiente.
O crescimento económico, alimentado pelo comércio internacional, significa maior pressão sobre os recursos escassos, incluindo o ambiente. Para proteger o meio ambiente e economizar recursos para o futuro, o comércio deveria ser restringido para reduzir o crescimento.
Resposta:
O comércio e o crescimento económico aumentam a riqueza das pessoas. Por sua vez, essa maior riqueza vai aumentar as exigências das pessoas relativamente à protecção do ambiente e possibilita a capacidade da sociedade para proporcionar protecção ambiental, especialmente através do desenvolvimento tecnológico.

sábado, 21 de abril de 2012

Ameaças

Segundo o Azinomics, são as seguintes as nações-estado que constituem prováveis ameaças aos interesses norte-americanos:

1ª - Os EUA
2ª - A China
3ª - A Rússia
4ª - O Paquistão
5ª - O Irão

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Antecipando a celebração do Dia da Terra

no próximo Domingo, o Prof. Mark Perry preparou os gráficos que se seguem para ilustrar o quão têm os americanos que agradecer à Mãe Natureza por lhes ter proporcionado tão abundantes e baratas fontes de energia. Quer na produção, onde o contributo da energia e solar é absolutamente notável,


 quer no consumo:


Das maternidades na região de Lisboa

parece ser reconhecido pela generalidade dos conhecedores que existe um excesso de capacidade para os níveis de natalidade actuais (em contínuo e pavoroso decréscimo desde há décadas) numa cidade que ela própria continua a definhar. Hoje foi a vez de António Gentil Martins reconhecer essa realidade, numa entrevista ao i que recomendo (mesmo que não se concorde com a solução que o venerando cirurgião pediatra aponta para substituir o actual SNS, o seguro nacional de saúde obrigatório). Portanto, se há excesso de capacidade, parece-me inquestionável que há que o eliminar. Qualquer outra atitude que não essa conduzirá a uma situação muito parecida com a que Jim Hacker se confronta neste delicioso clip da série Yes, Minister:

Frase do dia (36)

"It is inaccurate to say that I hate everything. I am strongly in favor of common sense, common honesty, and common decency. This makes me forever ineligible for public office."
H. L. Mencken

Sempre que ouvir falar em liberalização "cega" ou "selvagem"

tome como infalivelmente boa uma consequência: querem meter a mão no seu bolso. Um exemplo de ontem mesmo relativo à liberalização da produção de vinho, até agora prevista para 2018, aqui aflorada pela CONFAGRI - Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal):
"A liberalização dos direitos de plantação poderia causar grandes mudanças nas regiões vitícolas da Europa e também aumentar os desequilíbrios existentes na cadeia alimentar, em detrimento do sector produtivo."
No linguajar dos instalados, "em detrimento do sector produtivo" significa em prejuízo dos consumidores; já por "direitos de plantação" deve entender-se - obviamente - a proibição, ou pelo menos o condicionamento, de novas plantações de vinha. Ora a liberalização arrastaria a possibilidade (horror, vejam só!) de os agricultores poderem plantar a vinha onde entenderem! Está bem de ver que a concretizar-se essa possibilidade ela
"se traduzir[ia] numa deterioração da qualidade. O regime de direitos de plantação 'é positivo' porque permite 'algum equilíbrio de regulação da oferta', defendeu o secretário de Estado português José Diogo Albuquerque"
E, claro está, por "regulação da oferta" deve entender-se uma promoção de escassez relativa, através da força da lei, para tornar os preços mais altos do que seriam na sua ausência.

O amanhã é já hoje e é horrível



Ocorrem-me as filas, ordeiras, em direcção ao extermínio nos campos onde o "trabalho libertava". O extermínio dos nossos dias a que vimos assistimos, insidiosa e metodicamente, é o da liberdade.
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Nota complementar: sempre que vou a Londres, fico hospedado num estabelecimento informal (não sei ao certo em que grau). A dona da casa, portuguesa, entre outras condições, estabelece uma em particular: não fumar dentro de casa (o que há anos me deixou de afectar pessoalmente). Esta é uma "proibição" totalmente legítima pois é de livre vontade que cada hóspede concorda com os seus termos.

Vergonha! (corrig.)

Retirado daqui, hoje, às 13:25
É absolutamente inacreditável que o senhor na foto ainda não tenha anunciado a retirada da sua candidatura (por "escolha pessoal" de António José Seguro) ao Tribunal Constitucional. Alguém que tem o desplante de incluir na sua formação académica a qualidade de Candidato ao Doutoramento com início em 2011/2012 quando não há doutoramentos em curso na Faculdade de Direito da Católica; alguém que é dado como consultor da sociedade de advogados ABBC mas que, de acordo com o próprio Rogério Alves, conforme refere o Público na sua edição em papel, "é seu estagiário, encontrando-se na primeira fase do estágio [o que] significa que se inscreveu há menos de seis meses"; alguém que se intitula juiz mas cuja qualidade não pode invocar; alguém que, de acordo com o Tribunal de Contas (Público de hoje), não tinha competência, enquanto titular da Secretaria de Estado da Justiça, para autorizar um contrato de arrendamento na Amadora, pelo que violou a lei da despesa e contratação pública, a lei do enquadramento orçamental e a do património imobiliário público; que autorizou a compra de carros novos de que foi um dos "usufrutuários", etc.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Eco-fascismo descabelado

O eco-teócrata Steve Zwick, escreve na Forbes de hoje, ao melhor estilo nazi. Um excerto:
«We know who the active denialists are – not the people who buy the lies, mind you, but the people who create the lies. Let's start keeping track of them now, and when the famines come, let's make them pay. Let's let their houses burn. Let's swap their safe land for submerged islands. Let's force them to bear the cost of rising food prices. They broke the climate. Why should the rest of us have to pay for it?»

Levon Helm - Short Fat Fannie

In memoriam.

Mat(t)ou

Saragoça da Matta retira candidatura a Tribunal Constitucional.

Laivos de bom senso

Estatística vs causa-efeito

No Portugal Contemporâneo, Joaquim Sá Couto, médico de formação, de há muito que nos proporciona excelentes posts que veiculam a perspectiva do economista defensor da economia de mercado. Num contraponto que se diria perfeito, hoje assistimos, tanto quanto creio pela primeira vez, ao economista Pedro Arroja escrever sobre medicina, mais propriamente sobre o cancro, para tal evocando a sua qualidade, em "acumulação", de estaticista (sinónimo de estatístico, aquele que se ocupa de estatísticas).

No seu habitual estilo combativo e, com frequência, provocador, Pedro Arroja conclui, explicitamente invocando estudos estatísticos que o próprio levou a cabo, que a medicina hoje "trata" cancros que o não são e que o "tratamento-rei" - a quimioterapia -, é muito menos eficaz do que temos por adquirido.

Não sou estaticista de profissão mas a Estatística é uma disciplina a que não sou alheio, não tivesse eu frequentado um curso de Economia de extrema ortodoxia neoclássica e a associada e vasta canga estatística e econométrica... Digamos que creio saber o suficiente para a considerar como uma matéria muito, muito tricky.

O ponto que gostaria de destacar é outro: não existindo uma teoria que explique a relação causal (a fonte) do surgimento do cancro (o efeito), pouco mais resta que a Estatística, ou seja, o estabelecimento de correlações, para tentar escorar uma ortodoxia de tratamento do cancro, ortodoxia que vai variando no tempo. Ora, se a exercícios estatísticos que apontam num sentido se sucedem outros que apontam em sentido diferente, e talvez oposto... outra atitude que não seja a de uma profunda humildade científica (Popper) é, a meu ver, de uma sobranceria intolerável.

E se o que precede é válido nas ciências naturais e biológicas como a Medicina, que dizer então das ciências sociais onde a estatística só é útil para contar o que já sucedeu (Mises)?

Lá vem o aeroporto de Beja, que tem muito que contar!

Da ignomínia da discriminação pelo género

Quando passei os olhos por aqui, fiquei roído de indignação pelo facto de as autoridades, há muito na posse destes dados, nada terem feito para obstar ao que os dados apontam como indisputável: uma fortíssima discriminação contra os homens em matéria de acidentes de trabalho fatais!


É certo que isto se passa numa sociedade - os EUA - onde, como é sabido, os valores do ultraneoliberalismo imperam o que por sua vez é indissociável da discriminação pelo género... oooooops (narrativa não conforme)!

E entretanto, o que se passará em Portugal e na União Europeia nesta matéria? Fui investigar, com ajuda do Pordata. E concluo que a situação é bem mais grave deste lado do Atlântico, o que é inteiramente inaceitável. Por que esperará Bruxelas? É lá admissível que a repartição das mortes por acidente seja, em Portugal e em 2008, de 3,85% e 96,15%, para mulheres e homens, respectivamente (e sensivelmente a mesma repartição na UE-27)? Homens e mulheres de boa vontade de Portugal: uni-vos no combate a esta profundíssima desigualdade! Proponho-vos mesmo, à boleia do Prof. Mark Perry, que empenhemos todos os nossos esforços no sentido do estabelecimento de metas vinculativas por forma a que, digamos, a partir de 1 de Janeiro de 2028, esta desigualdade gritante seja, para todo o sempre, aplainada! 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Serviço público de borla

no Ecotretas. Não deixem de ler: Preços electricidade OMIE em 2011

Da pátria do excepcionalismo (2)


Por Michael Ramirez

Nada como uma manifestação de confiança

Alfredo Rubalcaba, líder do PSOE: "Neste momento Espanha não precisa de resgate"

Da pátria do excepcionalismo


Via TBP

Incompreensível

Exames proibidos a alunos com faltas a mais.

A não ser que se considere que o dever de assiduidade seja absoluto, impondo níveis mínimos de escolarização burocraticamente tidos por "adequados", independentemente do saber adquirido, dentro ou fora da escola, e da capacidade de demonstração desse saber em provas de exame. Ou o ME não acredita nos exames que faz como aferidores dos níveis de conhecimentos obtidos?
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Leitura complementar: Vivam os exames!, por Vasco Graça Moura.
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Truísmo necessário

Álvaro Santos Pereira: "As rendas excessivas foram criadas por um Governo do PS"

Acreditando em algo e no seu contrário

Passos Coelho no Finantial Times: "Portugal vai mostrar que os cépticos estão enganados" mas pode precisar de "ajuda adicional". No original, aqui (requer registo).

Ron Paul: política externa e Israel

Motivado pela leitura disto pareceu-me oportuno contribuir para divulgar, pelo próprio Ron Paul, a substantiva diferença entre "pacifista" e "não-intervencionista" num tema tão delicado como o que envolve a defesa de Israel. Hoje, perante o Irão, como ontem face a Saddam Hussein e a Bashar al-Assad. E, já agora, recordo esta outra nota.

terça-feira, 17 de abril de 2012

A Educação e o Estado

A História é uma disciplina do conhecimento a que dou muita importância e dedico boa parte das minhas leituras. Sempre me fascinou a sua sucessiva reescrita (revisionista) e o cuidado que os diferentes regimes colocam na "adequação" da narrativa histórica à interpretação "em vigor" e é uma preocupação absolutamente fundamental do estado totalitário.

Não acho que a História "explique" ou "determine" o futuro (talvez mais o inverso...) mas do que não tenho dúvidas é que o seu desconhecimento significa necessariamente uma incapacidade absoluta para compreender o presente. Creio aliás que é a ignorância dos factos históricos que provoca o sucumbir generalizado perante a propaganda do lugar-comum de que "sempre assim foi" e de que "não há alternativa".

E. G. West, autor da obra de referência Education and the State:A Study in Political Economy (que já ocupou cá a vitrina dos livros), foi um historiador que se dedicou a estudar o fenómeno do antes e do depois da escola pública e compulsória. Foi ele que mostrou que no antes, afinal, já a literacia era comum em Gales e em Inglaterra, propiciada por entidades privadas e era paga mesmo pelos pais pobres de forma voluntária! Curiosamente, algo muito parecido ao que aqui se desvenda na actualidade, graças ao E.G. West Centre (Newcastle University).


Mais um desastre da economia verde


Há quase um ano atrás dei por aqui eco de certas dúvidas quando à viabilidade da First Solar, fabricante de painéis solares. A julgar pela evolução das suas acções desde aí (figura abaixo, à direita), elas revelaram-se inteiramente justas. Com efeito, à data daquele post, a cotação, que já vinha em movimento descendente, era de 117,96 dólares. Já a 29 de Setembro último, quando o Departamento de Energia de Obama atribuiu àquela multinacional dois empréstimos, um de 1,4 mil milhões de dólares e outro de 646 milhões de dólares. Nessa altura, a cotação tinha descido para 65,03 dólares.

Hoje ficámos primeiro a saber que a First Solar decidiu cortar 30% dos seus trabalhadores para depois se conhecer as intenções da empresa em fechar a unidade fabril que detém na Alemanha no último trimestre do ano e cortar a produção na unidade na Malásia. O mercado de capitais reagiu positivamente a este anúncio tendo as cotações fechado a subir face aos valores de ontem. No fecho de hoje a cotação era de 22,96 dólares!

Esta história triste é mais uma a juntar à da Solyndra, da Evergreen e tantas outras e onde, uma vez mais está presente o moral hazard habitual: o envolvimento nos negócios da First Solar de várias figuras ligadas à administração Obama, quando não directamente ao cidadão Barack Obama, como aqui se assinala.
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 Fonte das cotações e do gráfico: Google Finance

A conversa da treta da auto-suficiência alimentar

Governo quer que o país atinja a auto-suficiência alimentar em 2020.

O que é importante para o bem-estar dos portugueses, leia-se, de cada português, de cada cidadão, não resulta da auto-suficiência no produto "A" ou "B" adentro de um determinado perímetro (o país, o estado, a província, etc). O bem-estar consegue-se, sim, através do fácil acesso aos produtos que se deseja consumir aos melhores preços para as qualidades pretendidas, tenham eles a proveniência que tiverem. O resto é conversa, no mínimo salazarenta, e, mais propriamente, própria de fascistas e totalitários de todas as matizes como um conhecimento mínimo de História o atesta.

Linhas de um programa para o que não se deve fazer

Basílio Horta, nas jornadas parlamentares do PS, citado pelo Público:
“É preciso ter-se uma estratégia e saber que país se quer vender no estrangeiro. É o país da hospitalidade e dos serviços? É o país do turismo? É o país da inovação? Isso é uma questão que o Governo tem de fazer”, afirmou, para dizer ainda que “a marca Portugal não se vende com uma série de grandes personalidades do mundo – que se calhar nesta altura já pouca gente conhece –, o Ronaldo já não leva a nada. A marca Portugal vende-se em conjunto com as marcas portuguesas”. E decretou: “Não há marca Portugal sem as marcas portuguesas!”
Não cabe aos governos decidir quais são os sectores que se irão desenvolver e aqueles que irão definhar ("picking winners and losers"). Esse é a continuação do caminho do desperdício, do risco moral (corrupção) e do baixo crescimento económico. Se o governo pretende de facto ajudar as empresas basta que prossiga com uma ideia simples: que saia da frente e que não complique1.
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1E quando é a burocracia de Bruxelas a impor as regras como hoje sucede talvez já em 2/3 dos casos, por mais absurdas que quase invariavelmente sejam, ao menos que deixem os empresários cumpri-las! Não é fácil, como já aqui se chamava a atenção e hoje o Público volta a sublinhar (edição em papel).

Basta desfazer o que o Estado promoveu (2)

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Prossegue o guião rumo ao próximo desastre

Depois disto, só os distraídos ficarão surpreendidos com o mais recente episódio: Argentina nacionaliza filial da Repsol.

Basta desfazer o que o Estado promoveu


A CIP promoveu hoje um seminário com o intuito de "empurrar" as suas ideias relativos à promoção da regeneração urbana. Para o efeito, para além do lançamento do novo portal, disponibilizou ao público o estudo "Fazer Acontecer a Reabilitação Urbana", de Maio de 2011 (imagem à direita), documento assinado por, entre outros, Fernando Santo, ex-bastonário da Ordem dos Engenheiros (actual secretário de Estado de Paula Teixeira da Cruz) e pelo inevitável Augusto Mateus, sempre presente na formulação de "estratégias" e "desígnios" que  o Estado deveria perseguir ou, pelo menos, promover.

António Saraiva, presidente da CIP, identifica "a lei do arrendamento, a política de solos, o financiamento e a fiscalidade" como os factores que impedem, ou pelo menos dificultam, o projecto de regeneração urbana que apresentou. A ministra Cristas, que também esteve presente, deu o seu "contributo" para a matéria ao anunciar que as novas leis do arrendamento e da reabilitação serão publicadas no Verão, o que quer dizer que, talvez lá para Outubro, entrem de facto em vigor. Dá uma ideia da urgência atribuída à coisa.

Não tenho nada de muito substancial a acrescentar ao que já aqui e aqui escrevi sobre este assunto e que se resume numa proposta simples: deixar que as partes - inquilino e senhorio - se entendam entre si e que, em caso de incumprimento do contrato, a sua resolução seja célere. Se tal suceder, o essencial resolver-se-á.

Frase do dia (35)

«To compel a man to subsidize with his taxes the propagation of ideas which he disbelieves and abhors is sinful and tyrannical.»
Thomas Jefferson

Entre as galinhas e as pessoas não há que enganar

pelo que é natural que o que ocorra dizer a Assunção Cristas, perante a inevitável e necessária subida dos preços dos ovos,  para além do anódino "estamos a acompanhar de muito perto esse processo”, é que os produtores já há muito que se deveriam ter "reconvertido" pois o "processo" já "se arrasta ao longo de 12 anos".

Por mim, saúdo a atitude dos produtores nacionais ao terem sido dos últimos a obedecer aos ditames absurdos da burocracia de Bruxelas, transpostos para a nossa ordem jurídica nessa extraordinária peça jurídica que é o Decreto-Lei n.º 72-F/2003. Proporcionaram-nos assim, durante anos, e ao contrário do implicitamente desejado pela ministra Cristas, ovos a um preço muito abaixo daquele que agora iremos (e já estamos a) pagar.

Entretanto, não resisto a transcrever o Artigo 4º da Secção C sob a epígrafe "Gaiolas melhoradas":

Inutilidades que se eternizam (3)

EPUL coloca em hasta pública 19 casas "a preços promocionais", "especialmente dirigidos às famílias".

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O inadjectivável delírio

Vasco Pulido Valente escreve sob o título "E não se queixem da Sra!". Um excerto:
«O programa do Partido Socialista Francês reflecte, de resto, o inadjectivável delírio da facção "socrática" do nosso PS. Segundo Hollande veementemente promete (e esperemos que se trate de uma grande mentira) se ele por acaso ganhar, os rendimentos acima de 1.000.000 € serão taxados em 75%; o Estado criará uma espécie de "Banco de Fomento" à Salazar para as PME; a idade de reforma desce para os 60 anos (porque não para 50?); o sistema escolar irá receber até 2017 mais 60.000 professores; e o PSF vai renegociar o PO e congelar os combustíveis durante três meses. Nem a irresponsabilidade de Guterres conseguia congeminar um plano tão absurdo, que nem para 1990 parece razoável. Mas, como se sabe, a França é o berço da revolução e o farol da humanidade. Não é?»
Público, 14-12-2012

Já cá faltava

Cadilhe defende imposto extraordinário sobre a riqueza.

Estado, educação, saúde e liberdade de escolha

Com a publicação do Despacho n.º 5106-A/2012, o Governo redefiniu as normas a observar pelas escolas públicas relativamente às matrículas e constituição de turmas. Em particular, conforme anterior promessa, ficou contemplada a introdução de mecanismos de "liberdade de escolha" por parte dos encarregados de educação (ou alunos quando maiores), da escola a frequentar que eu próprio já havia classificado como Um pequeno passo no bom sentido. Porém, lendo com atenção o dito Despacho, receio amanhã vir a ter de reclassificar o "pequeno" num "pequeníssimo" passo atenta a persistência da monumental minúcia burocrática uniformizadora dos critérios de prioridade na matrícula dos alunos.

Há tempos atrás, tive um acidente caseiro: quando tinha acabado de entrar na cozinha desmaiei e, ao que conta a minha filha que assistiu à coisa, caí para a frente com a rigidez própria de uma tábua, embatendo com o nariz no chão. O resultado foi uma pequena fractura e uma hemorragia teimosa. Morando onde moro, e conhecendo o hospital a que administrativamente estou adstrito, uma coisa tive por certa: a bem do meu nariz, não ir tratá-lo no "meu" hospital. Como decerto adivinharão, a saída esteve na simulação de um acidente na vizinhança do hospital relativamente ao qual confiava para ser tratado.

Filosoficamente não sou adepto da escola pública pela sua natureza compulsória, pela uniformidade curricular, pela falsa gratuitidade que lhe é atribuída, etc. Não obstante, mesmo que tenha que recorrer a alguma "habilidade", prefiro poder ter uma palavra na escolha do hospital onde quero ser tratado. Como ontem recorri a "habilidades" semelhantes para escolher as escolas dos meus filhos. Se, na educação como na saúde, pudermos passar sem "habilidades"  desta natureza, naturalmente que estaremos melhor. E quanto maior puder ser o grau de liberdade de escolha, melhor. Ainda que longe, muito longe, do que deveria ser.

E o que deveria ser, na minha perspectiva, é o que propõe Sheldon Richman, autor de Separating School and State, uma história da escola estatal de Esparta aos nossos dias, no vídeo que se segue:

E se os internássemos a todos?

A propósito disto, seguramente o menos arriscado para a Mocidade Portuguesa. Por João Pereira Coutinho:
Todos os anos morrem mais crianças em acidentes de viação do que vítimas do fumo dos pais. Por que motivo o governo não está interessado em proibir a circulação de crianças no interior dos automóveis?

No interior e, já agora, no exterior também: um estado verdadeiramente atento à saúde dos seus menores teria autoridade plena para afastá-los de todos os ambientes nefastos. Que o mesmo é dizer: interditar o acesso a bares (álcool), praias (afogamentos), restaurantes de fast food (obesidade) ou partidos de extrema-esquerda (drogas e debilidade cognitiva). O ideal, aliás, seria retirar as crianças da guarda dos pais e educá-las em ambientes rigorosamente esterilizados, onde vigorassem os princípios da abstinência, do vegetarianismo e, em dias de festa, do látex (reforçado). Depois, quando chegassem aos 18 anos, os petizes seriam novamente devolvidos à sociedade civil onde uma carreira política os esperaria, de preferência nas instituições europeias.

Correio da Manhã13-04-2012
(via A Arte da Fuga)

O gás de xisto dos EUA é um change game

realidade agora também reconhecida pelo próprio Vladimir Putin, em voz alta, dirigindo-se à Duma (tradução minha):
"Os EUA estão activamente desenvolvendo tecnologias para a produção de gás de xisto. Tal poderá reconfigurar seriamente a estrutura dos mercados de hidrocarbonetos" pelo que "as empresas de energia nacionais [russas], obviamente, têm de responder a esses desafios".
É perfeitamente natural que Putin esteja preocupado. Para um país que tem nas exportações de petróleo e gás as fontes principais de divisas a evolução verificada nos preços do gás natural nos EUA, essencialmente de shale gas, deve constituir um verdadeiro pesadelo. Ora vejam como evoluiu o preço do gás natural nos EUA e o de origem russa entre Março 2007 e Março de 2012 (Fonte: http://www.indexmundi.com/commodities/):

Evolução dos preços do gás natural nos EUA (Hub de Louisiana)

Evolução dos preços do gás natural de origem russa (à fronteira da Alemanha)